Home EstudosSala de AulaHistoria A crise cafeeira: 1. A crise de 1929 e o Brasil

A crise cafeeira: 1. A crise de 1929 e o Brasil

by Lucas Gomes

Turbulência
americana acentuou a crise do café no Brasil e causou temor de quebras
em cadeia na economia nacional. País ficou atolado com produção
e estoques muito maiores do que a demanda.

A periclitante situação da economia cafeeira já era assunto
obrigatório em quase todas as esquinas paulistanas. Com a diminuição
das exportações e a queda no preço do grão, chegaraà
ordem de centenas as empresas levadas a registrar falências e concordatas
naquele ano – apenas em setembro, foram 72, de acordo com o Correio da
Manhã. Mas o amaldiçoado mês de outubro nos Estados Unidos
tornou mais dramática a conjuntura do café no Brasil. Em primeiro
lugar, ainda na quinzena inicial do mês, o preço do grão
caiu 200 pontos em dois dias na Bolsa de Café e Açúcar
de Nova York – de 19,25 dólares passou a 16,65. A queda vertiginosa
no comércio futuro do café nacional foi explicada pelo vice-presidente
da instituição, Benjamin B. Peabody, por “rumores inquietantes
a respeito da situação do Brasil”. Para completar o cenário
funesto, o crash na Bolsa de Valores de Nova York, que colocou a economia americana
à beira de um colapso, inviabilizou o empréstimo de 50 milhões
de dólares que a Casa Branca planejava ceder ao governo brasileiro para
ajudar os fazendeiros via Instituto do Café.

Os bons tempos de ouro negro estavam mais distantes do que nunca. O Brasil
não tinha mais para onde escoar sua pantafaçuda produção,
que devia chegar naquele ano a mais de 21 milhões de sacas, superando
e muito as previsões iniciais, que falavam em 13 milhões. São
Paulo, orgulhoso de ser o “estado com um bilhão de pés de
café”, foi responsável por quase dois terços da produção
mundial da rubiácea. Tudo teria sido excelente se a demanda mundial crescesse
em igual proporção. Mas as exportações seguiram
caindo – 15 milhões de sacas em 1927, 13,8 milhões em 1928.
Pior: o café exportado pelo Brasil naquele período era da safra
de dois anos antes, o que significava que ao menos 20 milhões de sacas
estavam estocadas. A diminuição massiva da venda do café
tinha tudo para desencadear um rombo na economia brasileira, baseada três
quartos na exportação do grão. Quando a notícia
da queda em Nova York chegou ao Rio de Janeiro, os operadores da bolsa local,
também em acentuada baixa, não enviaram os resultados do fechamento
diário para os Estados Unidos, como de costume, temendo que os números
no vermelho ampliassem ainda mais o derrocada do café no hemisfério
norte.


Plantação da rubiácea no interior paulista: o ‘estado com
um
bilhão de pés de café’

Especialmente depois da debacle de Wall Street, o governo do presidente Washington
Luiz encontrou-se em uma sinuca de bico. O consumo mundial de café era
estimado na época em 22 milhões de sacas. O Brasil estava atolado
com uma produção e um estoque muito maiores do que a demanda –
isso sem falar na quase certa recessão de um de nossos principais compradores,
os Estados Unidos, e na concorrência de países que, atraídos
pelos lucros obtidos aqui com a rubiácea, investiram na cafeicultura e
começavam a colocar no mercado grãos de qualidade a preços
módicos. Manter o café nos armazéns para valorizá-lo,
como foi marca registrada da política cafeeira paulista durante a década,
já não surtiu efeito. O governo não tinha mais dinheiro para
comprar a produção e manter os preços em patamares razoáveis.
Em compensação, simplesmente abrir a porta dos armazéns e
despejar a produção no mercado faria depreciar ainda mais os valores
já rasos do grão, e causaria certamente uma quebradeira em cadeia
na economia paulista e nacional. Impulsionar a indústria e diversificar
a produção eram as saídas óbvias, mas ambas eram soluções
a, no mínimo, médio prazo, e não aliviariam a pressão
sobre a economia. A bolha especulativa do mercado financeiro já havia estourado,
causando a quebra da Bolsa de Valores de Nova York. O medo na época era:
será o precioso ouro negro o próximo alvo?

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