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Censo aponta sobra de vagas em cursos públicos para professores

by Lucas Gomes

Ao mesmo tempo em que faltam professores com formação adequada
no ensino básico, estão sobrando vagas oferecidas por instituições
públicas em cursos de pedagogia e licenciatura em disciplinas como biologia
e matemática.

De acordo com o Censo da Educação Superior de 2008 (o mais recente),
naquele ano 4.468 vagas não foram preenchidas nos processos seletivos
para cursos de formação de professores em universidades e centros
tecnológicos federais e estaduais, principalmente em cidades do interior.

Esse número representa 6% das vagas disponibilizadas para o primeiro
ano de pedagogia e licenciaturas dessas instituições. Nas demais
áreas, esse percentual cai para 3,5% – ficaram vagos, por exemplo, 14
lugares em cursos de direito. Em medicina, 5.

A sobra de vagas em cursos de formação de professores contrasta
com a escassez de profissionais com formação adequada nas escolas
públicas.

Segundo estudo do Inep (instituto ligado ao Ministério da Educação)
feito com dados de 2007, mais de um em cada quatro professores do ensino básico
não tem a habilitação exigida por lei – ensino superior
com magistério.

Além disso, grande parte dá aulas em disciplinas diferentes da
sua formação, o que ocorre principalmente em ciências. Em
física, apenas 25% dos professores são graduados exatamente em
física.

Para suprir essa deficiência, instituições públicas
têm aberto cada vez mais cursos nessas áreas, mas a resposta tem
sido, em muitos casos, desanimadora. É o caso da UFG (Universidade Federal
de Goiás). Em 2008, das 40 vagas para licenciatura em física em
Jataí, cidade a 327 km de Goiânia, apenas 6 foram ocupadas.

“É desanimador”, diz Henrique Almeida Fernandes, professor
e coordenador do curso. “A gente se prepara tanto tempo para dar aula e
chega lá e vê uma turma com poucos alunos que já chega desmotivada
com a perspectiva profissional”, afirma.

Assim como Fernandes, outros professores e coordenadores de cursos atribuem
as vagas ociosas e a baixa concorrência no vestibular à desvalorização
do magistério.

A consequência, além da dificuldade de formar profissionais qualificados,
é que as instituições acabam não conseguindo atrair
os melhores alunos do ensino médio para seus cursos de pedagogia e licenciatura,
o que depois vai se refletir na qualidade da educação básica,
diz Mozart Neves Ramos, professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)
e presidente do movimento Todos pela Educação.

Segundo ele, em sua universidade, a nota mínima no vestibular para um
aluno de medicina foi de 8,29 pontos, em uma escala de 0 a 10. Para um aspirante
a professor de matemática, ficou em apenas 3,29.

Além do desinteresse

Universidades que tiveram vagas de pedagogia e licenciatura não preenchidas
apontaram também outros fatores possíveis para explicar o fato,
além da pouca valorização da carreira.

Henrique Mongelli, pró-reitor de graduação da UFMS (Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul), afirma que a instituição terá
que analisar se ainda há demanda em cursos em que sobram vagas em cidades
pequenas.

A secretária de Educação Superior do Ministério
da Educação, Maria Paula Dallari Bucci, concorda que a desvalorização
da carreira interfere na sobra de vagas, mas afirma que o quadro irá
melhorar com medidas como o piso salarial do professor e a lei que permite ao
aluno de universidade particular ter o curso pago pelo Estado em troca de trabalho
em escolas públicas depois da formatura.

Ela diz também que a ociosidade de vagas deve diminuir com o novo sistema
de seleção implantado a partir de fevereiro, que unifica o vestibular
de diversas federais.

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo

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