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O encontro marcado, de Fernando Sabino

by Lucas Gomes

Em 1956, Fernando Sabino surpreendeu os leitores com a publicação
de uma narrativa longa, O encontro marcado. A repercussão foi
espetacular, tornando-se de imediato o livro de cabeceira de milhares de jovens
que nele se reconheciam por verem expostos ficcionalmente os seus próprios
dramas existenciais. A obra ganhou edições até no exterior,
além de ser adaptada para o teatro.
O encontro marcado seria assim um típico romance de geração,
isto é, um relato centrado nos problemas específicos de um grupo
etário/social de uma determinada época e cujo alcance esgota-se
naquela geração.

A obra nos faz passear pelas ruas de Belo Horizonte conhecendo um pouco das gerações
que por elas passaram e, de alguma forma, marcaram a cidade.
A história se passa na década de quarenta e tem como protagonista
Eduardo Marciano, alter ego de Sabino. Seu amigos de adolescência, Mauro
e Hugo, correspondem a Hélio Pellegrino e Otto Lara Resende, respectivamente.
Antonieta, mulher de Eduardo, é Helena Valladares. Toledo, um dos personagens
mais importantes da história, mentor do jovem Eduardo (e do moço
Eduardo, e do adulto Eduardo), corresponde a Guilhermino César.

Eduardo Marciano caminhará pelo romance tentando reencontrar o sentido
da existência na medida em que transita das preocupações
ideológicas e políticas para os anseios pessoais. Esses passam
pela sexualidade mais ou menos satisfeita, pela procura incessante da felicidade
e pelo desejo profundo de encontrar respostas para a grande pergunta existencial
sobre a existência de Deus.

Essa busca será a marca registrada do personagem até o final
do romance quando, mesmo diante de experiências e expectativas fracassadas,
não cessa de investigar o sentido para a vida e chega à conclusão
de que o sofrimento amadurece a pessoa e lhe abre novos caminhos para encontrar
os mais verdadeiros valores humanos.

A Procura

Narrada em terceira pessoa, a história de Eduardo Marciano é
contada por um narrador que parece ser muito próximo da personagem, pois
acompanha passo a passo a sua trajetória e conta com o domínio
de quem conhece tudo sobre o rapaz. Esse narrador abre a história propondo
um pacto com o leitor, chamando-o a participar do que vai contar: “Que
significava o quintal para Eduardo?
“. Mais do que depressa quer se
saber a resposta e, conhecendo-a, quer se saber mais sobre o garoto que parecia
ter toda a liberdade para ser feliz e, no entanto, não a tinha. Sua primeira
derrota já aparece no início do relato: a galinha de estimação,
Eduarda, vira o almoço de domingo.

Eduardo era filho único. Fazia de tudo para manter sempre seu lugar
de destaque naquela família. era mimado, cheio de vontades e de atrevimentos,
estava sempre a testar o limite das pessoas, como qualquer garoto de sua idade.
Os pais não sabiam muito bem como lidar com as estranhezas temperamentais
do filho, que amolava a empregada, esperneava para ir à escola, chantageava
por qualquer coisa. Uma vez descobriu que arranhando o rosto deixava os pais
atônitos. Pronto! Por qualquer bobagem machucava-se até sangrar.
Era um desespero de menino mimado, prenúncio de um jovem sem limites.

Eduardo sempre precisava de um desafio para atingir alguma conquista. Certa
vez, interessou-se por uma colega da escola que era ótima aluna. Foi
o prenúncio da paixão, pela menina e pela vontade de ultrapassar
seus limites. Estudou até conseguir o primeiro lugar na sala, ao lado
de Lêda, a garota das notas boas. Alcançando assim o objetivo,
Lêda deixa de ser o alvo de suas atenções. O episódio
deu a Eduardo a medida exata de suas possibilidades. estava, então, com
onze anos.

Tinha todas as curiosidades de sua época, como a descoberta de sua sexualidade,
por exemplo. Estava sempre atento para as novidades, quem dormia com quem, quem
tinha doença, com quem tinha pego…

Era um garoto precoce. Logo cedo destacou-se por seu talento na escrita; inscreveu-se
numa maratona intelectual e ganhou o segundo lugar, um prêmio em dinheiro
que foi buscar no Rio de Janeiro. Ficou por lá gastando o dinheiro do
prêmio até acabar.

“Saiu pela rua, mão no bolso, sentindo que naquele momento
começava a viver. Pobreza, fome, miséria_ tudo era preciso,
para tornar-se escritor. Escrevera um conto em que dizia isso, mandara
para um concurso de contos”. Ganhou algum dinheiro como pemiação
e tirou disto uma lição: “Na vida tudo seria assim,
a solução se apresentando imediatamente, mal começasse
a buscá-la, gozando assim as dificuldades do problema? Na vida
tudo lhe seria assim.”

Assim foi que Eduardo enfrentou a vida, sempre achando que a solução
se apresentaria a ele quando precisasse. A história, porém, vai
mostrar o contrário. Eduardo consegue articular com certa facilidade
seus interesses, mas nem sempre seu interior está em paz, a busca por
esse momento será o fio com que o narrador tecerá a intriga.

Um episódio marcante na vida de Eduardo foi o suícidio de um
amigo, o Jadir. Esse rapaz tinha uma família complicada, o pai bebia,
a mãe era meio desregrada, a irmã era saliente, o que bastava
para que não fosse uma boa companhia aos olhos de dona Stefânia.
Um dia antes, Eduardo comentava com Jadir que, às vezes, tinha vontade
de morrer. Falaram sobre suicídio, cada um emitiu sua opinião.
Eduardo dizia que era covardia, a menos que se fizesse um estrago louco antes,
algo que o marcasse na História. Jadir dizia que “- quem quer morrer
mesmo, não pensa em nada disso, só pensa em morrer.”Acabou
dando tiro no peito. Isso naturalmente tirou o sono de Eduardo por muito tempo.

Ao contar a história de Eduardo, o narrador fornece um retrato dos costumes
de uma época, em especial o preconceito próprio de uma cidade
ainda provinciana em que o sujeito está a mercê de julgamentos
preestabelecidos, especialmente em relação ao comportamento de
um determinado grupo social. É o que acontece com a interferência
de Dona Stefânia no namoro de Eduardo com Letícia, por exemplo.
Para ela a menina não é uma boa companhia ao filho. Isso certamente
porque não se simpatizou com a liberdade que a mãe dava à
garota.

Seu Marciano resolve ficar sócio de um clube, onde certamente o filho
terá uma vida mais saudável. Eduardo decide fazer natação
e em pouco tempo é um dos melhores em sua categoria. Sentia prazer com
as vitórias, “Uma espécie diferente de emoção
– a de poder contar consigo mesmo, e de saber-se, numa competição,
antecipadamente vencedor.” Foi um vitorioso, mas sua obstinação
deixava o pai preocupado, sempre às voltas com o estudo de Eduardo. Formar-se
era um valor para seu Marciano, uma promessa que Eduardo não cumpriu.
No colégio, não foi bom aluno. Era questionador, rebelava-se contra
a estrutura da instituição, acabou formando-se aos empurrões.
Certa vez o monsenhor do colégio chama-lhe a atenção, após
uma briga que teve com o colega Mauro. Eduardo foi atrevido, mas o seu argumento
era forte. Não foi expulso, mas Monsenhor Tavares imprimiu-lhe uma ergunta
que ele só pôde, de fato, responder muitos anos depois: “Você
acredita em Deus?”

Eduardo decide que será escritor. Seu Marciano o apresenta a Toledo,
um escritor seu amigo, que será uma espécie de ídolo para
o rapaz. por seu intermédio, Eduardo inicia-se na leitura de grandes
escritores. Para Toledo, “A arte é uma maneira de ser dentro da
vida. Há outras… É uma maneira de se vingar da vida. Assim como
se você procurasse atingir o bem negativamente, esgotando todos os caminhos
do mal. É preciso ter pulso, é preciso ter estômago.”
Por toda a trajetória de Eduardo e seus amigos, a voz narrativa evidencia
o gosto de uma geração pela leitura e o interesse, em especial
de Eduardo, pela palavra escrita e pelas descobertas que se podem fazer com
o conhecimento literário. Apesar disso, a luta que Eduardo empreende
para ser um escritor não se fetiva. ele não consegue escrever
o romance que tanto quer.

Chega, afinal, o tempo da formatura do colégio. Uma nova etapa se descortina
para Eduardo e seu grupo, um mundo que eles desconhecem está prestes
a se impor. Na despedida, Eduardo, Mauro e Eugênio decidem marcar um encontro
dali a quinze anos, naquele mesmo lugar. Cada um segue seu destino em busca
do grande encontro consigo mesmo.

Eduardo leva uma vida boêmia, o que implica pouco estudo, pouco trabalho
e muita aventura. Ele e os amigos estão sempre desafiando o perigo. O
mundo está vivendo os reflexos da segunda guerra mundial. A ideologia
dos oprimidos é a voz geral que permeia os discursos da rapaziada. Do
grupo, Mauro é o rebelde mais entusiasmado. Discursa em lugares públicos,
gera polêmicas, uma espécie mais de modismo que de luta política.
Eduardo começa a escrever artigos para o jornal e a incorporar um novo
grupo de amigos. Juntos, Eduardo, Mauro e Hugo têm uma vida mais ou menos
desregrada e audaciosa. Bebem muito desafiam a cidade, buscam um destino. Hugo
acaba sendo professor; Mauro, médico. Eduardo arranja um bom emprego
público no Rio de Janeiro, por via dos auspícios de seu futuro
sogro ministro.

Tudo começa quando conhece Antonieta, num baile no automóvel
Clube. Apesar de todas as diferenças entre eles, iniciam um namoro que
vai acabar em casamento.

O encontro

Eduardo não dá conta de nenhum tipo de relacionamento; nada que
implique um convívio consegue tirar o rapaz de seu individualismo exagerado.
A trajetória de seu casamento serve de pretexto para um questionamento
sobre os padrões dessa instituição.Os casais se desagregam,
sempre em busca de um conhecimento pessoal que está longe de se alcançar
nesse romance. Conforme Eduardo caminha em busca desse encontro, outros desencontros
se sucedem na narrativa. Sempre a bebida é o anestésico para os
males de Eduardo. Há sempre um pretexto para estar longe do compromisso
com Antonieta. Ora são os amigos do bar, ora é Neusa, a vizinha
insinuante, ora são os encontros clandestinos com Gerlane, a nova namorada,
tudo mostrando a incapacidade de assumir a vida como ela se apresenta. Até
o filho com Antonieta lhes escapa. Eduardo parece estar sempre na contramão
de seu destino.

O relacionamento do casal, desde o início, aponta para um desencontro.
ela é uma moça rica, de pai influente na política. Ele
é de uma família de classe média. Ela mora no Rio de Janeiro,
a capital. Ele é de Belo Horizonte, uma cidade ainda marcada pelo provincianismo.
ela sabe o que quer, ele se apresenta sempre em perspectivas. Não há
entre eles brigas ou discussões acirradas, apesar do comportamento irreverente
e descompromissado do rapaz; nesse relacionamento percebe-se que Antonieta é
o elemento que tenta a harmonia do casamento. Procura compreender o temperamento
depressivo de Eduardo e tenta ajudá-lo, mas ele sempre se mostra incapaz
de qualquer reflexão. Nessa relação, evidencia-se o crescimento
pessoal de Antonieta e a estagnação comportamental de Eduardo,
um sujeito sem referências. Ela acaba desistindo da relação
e parte para cuidar de sua vida. ele fica perdido em sua nova vida de solteiro
e de desencontros.

A trajetória de Eduardo está sempre marcada por alguma perda.
Além de sua galinha Eduarda e de seu amigo Jadir, morre seu Marciano,
sem mesmo que ele pudesse estar presente. Rodrigo, um amigo do tempo da natação,
morre afogado, preso às ferragens do avião que pilotava. Morre
seu filho, ainda no ventre de Antonieta. Vítor, casado com Maria Elisa
morre tragicamente atropelado. Essa perda também deixa Eduardo muito
abalado, principalmente pelo inusitado dos fatos. Uma semana antes do acidente,
Vítor esteve com Eduardo e contou-lhe sobre um exame médico que
havia feito e que dera um resultado fatal, um câncer, mas que estava errado
pois haviam trocado sua radiografia do pulmão com o de outra pessoa.
Nesse interím, Vítor fez uma promessa, caso conseguisse sarar.
Estavam discutindo exatamente se a promessa deveria ser cumprida, mesmo que
sua “cura”se desse pela via do engano. Para Eduardo, a morte do amigo
foi uma fatalidade. A própria trajetória de Eduardo evidencia
uma morte lenta e gradual dos sentimentos e atitudes diante da vida.

Em O encontro marcado acompanhamos o crescimento de Eduardo, e com
ele, o da cidade. No entanto, só, em sua volta a Belo Horizonte após
a separação é que ele se dá conta disso:

“Encontrou a cidade diferente, mudada. Agitação
pelas ruas, prédios novos, gente andando para lá e para
cá, como se realmente tivesse urgência de ir a qualquer parte.”

Há na descoberta de Eduardo, um prenúncio de que seu olhar começa
a se voltar para o exterior. Eduardo percebe a cidade diferente, sem talvez
o encanto de sua juventude. encontra os amigos, Mauro está casado e Hugo
parece feliz como professor. Continua um intelectual, cada vez mais se dedica
ao estudo acadêmico, vive rodeado dos alunos. Eduardo comparece ao encontro
marcado e encontra o ginásio em férias. Os dois amigos não
compareceram. “Saiu da cidade como de um cemitério”.

Na volta, faz uma parada em Juiz de fora, revê lugares e pessoas que
já não dizem mais nada para ele e segue de volta ao Rio. Começa
sua peregrinação interior, na tentativa de se encontrar. aos poucos,
vai filtrando a vida e reconstituindo o fio de sua identidade: “Agora via
em volta que seu mundo era dos outros também, carregando cada qual a
sua cruz _ pobres criaturas de Deus. E como eram simpáticas, essas criaturas.
Nada de sordidez que via antes em cada olhar, da miséria em cada gesto,
o cotidiano sem mistério, a surpresa adivinhada em cada corpo, o segredo
assassinado em cada boca.”

Reencontra-se com Eugênio, agora frei Domingos. Passa a visitá-lo
no convento, onde parece sentir um pouco de alento. Perambula pela cidade, revê
Neusa, que diz estar esperando um filho seu. Eduardo não consegue assumir
essa nova situação e a moça decide não ter o filho.
Aos poucos, Eduardo vai se desligando das relações com as pessoas
e a cidade. Toma uma atitude, afinal, a seu favor. Desliga-se do emprego, deixando
assim, a sua vaga para o colega Misael. Dá seus livros para o filho desse
amigo, rapaz interessado em literatura e deslumbrado com Eduardo, como certa
vez, ele o fora com Toledo. Desfaz-se do apartamento e empreende uma grande
viagem… na busca e compreensão de si mesmo.

Observações

É preciso prestar atenção ao capítulo “A geração
Espontânea”, pois vários discursos se entrelaçam marcando
a fase agitada das grandes descobertas da rapaziada. Certamente isto poderá
ser alvo das questões no vestibular: Observe:

Discurso existencialista: Tema habitual de Hugo; o efêmero
da existência. Nada valia nada, tudo precário, equívoco,
contraditório. vinha escrevendo um livro, uma espécie de ensaio
poético, em que procurava traduzir este sentimento da inutilidade das
coisas. era a palavra-chave; bastava dizer, a certa altura, com um suspiro de
desalento: “mas que coooooisa!” e a angústia baixava logo as
asas negras sobre os três.”

Discurso Psicanalítico: “…subjugadas pelos
preconceitos. A moral burguesa. As convenções sociais. O lugar-comum.
essa coisa toda. Uma espécie de subconsciente coletivo, de que Freud
não pensou, nem ele, nem ninguém”.

Discurso político-ideológico: “abaixo
os burgueses donos da vida. abaixo os exploradores do povo, abaixo os fascistas,
abaixo a tirania, viva a liberdade!

Discurso Literário: “não ligavam: eram
superiores. Juntos faziam suas descobertas literárias. Que literatura
proletária! Verlaine, isso sim; Rimbaud e Valéri. Juntos choraram
Baudelaire, Neruda, Garcia Lorca, Fernando Pessoa…”

– Mais do que um romance de geração, trata-se de um romance de
formação, já que influiu na formação das
cabeças de toda uma geração de jovens brasileiros e até
hoje ainda é lido

– O personagem central e narrador, Eduardo Marciano, visivelmente autobiográfico
como já foi citado, em sua trajetória que vai da infância
à vida adulta, traduz os anseios de uma juventude que – do fim
da II Guerra a meados da década de 1950 – transformara as angústias
ideológicas e políticas em inquietações pessoais
como a da sexualidade insatisfeita, a da existência de Deus e da luta
pela felicidade pessoal.

– Tanto Eduardo Marciano quanto seus melhores amigos, Mauro e Hugo, realizam
parte de sua formação numa sociedade já livre da guerra
e da ditadura e também menos rígida na obediência aos valores
patriarcais. Isso significa que já podem escolher livremente os seus
destinos individuais. Porém esta liberdade de optar causa-lhes vertigens
e dilaceramentos íntimos. Num plano mais singelo, estamos diante da experiência
da náusea que Sartre espalhara pelo Ocidente, sobremodo em fins dos anos
de 1930.

– As experiências amorosas e profissionais do personagem-narrador levam-no
primeiro à exaltação e à euforia e em seguida à
frustração. O fracasso de suas expectativas existenciais não
o inibe na procura incessante de um sentido para a vida. O relato termina com
a idéia de que a passagem pelo sofrimento amadurece o indivíduo
e abre-lhe novos caminhos para que busque valores autênticos no mundo.

O encontro marcado é um dos primeiros romances brasileiros
da época em que os protagonistas não são originários
nem possuem qualquer ligação com a zona rural. É uma narrativa
totalmente urbana (a parte principal da mesma transcorre em Belo Horizonte,
então capital pacata e modorrenta) o que acentua o contraste entre o
provincianismo do meio e a ânsia cosmopolita dos jovens personagens que
sonham com a literatura, com a grandeza e com a glória.

– Linguagem coloquial. Poucos relatos brasileiros apresentam uma tão
bem sucedida simplicidade de estilo. Este tom espontâneo de narrar foge
ao prosaísmo* e alcança diretamente o coração dos
jovens, dando-lhes uma vigorosa impressão de autenticidade confessional.

* Prosaísmo: redução da linguagem coloquial
a uma espécie de trivialidade estilística. Muito comum a cronistas
e jornalistas que produzem ficção.

Parte dos créditos: Profª Célia Flud Glaeser, Jornal
“O Estado de Minas”

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