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A Droga da Obediência, de Pedro Bandeira

by Lucas Gomes

A Droga da Obediência

, de Pedro Bandeira, foi escrito em 1984. É o primeiro livro da série dos personagens “Os Karas”,
cuja temática é a relação entre amigos adolescentes, que desvendavam crimes. É um clássico da literatura infanto-juvenil
brasileira.

A obra reúne os elementos de uma novela policial: detetives audazes e inteligentes, um plano de ação convincente, um policial
honesto em contraposição a um desonesto, um grande vilão sobre quem incidirá toda a perseguição.

Miguel, Crânio, Calú, Chumbinho e Magrí, são os cinco adolescentes que formam o grupo dos “Karas”. Em A Droga da Obediência,
o famoso grupo enfrenta seu primeiro grande caso.

Os Karas são um grupo de amigos que estuda no colégio Elite. Eles participam de várias aventuras de suspense em que precisam
desvendar alguns crimes. Em A Droga da Obediência, o grupo de jovens detetives desmantela uma intrincada rede de
seqüestros ocorridos em São Paulo.

Os Karas tomam conhecimento de uma onda de desaparecimentos envolvendo alunos de vários colégios conhecidos e decidem
investigar o que está acontecendo. Reúnem-se em seu esconderijo secreto, no vasto forro do imenso vestiário do colégio
Elite, e lá traçam um plano de ação para libertar um dos amigos. Depois de uma série de investigações e deduções, chegam a
uma organização criminosa: a Pain Control, que deseja, manipulando fórmulas químicas, controlar a dor da humanidade e, as sim,
a duração e a qualidade da vida humana.

O responsável por essa organização é o Dr. Q.I., um tresloucado cientista que usa os estudantes para testar suas teorias
extravagantes e autoritárias para dominar toda a humanidade.

Na sociedade almejada pelo Dr. Q.I., não há lugar para qualquer contestação, não há espaço para a desobediência nem para
a revolta. O Dr. Q.I. deseja uma humanidade obediente e servil, como carneirinhos lanudos, gordinhos e felizes. É contra essa
cultura de submissão e de aceitação passiva de uma sociedade controlada por um poder absoluto que os Karas lutam.

Trata se de uma historia de ação.

O propósito do autor é chamar a atenção pela coragem de seus personagens jovens e tentar mostrar que é na adolescência que
começa o uso de drogas.

Comentário do autor sobre a obra A Droga da Obediência

Uma novela de mistério é aquela que se destina ao raciocínio, à razão. Na novela de suspense, o autor oculta certas informações
não do leitor, mas da personagem. É o caso de uma criança que entra em casa despreocupadamente, quando o leitor sabe que um
louco armado com uma faca está atrás da porta, a sua espera. Neste caso, o apelo não é ao raciocínio, não é à razão, é à emoção.

Na série iniciada por A Droga da Obediência, procurei utilizar as duas técnicas. Há alguns dados do enredo básico que
levarão ao tal final-surpresa, mas há também muitos fatos perigosos conhecidos pelo leitor e desconhecidos pelas personagens, de
modo a criar o tal clima de suspense.

Quanto à forma, procurei usar dois aspectos básicos da técnica cinematográfica. Em primeiro lugar, temos a estrutura em cenas
justapostas, com cortes bruscos, bruscas entradas e retomadas de ação já a partir da ação anterior, sem perdas de tempo com
descrições, e flash-backs estruturados da mesma forma. Em segundo lugar, o foco narrativo, na terceira pessoa, explica a ação
como se fosse o olho único de uma câmera de cinema. O narrador só fotografa o que está exposto a esse olho único, a esse único
ponto de vista. Assim, ele não sabe tudo, ele não enxerga todos os ângulos. Um exemplo: o narrador descreve dois homens sentados
na mesa de um restaurante. Um deles tem um revólver, sob a mesa, apontado para o outro. Como a tomada de cena é frontal, o
narrador não verá o revólver; para tanto, será necessário um corte ou um travelling para debaixo da mesa.

Creio que o ponto de vista único de uma câmara cinematográfica é o mesmo de todos nós, de todo mundo. Ninguém vê, ao mesmo tempo,
mais do que um ângulo cinematográfico. Mas, tal como faço nesta série, todos vêem um só ângulo mas imaginam os ângulos que não
estão ao alcance de sua observação. É o caso do escuro. Uma criança tem medo do escuro porque, não podendo enxergar nada, cria
em sua imaginação perigos que poderiam estar ocultos pela escuridão. Tememos o escuro quando crianças, porque tememos o que
nossa própria imaginação elabora a partir do que os olhos não estão vendo.

Assim, neste livro, como nos outros da série “Os Karas”, eu não descrevo apenas o que a câmara vê; eu descrevo o que ela vê e
o que ela infere do que não vê, complementando o que ela desconhece. Ela (ou o narrador) infere o que não pode ver. A forma,
não é, deste modo, uma simples descrição como seria se eu me ativesse apenas ao olho único da câmara cinematográfica. Usando
ainda a linguagem do cinema, seria o que chamam de inner-shots, para configurar pensamento e introspecção.

A história é protagonizada por cinco adolescentes normais, estudantes de uma escola de elite. São extremamente corajosos, mas
não são infalíveis. Eles erram, tropeçam, enganam-se o tempo todo, mas têm a capacidade de reconhecer os próprios erros e procurar
a solução por novos caminhos. Criados do modo como foram, esses cinco adolescentes – os Karas – conseguiram uma grande
identificação com os leitores.

Neste livro, como nos outros, acontecem algumas ações que podem ser consideradas violentas. Minha intenção, porém, foi deixar
todas as ações violentas para os antagonistas das histórias. As ações dos protagonistas são sempre não-violentas, sempre baseadas
na inteligência, na pertinácia, no amor, no trabalho. Desse modo, eu pretendi mostrar ao leitor que o caminho da civilização não
é violência dos Rambos, ou John Waynes.”

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