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Amor de Salvação, de Camilo Castelo Branco

by Lucas Gomes

Amor de Salvação, obra de Camilo Castelo Branco, publicada em 1863, é uma novela passional, considerada pela crítica uma das obras mais bem acabadas do autor. Um romance sobre emoções perturbadoras, que resistem ao tempo e sobrevivem a todos os obstáculos de uma época extremamente conservadora.

O autor enaltece nesta obra o caráter salvador do amor, como um sentimento capaz de regenerar os corações distantes da vida digna: afasta boêmios das tavernas, as mulheres dos leitos quentes e restaura a honra e o perdão nos corações humanos. Com lirismo e ironia o autor retrata o drama do protagonista Afonso, que se divide entre o amor de duas mulheres: Mafalda, a mulher-anjo representada por uma jovem do meio rural, e Teodora, a mulher-demônio personificada pela mulher da cidade. Apesar do título Amor de Salvação a novela relata em quase toda sua extensão, um “amor de perdição” entre Afonso e Teodora. Ao “amor de salvação”, Mafalda, são dedicadas somente as ultimas páginas do romance.

A história relata lembranças que são contadas ao narrador pelo protagonista, Afonso de Teive, em uma noite de Natal, após um reencontro entre os dois que não se viam há quase doze anos.

Enredo

Amor de Salvação começa mostrando o tédio do narrador urbano, durante as festas natalinas. Vai para o campo, e pernoita na casa de um gordo homem, com chinelas aldeãs. Percebendo que conhece o aparentemente desconhecido anfitrião, que fora um antigo companheiro de juventude, um exilado das cidades, ouve-lhe: “A gente das cidades pergunta-me em que país do mundo florescem, em dezembro, bouças e montados… Respondo que é em Portugal, no perpétuo jardim do mundo, no Minho, onde os inventores de deuses teriam ideado as suas teogonias, se não existisse a Grécia”.

Mostrando a sua casa, Afonso ressalva-a em seu aspecto rural-patriótico. A própria barba não escanhoada já é prenúncio de seu novo ser, puro, aristocrático. O mesmo, valendo para a decoração, a linguagem: “A decoração diz com as minhas barbas! Aqui é tudo português. Até a linguagem é portuguesa de lei: olha que estou falando vernaculamente, meu amigo. Há catorze anos que tu me convidavas urbanamente a não insultar os Lucenas e os Sousas com as minhas francesias.”

Em seu contraponto local, o narrador descreve como a senhora rural veste-se, ao contrário da citadina, sem elegância excessiva, que o seu semblante é doce, que é boa por natureza e sem quaisquer dissimulações. Também fala do estômago, onde as diferenças cidade e meio rural são espicaçadas pelo olhar diferencial daquele que passou pelos dois mundos: “A aldeia dispensa ao espírito investigador um curso completo de ciências. A poesia do estômago, esta mais que toda poesia humanitária, não se dá nas cidades; lá come-se materialmente, aqui dá-se ao espírito a presidência em todas as matérias assimiláveis.”

Afonso e Teodora foram prometidos um ao outro, por suas mães que eram amigas desde os tempos em que estudavam num convento. Após a morte da mãe, Teodora vai para um convento e tem como tutor seu tio, pai de Eleutério Romão. Teodora e Afonso estão sempre em contato aguardando o tempo certo para casarem. Afonso resolve estudar fora por dois anos. Teodora influenciada pela amiga Libana quer casar-se o mais rápido possível. A mãe de Afonso, D. Eulália, pede-lhe para aguardar. Mas com a saída de Libana do convento, Teodora se desespera e resolve casar-se com seu primo, Eleutério, para libertar-se das grades do convento.

Eleutério era o oposto a beleza de Teodora, era rude e vestia-se de forma hilariante. Apesar da grande tentativa de seu tio, o padre Hilário, em ensinar-lhe a ler, nada conseguiu. Vencido pela incapacidade de seu sobrinho, Padre Hilário desistiu afirmando que somente através de uma fresta no cérebro, aberta a machado, seria possível tal façanha.

Teodora viveu em pompas, trajes de sedas, cavalos, bailes etc, mas nunca esquecera Afonso, enviava-lhe cartas de amor mas nunca obtivera resposta. Afonso sofreu muito com a notícia do casamento de Teodora, pediu a mãe permissão para se ausentar de Portugal. Contava sempre com o apoio e o consolo das cartas de sua mãe e sua prima Mafalda, que o amava pacientemente.

Após anos de amargura, sofrimento e luta contendo-se diante das cartas de Teodora, para não fugir aos ensinamentos religiosos aos quais sua mãe o educou, foi fulminado pela influência do amigo José de Noronha que o incentivou a escrever à Teodora. Relutou mas não conseguiu. A tal carta foi cair nas mãos de Eleutério, que leu mas nada entendeu. Pediu então a um amigo ajuda para interpretá-la. A carta acabou sendo rasgada por Fernão de Teive, dando a desculpa de serem grandes sandices, após junto com sua filha Mafalda, reconhecer as intenções do remetente, seu sobrinho Afonso de Teive.

Não conformado, Afonso parte ao encontro de Teodora. Eleutério quando os encontra juntos, pede-lhes explicações. Teodora responde-lhe que é uma mulher livre a partir daquele momento, e vai viver com Afonso. Passam momentos, ilusoriamente, felizes. Afonso abandona até a sua própria mãe para viver ardentemente esta paixão que sempre o consumiu. Sua mãe sempre afetuosa, apesar da grande tristeza, sustenta a vida luxuosa que Afonso tem ao lado de Teodora.

Afonso quando fica sabendo da morte de sua mãe, através de carta escrita por Mafalda, se desespera. Teodora tenta consolá-lo, mas ele sente em suas palavras ironia e sente nojo de tamanho fingimento. Procura isolar-se de Teodora e dos amigos.

Durante este período, Tranqueira, velho criado da família, alerta-o sobre as intenções do amigo José de Noronha por Teodora. No início se revolta contra o criado, mas acaba escutando-o e passa a observá-los. Encontra umas cartas que confirmam as suspeitas. Certo dia os pega juntinhos com gestos de muita familiaridade. Aborrece-se pede para que Noronha saia de sua casa. Teodora dissimulada como sempre, tenta enganá-lo, mas ele atira-lhe as cartas. Teodora desmaia enquanto Tranqueira derruba Noronha na cisterna para vingar seu patrão.

Afonso passa alguns dias fora de casa, quando retorna encontra uma carta de Teodora informando os pertences que havia levado consigo. Apesar de traído sente saudade da encantadora Teodora. Vende tudo e parte para Paris atrás de um amor que o salve. Gasta tudo o que tem. Por fim, pede ao seu tio Fernão para comprar-lhe a casa onde viveram seus pais e avós, pois não queria ofender a memória de sua mãe que o havia pedido, em carta antes morrer que não a vendesse. Mafalda com seu coração generoso e cheio de amor pelo primo, pede a seu pai que o atenda, e este assim o faz, mas com a condição de que a casa continuaria sendo de Afonso.

Afonso afunda-se cada vez mais em seus vícios e extravagâncias a ponto de querer suicidar-se. Tranqueira, que nunca o abandonou, percebeu sua intenção e diz-lhe severas palavras que o livraram de tamanha loucura. Mudou de vida, passou a trabalhar e a estudar com apoio de seu criado.

Fernão de Teive adoece, e prestes a morrer pede ao padre Joaquim que vá a Paris entregar a Afonso, os documentos de propriedade da casa a qual comprara, apenas com intuito de ajudar o sobrinho.

Após a morte de Fernão, Mafalda sentindo-se sozinha, resolve viajar com o padre Joaquim para Paris com a objetivo de juntar-se as irmãs de caridade. Quando o padre Joaquim encontra Afonso e conta-lhe da morte do tio, este chora e corre ao encontro da prima que ficara em uma hospedaria. Mafalda conta ao primo sua decisão, mas padre Joaquim pede-lhes, pelo amor de Deus, que ao invés disso, casem-se. Afonso aceitou de imediato e agradeceu à Deus por ter ouvido os pedidos de suas mães. Afonso e Mafalda voltaram para sua cidade, casaram-se, tiveram oito filhos e foram muito felizes.

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