Home EstudosSala de AulaHistoria Barroco: 1. Movimento artístico e filosófico

Barroco: 1. Movimento artístico e filosófico

by Lucas Gomes


São Pedro, de Caravaggio

O Barroco foi um período estilístico e filosófico da História da sociedade ocidental,
ocorrido durante os séculos XVI e XVII, na Europa, e XVII e XVIII, na América.
Era inspirado no fervor religioso e na passionalidade. O termo ‘Barroco’ advém
da palavra portuguesa homónima que significa “pérola imperfeita”, ou por extensão
jóia falsa. A palavra foi rapidamente introduzida nas línguas francesa e italiana.

Alguns historiadores costumam apontar como o início da época barroca os anos finais
do século XVI, que com a arte religiosa da Contra-Reforma
teria gerado os primeiros frutos do que viria a ser a arte barroca, plenamente
desenvolvida apenas durante a primeira metade do século posterior. Como marco
inicial aponta-se a primeira igreja da recém-fundada Companhia de Jesus em Roma,
a Igreja de Jesus, 1568, com sua fachada de Giacomo della Porta (ca.1541 – 1604).
Por outro lado, alguns teóricos fazem avançar o estilo barroco até meados do século
XVIII, com sua derivação rococó ou rocaille, cuja graciosidade requintada de formas
sinuosas e assimétricas pode ser vista como um processo natural de desenvolvimento
do século anterior.

Além das dificuldades com respeito às datas, deve-se considerar aquela relativa
à própria definição estilística da arte barroca. Após seu surgimento na Roma católica,
ele se dissemina fortemente pelo mundo, gerando uma série de variações nacionais.
Por isso a dificuldade de unir num mesmo denominador comum trabalhos de alguns
dos grandes mestres como Michelangelo
Merisi da Caravaggio
(1571 – 1610), Peter Paul Rubens (1577 – 1640), Diego
Velázquez
(1599 – 1660), Rembrandt
van Rijn
(1606 – 1669), Gian Lorenzo Bernini (1598 – 1680), Francesco Borromini
(1599 – 1667), Baciccio (1639 – 1709) e o Aleijadinho
(1730 – 1814).

Estudos mais profundos sobre o período são relativamente recentes. Em primeiro
lugar, deve-se considerar que só a partir da segunda metade do século XVIII a
arte posterior ao Renascimento
começa a ser chamada de forma pejorativa de barroca. Em contraposição ao ideal
clássico, as obras desses artistas admitem uma certa tendência ao bizarro, ao
assimétrico, ao extravagante, ao apelo emocional, inexistente até então na arte
renascentista.

Deve-se aos teóricos A. Riegl e H. Wölfflin o início de uma revalorização das
obras barrocas no final do século XIX. Para eles, não se trata mais de hierarquizar
momentos radicalmente diversos da história da arte, mas sim reconhecer e valorizar
os traços distintivos do Barroco como expressão de uma outra forma de ver o mundo.
Segundo Wöllflin, para além das diferenças individuais e nacionais de cada artista,
pode-se dizer que arte barroca, tanto na arquitetura e escultura, quanto no desenho
e na pintura, possui as seguintes características formais: apresenta os objetos
como manchas ou massas de cor; enfatiza a profundidade e não o plano; sua forma
é aberta, pois as indeterminações dos limites entre os objetos representados e
as perspectivas não-centrais sugerem uma continuidade no espaço e no tempo; a
sensação de unidade prevalece sobre a singularidade de cada parte; as formas possuem
uma clareza relativa, ou seja, não é mais preciso reproduzir as coisas em todos
os seus detalhes, basta sugerir ao espectador alguns pontos de apoio para que
a imaginação complete o resto.

Em seu conjunto, essas qualidades formais servem a uma interpretação do mundo na qual a aparência mutável
da realidade se sobrepõe à visão da beleza ideal imutável. O homem barroco compreende a natureza como
infinita em sua diversidade e dinamismo e para expressar tal sentimento utiliza recursos formais tais como
contrastes abruptos de luz e sombra, manchas difusas de cores, passagens súbitas entre primeiro e segundo
planos, diagonais impetuosas, ausência de simetria, entre outros. De certa forma, o desapego pelas formas
“ideais” de beleza e perfeição clássicas e a valorização da representação dos temas a partir da
experiência, predispõe algumas obras barrocas a uma espécie de naturalismo, quer dizer, a imagem pictórica
das coisas e seres humanos tal como aparecem, com suas marcas do tempo, seus defeitos físicos, seus traços
bizarros e feios, sem retoque algum.

Por outro lado, a questão da veracidade do instante representado se dá na arte barroca pelo apelo à emoção
do espectador. Por isso as contorções exageradas dos corpos e rostos, os efeitos irreais de luz e sombra,
são alguns dos recursos teatrais utilizados para convencer. No caso da arte decorativa – um dos gêneros
mais desenvolvidos do período – a composição cenográfica das figuras serve ao mesmo propósito.

Em vista do desenvolvimento que a arte barroca conhece nos países protestantes
setentrionais, principalmente na figura singular de Rembrandt, torna-se problemático
afirmar que o barroco é apenas a arte da Igreja católica contra-reformista. É
também. Bem como soube expressar os interesses das Monarquias Absolutistas. Na
verdade, ao propiciar a flexibilização dos cânones clássicos (dando liberdade
ao artista de criar novas formas de representação) e atribuir a arte uma capacidade
de persuasão inédita até então, o barroco é bem acolhido em diversas partes do
mundo, gerando pela primeira vez na história da arte uma série de nuances nacionais.
Encontra, por exemplo, um desenvolvimento importante na arte ibero-americana.
No Brasil, a arte barroca, a partir dos modelos europeus, é adaptada a condições
regionais (materiais e técnicas, bem como espirituais), conquistando características
próprias cem anos após sua ocorrência na Europa, em pleno século XVIII.

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