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A revolução dos bichos, de George Orwell

by Lucas Gomes

Publicada em 1945, a obra A Revolução dos Bichos, em suas metáforas, revela uma aversão a toda espécie de autoritarismo, seja ele familiar, comunitário, estatal, capitalista ou comunista. Foi imediatamente interpretada como uma fábula satírica sobre os descaminhos da Revolução Russa, chegando a ter sido utilizada pela propaganda anticomunista. A novela de George Orwell de fato fazia uma dura crítica ao totalitarismo soviético; mas seu sentido transcende amplamente o contexto do regime stalinista.

Sua narrativa relaciona pessoas, animais e eventos às transformações ocorridas na Rússia (ou URSS) no século 20. Todavia, embora Orwell tenha buscado mostrar uma época específica, sua obra pode – e deve – ser vista como uma alegoria a qualquer revolução em que os mais fracos tomam o poder e, em seguida, são por ele corrompidos.

A ação ocorre na Granja do Solar, dirigida pelo Sr. Jones, que tem sérios problemas de alcoolismo e maltrata seus animais.

A Revolução dos Bichos é um livro de extrema importância para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governo, além de mostrar de forma genial a ambição do ser humano, o “sonho do poder”.

O Senhor Jones explorava o trabalho animal em benefício próprio, para acumular capital. Em troca dos serviços prestados, ele pagava com a alimentação, que nem sempre era boa e suficiente. Temos aí o retrato de uma sociedade capitalista: quem mais trabalha é quem menos ganha.

Personagens principais

Não faltam paralelos entre personagens do livro e da Revolução Russa:

Sr. Jones: antes da Revolução, o dono da granja, era um homem que estava sempre bêbado, “pagava” os animais pelos serviços prestados com uma reduzida dose de ração.

Velho Major: porco que teve a idéia da Revolução, era o mais inteligente dos animais e líder até a hora da morte. Representa o homem inteligente, sensato, preocupado com o bem estar de seus semelhantes. O velho Major, porco sábio e professoral, é uma mistura de Karl Marx, famoso por ter transmitido suas crenças socialistas por meio de textos, repletos de conteúdo revolucionário, baseados na economia e na filosofia, com o Lênin idealista do princípio da revolução. É Major que espalha as sementes da revolução na Granja do Solar, que se tornará a Granja dos Bichos. A exemplo de Marx, foi só após a morte de Major que seus ideais igualitários foram aplicados. Aí surgem Bola-de-Neve e Napoleão, os dois porcos que comandarão o levante dos animais contra o Sr. Jones.

Bola-de-Neve: também porco, foi quem assumiu a granja depois da Revolução, agora era o mais inteligente da granja. Bola-de-Neve era adepto da igualdade social para todos, e mesmo sendo o administrador da Granja dos Bichos, não tinha nenhuma regalia. Representa o homem que exerce uma liderança positiva, que age em favor do bem de todos. Bola-de-Neve tem destino similar ao de Trótski, transformando-se, à custa de muita propaganda, no “inimigo da revolução”.

Mimosa: égua branca, só se preocupava com a beleza, não queria trabalhar e só se interessava em mostrar o quão bonita ficava com fitas coloridas amarradas. O que mais gostava de fazer era chupar torrões de açúcar. Pensava apenas em si própria e não aceitava sacrificar-se para o bem comum. Representa o homem vaidoso, mas pouco preocupado com assuntos sérios, aquele que pensa apenas em si mesmo e na sua reputação pessoal.

Sansão: cavalo forte, que cumpria todas as ordens que lhe eram dadas sem reclamações, era o que mais trabalhava entre os animais, não era de muita inteligência, mas sobrava-lhe fidelidade à causa dos animais. Representa o proletariado, o homem fiel, trabalhador, aquele que não questiona porque nem ao menos tem inteligência para isso, mas que cumpre suas obrigações humildemente, convicto de que é para isso que ele existe. Sansão é a encarnação irracional do mito criado em torno de Alexei Stakhanov, o mais famoso trabalhador soviético por seu empenho e por sua dedicação.

Garganta: porco inteligente, com um poder extremo de persuasão, se encarregava de transmitir aos animais o que Napoleão queria, convencendo-os de que tudo era para o bem de todos. É uma alegoria aos sistemas de propaganda dos regimes totalitários (um tipo de “Pravda” de quatro patas). Representa o homem esperto, com grande facilidade de argumentação e grande poder de persuasão; aquele que convence através da linguagem, um verdadeiro político.

Quitéria: égua mais sábia, era quem dava conselhos aos outros animais e quem os ajudava na leitura dos Sete Mandamentos, tendo, portanto, consciência das mudanças ocorridas na redação dos mesmos. Representa o homem amigo, companheiro, disposto a ajudar sempre, com poder de discernimento e boas idéias em mente.

Napoleão: foi o porco que deu o golpe em Bola-de-Neve, era um tipo de assistente, que participava das decisões, mas com menos poder. Depois transformou-se num ditador sem escrúpulos. Representa o homem egoísta, ambicioso, o que subestima todos os companheiros, prejudica-os, maltrata-os sem piedade. É o homem enfeitiçado pelo poder e pela riqueza. Napoleão representa o desejo da onipotência, do poder absoluto e, para conseguir seus objetivos, tudo passa a ser válido: mentiras, traições, mudanças de regras. Tempos depois instaurava-se na Granja uma verdadeira Ditadura, o regime em que não há liberdade de expressão, direito a opiniões etc. Na sede pelo poder e pela riqueza, Napoleão entra em contato com os homens para com eles negociar, comprar, vender, enfim, acumular riquezas e tudo graças ao trabalho dos animais, verdadeiros empregados mal – remunerados, ajudando o “patrão” a ter regalias, bens materiais, capital. Napoleão, partidário do totalitarismo, foi criado para representar Stalin, o mais sanguinário dos líderes soviéticos. Napoleão se cerca de cães ferozes, “verdadeiros defensores da revolução”, que funcionam como a KGB (a polícia secreta soviética) ou suas antecessoras, não permitindo dissensão nem oposição ao poder central.

Há na obra-prima de Orwell, várias alusões a fatos da Revolução Russa. As sempre inatingíveis metas dos planos quinquenais de Stalin são representadas pela construção do moinho de vento: o sonho impossível dos moradores da Granja dos Bichos.

Os expurgos stalinistas aparecem no momento em que a sublevação dos animais está em perigo por conta de ataques do mundo exterior (dos homens). Assim, inúmeros animais acabam mortos, num banho de sangue que faz com que os outros revolucionários da granja se lembrem do Sr. Jones, talvez como o proletariado soviético pensou nas forças de segurança de Nicolau 2º durante os expurgos realizados por Stalin.

Contudo, como lembra o aforismo do final da obra (Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros), que se torna o único mandamento da Granja dos Bichos, a ilusão revolucionária é breve, e o poder absoluto corrompe aqueles que o exercem.

É aí que Orwell, um socialista de convicções democráticas, conforme sua definição, dirige sua sátira corrosiva para qualquer sistema desgovernado. E os porcos (classe dominante) passam a lembrar os homens, seus maiores inimigos inicialmente.

A Guerra Fria transformou A Revolução dos Bichos em um clássico da propaganda anticomunismo, mas suas lições são mais atuais que nunca, pois a concentração de poder, a manipulação das informações e as desigualdades são cada vez mais graves.

Enredo

A Revolução que se deu por idéia de Major, tinha por princípio básico a igualdade; sendo assim, o Animalismo corresponde ao Socialismo, regime em que não existe propriedade privada e em que todos são iguais, e todos trabalham para o bem comum.

A princípio, houve um socialismo democrático, em que todos participavam de assembléias, dando idéias e sugestões, liderados por Bola-de-Neve, bem aceito pelos animais em geral. Napoleão representa o desejo da onipotência, do poder absoluto e, para conseguir seus objetivos, tudo passa a ser válido: mentiras, traições, mudanças de regras. Tempos depois instaurava-se na Granja uma verdadeira Ditadura, o regime em que não há liberdade de expressão, direito a opiniões etc.

Na sede pelo poder e pela riqueza, Napoleão entra em contato com os homens para com eles negociar, comprar, vender, enfim, acumular riquezas e tudo graças ao trabalho dos animais, verdadeiros empregados mal – remunerados, ajudando o “patrão” a ter regalias, bens materiais, capital. A situação fica mais crítica do que quando Jones era o dono da Granja porque, mais do que nunca, os direitos humanos, ou seja, dos animais foram violados de forma cruel e tendo conseqüências gravíssimas como a morte de alguns, o desaparecimento de outros e muita tortura.

Com base nos fatos ocorridos podemos concluir que a história nos mostra os dois tipos de dominação existentes – a dominação pela sedução: Garganta persuadia os animais com seus argumentos convincentes e eles aceitavam pacificamente as mudanças efetuadas, e a dominação pela força bruta: quem se rebelasse contra as ordens era punido fisicamente, torturado por cães treinados e levados até à morte.

A história, desde a expulsão do Sr. Jones até a “transformação completa de Napoleão em “humano” durou aproximadamente 6 anos.

Na Granja do Solar, situada perto da cidade de Willingdon (Inglaterra), viviam bichos, que como dono tinham o Sr. Jones. O Velho Major (porco) teve um sonho, sobre uma revolução em que os bichos seriam auto-suficientes, sendo todos iguais. Era o princípio do Animalismo. O Major morreu, mas mesmo assim os animais colocaram em prática a idéia do líder, fazendo a Revolução dos Bichos.

Depois da Revolução, a Granja passou a se chamar Granja dos Bichos, e quem a administrava era Bola-de-Neve (porco). Bola-de-Neve seguia os princípios do Animalismo, e mesmo sendo superior (em quesitos de inteligência e cultura) em relação aos outros animais, sempre se considerou igual a todos, não tendo privilégios devido à sua condição. Bola-de-Neve tinha um assistente, Napoleão (porco), que na ânsia pelo poder, traiu o amigo, assumindo a administração da Granja. Napoleão mostrou-se competente e justo no começo, mas depois passou a desrespeitar os Sete Mandamentos, os quais firmavam as idéias animalistas.

Depois de aproximadamente 5 anos, Napoleão já ocupava a casa do Sr. Jones, bebia álcool, vestia as roupas do ex-dono, andava somente sobre duas pernas e convivia com seres humanos, enfim agia em benefício próprio, instalando um regime ditatorial, dominando e hostilizando os demais animais, considerados seres inferiores e sem direitos. Por essa época, já não era possível distinguir, quando reunidos à mesa, o porco tirano e os homens com quem se confraternizava.

Napoleão conseguiu sair vitorioso graças à ajuda de Garganta, porco servil e obediente e que, através de bons argumentos, convencia os animais de que tudo o que acontecia era para o bem deles.

Os Sete Mandamentos do Animalismo eram os seguintes: Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; Nenhum animal usará roupas; Nenhum animal dormirá em cama; Nenhum animal beberá álcool; Nenhum animal matará outro animal; Todos os animais são iguais. Napoleão, aos poucos, alterou todos os mandamentos. Foi Bola-de-Neve quem escreveu os Sete Mandamentos.

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