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Hidrografia: 3. Aquíferos – Impacto ambiental

by Lucas Gomes

O manancial subterrâneo acha-se relativamente melhor protegido dos agentes
de contaminação que afetam rapidamente a qualidade das águas
dos rios, na medida em que ocorre sob uma zona não saturada (aquífero
livre), ou está protegido por uma camada relativamente pouco permeável
(aquífero confinado). Mesmo assim, está sujeito a impactos
ambientais, tais como:

– Contaminação: a vulnerabilidade de um aquífero
refere-se ao seu grau de proteção natural às possíveis
ameaças de contaminação potencial, e depende das características
litológicas e hidrogeológicas dos estratos que o separam da fonte
de contaminação (geralmente superficial), e dos gradientes hidráulicos
que determinam os fluxos e o transporte das substâncias contaminantes
através dos sucessivos estratos e dentro do aquífero. A contaminação
ocorre pela ocupação inadequada de uma área que não
considera a sua vulnerabilidade, ou seja, a capacidade do solo em degradar as
substâncias tóxicas introduzidas no ambiente, principalmente na
zona de recarga dos aquíferos. A contaminação pode se dar
por fossas sépticas e negras; infiltração de efluentes
industriais; fugas da rede de esgoto e galerias de águas pluviais; vazamentos
de postos de serviços; por aterros sanitários e lixões;
uso indevido de fertilizantes nitrogenados; depósitos de lixo próximos
dos poços mal construídos ou abandonados. Entretanto, a mais perigosa,
é a contaminação provoca da por produtos químicos,
que acarretam danos muitas vezes irreversíveis, causando enormes prejuízos,
à medida que impossibilita o uso das águas subterrâneas
em grandes áreas.

– Superexplotação ou superexploração (sobreexplotação
ou sobreexploração) de aquíferos:
é
a extração de água subterrânea que ultrapassa os
limites de produção das reservas reguladoras ou ativas do aquífero,
iniciando um processo de rebaixamento do nível potenciométrico
que irá provocar danos ao meio ambiente ou para o próprio recurso.
Portanto, a água subterrânea pode ser retirada de forma permanente
e em volumes constantes, por muitos anos, desde que esteja condicionada a estudos
prévios do volume armazenado no subsolo e das condições
climáticas e geológicas de reposição.

Além da exaustão do aquífero, a superexplotação
pode provocar:

– indução de água contaminada causada pelo deslocamento
da pluma de poluição para locais do aquífero;
– subsidência de solos, definida como “movimento para baixo ou afundamento
do solo causado pela perda de suporte subjacente”, provocando uma compactação
diferenciada do terreno que leva ao colapso das construções civis;
– avanço da cunha salina definida como o avanço da água
do mar em subsuperfície sobre a água doce, salinizando o aquífero,
em áreas litorâneas. Sem dúvida, a maioria dos aquíferos
costeiros são suscetíveis à intrusão salina, que
geralmente resulta da sobreexplotação em poços muito próximos
do mar. Algumas das cidades que tiveram problemas de salinização
de seus poços são, entre outras: Lima (Peru); Santa Marta (Colombia);
Coro (Venezuela); Rio Grande e Natal (Brasil) e Mar deI Plata (Argentina). No
caso de Buenos Aires-La Plata, o problema de salinização se deve
ao conteúdo de sais de uma formação costeira. O crescimento
desordenado do número de poços tem provocado significativos rebaixamentos
do nível de água e problemas de intrusão salina em Boa
Viagem, no Recife.

O desenvolvimento de poderosas bombas elétricas e a diesel permitiu
a capacidade de extrair água dos aquíferos com maior rapidez
do que é substituída pela chuva, sem considerar, ainda, que os
aquíferos têm diferentes taxas de recarga, alguns com recuperação
mais lenta que outros.

Calcula-se que a extração anual dos aquíferos é
de 160 bilhões de metros cúbicos (160 trilhões de litros)
no mundo.

Em quase todos os continentes, muitos dos principais aquíferos
estão sendo exauridos com uma rapidez maior do que sua taxa natural de
recarga. A mais severa exaustão de água subterrânea ocorre
na Índia, China, Estados Unidos, Norte da África e Oriente Médio,
causando um déficit hídrico mundial de cerca de 200 bilhões
de metros cúbicos por ano.

Existem diversos exemplos no mundo de esgotamento de aquíferos
por superexplotação para uso em irrigação. O esgotamento
das águas subterrâneas já provocou o afundamento dos solos
situados sobre os aquíferos na cidade do México e na Califórnia,
Estados Unidos, assim como em outros países.

No Brasil, como não há legislação específica
que discipline o uso das águas subterrâneas e coíba a abertura
de novos poços, essa franquia de ordem legal tem contribuído para
problemas de superexplotação. Outro fator que está provocando
o comprometimento da qualidade e disponibilidade hídrica dos aquíferos
reside na ocupação inadequada de suas áreas de recarga.

Nos Estados Unidos, segundo um estudo da BBC Mundo (2003), verificou-se que
o maior aquífero desse país, o Ogallala, está empobrecendo
a uma taxa de 12 bilhões de m3 ao ano. A redução total
chega a uns 325 bilhões de m3, um volume que iguala o fluxo anual dos
18 rios do estado do Colorado. O Ogallala se estende do Texas a Dakota do Sul
e suas águas alimentam um quinto das terras irrigadas dos Estados Unidos.
Muitos fazendeiros nas pradarias altas estão abandonando a agricultura
irrigada ao se conscientizarem das consequências de um bombeamento
excessivo e de que a água não é um recurso inesgotável.

A utilização de poços, fontes e vertentes deve ter a orientação
de um profissional habilitado nessa área, de modo que o seu uso não
comprometa o uso futuro desses recursos (seja por uma possível contaminação
ou a exploração de uma vazão superior à admissível),
e nem exponha a saúde da população abastecida a possíveis
doenças de origem ou veiculação hídrica, devido
à utilização de mananciais inadequados ou contaminados.
Em suma, a compatibilização do uso dessa importante alternativa
estratégica de abastecimento com as leis naturais que governam a sua
ocorrência e reposição, além de proteger as áreas
de recarga de possíveis contaminações poderá garantir
a sua preservação e uso potencial pelas gerações
futuras. Além disso, conhecer a disponibilidade dos sistemas aquíferos
e a qualidade de suas águas é primordial ao estabelecimento de
política de gestão das águas subterrâneas.

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Nota: O livro O Aquífero Guarani, é de
autoria Nádia Rita Boscardin Borguetti, José Roberto Borghetti e
Ernani Francisco da Rosa Filho

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