Home EstudosSala de AulaAtualidades 2010: 60 anos da televisão brasileira

2010: 60 anos da televisão brasileira

by Lucas Gomes

No cotidiano dos brasileiros, nenhum outro meio de comunicação foi mais presente ou influente do que a TV. Mesmo famílias que vivem em moradias simples, sem acesso à infraestrutura básica, como água encanada e esgoto, possuem um aparelho de TV no qual assistem a telejornais, novelas e jogos de futebol.

Aos 60 anos, a TV brasileira acumula elogios como uma das melhores do mundo. Ao mesmo tempo, a regulamentação do setor é uma das mais defasadas e propícias à manutenção de oligopólios de mídia. O fato, entretanto, é que a TV continua soberana em 95% dos lares brasileiros em plena era da internet.

A primeira emissora de televisão no Brasil, a TV Tupi, foi inaugurada há 60 anos, em 18 de setembro de 1950. No começo, os programas eram ao vivo e caracterizados pela improvisação, experimentação em linguagem (adaptada do rádio e do teatro) e falta de aparelhos receptores, devido ao alto custo. Nessa época, o rádio era o principal meio eletrônico de informação e entretenimento dos brasileiros.


Assis Chateaubriand

O idealizador da TV brasileira foi Assis Chateaubriand (1892-1968), dono dos Diários Associados, um império de comunicação que incluía dezenas de jornais, revistas e rádios. Ele importou equipamentos e técnicos dos Estados Unidos e instalou duas antenas em São Paulo, uma no prédio do Banespa e outra na sede da empresa, no bairro Sumaré.

Como não havia televisores no país, o empresário contrabandeou 200 aparelhos, que foram dados de presentes a amigos e financiadores. Outros 22 receptores foram colocados em vitrines de 17 lojas do centro de São Paulo, para que as pessoas pudessem assistir da rua.

Na noite de estreia, o programa seria ao vivo – como era toda programação até os anos 1960. Para isso, foram feitos ensaios com semanas de antecedência. A inauguração teve direito a discurso presidencial e bispo benzendo as máquinas. Contudo, pouco antes do programa inaugural ir ao ar, uma das três câmeras pifou, atrasando o evento em mais de uma hora.

Pouquíssimas pessoas puderam ver as imagens onduladas, pouco nítidas e em close de rostos desconhecidos à época, como Hebe Camargo e Lima Duarte. Além da falta de aparelhos receptores, a transmissão tinha um alcance de apenas cem quilômetros.

Improviso


Ronaldo Cunha Lima ao lado de J. Silvestre, no programa
“O Céu é o Limite”, no qual respondia questões sobre o
poeta paraibano Augusto dos Anjos, em versos.
(Arquivo da Fundação José Américo)

Nos dias seguintes, foi montada às pressas uma programação, que incluía programas de variedades, teleteatros e um noticiário, o “Imagens do Dia”. A grade de programação tinha apenas cinco horas, das 17h às 22h. E, como tudo era encenado ao vivo, havia grandes intervalos entre os programas para permitir a troca de cenário e aparelhagem.

Programas como “O Céu é o Limite”, de perguntas e respostas, repetiam o sucesso no rádio ou copiavam shows apresentados na TV americana.

Em 1951 começam a ser produzidos no país receptores da marca Invictus. Assis Chateaubriand lançou uma campanha publicitária para estimular a compra, mas o preço era muito alto para a classe média: uma televisão custava até três vezes mais que uma vitrola (toca-discos). Ao final deste ano, havia 7 mil televisores em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde foi inaugurada a Tupi Rio.

Até os anos 1960, novas emissoras foram inauguradas, como a TV Excelsior, a Globo, a Bandeirantes e a Rede Record. Nesse período, a TV Tupi entrou em decadência por motivos financeiros. A emissora teve a concessão cassada em 1980, pois a renovação exigia que tivesse os impostos pagos e ausência de processos judiciais e trabalhistas.

A partir dos anos 1970, a TV brasileira adquiriu um perfil mais empresarial . A Globo foi o primeiro canal de televisão a operar em rede. A emissora se tornou, ainda, especialista em telenovelas, o principal produto televisivo de exportação do país. A Copa de 70 também impulsionou a venda de aparelhos (a TV em cores surgiu em 1972).

Poder

As primeiras transmissões de TV foram feitas na Alemanha, em 1935. No ano seguinte, foram criadas emissoras no Reino Unido e nos Estados Unidos. O Brasil, primeiro país da América do Sul a ter transmissão televisiva, adotou um modelo americano de TV comercial. Na Europa, ao contrário, o veículo surgiu com um perfil público e educativo.

O modelo comercial, que tem influência sobre o conteúdo da programação, foi alvo por muitos anos da crítica de teóricos da comunicação. Para eles, a TV era um mero instrumento de controle social e político.

Durante o regime militar (1964-1986), a TV teve um papel importante na integração do Brasil. Por isso, o governo favoreceu a concentração dos veículos de comunicação nas mãos de poucos grupos empresariais. Esse quadro predomina até os dias atuais.

De acordo com o Projeto Donos da Mídia, os conglomerados que operam as cinco maiores redes privadas – Globo, Band, SBT, Record e Rede TV! – também controlam, direta ou indiretamente, alguns dos mais importantes meios de comunicação do país. O serviço de radiodifusão brasileiro é regulamentado mediante um sistema de outorgas. As outorgas são concedidas por meio de licitações apreciadas pelo Congresso e sancionadas pelo presidente da República.

O problema é que, na maior parte das vezes, são os próprios senadores e deputados ligados a empresas de comunicação que concedem ou renovam as concessões. Além disso, muitos políticos são donos de rádios e TVs, mas usam o nome de “laranjas” para burlar o artigo nº 54 da Constituição Federal, que proíbe a prática.

Com esse histórico, a TV brasileira entrou no século 21 com importantes desafios tecnológicos pela frente. Hoje ela possui dezenas de canais por assinatura, sinal digital (cuja transmissão foi iniciada em 2 de dezembro de 2007) e a possibilidade de convergência com outras mídias, como celulares e computadores. Isso irá permitir uma maior interação com o público e, aos poucos, mudar a maneira como assistimos à TV.

Créditos: José Renato Salatiel, jornalista e professor universitário, p/ a Página 3 Pedagogia & Comunicação

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