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Hidrografia: 2. Aquífero Guarani

by Lucas Gomes

O termo aquífero Guarani é uma denominação
unificadora de diferentes formações geológicas que foi
dada pelo geólogo uruguaio Danilo Anton em homenagem à grande
Nação Guarani, que habitava essa região nos primórdios
do período colonial. O aquífero foi inicialmente denominado
de aquífero gigante do Mercosul, por ocorrer nos quatro países
participantes do referido acordo comercial.

O aquífero
se constitui pelo preenchimento de espaços nas rochas (poros e fissuras),
convencionalmente denominadas Guarani. As rochas do Guarani constituem-se de
um pacote de camadas arenosas depositadas na bacia geológica do Paraná,
entre 245 e 144 milhões de atrás. A espessura das camadas varia
de 50 a 800 metros, estando situadas em profundidades que podem atingir até
1800 metros. Em decorrência do gradiente geotérmico, as águas
do aquífero podem atingir temperaturas relativamente elevadas, em geral
entre 50 e 85ºC.

O
pacote camadas que constitui o aquífero Guarani tem arquitetura
arqueada para baixo como resultado da pressão das rochas sobrejacentes,
como os espessos derrames de lavas basálticas oriundos da ativação
de falhas, arcos regionais e soerguimento de bordas, ocorridos na bacia sedimentar
do Paraná. As formações geológicas do Guarani congregam
sedimentos fluvio-lacustres do período Triássico (245 – 208 milhões
de anos): Formações Pirambóia e Rosário do Sul,
no Brasil, e Buena Vista no Uruguai; sedimentos eólicos desérticos
do período Jurássico (208 – 144 milhões de anos): Formações
Botucatu, no Brasil; Misiones, no Paraguai; e Tacuarembó no Uruguai e
Argentina.

As reservas permanentes de água do aquífero são da
ordem de 45.000 km3 (ou 45 trilhões de metros cúbicos), considerando
uma espessura média aquífera de 250m e porosidade efetiva
de 15%. As reservas explotáveis correspondem à recarga natural
(média plurianual) e foram calculadas em 166 km3/ano ou 5 mil m3/s, representando
o potencial renovável de água que circula no aquífero.
A recarga natural ocorre por meio da infiltração direta das águas
de chuva nas áreas de afloramento das rochas do Guarani; e de forma indireta,
por filtração vertical (drenança) ao longo de descontinuidades
das rochas do pacote confinante sobrejacente, nas áreas onde a carga
piezométrica favorece os fluxos descendentes.

Menos de 1% da água doce disponível no mundo
provém de fontes renováveis. Uma parte considerável dessa
porcentagem está sob os pés de brasileiros, argentinos, uruguaios
e paraguaios. Na região que engloba o centro-sul do Brasil, o nordeste
argentino, o Uruguai e o Paraguai localiza-se o Aquífero Guarani,
um gigantesco manancial de bilhões de litros de águas subterrâneas
ainda pouco aproveitado. Ainda não se sabe com exatidão quanto
desses recursos pode ser explorado e de que forma, mas já há polêmica
em relação ao assunto. Ambientalistas preocupam-se com a sustentabilidade
do aquífero e com a soberania em relação a ele, enquanto
os recursos já estão sendo utilizados nos quatro países.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Ambiental e Agropecuária
(Embrapa), a água ali contida é de excelente qualidade e suficiente
para abastecer a atual população brasileira por 2.500 anos. É
a maior reserva de água doce subterrânea do mundo. Sua área
se estende por 1,15 milhão de quilômetros quadrados, sendo a maior
parte (71%) localizada sob território brasileiro. Em seguida vem a Argentina,
com 19%. Paraguai tem 6% das águas do manancial e Uruguai, 4%. No Brasil,
ele atinge os estados de São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás.

Sob condições naturais, apenas uma parcela das reservas reguladoras
é passível de explotação. Em geral, esta parcela
é calculada entre 25% e 50% (Rebouças, 1992) das reservas reguladoras,
respectivamente entre 40 a 80 km3/ano. Este volume pode aumentar dependendo
da adoção de técnicas de desenvolvimento de aquíferos
disponíveis; contudo, os estudos deverão ser aprofundados para
definir a taxa de explotação sustentável das reservas,
uma vez que a soma das extrações com as descargas naturais do
aquífero para rios e oceano, não pode ser superior a sua
recarga natural.

A proteção contra os agentes de poluição que comumente
afetam os mananciais de água na superfície, que decorre de mecanismos
naturais de filtração e autodepuração bio-geoquímica
que ocorrem no subsolo, resulta numa água de excelente qualidade. A qualidade
da água e a possibilidade de captação nos próprios
locais onde ocorrem as demandas fazem com que o aproveitamento das águas
do aquífero Guarani assuma características econômicas,
sociais e políticas destacadas para abastecimento da população.

Aspectos relativos ao desenvolvimento e uso das funções do aquífero
são ainda incipientes. O uso da energia termal de suas águas poderá
resultar, eventualmente, em economia de energia de outras fontes e em processos
de co-geração de energia elétrica. Atualmente, destaca-se
o uso energético em balneários e indústrias agropecuárias.

Um dos principais problemas existentes é o risco de deterioração
do aquífero em decorrência do aumento dos volumes explotados
e do crescimento das fontes de poluição pontuais e difusas. Essa
situação exige gerenciamento adequado por parte das esferas de
governo federal, estadual e municipal sobre as condições de aproveitamento
dos recursos do aquífero.

O Projeto Aquífero Guarani visa contribuir para a superação
da situação atual por meio da formulação de um modelo
técnico, legal e institucional para a gestão dos recursos do aquífero
de forma coordenada pelo conjunto dos países e organismos envolvidos.

O Brasil possui o maior volume de água doce renovável do mundo,
com 6.220 bilhões de metros cúbicos capazes de serem aproveitados.
Ainda segundo a Unesco, embaixo do solo encontra-se 97% da água doce
em estado líquido do mundo. O restante está em rios e geleiras.
Esses reservatórios são importantes, pois geralmente possuem água
de boa qualidade devido ao processo de filtragem feito pelas rochas e a reações
biológicas e químicas naturais. Além disso, por não
ficarem na superfície, estão menos expostas a agentes poluentes.

O Aquífero Guarani, de acordo com a Embrapa, tem recarga de 140
bilhões de metros cúbicos por ano, mas apenas 40 bilhões
de metros cúbicos poderiam ser utilizados, para que a sustentabilidade
do lençol freático fosse mantida. Não há dados de
quanto já é consumido. Apesar dos números grandiosos, há
quem diga ser necessário cuidado ao analisá-los. O coordenador
do Laboratório de Recursos Hídricos da Coppe-UFRJ Paulo Canedo
é um deles. “O Aquífero tem uma grande quantidade de
água, mas não é essa maravilha toda. Números não
significam muito. Ele não é um mar subterrâneo. Apesar de
conexo, possui diferentes profundidades. É preciso analisar a viabilidade
de uso e a capacidade de proteção do solo”, diz. Entre os
estudos a serem feitos estão o custo de bombeamento, o impacto dessa
ação no subsolo e a possibilidade de poluir a área. “Ao
contrário de um rio, no Aquífero, se poluir uma vez, os detritos
ficarão lá para sempre”.

Já há empresas explorando a área para retirar água
mineral, o que preocupa ambientalistas, assim como a falta de informações
precisas sobre a região. A dor de cabeça aumenta ainda mais com
a presença estrangeira. “Existe um batalhão do exército
dos EUA na tríplice fronteira (entre Brasil, Argentina e Paraguai) que
oferece fotos de satélite do Aquífero atualizadas a cada
minuto. Eles sabem mais do Aquífero do que a gente”, alerta
João Manoel Bicca, coordenador do movimento Pró-Rio Uruguai –
Aquífero Guarani.

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Nota: O livro O Aquífero Guarani, é de
autoria Nádia Rita Boscardin Borguetti, José Roberto Borghetti e
Ernani Francisco da Rosa Filho

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