Home EstudosSala de AulaPortuguês Estilos Literários: 09. Primeiro Tempo Modernista – Geração Orpheu

Estilos Literários: 09. Primeiro Tempo Modernista – Geração Orpheu

by Lucas Gomes

A proclamação da República de Portugal (1910) associada à instabilidade político-social e à emergência de forças cosmopolitas progressistas, marcou o Primeiro Tempo Modernista português – o Orfismo.

Os primeiros anos do século XX, em Portugal, foram marcados pelo entrechoque de correntes literárias que vinham agitando os espíritos desde algum tempo: Decadentismo, Simbolismo, Impressionismo etc. eram denominações da mesma tendência geral que impunha o domínio da Metafísica e do Ministério no terreno em que as ciências se julgavam exclusivas e todo-poderosas.

O ideal republicano, engrossado por sucessivas manifestações de instabilidade, foi se concretizando em 1910, com a proclamação da República, depois dos sangrentos acontecimentos de 1908, quando o rei D. Carlos perdeu a vida nas mãos de um homem do povo, alucinadamente antimonárquico […]. E foi nessa atmosfera de emaranhadas forças estéticas, a que se sobrepunham a inquietação trazida pela I Grande Guerra, que um grupo de rapazes, em 1915, fundou a revista Orpheu. Eram eles: Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Lúis de Montalvor, Santa Rita Pintor, Ronald de Carvalho e Raul Leal. Seu propósito fundamental consistia em agitar consciências através de atitudes desabusadas que, em concomitância com as derradeiras manifestações simbolistas, iniciavam um estilo novo, ‘moderno’ ou ‘modernista’.
Fonte: Massaud Moisés. Presença da lit. port.: O Modernismo. São Paulo, Difusão Européiasdo Livro, 1974.

Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro foram os mais famosos participantes da revista Orpheu que deu origem à primeira geração do Modernismo português: o Orfismo ou geração Orpheu, cuja atuação, entre 1915 e 1927, coincidiu com a vigência da chamada “República Jovem”, a Primeira República portuguesa.

Desde 1910, com a queda da Monarquia, o país passou por um dos momentos mais fecundos e mais conturbados de sua história. Lisboa centralizou a captação das idéias modernas, numa efervescência intelectual que procurava assimilar os movimentos de vanguarda, provenientes do contexto mais amplo do Modernismo europeu.

O núcleo fundamental do Orfismo foi a revista Orpheu (1915), que teve dois números. O primeiro foi um projeto luso-brasileiro, com a direção de dois brasileiros. Luis Montalvor e Ronald de Carvalho; o segundo número, mais expressivo, teve a direção de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. As demais revistas, que aglutinam as novas tendências, tiveram também duração efêmera: Exílio e Centauro (1916), Portugal Futurista (1917), Contemporânea (1922/23) e Athena (1924/25).

Os traços marcantes da Geração Orpheu são as tendências futuristas (exaltação da velocidade, da eletricidade, do “homem multiplicado pelo motor”; antipassadismo, antitradição, irreverência). Agitação intelectual, “escandalizar o burguês”, o moderno como um valor em si mesmo.

O modernismo em Portugal e no Brasil, orientou-se na direção das vanguardas européias do início do século, além das direções peculiares que tomou em cada país: Futurismo (Marinetti), Expressionismo, Cubismo (Pablo Picasso), Dadaísmo (Tristan Tzara), Surrealismo (André Breton, Artaud, Aragon).

Características Gerais

Hermetismo. Poesia “difícil”; rupturas sintáticas; ruptura do encadeamento lógico; poesia elíptica e alusiva, sem limitações normativas; ritmo psicológico, criado a cada momento, como descargas de vivências profundas, delírios emocionais; metáforas insólitas, aproximações imprevistas: “Tua presença é uma carne de peixe” (Mário de Andrade), “O meu porquinho da Índia foi a minha primeira namorada” (Manuel Bandeira).

Integração poética da civilização material e do quotidiano.Eia! eia! eia! / Eia electricidade, nervos doentes da Matéria!“, “O binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo. O que há é pouca gente para dar por isso.” (Álvaro de Campos).

Verso livre. A unidade de medida do ritmo deixa de ser a sílaba para basear-se na combinação das entonações e das pausas. Ruptura com a métrica tradicional: versos de duas a doze sílabas, com acentos regularmente distribuídos. O versolibrismo tem como precursores Rimbaud e Walt Whitmann.

Abolição da distinção entre temas poéticos, antipoéticos e apoéticos. Antiacademicismo, antitradicionalismo. Dessacralização da obra de arte, com predomínio da concepção lúdica sobre a concepção mágica. Presença do humor, através do poema-piada e do poema-paródia.

Na prosa, a ação e o enredo perdem a importância, em favor das reações e estados mentais das personagens, construídos por acumulação, em rápidos instantes significativos, ou através da apresentação da própria consciência em operação.

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