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Luzia-Homem, de Domingos Olímpio

by Lucas Gomes

Análise da obra

Publicado em 1903 e considerado um clássico do gênero Ciclo das Secas, da Literatura Nordestina, Luzia-Homem é um exemplo do Naturalismo regionalista. Marcado pela fala característica dos personagens, Luzia-Homem mantém duas características clássicas do Naturalismo por toda obra: o cientificismo na linguagem do narrador e o determinismo (teoria de que o homem é definido pelo meio). A obra também se vincula ao realismo sertanejo, – que alguns chamam de regionalismo – apresentando com tintas carregadas o flagelo da seca em sua região, ao mesmo tempo que enfoca a força física e moral da sertaneja Luzia, criatura intermediária entre dois sexos, o corpo quase másculo numa alma feminina e que termina assassinada por um soldado quando se dispunha a amar ternamente outro homem.

Temática da obra

A obra tematiza a violência e o sadismo que florescem como literatura naturalista. Há nuances de Romantismo na morosidade da descrição das paisagens, onde a natureza, às vezes, é madrasta principalmente por causa da seca. Explora a duplicidade da personagem principal, ela é bonita, gentil e retirante da seca, mas também tem força descomunal. No romance, Luzia integra um grupo de retirantes, e sua figura forte e personalidade marcante logo atrai a atenção dos homens que disputam o amor da heroína.

Estilo

Estilo marcado pela objetividade, concepção de amor baseado na atração sexual, com ênfase nas características negativas das personagens, o Naturalismo legou-nos romances em que é possível perceber a grande influência de Darwin e A Origem das Espécies: o meio ambiente condiciona todos os seres, deixando sobreviver apenas os mais fortes. Por isso, a natureza de todos os seres, inclusive a do homem, seria determinada por circunstâncias externas. A vida interior é reduzida a nada. Em Luzia-Homem, tais pressupostos são nítidos, basta que se observe a caracterização e trajetória das personagens. Luzia, por exemplo, está fadada a sucumbir, pois num jogo de forças com o vilão, de nada valeu sua força física, assim como não valeram seus bons sentimentos e até a doçura de alma escondida atrás de tantos músculos. Tornou-se, portanto, vítima da fatalidade das leis naturais, que a impediam de ter outro destino. A morte como desfecho vem coroar esse determinismo, pois é a única saída possível para a personagem. Não há a menor possibilidade, nos romances desse estilo, de ocorrer um acaso ou ‘‘milagre’’, comuns em romances românticos, em favor da personagem.

Crapiúna, por sua vez, tem sua trajetória iniciada pelo interesse por Luzia, porém, um interesse que vai, aos poucos, se transformando em um caso patológico. Portanto, seu comportamento é coerente com sua obsessão e não há limites que o impeçam de realizar seu intento: ter Luzia a qualquer preço, não porque sentisse amor profundo, mas porque sua atração era sexual, cada vez mais atiçada pelas recusas da moça. Ele é, então, um personagem previsível, já que, pela lógica naturalista, seu destino também estava determinado.

Em tudo, o autor foi fiel à tendência literária da época: a rudeza e brutalidade das cenas, a crueza dos episódios, o entrechoque dos instintos, a intensidade das forças desencadeadas. A cena final do romance é exemplo perfeito dessas características: a violência que Crapiúna usa contra Terezinha e Luzia é assustadora. A reação de Luzia é ainda mais assustadora: arranca com as unhas um dos olhos de Crapiúna e morre com aquele macabro troféu entre os dedos da mão direita enquanto que, sobre o peito, misturados ao sangue que jorrava, murchavam os cravos que lhe dera Alexandre.

Personagens

Luzia, a protagonista, é do tipo mulher masculinizada, de músculos fortes, mas de sensibilidade aguçada. É taciturna, solitária, boa, corajosa, firme de caráter, constituindo-se num “símbolo da mulher cearense, heróica na sua luta contra o flagelo da seca, da emigração e da prostituição – como interpretou Abelardo Montenegro”.

Crapiúna é o mau soldado, excessivamente sensual e inconsciente.

Teresinha, vítima de terceiros.

Alexandre, o namorado, é bem delicado, bem como Raulino.

Capitão Marcos e família, sensíveis ao sofrimento comum, conservam, entretanto, o orgulho patriarcal do fazendeiro.

O principal defeito do romance Luzia-Homem consiste no “desnível entre a concepção e a execução, na grandeza daquela, na franqueza desta”, como escreveu Lúcia Miguel Pereira. Na verdade, carece o romance de simplicidade de expressão. A linguagem usada é, muitas vezes, arrevesada e imprópria, prejudicada ainda por excessos retóricos. Por fim, Domingos Olímpio é um autêntico romancista regionalista com Luzia-Homem oferecendo-nos “uma visão retrospectiva da condição humana e social do sertanejo, lutando pela sua sobrevivência e a de seus próprios valores no meio, que o castiga, mas com o qual ele se identifica no sofrimento e na alegria”

Enredo

O cenário é o interior do Ceará, nos fins de 1878, durante uma grande seca. Na construção da penitenciária de Sobral, pequena cidade do Ceará, muitos retirantes trabalham para não morrerem de fome.

Uma linda morena chama a atenção de todos. É luzia que faz serviços de homem para poder receber ração dobrada, em virtude de ter a mãe doente em casa. Seu corpo é esbelto e feminino e, acostumada que fora na antiga fazenda do pai a trabalhar em serviços pesados, tinha muita força, fazendo o que muitos homens não podiam. Por isso recebera o apelido de Luzia-Homem. Recatada e silenciosa, não tinha muitas relações de amizade. No entanto, o soldado Crapiúna era apaixonado ou pelo menos atraído fisicamente com violência por Luzia. Esta não correspondia aos seus cortejos, desprezando-o e tornando o soldado cada vez mais obcecado por ela.

Tinha Luzia um amigo muito leal e respeitoso chamado Alexandre, rapaz bonito e educado, que trabalhava no armazém da Comissão. Teresinha era outra amiga de Luzia. Moça branca, de cabelos castanhos, que há muito havia fugido de casa e se prostituíra.

Certo dia passando com Teresinha pelo armazém, viram um tumulto e ao se informarem ficaram sabendo que Alexandre fora preso por causa de um grande roubo que houvera no almoxarifado do armazém.

Luzia e Teresinha, acreditando na inocência de Alexandre que estava na prisão aguardando o julgamento, levavam-lhe comida todos os dias.

Tempos após, Teresinha, tendo ido se esticar na rede, vê nos fundos do quintal o soldado Crapiúna abrindo um baú e apanhando uma bolsa de couro de onça contendo dinheiro. Teresinha passa a desconfiar do soldado, o mesmo acontecendo com Luzia a quem Teresinha contara o ocorrido. Outro dia Luzia encontra Quinotinha que lhe diz ter ouvido Crapiúna confessando ser o autor do roubo a uma mulher que o amava. Luzia, certa da verdade, antes de falar com Teresinha foi a te o Delegado e lhe contou tudo, o qual não acreditando muito, foi até o quintal da casa de Teresinha encontrando o baú com as coisas roubadas do armazém.

No julgamento, Alexandre foi absolvido e Crapiúna expulso da corporação. O ex-soldado, vendo a felicidade de Luzia, jurou vingar-se.

Teresinha encontra a família que a estava procurando pelo sertão e vão morar juntos na casa dela.

Passados esses acontecimentos, Alexandre propôs a Luzia irem morar na serra, levando a mãe dela e a família de Teresinha. Luzia, que começara a despertar para o amor de Alexandre que já a amava silenciosamente há muito tempo, fica feliz e começam a arrumar as trouxas.

Alexandre partiu no dia seguinte com a família de Teresinha para escolherem a casa.

Teresinha, Luzia, Josefina, Raulino e outros quatro homens foram na tarde do dia seguinte,

Teresinha saiu na frente para ajudar os outros na arrumação da casa. Os cinco homens carregavam a rede com D. Josefina e Luzia logo atrás. Ao chegar à serra, Raulino indicou um atalho à Luzia dizendo que eles levariam a rede com D. Josefina pela estrada. Luzia foi seguindo os passos de Teresinha no barro.

Andou ao redor de um morro até que chegou a um rio cheio de pedras e de água pura. Quando ia atravessá-lo ouviu um grito. Olhou a sua esquerda e viu Crapiúna, que havia fugido da cadeia e que estava segurando Teresinha pelo braço. Luzia atravessou o rio e gritou:

– Solte a moça, seu Crapiúna!

– Até que enfim nos encontramos, disse o bandido.

Largou Teresinha e avançou sobre Luzia, puxando-a e rasgando toda sua roupa. No desespero, Luzia reagiu cravando as unhas no rosto de Crapiúna, deixando desfigurado e tonto. Crapiúna arrancou uma faca e cravou-a no peito de Luzia. Despencando em seguida do penhasco.

Neste instante chega Raulino que vê Teresinha horrorizada e, olhando a sua direita, aproxima-se de Luzia, já com os olhos arregalados e sem vida.

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