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Hidrografia: 1. Formações hidrogeológicas – Aquíferos

by Lucas Gomes

A combinação das estruturas geológicas com fatores geomorfológicos
e climáticos do Brasil resultou na configuração de 10 províncias
hidrogeológicas (mapa abaixo), que são regiões com sistemas
aquíferos
com condições semelhantes de armazenamento,
circulação e qualidade de água. Essas províncias
podem estar divididas em subprovíncias.

Sendo assim, as águas subterrâneas no Brasil ocupam diferentes
tipos de reservatórios, desde as zonas fraturadas do embasamento cristalino
(escudo) até os depósitos sedimentares cenozóicos (bacias
sedimentares), reunindo-se em três sistemas aquíferos: porosos,
fissurados e cársticos. Os escudos são formados por rochas magmáticas
e metamórficas e correspondem aos primeiros núcleos de rochas
emersas que afloraram desde o início da formação da crosta
terrestre. As bacias sedimentares são depressões preenchidas,
ao longo do tempo, por detritos ou sedimentos provenientes de áreas próximas
ou distantes que normalmente estão dispostas de forma horizontal

Os sistemas aquíferos brasileiros armazenam os importantes excedentes
hídricos, que alimentam uma das mais extensas redes de rios perenes do
mundo, com exceção dos rios temporários, que nascem nos
domínios das rochas do embasamento geológico subaflorante do semi-árido
da região Nordeste, e desempenham, ainda, importante papel sócio-econômico,
devido à sua potencialidade hídrica.

Sistemas porosos: formados por rochas sedimentares que ocupam
42% (3,6 milhões de km2) da área total do país
e compreendem cinco províncias hidrogeológicas (bacias sedimentares):
Amazonas, Paraná, Parnaíba-Maranhão, Centro-Oeste e Costeira.
A estruturação geológica, com alternância de camadas
permeáveis e impermeáveis, assegura lhes condição
de artesianismo. As Bacias do Paraná, Amazonas, Parnaíba e a Subprovíncia
Potiguar-Recife destacam-se pela extensão e potencialidade.

– As Províncias Amazonas e Parnaíba posicionam-se como a segunda
e terceira do Brasil, respectivamente, em volume de água armazenado.
A pouca evaporação da Província Amazonas, motivada pela
elevada umidade do ar e a cobertura florestal, contribui também para
uma maior absorção das águas superficiais pelas suas rochas.

– A Província Centro-Oeste compreende as Subprovíncias Ilha do
Bananal, Alto Xingu, Chapada dos Parecis e Alto Paraguai, localizadas na região
Centro-Oeste do país, cujos principais aquíferos são
o Aquidauana, Parecis e Botucatu.

– A Província Costeira abrange praticamente toda zona costeira do Brasil,
excetuando­se as porções dos Estados do Paraná, São
Paulo, sul do Rio de Janeiro, norte do Pará, Ilha de Marajó e
sudeste do Amapá. Essa província apresenta-se bastante diversifica
da, por abranger várias bacias sedimentares costeiras, de diferentes
constituições e idades geológicas. As suas subprovíncias
são: Alagoas/Sergipe; Amapá; Barreirinhas; Ceará/Piauí;
Pernambuco; Potiguar; Recôncavo; Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os
aquíferos mais importantes são os arenitos cretáceos
e terciários nas Bacias Potiguar, Alagoas e Sergipe. Os sistemas aquíferos
Dunas e Barreiras são utilizados para abastecimento humano nos Estados
do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte. O Aquífero
Açu é intensamente explotado para atender ao abastecimento público,
industrial e em projetos de irrigação (fruticultura), na região
de Mossoró (RN). O Aquífero Beberibe é explotado na
Região Metropolitana do Recife, por meio de 2.000 poços que atendem
condomínios residenciais, hospitais e escolas.

– A Província São Francisco participa desse sistema com a parte
granular-arenítica das Formações Urucuia-Areado.

– A Bacia Sedimentar do Paraná constitui, sem dúvida, a mais
importante província hidrogeológica do Brasil, com cerca de 45%
das reservas de água subterrânea do território nacional,
em função da sua aptidão em armazenar e liberar grandes
quantidades de água e pelo fato de se encontrar nas proximidades das
regiões relativamente mais povoadas e economicamente mais desenvolvidas
do país, além de possuir o maior volume de água doce em
sub-superfície, com reserva estimada de 50.400 km3 de água.

– Localizada no centro-leste da América do Sul, com uma superfície
total de aproximadamente 1.600.000 km2 é considerada também
a segunda bacia mais importante da América do Sul, constituindo-se em
uma fossa muito profunda, que alcança de 6.000 a 7.000 m, ao longo do
seu eixo central que se encontra abaixo do Rio Paraná. Está composta
por uma impressionante sequência de rochas sedimentares, que vão
desde o Paleozóico até o Cenozóico (triássicas­jurássicas-cretáceas).
A porção que se encontra em território brasileiro perfaz
1.000.000 km2 e tem uma espessura máxima de 6.000 m. As formações
paleozóicas apresentam baixa permeabilidade e representam sistemas aquíferos
pouco produtivos, não sendo muito satisfatórios com respeito à
qualidade de suas águas. Entre os aquíferos paleozóicos
mais importantes encontram-se os arenitos Furnas, Aquiduana, Itararé
e Rio Bonito. Muito mais importantes são as formações triássicas-jurássicas
que se encontram separadas por um pacote basáltico de grande extensão
lateral, formando um aquífero de dimensões continentais,
o Guarani, composto pelas Formações Botucatu e Pirambóia,
e que constitui um dos principais sistemas aquíferos da mesma.

– A cobertura de basaltos constitui-se num aquífero fraturado –
Formação Serra Geral (com mais de 1.500 m de espessura) – que
cobre o Aquífero Guarani, de forma a reduzir sua área de
exposição a apenas 10% da área total de distribuição
geográfica sub-superficial. A sua extensão original estimada em
4.000.000 km2 acha-se reduzida a 1.000.000 km2, aflorando
de forma praticamente contínua, sobre cerca de 56% dessa área,
e, no restante, sendo recoberta pelos sedimentos dos Grupos Bauru/Caiuá
(o primeiro localizado no Estado de São Paulo e o segundo, no Estado
do Paraná). A grande importância econômica dos basaltos advém
da reconhecida fertilidade dos solos, base de intensa exploração
agropecuária característica da região e dos condicionamentos
favoráveis (topográficos e geotécnicos) a implantação
de hidrelétricas. A sua importância hidrogeológica decorre
da relativa explorabilidade das suas zonas aquíferas pelos meios
técnicos e financeiros disponíveis. Em termos de potabilidade,
as águas dos basaltos revelam uma forte tendência alcalina (pH
= 5,5 e 6,5) e mineralização total inferior a 300 mg/L.

– Os Grupos Bauru/ Caiuá, arenitos que cobrem cerca de 315.000 km2
da Formação Serra Geral, apresentam uma espessura média
de 100 m, que contêm água geralmente de boa qualidade. Devido ao
baixo custo de captação, esses dois aquíferos são
intensamente explorados. Em 1999 já existiam mais de 16.000 poços
tubulares, 2/3 dos quais captando o Aquífero Bauru, de modo a garantir
o abastecimento doméstico e parte das demandas de pequenas indústrias
da região. Essa condição advém do fato de ser um
sistema livre, local e ocasionalmente freático e é submetido a
uma abundante recarga. Contudo, essa condição faz com que esse
manancial seja potencialmente muito vulnerável aos agentes poluidores
provenientes das atividades agro­industriais, principalmente. As sequências
arenosas e argilosas alternadas do Grupo Bauru no Brasil, depositadas sobre
o pacote de rochas vulcânicas (basaltos) durante o cretáceo superior
correspondem às Formações Quebrada Monardes na Argentina;
Acaray no Paraguai e Mercedes-Ascencio no Uruguai.

– Outros importantes aquíferos da Província do Paraná
são: Marizal, São Sebastião (com espessura de mais de 3.000
m) e Ilhas (2.500 m).

Sistemas fraturados ou fissurados: ocupam uma área
de cerca de 4,6 milhões de km2, correspondente a 53,8% do
território nacional. Compreendem as Províncias Hidrogeológicas
dos Escudos Setentrional, Central, Oriental e Meridional. As duas primeiras
províncias com rochas fraturadas do embasamento apresentam razoáveis
possibilidades hídricas, devido aos altos índices pluviométricos
da área. A Província Oriental está dividida em duas sub-províncias
(Nordeste e Sudeste). A Província Meridional, em Santa Catarina e no
Rio Grande do Sul é de substrato alterado. Os altos índices pluviométricos
da região asseguram a perenização dos rios e contribuem
para a recarga dos aquíferos, cujas reservas são, em parte,
restituídas à rede hidrográfica.

Esse sistema apresenta reservas de águas subterrâneas da ordem
de 10.080 km3. As águas são de boa qualidade química,
podendo ocorrer localmente teores de ferro acima do permitido. No domínio
do embasamento cristalino subaflorante, como na Província Hidrogeológica
Escudo Oriental do Nordeste onde está localizada a região semi-árida
– há pequena disponibilidade hídrica, devido à formação
de rochas cristalinas. É frequente observar teor elevado de sais
nas águas dessa região, o que restringe ou impossibilita seu uso.
Nesse domínio subaflorante é que nascem os rios temporários.

Sistemas cársticos: formados pelo sistema cárstico-fissural
da Província Hidrogeológica do São Francisco, e pela Formação
Jandaíra (subprovíncia Potiguar). Inclui os domínios do
calcário do Grupo Bambuí com mais de 350.000 km2 nos
Estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais e a Formação Caatinga.
As profundidades do desenvolvimento cárstico são muito variáveis,
com média em torno de 150 m. Enquanto o Bambuí pode fornecer vazões
superiores a 200 m3jh, o Jandaíra, apresenta vazões
muito baixas (geralmente inferiores a 3,5 m3jh). Outro importante
aquífero cárstico é o Pirabas com profundidade média
de 220 m e vazão de 135 m3jh e a Formação Capiru
do Grupo Açungui, com vazão média 180 m3jh e
profundidade média de 60 m.

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Nota: O livro O Aquífero Guarani, é de
autoria Nádia Rita Boscardin Borguetti, José Roberto Borghetti e
Ernani Francisco da Rosa Filho

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