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Arte e Cultura – Estereótipos: Tunico Amâncio aborda os estereótipos de brasilidade na cinematografia estrangeira

by Lucas Gomes


Tunico Amâncio

Antonio Carlos (Tunico) Amâncio (Bom Jardim, 1951) é
formado em cinema pela UFF em 1974, mestre pela USP em 1990 com uma dissertação
sobre a política de produção da EMBRAFILME nos anos 77/81
e doutor também pela USP em 1998 com uma tese sobre a representação
do Brasil no cinema estrangeiro de ficção.

LC – O Brasil dos Gringos é um
livro baseado em sua tese, correto? Qual a abordagem da sua tese?
Tunico Amâncio – Minha tese versou sobre a representação
do Brasil e dos brasileiros nos filmes de ficção estrangeiros.
Ela verificou a incidência de estereótipos e clichês no decorrer
da história e estudou-os mais detidamente em 10 filmes contemporâneos,
cinco sobre a realidade urbana e cinco sobre a floresta.

LC – Os estereótipos e clichês abordados em seu
material ainda são veiculados pela mídia, como o caso do filme
Turistas e do episódio dos Simpsons no Brasil. Acha que algo
mudou nestas representações desde a sua abordagem?
Tunico Amâncio – O estereótipo é fruto de um
desequilíbrio nas trocas simbólicas entre os países. Na
medida em que aumenta nossa presença no cenário internacional,
estas reduções tendem a diminuir, confrontadas com a diversidade
de imagens exportadas. Hoje o trânsito é intenso e já sentimos,
ao menos no cinema americano, uma mudança no tom da representação.

LC – A mulher e a festividade brasileira são alguns
dos temas recortados pelo senhor. Qual tema acredita que seja o mais buscado
pela industria do entretenimento?
Tunico Amâncio – As maravilhas do país tropical pós-colonial.
A multiplicidade étnica, a variedade de expressões culturais exóticas,
a generosidade das gentes, a beleza da natureza.

LC – O senhor continua com esta pesquisa? O que encontrou
de novo?
Tunico Amâncio – Só atualizei algumas leituras da época,
como no caso da presença dos brasileiros nos filmes americanos. Em geral
mudou mais nossa representação nos filmes que lidam com os emigrantes
brasileiros do que nos filmes estrangeiros filmados aqui.

LC – Em alguns trechos do livro, o senhor comenta sobre alguns
filmes baseados em obras de Jorge Amado. Acredita que ele seja um dos responsáveis
por este olhar auto alimentador que recebe os olhares míopes mas fornece
material para que isso ocorra?
Tunico Amâncio – Jorge Amado criou um universo muito particular,
baseado em algumas tipicidades bahianas que corroboram as mitologias da miscigenação,
das trocas culturais, do sincretismo religioso, sob um fundo histórico
adequado para essas narrativas da construção de um Brasil plural.
Lá e cá assumimos esses discursos e negociamos com eles. Os estrangeiros,
normalmente de maneira mais atrapalhada. Mas Jorge Amado é sem dúvida
o difusor de uma imagem definida de Brasil e de brasilidade.

LC – Olhar estrangeiro é um documentário
em parceria com Lucia Murat. Poderia comentar o filme?
Tunico Amâncio – O filme busca, junto aos profissionais do
mercado, as mesmas questões formuladas pela tese em termos acadêmicos
e teóricos. Ele investiga a gênese dos clichês e estereótipos
e ilustra a maneira como foram representados no seio da indústria, a
partir dos pressupostos dos profissionais envolvidos nos filmes. Assim, o tema
ganha uma nova dimensão ao sair da análise fílmica e se
debruçar sobre as mentalidades. E é muito bem sucedido nesta tarefa
de denunciar essa cristalização usual das idéias feitas,
do senso comum, da visão redutora de culturas diferentes.

Créditos: Leonardo Campos, graduando em Letras Vernáculas
com Habilitação em Língua Estrangeira Moderna – Inglês
– UFBA | Pesquisador do grupo “Da invenção à reinvenção:
imagens do Nordeste na mídia contemporânea” – Letras
– UFBA | Pesquisador na área de cinema, literatura e cultura

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