Home EstudosLivros A Colina dos Suspiros, de Moacyr Scliar

A Colina dos Suspiros, de Moacyr Scliar

by Lucas Gomes

Com um texto bem-humorado, em A Colina dos Suspiros, de 1999, o autor brinca com a paixão dos brasileiros pelo futebol: se eu morrer na
sexta-feira quero ser enterrado no sábado, na hora do jogo.
Esse amor pelo clube que está presente nas
grandes cidades com os seus jogadores famosos mobiliza também o coração dos torcedores dos times dos times
prquenas cidades, distantes e humildes.

Até a presença do cartola, figura tão criticada no meio futebolístico, se faz representar na cidade de Pau
Seco: o fazendeiro da região praticamente sustenta time, e nenhuma decisão é tomada sem o seu
consentimento.

A ironia do texto cativa o leitor atento, e a venda do estádio do Pau Seco para a construção de um
cemitério verticalizado, ponto turístico da cidade, recebe do autor tratamento primoroso. A escolha do
nome “Pirâmide do Repouso Eterno”, eufemismo para cemitério, seduz os habitantes da cidade, pois atenderia
à vaidade humana na hierarquização dos sepultamento: grande jogada de marketing da personagem, lance do
mais fino humor de Scliar.

Enredo

Futebol, intriga, paixão e mistério são os ingredientes desta história. A história é verídica. Nos anos
70, o Esporte Clube Cruzeiro, de Porto Alegre, vendeu seu estádio e o lugar se tornou um cemitério (João
XXIII). Entre os torcedores do time figura o escritor gaúcho Moacyr Scliar, que inspirado no episódio
escreveu um romance divertido. Justamente sobre uma equipe decadente cujo campo vai abrigar a Pirâmide
do Eterno Repouso. Entre os tipos pitorescos que recheiam a trama, o mais estranho é Rubinho, craque com
potencial de gênio, atormentado por assombrações.

A ascendência russa e a cultura judaica são decisivas na obra de Moacir Scliar, assim como os
conhecimentos, experiências e vivência de médico sanitarista. Admiração confessa pelos escritores
Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Franz Kafka e, na música, por Mozart, Philip Glass e Chico Buarque.
Futebol é o tema de A colina dos suspiros, do gaúcho Moacyr Scliar, e a pequena cidade de Pau Seco é o
cenário.

Da realidade à ficção, o autor apresenta neste romance a pequena cidade de Pau Seco, com dois clubes de
futebol que se digladiam há muito tempo. Futebol em Pau Seco é o que move ou paralisa a cidade. O
estádio fica junto do cemitério.

Ali, o Pau Seco Futebol Clube, à beira da falência, cede seu estádio para a construção de um cemitério.
A salvação está em Rubinho, um dos trabalhadores da obra, que se revela um extraordinário jogador.

Rubinho, a possível salvação dos paussequenses, é o jogador-revelação da cidade, que sofre uma humilhação
pública, pois tem medo de marcar gol em frente ao túmulo do falecido ídolo Bugio. Desaparece, e só tem
um desejo – vingança. Trata-se de um momento decisivo em sua vida. Com humor e sutileza, questões éticas,
políticas, sociais, familiares, amorosas, o bem e o mal são discutidos.

O cemitério volta a ser estádio. Aí aparece de tudo: coronel todo-poderoso com seus mandos e desmandos,
pobre que sai do anonimato para a riqueza sem preparo, maracutaias e espertezas. Esta narrativa terá
surpreendentes desdobramentos e também por isso, fascina o público jovem ou, melhor, de qualquer idade.
Com humor e sutileza, Moacyr Scliar discute questões éticas, políticas, sociais, familiares, amorosas, o
bem e o mal. Com humor leve, essa saborosa crônica cativa pelo ótimo texto, só interrompido pelas
risadas que desperta.

Posts Relacionados