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Poesia lírica e indianista, de Gonçalves Dias

by Lucas Gomes

Esta coletânea reúne os mais expressivos poemas indianistas e líricos de Gonçalves Dias (1823-1864). Se o indianismo do poeta foi uma representação do país, suas raízes, sua natureza, a temática lírica é baseada na tradição romântica européia: o amor verdadeiro, único e eterno, a saudade, o desejo.

1. Temática indianista de Gonçalves Dias

É importante ressaltar que Gonçalves Dias sentia efetiva simpatia pelo tema indianista, também por ter sangue indígena correndo em suas veias e ter vivido parte da infância em contato com os índios. Essa mesma etnografia e pela língua tupi-guarani, percorrendo a Amazônia em missão de estudos e escrevendo um dicionário tupi.

Ao contrário de José de Alencar, que olhava com simpatia o branco colonizador, Gonçalves Dias via o europeu como símbolo do terror e da exploração do índio:

Não sabeis o que o monstro procura?
Não sabeis a que vem, o que quer?
Vem matar vossos bravos guerreiros,
Vem roubar-vos a filha, a mulher!

Veja também o poema I – Juca Pirama

2. Temática lírica de Gonçalves Dias

A poesia lírico-amorosa: A lírica amorosa de Gonçalves Dias caracteriza-se por sentimentalismo e por uma concepção eminentemente trágica do amor (amar é chorar, sofrer e morrer). A aproximação de amor e morte (Eros e Thanatos) é uma constante na poesia, desde os gregos.

A crítica de inspiração biográfica e psicológica interpreta essa concepção do amor como conseqüência da vida amorosa infeliz de seu autor.

Em muitas composições aparecem lugares comuns do Romantismo: pessimismo, insatisfação e individualismo, temperados, porém, pelo gosto da norma universalizante e pela dignidade clássica.

Ainda mais uma vez – Adeus!

I

Enfim te vejo! – enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias
Dos teus olhos afastado
Houveram-me acabrunhado,
A não lembrar-me de ti!

II

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludibrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Não se condói do infeliz!

……………………….

XVI

Adeus qu’eu parto, senhora:
Negou-me o fado inimigo
Passar a vida contigo,
Ter sepultura entre os meus;
Negou-me nessa hora extrema,
Por extrema despedida,
Ouvir-te a voz comovida
Soluçar um breve Adeus!

XVII

Lerás porém algum dia
Meus versos d’alma arrancados,
D’amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; – e então
Confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade,
Que chores, não de saudade,
Nem de amor; – de compaixão.

Olhos verdes

São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar;
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança,
Uns olhos por que morri:
Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor;
Têm luz mais branda e mais forte,
Diz uma – vida, outra – morte;
Uma – loucura, outra – amor.
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!

A poesia lírico e saudosista: É constante a atitude panteísta, de contemplação da natureza como manifestação de Deus. A natureza é também refúgio e confidente do poeta, nos momentos de saudade, solidão e desalento. Veja Canção do Exílio.

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