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Pré-História: 1. Povoamento do continente e primeiras civilizações

by Lucas Gomes

A procedência dos primeiros habitantes do Continente e o momento em
que se deu a imigração têm sido respondidos, neste século,
a partir de hipóteses formuladas por inúmeros cientistas, dentre
os quais historiadores, arqueólogos, biólogos e antropólogos.

Autoctonismo
Condição ou caráter de autóctone (que é natural da região onde habita ou
se encontra – povo autóctone, flora autóctone -; aborígene; indígena)

Ao final do século XIX e o início do XX, foi amplamente discutida
a hipótese de autoctonismo baseada em vestígios
humanos erroneamente atribuídos a hominídeos anteriores ao homo
sapiens
e descobertos em camadas geológicas que, por equívoco,
foram considerados mais antigas do que eram na realidade. A ausência de
grandes macacos fósseis e de tipos humanos mais primitivos que o homo
sapiens
nos terraços terciários e quaternários da
América não permite considerar a possibilidade de uma evolução
in situ
.

No início do século XX, autores aceitaram a homogeneidade biológica
dos ameríndios, generalizando-se a crença de que as populações
do novo mundo foram constituídas exclusivamente por ancestrais asiáticos
e de que eles chegaram ao continente pelo estreito de Bering, entre a Sibéria
e o Alasca, em épocas distintas, iniciando-se a imigração
há 35.000 anos. Entre 35 e 12 mil anos do presente, a glaciação
Wisconsin teria feito, por intervalos, o mar descer a uns 50 metros abaixo do
nível atual. Por essa hipótese, as variações morfológicas
e culturais observadas entre os americanos contemporâneos se explicam,
em parte, como resultado de distintos graus de evolução biológica
de cada uma das imigrações no transcurso dos milênios e,
em parte, pela influência que o meio ambiente exerceu
em distintas regiões onde se estabeleceram.


Principais rotas de migração postuladas para o povoamento da
América, segundo Paul Rivet.
Fonte: José Camargo Mendes

O Estreito de Bering tem menos de 100km de largura e é hoje facilmente
atravessado pelos esquimós, utilizando barcos de peles. Os outros estudiosos,
pelo contrário, opinam que, desde tempos remotos, convivem na América
grupos humanos de várias procedências. São os sustentadores
da teoria pluriracial.

A população indígena da América pré-colombiana
resultou de diversas imigrações a partir de tipos raciais distintos:
algumas efetuadas pelo Estreito de Bering (mongóis e esquimós),
outras, através do Oceano Pacífico e da Antártida (australiano
e malaio-polinésios). A sequência de ilhas e arquipélagos
no Pacífico
e entre a Tasmânia e a terra do fogo teriam sido utilizados como caminho
natural para o ingresso do homem pré-histórico na América
do Sul.

Carlos Ameghino, paleontólogo e explorador argentino
– Defendeu ter a humanidade sido originada na região meridional da
América. Na Argentina teria surgido o primeiro ser adaptado à
posição vertical, o Tetraprothomo.
Ales Hrdlicka (líder da escola americana de antropologia)
– As populações americanas teriam migrado pelo estreito de
Bering.
Paul Rivet (um dos estudiosos do povoamento da América)
– Baseado em semelhanças etnográficas, linguísticas
e biológicas, admitem a migração de asiáticos
(Bering), melanésios (Pacífico) e australianos (ilhas entre
a Austrália, a Antártida e a América do Sul).

A partir das teorias propostas, alguns pontos convergentes são aceitos
na atualidade.

A Antropologia Física tem contribuído para o entendimento das
migrações pré-históricas na América do Sul
(Salzano, 1990), a partir de uma rota ao longo da Costa do Pacífico e
outra para o norte da região amazônica. Ward (1975) sugere três
direcionamentos: a costa do Pacífico, a costa Atlântica e o centro
do Continente (planalto central e o chaco).

As Primeiras Culturas

· A descoberta de sítios arqueológicos nos planaltos
norte-americanos, onde foram encontradas pontas de lança cuidadosamente
lascadas em ambos os lados, com caneluras associadas a ossos de megafauna (mamute
e bisonte). Suas datações entre 11.200 a 10.000 A.P. Trata-se
da Cultura Clovis.
· A identificação, em mais de vinte sítios, de uma
outra cultura, a Folsom (10.900 a 10.200 AP).

Há poucas informações sobre o modo de vida das comunidades
Clovis e Folsom. Apenas ossos de animais, pontas e fogueiras superficiais.



Técnica dos caçadores-coletores
americanos nas pontas Clovis e
Folsom

Nas ultimas décadas, em inúmeros sítios arqueológicos
na América, datações anteriores às culturas Clovis
e Folsom estão sendo propostas. Têm-se obtido datações
consistentes pré-Clovis em carvão e ossos de animais associados
a pedras lascadas. Questiona-se a validade de tais datações, tendo
em vista que o fenômeno se forma também naturalmente, e os povos
antigos poderiam ter escavado ossos já fossilizados, numa época
posterior. As datações pré-Clovis raramente estão
relacionadas a ossos humanos associados a restos indiscutivelmente culturais.

No México, Guatemala, Panamá, Equador, Colômbia, Venezuela,
Peru, Uruguai, Chile, Argentina e Brasil, como já visto, há sítios
com datações pré-Clovis. Portanto, na América do
Sul há sítios arqueológicos com datações
anteriores a doze mil anos. Fora do Brasil, há, no Peru, o abrigo de
Pikimachay, com datações de até vinte mil anos. No Chile,
em Monte Verde (carvão, madeira e ossos de mastodonte), datação
de 12.500 anos e uma discutida datação de 33.000 anos.

No entanto, o sitio mais polêmico está no Brasil, em Pedra Furada,
no Piauí, com datação de 50 mil anos. Se essas datações
estiverem corretas, a presença humana na América recuará
a algumas dezenas de milhares de anos antes das datas atualmente aceitas No
Chile, o famoso sítio do riacho Monte Verde apresenta
dois fragmentos bifacias de pontas foliáceas e seis datações
entre 13.500 e 11.800 anos atrás. A existência de várias
tradições culturais sul-americanas contemporâneas mas distintas
da tradição CLOVIS não corrobora a hipótese de que
os caçadores de animais de grande porte, norte-americanos, fossem os
ancestrais dos sul-americanos.

Agricultura: uma revolução

Desde que chegou as Américas, o homem se espalhou muito lentamente
por todo o território continental, ocupando-o por completo. Por muitos
milhares de anos os grupos humanos eram nômades e viviam exclusivamente
da caça e da coleta de frutas, raízes e sementes. Somente após
o derretimento das geleiras (fim da Era Glacial) e a extinção
dos grandes mamíferos (mamutes, bisões, mastodontes, etc.), os
grupos humanos passaram a buscar na vegetação sua principal fonte
de alimento.

A agricultura começou a ser praticada nas Américas entre 7 mil
e 5 mil anos atrás, o que garantiu para os povos da época maior
quantidade de alimento, maior expectativa de vida, aumento populacional, sedentarização
e maior disponibilidade de tempo. Provavelmente, isso levou a uma observação
mais cuidadosa da natureza, possibilitando uma melhor compreensão do
meio ambiente, o que foi essencial para o desenvolvimento da pecuária,
da cerâmica, da tecelagem, da sistematização de uma religiosidade.

Por volta do terceiro milênio antes de Cristo surgiram as primeiras aldeias
agrícolas da América. Os principais vegetais cultivados eram o
milho, a batata, o feijão e a abóbora. Em pouco mais de mil anos
a técnica agrícola se expandiu por várias regiões
do continente, embora não se saiba ainda como isso ocorreu. De qualquer
forma, a partir daí teriam se originado os centros cerimoniais, que os
arqueólogos consideram o inicio das civilizações americanas.

Religião, comércio e administração

Várias aldeias agrícolas passaram a se reunir em torno de centros
religiosos, comerciais e administrativos, chamados de centros cerimoniais. Cada
um deles contava com uma elite de sacerdotes que o administrava e necessitava
do trabalho de milhares de homens para produzir alimento, defender e trabalhar
nas construções monumentais. Apesar de as aldeias manterem sua
autonomia, os centros cerimoniais eram lugares que reuniam os povos de diversas
regiões, para ali tratarem de assuntos comuns.

Por isso, fala-se da formação de uma cultura mais ampla a partir
desses centros, dos quais os mais famosos foram:

CENTRO CERIMONIAL POVO PERÍODO REGIÃO
San Lorenzo, La Venta, Trez Zapotes Olmecas 1.500 a. C. – 100 a. C. Golfo do México
Caral Povos andinos, não se sabe exatamente quais 2.600 a. C. – 1.800 a. C. Norte de Lima (Peru)
Chavin de Huantar Povos andinos, não se sabe exatamente quais são 900 a. C. – 200 a. C. Margens do rio Maranhão (peru)

Apesar de se localizarem em regiões muito distantes, tais centros tinham
características comuns como a existência de uma elite de sacerdotes
que controlava a administração; uma religião ligada à
natureza, na qual o sacerdote (xamã) era associado ao jaguar (ou onça
pintada – cultuada em toda a América); um planejamento arquitetônico
impressionante, que contava com amplas avenidas e praças públicas
organizadas a partir dos pontos cardeais; construção de obras
monumentais como pirâmides (a pirâmide de Caral, no Peru, é
uma das maiores do mundo), templos, estelas, esculturas com mais de dois metros
de altura.

Todas essas características apontam para existência de uma sociedade
rigidamente organizada, que podia dispor de mão-de-obra para o funcionamento
desses centros cerimoniais: agricultores, ceramistas, tecelões, escultores,
militares e os “cientistas” da época, por que não seria
possível construir cidades tão complexas sem conhecimento matemático,
geográfico, geológico, arquitetônico.

Com o passar do tempo, esses centros cerimoniais se tornaram cidades que, devido
a uma grande importância, mesmo depois de sua decadência, continuaram
a influenciar os povos da Mesoamérica e dos Andes. Muitas das características
dessas cidades foram encontradas em centros urbanos posteriores: Teotihuacan
(México), cidades Zapotecas (México), Chan-Chan (Peru), Tiwanaco
(Bolívia), e também nas grandes civilizações da
América: os Maias (Mesoamérica), os Astecas (Mesoamérica)
e os Incas (Peru).

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