Home EstudosSala de AulaBiografias Benedito Calixto

Benedito Calixto

by Lucas Gomes

Benedito
Calixto nasceu a 14 de outubro de 1853 na Vila de Nossa Senhora da Conceição
de Itanhaém, e adolescente transferiu-se para Brotas, onde pintou seus
quadros iniciais. Incentivado pelos encômios, realizou em 1881 sua primeira
exposição, na sede do Correio Paulistano, em São Paulo.
O insucesso da mostra fê-lo abandonar para sempre a capital e buscar refúgio
em São Vicente, onde viveria praticamente o resto da existência
e construiria boa parte de sua obra.

Dois anos depois da má estréia paulistana, surgiu a Calixto a
oportunidade de estudar seriamente em Paris, a convite e a expensas do Visconde
de Vergueiro. O pintor, embora casado desde 1877, parte sozinho para a França,
freqüenta sem maiores motivações o ateliê de Raffaelli,
cuja arte não aprecia, e pouco depois transfere-se à Academia
Julian, como aluno de Boulanger, Lefebvre e Tony-Robert Fleury.

De Paris segue até Lisboa, onde por muito pouco tempo recebe aulas de
Silva Porto, tendo ainda freqüentado o ateliê de Malhoa.

Retornando ao Brasil em 1885, Calixto é rigorosamente o mesmo de quando
embarcou: imune a influências, impermeável ao fascínio cultural
da capital francesa, permanece até o fim um isolado, praticando um tipo
de pintura do qual não se arredaria um milímetro, alheio a qualquer
inovação ou renovação.

Quando descansa da pintura, é no passado histórico de São
Paulo que se refugia, ou então se volta para as estrelas, em sua paixão
de astrônomo amador.

Esse amor excessivo à História seria aliás nocivo ao artista,
que com escrúpulos de documentarista chegará a povoar de indígenas
o quintal de sua casa, a fim de mais fielmente pintar A Fundação
de São Vicente, e que fincaria no mesmo local gigantesco mastro, para
ter uma idéia mais real de como seriam as naus de Martim Afonso de Sousa,
quando aportou em 1532 a São Vicente.

Outro fator negativo a conspirar contra a arte de Calixto foi o elevado número
de encomendas a que teve sempre de atender. Já Vítor Meireles,
em fins do século passado, referira-se ao “afogadilho com que pensa
e à rapidez com que executa o que pensa”, acrescentando que, vivesse
acaso Calixto no Rio, tentaria corrigi-lo, “obrigando-o a pintar um trabalho
grande, durante dois ou três anos”.

Para os últimos anos de vida, sobretudo, transformara-se Calixto numa
autêntica máquina de fazer quadros, como se pode observar desse
trecho de uma carta remetida em maio de 1919 a um comerciante que se incumbia
de lhe vender a produção:

Peço-lhe o favor de tomar nota das pessoas que querem outros quadros,
a fim de que as mesmas se expliquem sobre o tamanho e o gênero que desejam,
bem como o ponto ou lugar que devo reproduzir.

Na mesma carta, desencantado, acrescenta:

Pouco ou nada me adianta, agora que já estou velho, a opinião
e conselho dos críticos sobre meus trabalhos. Desejaria apenas, que os
jornais dessem notícias dos quadros vendidos, etc., e mais nada, pois
não preciso de reclame
.

Foi o isolamento em que viveu Calixto que o impediu de participar com freqüência
do Salão Nacional de Belas Artes, em cujos catálogos o seu nome
surge apenas duas vezes, em 1898 (medalha de ouro de terceira classe) e em 1900.
Também por isso não tomou parte, senão raramente, de certames
internacionais, como a Exposição de Saint-Louis de 1904, na qual
conquistou também medalha de ouro.

Mesmo escondido em São Vicente, nunca deixou de ser prestigiado, como
o comprovam os clientes e o avultado número de alunos, a começar
por sua própria filha, Pedrina Calixto Henriques, cuja pintura aliás
é subsidiária da sua, a ponto de muitas obras de sua autoria terem
sido metamorfoseadas inescrupulosamente em originais do pai; tarefa aliás
muito simples porque, além do mais, a artista assinava-se apenas P. Calixto,
bastando um traço recurvo ao P inicial para que surgisse a assinatura
mais prestigiosa.

Calixto foi pintor de marinhas, paisagens, costumes populares, cenas históricas
e religiosas. Se durante a sua vida a tendência era considerá-lo
acima de tudo como pintor de história e religioso (gêneros esses
nos quais deixou abundante produção, inclusive na Catedral e na
Bolsa de Santos, no Palácio Cardinalício do Rio de Janeiro, na
Igreja de Santa Cecília em São Paulo e na Matriz de São
João Batista em Bocaina), hoje costuma-se conceder bem maior importância
às cenas portuárias e litorâneas, nas quais extravasa um
caráter talvez rude, mas pessoal e profundamente sincero na abordagem
dos diversos aspectos da natureza.

Os quadros em que fixou o desembarque do café, no primitivo porto de
Santos, ao lado do seu aspecto puramente documental, revestem-se de força
expressiva, apesar da aparência algo dura das embarcações;
por outro lado, convém destacar certas cenas litorâneas ou ribeirinhas,
em que a um desenho algo ingênuo e a um colorido preciso aliam-se uma
nítida preocupação atmosférica e um grande respeito
ao meio ambiente.

O artista faleceu a 31 de maio de 1927, em São Paulo, tendo sido porém
enterrado no Cemitério de Paquetá, em Santos. Três anos
antes, recebera do Papa Pio IX a comenda e a cruz de São Silvestre Papa,
em recompensa aos serviços prestados à Igreja com sua arte.

Fonte: CD Rom 500 Anos da Pintura Brasileira

Conheça
as obras do artista

Posts Relacionados