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O Ritmo Dissoluto, de Manuel Bandeira

by Lucas Gomes

O Ritmo Dissoluto

, obra publicada em 1924, na Segunda Fase Modernista,
cujo título já indica tratar-se de um livro integrado ao espírito modernista,
mostra a opção definitiva de Manuel Bandeira pelo corriqueiro, pelo cotidiano,
como matéria poética. Na obra predomina do verso livre e à procura da “dissolução”
da cadência rítmica tradicional. O Ritmo Dissoluto surgiu da nova estética,
onde inseriu motivos e termos prosaicos na literatura.

Em O Ritmo Dissoluto percebermos que o poeta vai mais e
mais se engajando com os ideais modernistas, bem como na obra Carnaval.

Poema escolhido

Rimancete

À dona do seu encanto,
À bem amada pudica,
Por quem se desvela tanto,
Por quem tanto se dedica,
Olhos lavados em pranto
O seu amante suplica:

O que me darás, donzela,
Por preço do meu amor?
— Dou-te meus olhos (disse ela),
Os meus olhos sem senhor…
— Ai, não me fales assim!
Que uma esperança tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço do meu amor?
— Dou-te os meus lábios (disse ela),
Os meus lábios sem senhor
— Ai não me enganes assim!
Sonho meu! Coisa tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço do meu amor?
— Dou-te as minhas mãos (disse ela),
As minhas mãos sem senhor…
— Não me escarneças assim!
Bem sei que prenda tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela
Por preço do meu amor?
— Dou-te os meus peitos (disse ela),
Os meus peitos sem senhor…
— Não me tortures assim!
Mentes! Dádiva tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela,
Por preço do meu amor?
— Minha rosa e minha vida
Que por perdê-la perdida,
Me desfaleço de dor…
— Não me enlouqueças assim,
Vida minha! Flor tão bela
Nunca será para mim!
O que me darás, donzela?
— Deixas-me triste e sombria.
Cismo… Não atino o quê…
Dava-te quanto podia…
Que queres mais que te dê?

Responde o moço destarte:
— Teu pensamento quero eu!
— Isso não… não posso dar-te…
Que há muito tempo ele é teu…

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