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Os irmãos Quixaba, de William Palha Dias

by Lucas Gomes

A obra Os Irmãos Quixaba, de William Palha Dias, publicada
em 1979, é ambientada nos sertões do Piauí. É uma
narrativa ficcional abordando incesto, infanticídio e condenações.
Tem estrutura simples e de tempo cronológico perturbado apenas por um
longo flash-back, que inicia no começo da história e vai até
o meio do livro.

A linguagem utilizada é a formal, mas com alguns traços de oralidade
facilmente identificados nas primeiras páginas, para em seguida incorporar
um estilo sofisticado, especialmente quando descreve a sessão de julgamento
dos irmãos e réus, Alexandre e Margarida Quixaba, no Tribunal
Popular do Júri, pelo assassinato de Edson, o filho deles.

Embora seja uma obra modernista, Os Irmãos Quixaba também
revela aspectos que bem poderiam ser relacionados ao Realismo/Naturalismo. O
aspecto presente da denúncia social, característica do Modernismo,
combina com os traços de verossimilhança e de representação
do homem na sua dimensão animalesca, própria da outra escola literária
citada.

O autor expõe o modo de vida do sertanejo piauiense através
de personagens típicos como o vaqueiro, o caçador e também
aquele que decide aventurar-se na cidade grande na ânsia de mitigar o
sofrimento da roça. Há também uma preocupação
de mostrar os estados psicológicos dos personagens, com análises
de seus comportamentos e visões de mundo. Neste retrato fiel do Piauí
dos anos 40 e 50 e na análise psicológica vemos a retomada dos
preceitos do Realismo, que surgiu na Europa do Século XIX como negação
do Romantismo e suas idealizações. Como advogado militante, William
Palha Dias lançou mão do cientificismo (e este era um dos preceitos
do Realismo) para analisar apenas um dos muitos crimes que tomara conhecimento
de sua ocorrência no Piauí. Algumas páginas do livro são
verdadeiras peças jurídicas, dado às citações
do Código Penal e à generosa recorrência ao jargão
próprio dos advogados, numa clara referência às ciências
jurídicas como ferramenta de abordagem, fato este que remete ao Positivismo,
de Augusto Comte, um dos pilares do Realismo.

Quanto à identificação de Os Irmãos Quixaba
com o Naturalismo dá-se pela semelhança existente entre o desfecho
dado por William Palha Dias para a sua obra e duas das teorias balizadoras desta
escola literária, que são o Determinismo, de Hyppolite Taine,
afirmando ser o homem resultado das interações do seu meio, do
seu momento histórico e da sua raça; e o Evolucionismo, de Charles
Darwin, que tratava da seleção natural das espécies. Como
se percebe na leitura deste romance que alguns chamam de novela, há uma
barreira social instransponível que impede a ascensão social de
todos os personagens. Alexandre Quixaba é quem foi um pouco além,
vagueando pelo Brasil, aprendendo e humanizando-se. Mas, como se estivesse predestinado,
retorna às suas origens retomando o ciclo vicioso da miséria que
já vinha se perpetuando de pai para filho.

A animalização do homem e da mulher, ao ponto de liberarem seus
mais torpes instintos sexuais sem respeito, sequer, aos laços de consangüinidade,
é outra clara identificação com o Naturalismo, embora seja,
de fato um romance modernista. Mas esse sincretismo não deixa de ser
uma das características do Modernismo.
Uma indicação de ter William Palha Dias se inspirado nos autores
do Realismo/Naturalismo é o seu diálogo com o leitor, à
moda Machado de Assis, no final do primeiro capítulo: “Portanto,
ao Leitor que, por certo, e com muita razão, está curioso para
ouvir os debates em torno do momentoso assunto, convido a deixar, por um instante
o recinto da sessão e dar uma voltinha, tomar um cafezinho, para logo
mais, voltar, quando, juntos, ouviremos os debates dos causídicos e do
promotor, no desempenho do julgamento
”.

O livro refere-se um período anterior a 1979, ano de sua publicação,
coincidente com a construção de Brasília e da Barragem
de Boa Esperança, empreendimentos citados pelo autor em sua narrativa.

Um fato curioso é que logo após serem desmascarados, os criminosos
Alexandre Quixaba e Margarida Quixaba, não tiveram mais sequer uma fala,
sendo apenas objeto de depreciações das autoridades policiais,
judiciais e da opinião pública. O estado psicológico dos
dois incestuosos ficou oculto, cabendo ao leitor imagina-lo, mesmo na hora que
receberam a condenação mínima prevista no Código
Penal de então para o crime de matarem, dolosamente, o próprio
filho, que foi de seis anos de reclusão.

Caracterizam a obra:

– Determinismo – o comportamento explicado pela influência do
meio e da circunstância;
– Verossimilhança – mais realismo aos fatos narrados;
– O homem instintivo – o instinto é mais forte que a razão
e a moral;
– A força do sexo na natureza humana;
– Análise psicológica das personagens;
– A linguagem direta – sem rodeios.

Síntese da obra:

A narrativa, estruturada em 23 capítulos curtos e sintetizada, desenvolve-se
a partir de um julgamento histórico na cidade de Guadalupe, Piauí.
Os irmãos Alexandre e Margarida Quixaba são os réus, acusados
de matar o próprio filho, o pequeno Edson, aos quatro meses de idade,
fruto da relação incestuosa que houve entre os dois. O advogado
de defesa, Dr. Guilherme, consegue, num feito extraordinário, comover
os júri com suas citações bíblicas e desqualificar
o crime de homicídio doloso para culposo, angariado pena mínima
aos acusados, seis anos de detenção.

Tematicamente verifica-se:

– A Relação incestuosa entre os irmãos Alexandre e Margarida;
– O crime, infanticídio, ambos assassinam o próprio filho, o pequeno
Edson, 4 meses de idade;
– A condenação sócio-moral dos indivíduos.

Créditos: F. Carvalho, jornalista, formado em Letras (UESPI)
| Profª Hildalene Pinheiro, TV Assembléia

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