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As Flores do Mal, de Charles Baudelaire

by Lucas Gomes

A obra As Flores do Mal, considerada o marco da poesia moderna, foi criada
por Charles Baudelaire com versos rigorosamente metrificado e rimados, que prefiguraram
o Parnasianismo. Baudelaire tratou de temas e assuntos que vão do sublime
ao escabroso, investindo liricamente contra as convenções morais que permeavam
a sociedade francesa dos meados do século XIX. As Flores do Mal reúnem
de modo exemplar uma série de motivos obra do poeta: a queda; a expulsão do paraíso;
o amor; a morte; o tempo; o exílio e o tédio. Os poemas desta obra retratam como
ninguém as mazelas do espírito humano.

Diversos poemas de As Flores
do Mal
foram cortados do livro como imorais, por decisão legal, num processo
que só foi anulado em 1949. Nem mesmo suas dilacerantes contradições e dramas
íntimos, alternando orações a Deus e ao diabo, transformando sua vida em uma prodigiosa
confusão entre amor sublime e degradação, dissipação e trabalho intelectual, tudo
isso agravado pela doença que o corroia, a sífilis que acabaria por levá-lo à
morte em 1867, aos 46 anos, não o impediram de, à sua maneira, ser consistente.
Comentário de Paul Valéry: As Flores do Mal não contêm poemas nem
lendas nem nada que tenha que ver com uma forma narrativa. Não há nelas nenhum
discurso filosófico. A política está ausente por completo. As descrições, escassas,
são sempre densas de significado. Mas no livro tudo é fascinação, música, sensualidade
abstrata e poderosa.

Poemas escolhidos

Remorso Póstumo

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa
Em fundo de uma cripta em mármore lavrada
Quando tiveres só por alcova e morada
O vazio abismal de carneira chuvosa;

Quando a pedra, a oprimir tua fronte medrosa
E teus flancos a arfar de exaustão encantada,
Mudar teu coração numa furna calada
Amarrando-te os pés na rota aventurosa,

A tumba, confidente do sonho infinito
(Pois toda a vida a tumba há de entender o poeta),
Pela noite imortal de que o sono é prescrito,

Te dirá: “De que serve, hetaira incompleta,
Não teres conhecido o que choram os mortos?”
E os vermes te roerão assim como os remorsos.

A Uma Passante

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho… e a noite depois! – Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

O Vampiro

Tu que, como uma punhalada,
Entraste em meu coração triste;
Tu que, forte como manada
De demônios, louca surgiste,

Para no espírito humilhado
Encontrar o leito e o ascendente;
– Infame a que eu estou atado
Tal como o forçado à corrente,

Como ao baralho o jogador,
Como à garrafa o borrachão,
Como os vermes a podridão,
– Maldita sejas, como for!

Implorei ao punhal veloz
Que me concedesse a alforria,
Disse após ao veneno atroz
Que me amparasse a covardia.

Ah! pobre! o veneno e o punhal
Disseram-me de ar zombeteiro:
“Ninguém te livrará afinal
De teu maldito cativeiro.

Ah! imbecil – de teu retiro
Se te livrássemos um dia,
Teu beijo ressuscitaria
O cadáver de teu vampiro!”

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