Ruy Espinheira FilhoRuy Espinheira Filho nasceu no Brasil, na cidade de Salvador,
Bahial, no dia 12 de dezembro de 1942. Filho de Ruy Alberto de Assis Espinheira,
advogado, e de Iracema D’Andréa Espinheira, de ascendência
italiana, passou a infância na cidade de Poções e a adolescência
na cidade de Jequié, no Sudoeste baiano. De volta a Salvador, em 1961,
estudou no Colégio Central da Bahia e, levado pelo poeta Affonso Manta,
que conhecia desde Poções, ingressou no grupo boêmio capitaneado
por Carlos Anísio Melhor. Ainda nos anos 60, começou a publicar
na revista Serial, criada por Antonio Brasileiro, e se iniciou no jornalismo
— como cronista da Tribuna da Bahia (1969-1981), onde também
trabalhou como copidesque e editor (1974-1980). Colaborou ainda com o Pasquim,
como correspondente na Bahia (1976-1981), e foi contratado como cronista diário
do Jornal da Bahia (1983-1993). Atualmente assina artigos quinzenas
em A Tarde. Graduado em Jornalismo (1973), mestre em Ciências
Sociais (1978) e doutor em Letras (1999) pela Universidade Federal da Bahia,
UFBA, e doutor honoris causa pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
UESB (1999), é professor associado do Departamento de Letras Vernáculas
do Instituto de Letras da UFBA, membro da Academia de Letras de Jequié
e da Academia de Letras da Bahia. Publicou 11 livros de poemas: Heléboro
(1974), Julgado do Vento (1979), As Sombras Luminosas
(1981 — Prêmio Nacional de Poesia Cruz e Sousa), Morte Secreta
e Poesia Anterior (1984), A Guerra do Gato (infantil — 1987),
A Canção de Beatriz e outros poemas (1990), Antologia
Breve (1995), Antologia Poética (1996), Memória
da Chuva (1996 — Prêmio Ribeiro Couto, da União Brasileira
de Escritores), Livro de Sonetos (1998; 2. ed. revista, ampl. e il.,
2000), Poesia Reunida e Inéditos (1998), A Cidade e os Sonhos
(2003), Elegia de agosto e outros poemas (2005; em 2006 – Prêmio
de Poesia da Academia Brasileira de Letras, Prêmio Jabuti – 2º
lugar –, da Câmara Brasileira do Livro; Menção Especial
do Prêmio Cassiano Ricardo, da UBE-RJ). Tem ainda publicados vários
livros em prosa: Sob o Último Sol de Fevereiro (crônicas,
1975), O Vento no Tamarindeiro (contos, 1981); as novelas O Rei
Artur Vai à Guerra (1987, finalista do Prêmio Nestlé),
O Fantasma da Delegacia (1988), Os Quatro Mosqueteiros Eram Três
(1989); os romances Ângelo Sobral Desce aos Infernos (1986 —
Prêmio Rio de Literatura [2º lugar], 1985), Últimos Tempos
Heróicos em Manacá da Serra (1991); Um Rio Corre na Lua
(2007) e os ensaios O Nordeste e o Negro na Poesia de Jorge de
Lima, dissertação de Mestrado em Ciências Sociais pela
Universidade Federal da Bahia (1990), Tumulto de Amor e Outros Tumultos
– Criação e Arte em Mário de Andrade, tese de
Doutorado em Letras, também pela UFBA (2001), Forma e alumbramento
— poética e poesia em Manuel Bandeira (2004). Lançou ainda
o CD Poemas, gravado pelo próprio autor, com 48 textos extraídos
de seus livros, além de alguns inéditos (2001). Contos e poemas
seus foram incluídos em diversas antologias, no Brasil e no exterior
(Portugal, Itália, França, Espanha e Estados Unidos).Em entrevista a Leonardo Campos*, ele nos fala sobre Literatura Brasileira
Contemporânea. Leia a seguir.Leonardo Campos – A primeira pergunta é crucial para
um professor como o senhor: o que acha da literatura brasileira contemporânea?Ruy Espinheira Filho – Falar da literatura contemporânea
nunca é facil, pois as coisas ainda estão acontecendo, muitos
autores só conheceremos depois. Mas, pelo que acompanho, há autores
importantes, obras importantes, embora ainda em formação ou desenvolvimento.
Neste momento, a prosa (apesar do realismo meio idiota do politicamente correto,
quando se vê a valorização do tema acima da qualidade, como
se tema tivesse mesmo alguma importância para julgamento da obra), a prosa,
repito, me parece estar melhor do que a poesia, pois o que mais há por
aí é poeta culturalmente pobre e sem nenhum domínio das
técnicas.LC – Na sua opinião, qual seria a diferença
entre literatura moderna e literatura contemporânea?REF – Esse negócio de definições e classificações
é sempre precário. Contemporâneo é o que acontece
em nosso tempo – e Moderno é a mesma coisa. Eu costumo usar Contempoânea,
falando de literatura, para não confundir com o Modernismo – e o muito
menos com o pós-moderno, que é uma bobagem.LC – O senhor acha que a internet prejudicou de alguma forma
a literatura?REF – A Internet não prejudicou nada, pelo contrário:
é uma grande ajuda ao escritor e ao leitor. Agora, quem achava que o
computador iria solucionar a falta de talento, esses já eram tolos e
tolos continuam sendo. E até mais tolos, pois a Internet divulga ainda
mais suas tolices… No meu caso, a Internet é uma grande ajuda na correspondência,
agendamento de compromissos e, eventualmente, uma ou outra pesquisa auxiliar.
E o computador – uma maravilhosa máquina de escrever…LC – Um dos temas mais recorrentes nos estudos literários
é a reutilização de temas. Percebe-se na literatura modernista
um certo retorno aos modelos trovadorescos. Como o senhor definiria isso? Poderia
exemplificar?REF – A literatura atual não é mais do que
a continuação da literatura de todos os tempos, com características
de época. Estamos sempre voltando ao passado – porque o passado é
tudo o que temos. O passado é a única coisa que realmente possuímos.
Quanto aos temas, não dispomos, na verdade, de mais do que três
ou quatro: a vida, o amor, a morte. O resto é só variação.
Todos os temas humanos já foram usados e reusados milhões de vezes.
Não se esgotam porque os tratamentos são diferentes – já
que cada autor tem a sua originalidade própria. E atenção:
a originalidade não está nos temas nem em cacoetes de moda: está
na individualidade do autor. A originalidade está em cada um de nós
– ou não está em parte alguma.LC – Em sua opinição, quem seria o maior representante
da nacionalidade em nossa literatura?REF – Eu não gosto dessa coisa de maiores. A rigor,
não dá para fazer tal julgamento – porque cada artista tem suas
próprias características, cada um serve algo que é único.
Não se pode dizer, por exemplo, que João Guimarães Rosa
é maior do que Graciliano Ramos, mais representativo da nacionalidade
etc. – porque um não poderia fazer a obra do outro. E, se os lemos bem,
observamos que são autores complementares e profundamente nacionais.LC – E o mercado editorial nacional? Percebe-se uma quantidade
maior de livros de auto-ajuda em relação à produção
literária de qualidade.REF – A complicação do mercado editorial está
ligada ao analfabetismo nacional. Pouca gente compra livros – e, quando compra,
não consegue lê-los. Isto, é claro, quanto à literatura.
O sujeito aprende a ler jornal, anúncio, comunicado, mas não consegue
chegar à linguagem metafórica. Vejo isto até na universidade.
Assim, como as editoras vendem pouco, acabam editando pouca literatura de qualidade.
Preferem textos mais simples, de linguagem mais acessível – romanções
lacrimosos ou carregados de violência pura e simples. Leitor de qualidade
é algo muito raro entre nós.LC – Para quem pretende cursar Letras, quais seriam
as principais dicas que o senhor daria?REF – É preciso saber por que alguém quer cursar
Letras. Se é por interesse na literatura, é bom saber que é
o que menos vai encontrar por lá. Encontrará muito mais teoria,
crítica, gramática, linguística etc. Mas há sempre
alguma literatura, pois há também alguns professores que gostam
dela – como arte. Mas, se a literatura é uma arte, o que acontece? Não
pode ser ensinada… Mário de Andrade dizia que arte é aquilo
que não pode ser ensinado. E Noel Rosa já falou, num samba imortal,
que “ninguém aprende samba no colégio”… Quem for cursar
Letras tem que pensar nisto.*Graduando em Letras Vernáculas com Habilitação em Língua
Estrangeira Moderna – Inglês – UFBA | Membro do grupo de pesquisas “Da
invenção à reivenção do Nordeste” –
Letras – UFBA | Pesquisador na área de cinema, literatura e cultura