Home EstudosEstudos: Fotografia 3. A Química em auxílio à fotografia

3. A Química em auxílio à fotografia

by Lucas Gomes

Em 1604, o cientista italiano Angelo Sala, observou que certo composto de prata se escurecia quando exposto ao sol. Acreditava-se que o calor era o responsável.

Em 1727, o professor de anatomia Johann Schulze, da universidade alemã de Altdorf, notou que um vidro que continha ácido nítrico, prata e gesso se escurecia quando exposto à luz proveniente de uma janela. Por eliminação, ele demonstrou que os cristais de prata halógena, ao receberem luz, e não o calor como se supunha, se transformavam em prata metálica negra. Como suas observações foram acidentais e não tinham utilidade prática na época, Schulze cedeu suas descobertas à Academia Imperial de Nuremberg.

Em 1802, Sir Humphrey Davy publicou uma descrição do êxito de Thomas Wedgewood na impressão de silhuetas de folhas e vegetais sobre couro. Thomas, o filho mais moço de Josiah Wedgewood, o famosos ceramista inglês, estando familiarizado com o processo de Schulze, obteve essas imagens mediante a ação da luz sobre o couro branco impregnado de nitrato de prata. Mas Wedgewood não conseguiu “fixar” essas imagens, isto é, eliminar o nitrato de prata que não havia sido exposto e transformado em prata metálica, pois apesar de bem lavadas e envernizadas, elas se escureciam quando expostas à luz.

A câmara escura também era do conhecimento da família de Wedgewood. Josiah a usava constantemente para desenhar casas de campo e copiar seus desenhos nas suas famosas porcelanas. No entanto, seu filho não chegou a obter imagens impressas com o auxílio da câmara escura devido à sua morte prematura, aos 34 anos.

Aos 40 anos, Nicéphore Niépce se retirou do exército francês para dedicar-se a inventos técnicos, graças à fortuna que sua família havia feito com a revolução. Nesta época, a litografia era muito popular na França e, como Niépce não tinha habilidade para o desenho, tentou obter através da câmara escura uma imagem permanente sobre o material litográfico de imprensa. Recobriu um papel com cloreto de prata e expôs durante várias horas na câmara escura, obtendo uma fraca imagem parcialmente fixada com ácido nítrico. Como essas imagens eram negativas e Niépce queria imagens positivas que pudessem ser utilizadas como placas de impressão, determinou-se a realizar novas tentativas.

Após alguns anos, Niépce recobriu uma placa de metal com betume branco da judéia, que tinha a propriedade de se endurecer quando atingido pela luz.

Nas partes não afetadas, o betume era retirado com uma solução de essência de alfazema. Em 1826, expondo uma dessas placas durante aproximadamente 8 horas na sua câmara escura, conseguiu uma imagem do quintal de sua casa.

Apesar dessa imagem não ter meios tons e não servir para litografia, todas as autoridades na matéria a consideram a primeira fotografia permanente do mundo. Esse processo foi batizado por Niépce de “HELIOGRAFIA”, gravura com a luz solar.

Foi através dos irmãos Chevalier, famosos ópticos de Paris, que Niépce entrou em contato com outro entusiasta que procurava obter imagens impressionadas quimicamente: Louis Jacques Mandé Daguerre. Este, durante alguns anos, causara sensação em Paris com o seu “Diorama”, um espetáculo composto por enormes painéis translúcidos pintados por intermédio da câmara escura, que produziam efeitos visuais (fusão, trimensionalidade) através de iluminação controlada no verso destes painéis.

Niépce e Daguerre durante algum tempo mantiveram correspondência sobre seus trabalhos. Em 1829 firmaram uma sociedade com o propósito de aperfeiçoar a Heliografia, compartilhando seus conhecimentos secretos.


Louis Jacques Mandé Daguerre

Daguerre, ao perceber as grandes limitações do betume da Judéia, decidiu prosseguir sozinho nas pesquisas com a prata halógena. Suas experiências consistiam em expor, na câmara escura, placas de cobre recobertas com prata polida e sensibilizadas sobre o vapor de iodo, formando uma capa de iodeto de prata sensível à luz.

Dois anos após a morte de Nièpce, Daguerre descobriu que uma imagem quase invisível, latente, podia revelar-se com o vapor de mercúrio, reduzindo-se as??sim de horas para minutos o tempo de exposição. Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa sub-exposta dentro de um armário onde havia um termômetro de mercúrio que se quebrara. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Em todas as áreas atingidas pela luz o mercúrio criava um amálgama de grande brilho, formando as áreas claras da imagem. Após a revelação, agora controlada, Daguerre submetia a placa com a imagem a um banho fixador, para dissolver os halogenetos de prata não revelados, formando as áreas escuras da imagem. Inicialmente foi usado o sal de cozinha, o cloreto de sódio, como elemento fixador, sendo substituído posteriormente por Tiosulfato de sódio (hypo) que garantia maior durabilidade à imagem. Este processo foi batizado com o nome de Daguerreotipia.

Através do amigo Arago, que era então membro da câmara e deputados da França, Daguerre, em 1839, na Academia de Ciências e Belas Artes, descreveu minuciosamente seu processo ao mundo em troca de uma pensão estatal. Mas, dias antes, por intermédio de um agente, Daguerre requereu a patente de seu invento na Inglaterra.

Rapidamente, os grandes centros urbanos da época ficaram repletos de daguerreótipos, a ponto de vários pintores figurativos, como Dellaroche, exclamarem em desespero: “A pintura morreu”. Como sabemos, foi nessa efervescência cultural que foi gerado o Impressionismo.

Apesar do êxito da daguerreotipia, que se popularizou por mais de vinte anos, sua fragilidade, a dificuldade de se ver a cena devido à reflexão do fundo polido do cobre e a impossibilidade de se fazer várias cópias partindo-se do mesmo original, motivaram novas tentativas com a utilização da fotografia sobre o papel.

Fonte: Kodak

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