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Americanas, de Machado de Assis

by Lucas Gomes

Americanas é o terceiro livro de poesias escrito por Machado de Assis, após Crisálidas e Falenas. A primeira e única edição é de 1875. Como os dois livros anteriores, também esta publicação constitui a segunda redação pública de Americanas, cujos poemas apareceram, em parte, nas Obras completas, na edição de 1901. Trata-se de um momento interessante na obra do poeta Joaquim Maria Machado de Assis que, à época, já havia publicado romances e contos cujo sucesso já o fizera figura notável. 

Em Americanas, Machado de Assis tenta uma poesia narrativa, toda baseada em ações. Não as assimila, contudo, como um Gonçalves Dias, que as transfunde no próprio sangue, ou Castro Alves, que nelas se arrebata, mas talvez como um Basílio da Gama, que as trata objetivamente. Todo o poema Potira, parece inspirado no metro do Uraguai. Tenta penetrar na alma indígena que não chega para engrandecê-la. Não se limitou ao indianismo, ou seja, ao atrito entre índios e brancos, mas se estendeu ao conflito religioso, como em A Cristã Nova, poemeto sobre os tempos da Inquisição e ao embate entre brancos e negros identificado em Sabina, talvez a mais sensual poesia de Machado.

Para Machado, o espírito se modifica ao longo da vida, porém a vida se conserva impassível a essa mudança, formando-se assim dois mundos, o interno e o externo. Uma coisa, então é o conhecimento racional, outra a apreensão emocional. Se aquela independe do tempo, esta lhe está sujeita, e esmorece a sua força, à medida que o tempo passa. Nem é por outro motivo que aquele homem na noite de Natal, Soneto de Natal, ao tentar em vão transportar para o verso as sensações antigas, indaga, perplexo:
E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
“Mudaria o Natal ou mudei eu?”

Nessa visão machadiana vai um pouco da concepção existencialista, para a qual a consciência é o que não é, quer dizer, uma simples transparência do objeto que reflete, transparência através da qual o direito e o avesso podem assimilar-se reciprocamente.

É um livro curioso na medida em que se rende ao sortilégio e influência de Gonçalves Dias, pagando tributo ao indianismo. As influências de José de Alencar também são fortes, e o recurso da metalinguagem externa  mostra que o assunto do livro não era unicamente os aborígenes brasileiros. Mas é um indianismo “mitigado”, sem a explosiva cor local que tanto contribuiu para a popularização do gênero. É um texto curioso porque, a despeito da temática romântica e do apelo telúrico contido no título, Machado de Assis se mostra contido em suas expressões, buscando conter-se dentro do tema que a tradição dos românticos explorara exaustivamente. Foi, sem dúvida, uma tentativa interessante de recriar um “americanismo” – antes que um indianismo num momento em que a consciência de pertencer a um continente parecia criar vínculos entre os intelectuais da época. Esta redação encontrou algumas dificuldades, mormente no que se refere à grafia dos nomes indígenas, alguns deles ainda não fixados em dicionários.

De todo modo, seguimos as formas fixadas em nossos dicionaristas mais importantes e procuramos aproximar-nos, o máximo possível, das nomenclaturas mais aceitáveis, quando os nomes não apresentavam grafia fixada. Algumas expressões foram mantidas em suas formas arcaizantes, tendo em vista a métrica e a preservação da vontade autoral.

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