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Uma abelha na chuva, de Carlos de Oliveira

by Lucas Gomes

Análise da obra

Obra de imaginação eficaz e rigorosa, o romance Uma abelha na chuva,
de Carlos de Oliveira observa o mundo real através de tenso trabalho verbal
iluminador do grande símbolo de tragédia e das referências simbólicas defluentes
que alguma crítica encontra nas palavras tão autorais como são “paisagem” e
“povoamento”.

Da sintaxe simbólica da tragédia com a luta gandarense (paisagem e povoamento,
afinal), segue o livro o seu trajeto tenso de símbolos, como o afirmam os pares
opositivos fogo / água, mel / cinzas, mel / tabaco, abelha / água, mel / chuva,
fonte / rio ou mar / poço, com variações de significação de acordo com as representações
e os momentos textuais.

O signo trágico assenta na utilização articulada de palavras-símbolo, assumindo
cada uma as metamorfoses decorrentes da narrativa. A tragédia resulta da interação
dos elementos que transformam o mel em fel, tudo arrastando para a corrosão e
para as cinzas. Em paisagem cinérea, armadilhado o povoamento pelo destino trágico,
a morte de Clara é decidida pela paixão e pela impossibilidade de ser fecunda
num espaço dominado pela secura e pelo incontato. O mel cede ao fel e à “moeda
de ouro”, com a perfeição do círculo e o valor da perenidade, é também Jacinto,
assim designado por onomástica significativa que convoca a perfeição, a beleza
e a preciosidade. A morte anunciava-se desde há muito: o pisar das folhas caídas
e a devoração desse “oiro” pelos vermes diziam já a morte de Jacinto, corpo jovem
que foi bode expiatório de uma comunidade improdutiva e viciosa.

Afinal, o tempo dos senhores, numa narratividade cíclica feita da vacuidade
dos serões e das crises conjugais de Álvaro e Maria dos Prazeres, esmaga o tempo
dos dominados que progride para o aniquilamento. E nem assim cessa a esperança,
a luta.

O código temporal do romance caracteriza-se pela linearidade da história e pelo
ordenamento. A par, a conflitualidade e a frustração relacional propiciam o recurso
à analepse (volta ao passado), que afirma através da imagem da água o primado
da ancestralidade face a um tempo doloroso do presente de que conhecemos cerca
de quatro dias. A constância dos fluxos aquáticos ao longo da obra, afinal, símbolo
claro do fluir do tempo, traz consigo a imagem da irreversibilidade.

Portanto, o código temporal e o repertório simbólico de Uma abelha na chuva
contribuem decisivamente para a unidade de uma das mais importantes obras da
literatura portuguesa do século XX.

Este romance representa a assimilação sincrética da maioria dos temas versados
antes, sem se desviar do humanitarismo socialista orientador de todas as obras
de ficção do autor e do neo-realismo português em geral.

Como nos três romances anteriores, Uma abelha na chuva localiza-se na
região da Gândara, nos arredores de Coimbra.

O romance tem como foco as trágicas conseqüências psico-sociais resultantes
da união forçada entre a doente aristocracia da província e a burguesia rural.

Temos uma obra depurada de excessivo localismo, o que Carlos de Oliveira não
conseguiu em nenhum outro romance.

A união de Maria e Silvestre representa o choque de duas classes integradas
no contexto sócio-econômico da Gândara. Porém, a problemática interna destas
personagens e as repercursões dessa problemática nas outras personagens da obra
transcendem o pequeno mundo gandarês, sem por isso deixar de refleti-lo.

A opressão do pobre pelo rico, uma constante do neo-realismo português, ainda
está presente neste livro. No entanto, agora é tratada com incomum maestria
mediante o recurso a um apto simbolismo que se patenteia no título e percorre
toda a obra, não só lhe conferindo um caráter transcendente, mas, como no caso
do símbolo da chuva, contribuindo para a sua estrutura orgânica.

O romance quer demonstrar que não existe significativa mudança social que não
produza sofrimento; e o pobre, devido à sua condição de subserviente e a certa
ironia do destino, acaba sempre por ser a verdadeira vítima dos ódios e tragédias
dos poderosos: um bode expiatório no verdadeiro sentido da frase. Nota-se que
o motivo do sacrifício de vítimas inocentes percorre todo o romance. Mas até
mesmo os próprios opressores são vitimados por desígnios de outrem ou por circunstâncias
para além do seu próprio controle, embora a simpatia do narrador poucas vezes
esteja com eles. É o caso de Maria dos Prazeres e até certo ponto de Álvaro.
No fundo, e aqui se começa antever o caráter universalista do romance, não se
trata de “uma”, mas sim de um microcosmo de “abelhas” humanas na chuva.

Apesar de seus momentos de tragédia, Uma abelha na chuva deixa transparecer
um tom de zombaria, principalmente na crítica à sociedade provinciana retratada
no romance: o burguês abastado, proprietário de uma casa em que não tem onde
dormir porque a mulher trancou a porta do quarto; dois assassinos trapalhões
que têm medo de trovoadas e carregam para longe o corpo da vítima no meio de
uma tempestade, quando poderiam tê-lo escondido em qualquer lugar; o aprendiz
que, no momento de maior tensão, abandona o mestre para correr atrás de um burro;
uma beata encarregada de vestir os anjos e a outra que lhe fornece asas, túnicas,
sandálias e resplendores.

Simbologia

A abelha – o casal Álvaro / D. Maria dos Prazeres são identificados como
“abelhas cegas obcecadas”, tal como o são os seus amigos íntimos. Deste modo,
encontra-se explicitamente posto em causa, pela via da simbolização, o equilíbrio
de um estrato da sociedade (o dominante no microcosmos social deste romance)
corrompido por força de uma aliança de interesses inconciliáveis, o que explica
a amarga conclusão do Dr. Neto, de que, tendo ajudado, “anos e anos aquela obra
de pintar e repintar, a colméia dos Silvestres” não atendera “a que lá dentro
o enxame apodrecia”. Portanto o símbolo da abelha serve, numa primeira utilização,
para salientar, pela negativa, o que, de degradado e imperfeito existe num determinado
nível social.

O mel – evoca a idéia de perfeição e de doçura e também o da transformação.
Ao nível de Álvaro e D. Maria dos Prazeres “todos eles fabricam fel”, é junto
do par Jacinto / Clara que o mel (isto é, a doçura, a perfeição apoiada no tempo)
é suscetível de ser encontrado: tanto a gravidez de Clara como os projetos de
ambos e até o envolvimento espacial em que estes últimos são considerados apontam
para um futuro de otimismo (ou seja, de doçura idêntica a do mel) que o decorrer
do tempo social e histórico propiciará.

A água e a chuva – esta evoca globalmente o sentido da agressividade
(relacionada com o tema da opressão). Agressividade, porque com a sua presença
gera o desconforto das personagens e acentua os seus conflitos. A água é também
fonte e rio. A fonte, enquanto imagem da água que jorra e corre da terra, evoca
o passado recôndito que flui da memória de certas personagens. A fonte é imagem
próxima da infância e quando se transforma em rio passa a evocar, com toda a
nitidez, o escoar de um tempo que quanto mais afastado da infância mais conspurcado
se apresenta. Mas quando está em causa o desfecho das relações Jacinto / Clara,
a água é também mar e poço, cenários particulares, de morte que a ambos atinge.
Quando Jacinto é lançado às águas do mar, a personagem acaba por penetrar no
elemento que ao seu comportamento habitual convém: no mar, símbolo da dinâmica
da vida, do seu movimento e constantes mutações, exatamente na linha do pensamento
de Jacinto, enquanto personagem norteada pelo desejo de transformar o mundo
pela medida dos seus projetos. E, para além de Clara, Jacinto fecunda sobretudo
o movimento de revolta popular que estilhaça os vidros do casal marcado pelo
estigma da infertilidade. A morte de Jacinto, encerrando um ciclo de vida individual
abre (fecunda) um ciclo de vida coletivamente assumida.

Álvaro Silvestre / D. Maria dos Prazeres – passado; presente perdido;
classe social ameaçada; morte do grupo improdutivo; destruição; opressão; vingança;
solidão.

Jacinto / Clara – presente destruído; futuro alcançado; vitória do grupo
produtivo; comunhão; semente promissora.

Aparentemente, o romance encerra com uma mensagem de pessimismo traduzida na
eliminação daquela (Clara) que com o símbolo da abelha mais explicitamente se
identifica; porque, com efeito, é ela que integra os sentidos da produtividade
laboriosa e da fertilidade.

Os episódios finais do romance e a sua leitura simbólica clarificam o sentido
do pessimismo. Abre-se a possibilidade de uma inversão de juízos, quando se
conclui que entre a aparência (a colmeia repintada, isto é, a organização e
compromissos sociais que sustentam, os Silvestres) e a realidade (o enxame apodrecido,
ou seja, a existência social e psicológica degradada) a relação é de oposição.
Por outro lado, aquilo que à primeira vista inculca destruição e morte pode
finalmente não o significar:

“A abelha foi apanhada pela chuva…” A destruição da abelha não implica necessariamente
a do enxame. Existe uma relação simbólica evidente entre abelha / Clara, atingida
pela força destruidora da água, mas a morte de uma abelha isoladamente não só
não compromete a sobrevivência e coesão social do enxame que a perdeu, como
sobretudo faz dessa abelha semente de um processo de transformação da vida que
evitará a existência de futuras abelhas na chuva.

Clara = abelha.

Uma abelha morre = ficam as outras.

Clara morre = ficam as outras pessoas.

A chuva = a classe opressora, a força da opressão.

Colmeia apodrecida = colmeia morta = classe social a desaparecer.

Colmeia verde = cidade verde = esperança na vitória = a consciência do povo
desperta preparada para a luta.

As Abelhas – simbolizam as “trabalhadoras disciplinadas e incansáveis”.
Asseguram a continuidade da espécie ao trabalharem para a colmeia fazendo o
mel. A colméia remete para o lar, para a casa que simboliza a concha, o bem-estar
a proteção.

Em oposição às abelhas temos o casal Álvaro Silvestre e Maria dos Prazeres (esta
referência é feita por Dr. Neto), que diz “todos eles fabricam fel; abelhas
cegas, obcecadas”. As abelhas cegas remetem para o único objetivo deste casal
que são os interesses econômicos que os levam “a roubar ao balcão, nas feiras,
nas soldadas dos trabalhadores e na legítima de meu irmão”, confissão. A abelha
obcecada serve para vincar o que de negativo e imperfeito existe porque uma
abelha cega não é útil para a colméia. Este casal também não é útil à sociedade
porque para além de todos estes defeitos não asseguram a perenidade, a continuidade
do nome e da riqueza pois é um casal infértil. Ainda, através de Dr. Neto, este
diz que ajudou “anos e anos, aquela obra de pintar e repintar, a colméia dos
Silvestres, sem atender a que lá dentro o enxame apodrecia”.

A colméia remete para o lar, para a casa que simboliza a concha, o bem-estar
a proteção que são sensações que não existem na casa dos Silvestres porque se
vive num ambiente degradado, corrompido perverso, sendo que este último se afigura
na personagem de Álvaro quando veio avisar o mestre Antônio. O ambiente da casa
dos Silvestres é tão viciado que não pode produzir nada de bom. Por tudo isto
são o oposto das abelhas pois não há equilíbrio na sua casa e só produzem fel.

Comparação as abelhas – Clara que juntamente com Jacinto forma um casal
equilibrado onde reina a harmonia, tal como na colméia. Jacinto tem o
nome da flor da qual Clara se alimenta para produzir mel, o filho. O zangão é Jacinto
que após a cópula com a abelha, morre. No último capítulo, a referência é a de
que a abelha foi apanhada por uma chuva forte, da qual não consegue sair ou
abrigar-se pelo que tentou debater-se, mas acabou por morrer. Tudo estava contra
ela, por isso não conseguiu defender, era uma luta injusta.

Dr. Neto também tem todas as qualidades da abelha, além de ser ele próprio
apicultor.

A água – A chuva é o sinônimo de agressividade no ambiente social e está
presente nos conflitos pessoais e nos momentos mais importantes da ação. Nos
momentos de grande desconforto, de grande tensão, a chuva está patente, aumenta
a sua densidade consoante o conflito está acentuado.

A fonte quando a água jorra e corre da terra simboliza a evocação de memórias
do passado: quando Álvaro Silvestre recorda a sua infância como refúgio; um
tempo de bem-estar por oposição ao desconforto do presente. Para Maria dos Prazeres
a fonte é também a imagem do passado, mas depois torna-se num rio.

O mar é o espaço para onde o corpo de jacinto é atirado. Simboliza a dinâmica
da vida, pelos seus movimentos de ondas, e Jacinto acaba por ter um fim que
se enquadra na dinâmica que era a sua vida, repleta de projetos por concretizar.

Do poço se recolhe a água que é vida, sendo por isso um espaço de origem da
vida. No entanto, Clara atira-se ao poço, acabando por provocar-lhe a morte,
como se fosse castigada pela ousadia de projetar uma outra vida sem o apoio
do seu pai.

Os Nomes

Álvaro Silvestre: pelo fato de ser curto revela que não tem linhagem.
Álvaro vem de “alvo” que significa branco, puro, honesto e virtuoso. Silvestre
significa que é próprio da selva, que é selvagem, bravio, agreste e inculto.

Maria dos Prazeres Pessoa de Alva Sancho… Silvestre: o seu nome extenso
representa a sua linhagem. Prazeres só mentais.

Tempo

A cronologia da ação concentra-se em cerca de três dias. Este fato, porém, não
deve induzir-nos ao erro, já que, se materialmente o tempo da ação é reduzido,
em dois outros aspectos ele apresenta-se mais dilatado. Em termos históricos,
na medida em que a analepse projeta muitas vezes as ações do passado sobre as
do presente. Em termos psicológicos, porque a focalização interna sujeita os eventos
às vivências das personagens cuja óptica comanda a representação narrativa. Este
tempo revela-se, pois, muito mais extenso devido às inúmeras evocações do passado.

1º Período: entre as cinco horas de uma quinta-feira do mês de Outubro
(cap. I) e a manhã do dia seguinte (cap. XVI).

2° Período: duração de 24 horas do dia de sexta-feira (cap. XVI – XXVI)

3° Período: o dia de sábado até o amanhecer de domingo (cap. XXVII – XXXV)

A cena dialogada instaura um tempo discursivo isocrônico e surge quando se apresentam
ações ligadas aos momentos de confronto entre as personagens, às reflexões que
originam monólogos, aos serões e à preparação e consumação do assassínio de
Jacinto. A cena dialogada põe a nu, muitas vezes, a incomunicabilidade entre
as personagens.

O tempo psicológico diz respeito ao modo como as personagens do romance vivem
o passar do tempo. As analepses traduzem uma vivência interior por parte das
personagens que refugiando-se no passado, fogem a um presente insuportável.

Espaço

Geograficamente, a ação é localizada com alguma precisão. As localidades referidas
no romance, como Montouro, S. Caetano e Fonterrada localiza-se na região de
Cantanhede, na zona litoral do distrito de Coimbra.

O espaço interior é o quarto do casal Álvaro Silvestre / D. Maria dos Prazeres
e o palheiro onde se passam os amores de Jacinto e Clara.

A tese do romance pode sintetizar-se assim: não existe uma significativa mudança
social que não produza sofrimento; e o pobre, devido à sua condição de subserviente,
acaba por ser a verdadeira vítima dos ódios e tragédias dos poderosos.

O espaço psicológico manifesta-se através do monólogo interior de algumas personagens,
revelando-se, assim, os conflitos vividos pelos protagonistas na sua consciência.

Narração

A representação da história é conduzida por um narrador onisciente, capaz de
penetrar no universo psicológico, social e cultural que determina o comportamento
das personagens, e principalmente pela utilização da focalização interna, isto
é, concedendo um papel dominante à perspectiva subjetiva e parcial que as personagens
têm da própria história.

A focalização interna (ou seja, a representação da história através do ponto de vista
de uma ou mais personagens), aquela que o narrador utiliza de modo mais insistente;
a focalização onisciente, como processo de vigência de uma visão (a do narrador)
transcendente à história, é concedida uma função meramente acessória; a focalização
externa, na condição de modo de apresentação do exterior de personagens e eventos,
apenas esporadicamente surge atualizada como signo da representação.

Quando abre a narrativa, é em focalização externa que é apresentada a personagem
em ação: “Pelas cinco horas duma tarde invernosa de outubro, certo viajante
entrou em Corgos, a pé, depois de árdua jornada…”. Para além desta referência
outra surge no capítulo XIII que serve para apresentar uma outra personagem:
“…saltou da boleia para receber as ordens da dona da charrete, uma senhora
pálida, de meia idade, agasalhada num xaile de lã e com manta de viagem enrolada
nas pernas: — Perguntem no café se o viram.”

Além destas duas ocorrências, pode dizer-se que não mais se repete o recurso
à focalização externa, como processo representativo autônomo.

Ação

A ação principal está intimamente ligada à ação secundária, sendo esta emocional
e evidentemente trágica, ao passo que aquela é física, surdamente dramática.

A ação principal apresenta as relações impossíveis e altamente conflituosas
de D. Maria dos Prazeres e Álvaro Silvestre; a ação secundária é constituída
pelo amor de Jacinto e Clara, violentamente truncado. Por esta razão, é na ação
secundária que surpreendemos uma intriga com uma série de acontecimentos encadeados
de forma casual e com um desfecho sem retorno: diremos, então, que estamos perante
uma ação fechada.

Quanto à ação principal, é aberta, porquanto, retratando retalhos de vida, não
nos aponta solução nenhuma para as personagens.

Neste aspecto, Uma abelha na chuva integra-se perfeitamente na tradição
geral do romance neo-realista português, refletindo cenários sociais e históricos
que não apresentam uma ação completa, mas «fatias» de vidas acidentadas.

Na ação principal marcada por momentos arrastados, se encontra de forma bem
evidente uma caracterização social e psicológica; com efeito, se nos detivermos
nos capítulos VII – X e XXXII – XXXIV, verificaremos que estes dois serões se seguem,
respectivamente, ao denso episódio na redação do jornal e subseqüente viagem
e à morte do Jacinto e subseqüente manifestação popular. E verificaremos que
é durante esses serões que há um esboço de convívio social onde se discutem
acontecimentos e aspectos “lá de fora”, assim como se revelam características
das personagens secundárias. Mesmo assim, essa espécie de conforto momentâneo
“a quebreira do lume, o rumor insistente da chuva pela noite, a comodidade das
cadeiras de braços bem almofadas” não são suficientes para amenizar sequer as
tensões que dominam os donos da casa. Mesmo no desenrolar desses serões saltam
fagulhas de revolta ou de fúria, reflexo do sofrimento contido no peito dos
protagonistas, como quando Álvaro Silvestre reflete sobre a morte:

…os outros regressam a casa e eu para ali fico, sufocado, sozinho, a morrer
outra vez, porque via tudo isso como se as coisas se passassem e ele com consciência,
como se ouvisse o rumor da noite em que o velavam o latim do padre Abel no cemitério,
as pazadas de terra a cair no caixão, o fervilhar irreparável dos vermes.
Atirou-se ao brandy para não gritar.

Ou quando se dá de conta, finalmente, que na sua vida chegou a um beco sem saída:

Caminhou para a porta, oscilando tanto que parecia aluir a cada passo, e
desatou aos gritos, sem ninguém saber se pedia ou protestava: Onde é que há
brandy nesta casa? Onde é que há brandy nesta casa?

É a estes momentos de prolongamento da ação, em que tudo parece parado no tempo,
que chamamos catálises, onde há ao mesmo tempo uma caracterização social e psicológica.

Pelo contrário, há todo um conjunto de seqüências onde impera o movimento, isto
é, a dinâmica dos acontecimentos. Observando atentamente esta extensa parte de
Uma abelha na Chuva, podemos verificar que elas constituem unidades estruturais
bem equilibradas, uma vez que a sua extensão é relativamente idêntica; vejamos
então que as três etapas que determinam a constituição da ação secundária se
encontram distribuídas de forma harmoniosa, como se pode ver nos capítulos XVII – XX
(correspondem aos indícios), nos capítulos XXI – XVI (correspondem as conseqüências).

Na ação desta obra podemos também analisar o sentido genérico que as seqüências
manifestam, sendo este sentido o da violência, revelado, contudo, de forma variadas.
É assim que, em várias seqüências, essa violência se revela eminentemente física:
a “agressão” de que são objeto os quadros da família Alva por parte de Álvaro
Silvestre (Cap. XIII), tendo uma dimensão simbólica, não deixa de pertencer
a mesma linha que o assassinato de Jacinto ou o suicídio de Clara, assumindo
sempre essa violência o sinal do deflagrar de irreprimíveis conflitos de raiz
psicológica e social. Por outro lado, há outras sequências que se integram também,
embora de forma indireta, em situações violentas, como é o caso da seqüência
inicial em que a aversão contida nos sentimentos dos protagonistas “estala”
no estranho diálogo entre ambos e o diretor do jornal.

O jornalista aproveitou para mudar de conversa:
— Forte aguaceiro. Estala.
Álvaro Silvestre anuiu logo:
— Boa bátega, sim senhor.
Só ela preferiu continuar a bater no mesmo prego:
— A boa bátega que te podia ter apanhado no caminho. Já pensaste nisso?
Fechou os olhos de puro desalento: cala-te, Maria, cala-te.

Podemos compreender finalmente que a violência de sentimentos entre o casal
é transferida para a chuvarada que se abate sobre Corgos, do mesmo modo que, no
capítulo VI, quando D. Maria dos Prazeres chicoteia a égua, esta não é o seu
verdadeiro destinatário, mas o marido, que cochila a seu lado. Essa mesma violência
revolve-se no interior dos protagonistas, sem se revelar exteriormente, quando
Silvestre surpreende o diálogo entre Jacinto e Clara ou quando é atormentado
pelo sentimento de culpa que resulta da denúncia feita ao pai da rapariga.

Personagens

Certas personagens de Uma abelha na chuva parecem ter sido inspiradas
por pequenos fidalgos, padres, sacristães, beatas, lavradores, barbeiros, camponeses,
criados, cegos, em que não é difícil reconhecer traços de Maria dos Prazeres,
Padre Abel, do sacristão Antunes, do lavrador Álvaro Silvestre, do cocheiro
Jacinto e de mestre António, o santeiro cego, entre outros.

Na tensa atmosfera do romance, predominam as relações de opressão que muitas
vezes se manifestam através dos “expedientes, espertezas, graças, truculências”
de que o ser humano lança mão a fim de garantir seu domínio sobre os demais:
“A alma humana posta a nu e meio mundo a enganar o outro meio”, como observou o autor,
Carlos de Oliveira.

Personagens da ação principal

D. Maria dos Prazeres

Álvaro Silvestre

Dr. Neto

D. Violante

Nesta ação destaca-se as relações de antagonismos entre D. Maria dos Prazeres
e Álvaro Silvestre, enquadradas pelos dois pares de personagens que com estas
coexistem: Dr. Neto e D. Violante.

O Dr. Neto é apresentado pelo narrador, caracterizando-o de modo direto, isto
é, dando sobre ele informações mesmo antes de ele aparecer (cap. IX). Ficamos
sabendo então que o Dr. Neto “amava a realidade e só daí é que partia para as
abstrações”; era um observador materialista, até para explicar a sua atitude
virtualmente amorosa em relação à D. Cláudia, de que afirmava: “Sou um heredo-sifilítico;
a D. Cláudia, uma constituição linfática, fragilíssima; pois bem, casamo-nos,
e depois que filhos deitaremos ao mundo?”.

Mas o Dr. Neto não se fixava apenas no concreto. De acordo com a tradicional
e universal leitura simbólica dos povos, o médico via no mel o simbolismo da
perfeição suprema, o símbolo daquilo que a vida pode produzir de belo e saboroso.
Mas ele não é só o apaixonado pelas abelhas e o seu trabalho, é também médico
“atascado até ao pescoço na vida de Montouro”, o agricultor que “sabia bem o
que custava uma espiga de milho, aos homens e à terra”. Esta é, incontestavelmente,
uma descrição de personagem na linha neo-realista: o narrador que tudo sabe
informa sobre a dureza do trabalho da terra, do trabalho da própria terra no
seu processo de germinação e o trabalho intenso das abelhas na fabricação do
mel. Embora no romance não se fale das relações de trabalho numa análise um
pouco mais profunda, essas relações são nítidas quando colocamos a obra no tempo
da sua produção (1953), fazendo-a assim desempenhar uma função social que não
deixou, na época, de despertar a censura política.

Quanto a D. Claudia, pouco
há a dizer que o narrador não tenha dito já:

Pálida e medrosa… a D. Cláudia temia a natureza, a chuva, o sol, o mar,
o vento, ignorava as flores… E a própria vida humana, as relações sociais,
os pequenos equívocos da convivência, as conversas mais acaloradas assustavam-na.

Pode-se dizer que ela pedia desculpa à vida por estar viva e tudo nela era fantasia
e irrealidade. Por isso, “ia protelando o casamento e o Dr. Neto concordava”.
Também as relações entre o padre Abel e D. Violante se traduziam em termos de
incompatibilidade não evidente. No aspecto físico, como se fosse um indício
de algo que não pretende ser conhecido, estes “dois irmãos” não têm qualquer
semelhança, como nos diz o narrador no capítulo VII.

A criada abriu a porta que dava para o pátio por uma escadaria lateral de
pedra e a D. Violante e o padre Abel entraram. Parecidos como um ovo com um
aspecto. Sempre os via juntos, ela maciça e baixa, o padre esgrouviado, D. Maria
dos Prazeres tinha um sorriso de dúvida: realmente… ninguém dirá que são irmãos.

Para além da diferença física, também temos que levar em conta o murmurar da
sociedade em que estas personagens se inserem e que sobre elas exerce a suspeita
de que vivem em como amantes:

As beatas de Montouro garantiam… e embora lhe tivessem perdoado a ele há
muito, reservavam ainda a D. Violante um ódio velho… chamavam-lhe a irmã do
padre, num sublinhar irônico do parentesco que deixava em aberto as suposições
mais escabrosas.

Vemos então que é real o antagonismo interpretado pelos dois pares que envolvem
Álvaro Silvestre e D. Maria dos Prazeres, embora ele se expresse apenas em termos
estáticos, uma vez que surge formulado quase sempre de modo descritivo, revelado
apenas como enquadramento dos conflitos vividos pelos protagonistas, a estas personagens
não pode caber obviamente uma função tão atuante como a que é própria do casal
Álvaro Silvestre e D. Maria dos Prazeres:

…hei-de aturar-te até ao fim da vida, até que Deus me leve deste inferno
que é a tua casa. Tenho nojo de ti, nojo, entendeste bem?

“Até ao fim da vida” é uma eternidade, a eternidade do tempo quando a vida transporta
essa marca indelével de inferno que é o casamento para uma católica como Maria
dos Prazeres, efetivamente, a casa de Álvaro é o inferno, ao contrário de uma
verdadeira casa, tranqüilizadora, protetora, local de refúgio, reconfortante,
nada que se assemelhe à descrição do inferno.

O espaço onde vivem estes dois seres não tem qualquer semelhança com uma casa.
Sabemos bem por meio da analepse que surge logo no início, numa gradação sugestiva,
o processo interior em que ela recorda a entrada no inferno da casa de Álvaro
Silvestre:

Primeiro. A fonte brotou ténuamente, muito ao longe, na infância, depois,
a agua mansa turvou-se ao longo do caminho, do tempo, com o lixo que lhe forma
atirando das margens, agora é cachoante, escura, desesperada.

Nesse recordar, os bens da família Alva foram “levados pela voragem”. Para a personagem
contam somente os fatos que a afetam; o que subjaz ou simplesmente ultrapassa
os fatos não lhe interessa. É aí que o narrador assume um papel atuante, tentando
veicular idéias, à maneira neo-realista. Por isso, ao longo do tempo, a transformação
realizou-se: uma classe deu lugar a outra e a sua compatibilização é impossível.
A luta, no casal Silvestre, mantém-se, a nível pessoal e social: é a luta entre
a aristocracia e a burguesia.

Para Maria dos Prazeres, o próprio calor físico é importante; mas também não
tem mais esse calor físico e afetivo. Tem agora o quarto frio, o do inferno,
da casa de Álvaro, pois que:

A casa, toda ela, gelava… No escritório do marido, na sala de jantar, fora
possível conseguir um mínimo de aconchego.. No quarto não…

Dr. Neto, o médico “conhecia bem o inferno que era a vida dos Silvestres. É visível
esse inferno logo no primeiro serão, em que Álvaro Silvestre afundou-se nos almofadões
da cadeira de verga, ao pé do lume. Tinha o brandy à mão” (cap. VIII).

À medida que o tempo do serão vai passando, Álvaro bebe cada vez mais
sob o olhar de desprezo da mulher “até ao brusco despejar do brandy na garganta”.
Com a chegada o Dr. Neto (cap. X), revela-se outro aspecto do caráter de Álvaro,
pela pena onisciente do narrador: “a morte é perder as terras, a loja, o dinheiro,
para sempre; e apodrecer, devorado pelos vermes… atirou-se ao brandy para não
gritar.” E até ao fim do romance a aguardente está presente como o próprio Silvestre,
tornando-o cada vez mais alheio ao que o rodeia, mas, ao mesmo tempo, mortificado
por todos os fantasmas que o habitam e o destroem. Por isso, é “uma concha de
silêncio” (cap. III) perante a mulher, quando ela o apanha no escritório do jornal,
prestes a acusá-la do roubo dos pinhais de Leopoldino; mas é também um obcecado
quando (cap. XI), terminado o serão, “poisou o castiçal na secretária e… preparava-se
para os dois problemas que tinha a resolver”: a construção de um jazigo que o
impedisse de ficar solitário na terra e a desculpa que teria que dar ao irmão
pela venda fraudulenta dos pinhais.

No capítulo XXX, esse silêncio faz-se voz quando Maria dos Prazeres chega
perto dele com um frasco de amoníaco ao nariz para o tirar do torpor em que o
álcool o deixou. Irritaram-se, insultaram-se, tentando Álvaro subestimar a origem
aristocrática da mulher. “Quem é que está bêbado, sua fidalga de trampa?… Muito
Conde, muita léria, mas há vinte anos que me comes as sopas”, enquanto esta o
reduz à categoria de cocheiro merecedor de levar chicotadas: “Os cocheiros conhecem-se
bem pelas palavras.”

Há momentos em que um relâmpago de luz desperta em Álvaro, quando perante o
insulto da mulher, ele pensa: “Como é possível… Ela está a insultar-me, mas
eu amo-a, apesar de tudo, amo-a tanto… que…” E, quanto a Maria, há momentos
em que uns laivos de remorso parecem lamentar que tudo seja desta forma: “Nunca
lhe estendi a mão para um pouco de compreensão recíproca” (cap. VIII).

Afinal, que ódio terrível os une que não deixou vir á superfície um sentimento
que poderia nunca os ter separado?

No consultório quando o último doente saiu, o Dr. Neto encostou-se á janela
e enrolou o cigarro. Também ele tinha ajudado, anos e anos, aquela obra de pintar,
repintar, a colmeia dos Silvestres, sem atender a que lá dentro o enxame apodrecia.

Personagens da ação secundária

Clara

Jacinto

Clara, filha de mestre Antônio, é uma jovem saudável, bonita, apaixonada por
Jacinto, o cocheiro dos Silvestre, aquele que D. Maria dos Prazeres vê como
“uma moeda de oiro, rebrilhando à luz do sol”.

É num dos encontros entre ambos que se ficamos sabendo que a jovem espera um
filho do namorado, que, no entanto, parece sinceramente apaixonado e quer casar
com ela. Esse casamento também não é fácil realizar-se uma vez que o pai da
moça vê na filha a sua única possibilidade de sair da miséria em que tem vivido,
casando-a, (vendendo-a), a um lavrador abastado que a “compre” pela sua beleza.

No cap. XV ficamos sabendo que Álvaro Silvestre ouve o diálogo entre os dois
jovens e que, subitamente, um raio fere de morte os seus ouvidos: o nome de
sua mulher é pronunciado com ironia e resquícios de ciúme, respectivamente por
Jacinto, que refere o olhar cobiçoso com que a patroa o olha, e por Clara, que
vê na “outra” uma potencial inimiga…

Mas o jovem par, desconhecedor do que se passa fora do palheiro, continua suas
promessas de amor, aprontando uma fuga que impeça as ameaças do velho pai e
que, ao mesmo tempo, revela a força que o amor e otimismo pode imprimir em quem
o sente.

Os dois jovens representam, pois, a coragem de lutar por aquilo em que acreditam
e a confiança total na sua capacidade de realização.

António

Marcelo

O capítulo XVIII é uma espécie de separação entre as personagens. É neste capítulo
que Álvaro Silvestre, envolto no nevoeiro dos seus remorsos, dos seus fantasmas,
das suas fraquezas, parece recobrar ainda forças para tentar libertar-se delas
através de um sentimento finamente centralizado em alguém que está à sua mercê:
a vingança.

Não é a primeira vez que o assalta tal sentimento, que, contudo nunca é posto
em prática pelo medo, medo quase irracional que sente de D. Maria dos Prazeres,
contra quem não ousa frontalmente levantar-se, a não ser pontualmente, pela
injúria do álcool.

É possível ferir de morte a mulher, destruindo-lhe o encanto dos seus olhos:
destruir Jacinto é um meio de dar algum sossego à sua alma, libertando de vez
os demônios que o enlouquecem. O retrato do pai parece até acicatá-lo com o
seu sorriso, meio irônico, meio repreensivo, e voltam à memória saturada do
lavrador farrapos de conversas, sobras de bofetadas que o pai lhe dava para
o fazer agir, lutar pela vida. Pois está decidido: “Concentrou no ruivo toda
a força do seu pensamento… Nem mais, Álvaro Silvestre”.

A partir do capítulo XVIII toda a tragédia se precipita rapidamente: pôs em
prática o seu plano, pela primeira vez na vida com decisão, chamou o cego António,
contou-lhe da “sangria desatada” pôs-lhe a “pulga atrás da orelha”, e a sua
filha e o meu cocheiro estavam deitados na palha do curral onde vossemecê recolhe
o gado.

Agitando agora o velho Antônio, ensimesmado nos seus pensamentos, durante o
dia, propondo sem quê nem porquê a filha ao seu ajudante Marcelo, a troca de
ajuda num plano que o rapaz não entende, ainda… mas que, só de sonhar a recompensa,
lhe parece milagre, sabendo como sabe quais os desejos do mestre em casar a
filha com um lavrador abastado, Marcelo porém saberá o preço que terá de pagar
para ter Clara e mesmo quando, num momento bem curto, pensa que “é uma sobra
quase indistinta”, logo se decide porque “custa menos a ferir que um homem verdadeira
à luz do dia”. Em última análise, o que toma verdadeiros significado no fim
do capítulo XXIV é o diálogo:

E a rapariga? Ainda é minha?
Arreia-lhe e veremos.
[…] Acertaste-lhe?
Agora tem de ma dar.
Acertaste-lhe ou não?
Tem de ma dar, mestre António…

Aqui pode notar-se a insistência, preocupada de Marcelo que revela um objetivo
bem definido dos dois homens, levando-os no entanto a caminhos diferentes. O
capítulo XXV é terrível, pela sua condensação: terminado o crime, quando Marcelo
julga alcançar a mulher amada, mestre Antônio, embora sem mais explicações,
diz uma frase lapidar: “Julgo que a perdeste.” (será que o velho tem a percepção
do destino imediato da filha, face à tragédia que acaba de cair sobre ela?…)

O povo de Montouro

Este povo, com o regedor à frente “como demônios irritados”, revela a exaltação,
“vozes desmedidas embatiam nas paredes”. Perante esta nova situação, a fragilidade
de Álvaro Silvestre revela-se em toda a sua natureza: apavorado, descontrolado,
vê-se confrontado com a cólera popular em quem ele vê o carrasco do seu crime:
a denúncia a mestre Antônio. E, uma vez mais, Maria dos Prazeres se agiganta
na sua inquebrantável altivez, falando tão duramente à população que esta se
acovarda e vai saindo, aos poucos, “às golfadas” (cap. XXX). Os capítulos finais
dão-nos conta da ação secundária no seu fechamento (assassínio de Jacinto e
suicídio de Clara) e da ação principal na sua continuidade: tudo vai servir
para perseguir alguns dos populares como o regedor “uma autoridade que permite
tais desmandos não é autoridade não é nada” e Antunes “…e o sangue do Antunes
é ruim” e considerar o povo como um atentado permanente ao bem-estar da “gente
de bem”, à moral, à família… consignado na frase “Mancebia, arruaças, assassínio”
proferida por uma das personagens das relações de Maria dos Prazeres. A conversa
retoma os aspectos habituais, como se tudo se cumprisse num círculo, e a apatia
de Álvaro Silvestre é, de súbito, perturbada pela revolta que se vaza no desejo
louco de beber; “onde é que há brandy nesta casa? Onde é que há brandy nesta
casa?” (cap. XXXIV).

Só o Dr. Neto se sensibiliza perante a sorte de Clara, que salvara em pequena
e que agora nada pode impedir da desdita total. E quando, perante a afogada,
reconhece a sua impotência perante a injustiça dos homens e de Deus, não é capaz
de desistir, “mas continuou até o suor lhe correr pela cara. E as lágrimas também,
apesar da sua velha convivência com a morte”.

Texto parcial proveniente de apontamentos
do Prof. António Melo

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