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A chegada do homem à Lua

by Lucas Gomes

Sombras frias, hostis e imensas foram o único abrigo dos primeiros movimentos tímidos, cuidadosamente medidos e surpreendentes de um homem sozinho sobre o chão rude e estranho da Lua. Há 40 anos, o homem pisava neste solo pela primeira vez.

Um silêncio brutal e absurdo, como nunca ninguém havia sentido, foi o único eco de seus passos. As sombras inimigas teriam sido criadas na Lua pelo próprio homem: tudo foi calculado para que, na madrugada de 21 de julho, o Módulo Lunar da Apollo 11 pousasse de modo que a portinhola de saída não ficasse exposta ao sol que estaria nascendo lentamente. Mas o silêncio desconhecido é natural na Lua, que não tem ar para que o som se propague. A recepção que o satélite tinha preparado para os seus primeiros visitantes não lhes deixou muita escolha: eles poderiam preferir ficar sob os 130 graus negativos da sombra gelada da noite lunar a arriscar-se sob o calor violento da área que o sol iluminava. Podiam até mesmo, como foi resolvido, descer no amanhecer mais ameno. Neil Armstrong, comandante da Missão Apollo 11 e primeiro homem a andar sobre a Lua, sentiu apenas as batidas de seu coração, o sangue a correr em sua nuca e o arfar de seus pulmões. Seus pés se arrastaram pesados e lentos sobre o chão pouco colorido, mas seus movimentos não repercutiram em seus ouvidos – e sim num sismógrafo da Missão, tão sensível que transmitia as vibrações dos passos silenciosos de Armstrong a uma agulha que dançava agitada no mostrador de um aparelho em Houston, Texas.

> Assista ao filme da NASA (em inglês)

Noite de Terra – Armstrong, Aldrin e Collins dormiam quando, aos primeiros minutos da madrugada de sábado, a Apollo 11 atingiu o ponto de equilíbrio entre a atração da Terra e a da Lua. Aos 22 minutos, 397.172 km além da Terra e 80.653 km aquém da Lua, a nave rompeu este equilíbrio e sua velocidade subiu de 3.600 km/h para 10.270, à medida que caía no poço de atração da Lua. O sono dos astronautas durou até as primeiras horas da manhã: a viagem ia bem e não havia nada de especial a fazer. Desde que partiram, na quarta-feira, o trabalho foi tão rotineiro, que Aldrin, num dos seus raros momentos de humor, chegou a compará-lo aos “afazeres domésticos de uma dona de casa”. Naquele dia, a mais taciturna equipe espacial de todos os tempos, anunciou secamente: “Ambas as astronaves estão bem”. Apesar disso, Collins havia gasto mais combustível do que o previsto na manobra de engate do Módulo Lunar (Águia), retirado da carcaça do terceiro estágio do Saturno 5 pela nave (Columbia) – 9 quilos exatamente -, e o Controle de Vôo, em Houston, teve que mandar uma mensagem tranqüilizando-o. Uma primeira tentativa de transmissão por TV fracassou neste dia, porque a Apollo 11 estava ainda muito baixa no horizonte. No dia seguinte, porém, eles mandaram um imprevisto programa a cores de dezesseis minutos e depois Aldrin mostrou aos terráqueos como se usava o saco plástico contendo comida. Também pela TV mostraram a inspeção feita na Águia, quando Neil Armstrong se referiu à falta de gravidade: “Parece estão arrancando as minhas calças”. Um defeito no gás de nitrogênio, que abria a válvula de combustível do foguete destinado a impulsionar a Águia do lunar, foi consertado. À medida que aproximavam da Lua, na manhã de sábado, os olhos dos três astronautas se abriam para uma paisagem que, primeira vez, os comovia: “O céu está cheio de estrelas. Parece uma noite na Terra“, disse Armstrong.

Envolvendo a Lua – Às 14h22 do sábado, a Apollo 11 aproximou-se da Lua. Dez minutos antes de mergulharem em suas sombras, a Terra dera a ordem para que ligassem o foguete que colocaria a nave em três longas órbitas cada vez menos ovalizadas, mas durante 34 angustiantes minutos a Terra não recebeu nenhum sinal de vida a bordo. Quando a nave saiu do lado obscuro da Lua, onde as comunicações são impossíveis, a Terra começou a ver o que os astronautas viviam. Flutuando entre 314 km e 113 km da superfície lunar, Armstrong transmitiu: “As fotos tiradas precisamente deram uma boa idéia do lugar. Mas nada substitui o fato de estarmos aqui. É a mesma diferença entre ver um jogo de futebol pela TV e vê-lo no estádio“. Os astronautas estavam saindo de um dos momentos cruciais da viagem. Se percebessem alguma irregularidade, o foguete não seria ligado e a Apollo 11 regressaria. Agora, porém, a voz de Armstrong está clara e firme: “Estamos vendo um efeito tridimensional muito acentuado. A coroa solar aparece em todo o seu apogeu por trás da Lua“. Eles relataram ter visto luzes misteriosas numa região em que os cientistas acreditam existir vulcões ativos. A princípio, a única cor distinguida foi um cinza compacto e sempre igual. Depois descobriram tons queimados. Às 18h37, a Apollo 11 dava novo mergulho na face oculta da Lua ao mesmo tempo que a órbita baixava para 99 km e 120 km. Os astronautas foram dormir mais cedo, depois do jantar, porque precisavam acordar às 6h02 do domingo.

Às 10h20, depois do café matinal e de uma nova inspeção nos instrumentos, Aldrin entrou no túnel que ligava a Columbia à Águia. Armstrong entrou logo depois. Os veículos estavam a 3.360km por hora, com o motor sempre voltado para a Lua: é uma técnica para impedir o aumento da velocidade. Às 14h47, Collins apertou um botão do painel de comando da Columbia e a Águia desprendeu-se lentamente da nave-mãe: estava rompido o último cordão de ligação com a Terra. A Águia começou então sua lenta e delicada curva elíptica em direção à superfície lunar. Acima dela, a bordo da Columbia, Collins começava uma série de solitárias voltas em torno do satélite. Numa voz pausada e firme – a voz de um agente da bolsa dando as cotações -, os dois primeiros homens a pisarem na Lua davam informações sobre a descida. Diante deles, uma imensa nuvem de poeira provocada pelos motores da Águia impedia a visão.

Uma escada prosaica – As pernas compridas, delgadas e ágeis de um vigoroso atleta louro todo coberto de branco, com as mãos finas e firmes do piloto da Guerra da Coréia escondidas por grossas luvas negras a envolver os dois lados de uma escada de metal, vibraram livres no vazio por um momento. Seus pés bem treinados por mil horas de ensaios cansativos, acomodados em sapatos confortáveis e protegidos por pesadas galochas, cairam juntos, lentos e desajeitados, sobre o chão seco, mole e cinzento da Lua. Deixaram ali num movimento só, as duas primeiras marcas da presença do homem fora do mundo em que nasceu e sempre viveu. A forma simples e a finalidade evidente da escada clara de alumínio, presa a uma das patas tortuosas e desengonçadas da metade inferior do Módulo Lunar da Apollo 11, foram reconhecidas com facilidade pelo dono primitivo de uma casa sobre palafitas de milhares de anos atrás. Mas nem um selvagem nem um pintor de paredes julgariam adequado o modo pelo qual Neil Armstrong fez uso do velho instrumento que o homem inventou para subir e descer e que seria o único objeto familiar a um egípcio antigo ou a um canibal em toda a Missão Apollo.

O andar diferente – Armstrong não desceu os nove lances da escada pé ante pé, degrau por degrau. Levou dez minutos para descer. Deixou as mãos escorregarem pelo metal liso das barras laterais, com os pés sem apoio no vácuo. Também não desceu a escada até o fim, sem antes fazer “um ensaio”: teve de descansar os pés no primeiro degrau e tentar subir de volta, para descobrir se na Lua, onde a gravidade vale um sexto da gravidade terrestre, um homem pode realmente subir uma escada. Só depois de voltar à plataforma de desembarque é que Armstrong se deixou descer definitivamente. De passagem, ligou a câmara fixa de televisão em branco e preto que, presa do lado de fora do Módulo, junto à escada, transmitiu para milhões de pessoas os primeiros passos do homem na Lua.Foram muito parecidos com os primeiros passos que o homem dá na Terra, quando é bebê, já deixou de engatinhar e ainda não começou a andar. O primeiro movimento não foi do pé, mas do joelho, levantado para a frente, numa lentidão impressionante – embora o astronauta se movimentasse tão depressa quanto pôde. Seu peso é seis vezes menor que na Terra e todo o seu equipamento (82 kg que na Lua pesam 14) somando ao seu corpo, não chegava a pesar o quanto só o seu corpo pesaria na Terra. O problema maior é a resistência que o astronauta tem de enfrentar dentro do seu próprio traje lunar, que é uma verdadeira cabina espacial, com sistemas de pressurização e de refrigeração a água, verdadeira atmosfera ambulante. Armstrong andou então sobre a Lua como um grande mono branco, pesado e lento.

A solidão povoada – Ele foi o único ser humano em todo um vasto mundo feito só de desolação, mas em nenhum momento esteve só. Não parou de falar um instante a Edwin Aldrin, que estava ainda no Módulo Lunar pousado sobre a Lua, ou a Michael Collins, que não saiu da nave de comando em órbita a cerca de 100 km de altura, sobre o equador satélite. Falou ao comando de operações na Terra e aos médicos de Houston. Armstrong contou se era fácil ou difícil andar sobre a Lua, disse que cores e formas que estava vendo. Todo o seu comportamento, como o dos outros dois, estava sendo transmitido para a Terra: seu ritmo cardíaco, a regularidade de sua respiração, nível de suor e trabalho dos intestinos. Eles eram, afinal, apenas três peças mais entre milhões de outras. Quatrocentas mil pessoas, entre cientistas, técnicos e operários, trabalharam direta ou indiretamente no Projeto Apollo. O silêncio absoluto do passeio na Lua foi precedido por um dos barulhos mais espantosos já criados pelas mãos do homem, o lançamento do foguete Saturno com a nave Apollo, às 10 horas e 32 minutos do dia 16 de julho (poderia ter sido adiado para 18 e 21). No meio da viagem, a 200.000 quilômetros de distância, a Terra apareceu tão pequena no visor da nave, que um astronauta poderia deixar de vê-la apenas encostando a mão sobre o vidro, tal como uma criança junto à vidraça “esconde” a lâmpada de um poste. Mas ainda assim continuaram ligados à Terra e em tudo dependendo dela.

Os perigos da Lua – Houve porém algumas ocasiões em que Collins, Armstrong e Aldrin puderam estar totalmente sozinhos no espaço ou num mundo pouco amigo. Após a Apollo 11 entrar em órbita de espera em volta do satélite lunar teve de separar-se na Lua. A nave estava acabando de sair do lado invisível da Lua, onde as telecomunicações não chegavam e os astronautas é que tiveram de dirigir a operação. O radar foi desligado a 150m do chão e a 60m a velocidade de descida passou de 8 a 1 medo por segundo. Os foguetes do Módulo na brecada para o pouso, provocaram na superfície da Lua uma nuvem de poeira – levou horas para assentar com a pequena gravidade, como o Módulo só tem condições de realizar um pouso visual. Aldrin e Armstrong tiveram que rapidamente descer à Lua. E se na hora Aldrin e Arinstrong descobrissm que o lugar fotografado pelo Luna Orbiter de uma altura de 95 km em 1967, não era tão bom quanto se imaginava? Até 20 segundos antes das patas do Módulo tocarem o solo eles ainda poderim mudar de direção, ou escolher outro lugar de pouso (em vez de região próxima à cratera Sabine poderiam escolher os lugares 3 ou 5). Finalmente, se um astronauta, ao andar sobre a Lua, tropeçasse ou escorregasse, levasse um tombo e fosse ao chão, nada nem ninguém poderia ajudá-lo. Se ele caísse de bruços, ainda seria relativamente fácil levantar-se: calcula-se que, fazendo um grande esforço para flexionar os braços, em pouco mais de 10 minutos o astronauta conseguiria pôr-se de pé outra vez. Se, porém, cair de costas sobre o chão, ficará na mesma situação de uma tartaruga virada sobre o casco. Terá de agitar braços e pernas para um lado até conseguir virar-se e ficar caído de bruços. Para começar a flexão de dez minutos.

Trabalho e amostras – Um astronauta dificilmente conseguiria ajudar um companheiro caído. Pois o ideal é que o astronauta só movimente os braços entre 90 e 125 em de altura do chão; é totalmente impossível que ele carregue, na Lua, qualquer coisa, mesmo a mais leve, abaixo de 70 cm ou acima de 165 cm do solo. De qualquer forma, suas mãos, mesmo vazias, não poderiam ir a menos de 55 cm ou a mais de 200 cm de altura. Além disso, é impossível sentar. Ele pode sentar-se “dentro” do traje lunar, onde fica “flutuando” (é um traje só para a Lua, vestido sobre o traje espacial usado no Módulo Lunar e no Módulo de Comando). Mas a roupa continua “em pé, sem agachar-se”, de modo que é realmente impossível levar a mão abaixo do joelho. É, assim, quase impossível ajudar um companheiro caído. Por tudo isso, foi muito difícil trabalhar sobre a Lua. Calcula-se que as 2 horas e 41 minutos que Armstrong e Aldrin passaram andando sobre a Lua, colhendo amostras, instalando aparelhos e tirando fotos e filmes, equivaleram a 16 horas de esforço de um operário braçal.

Sono e bacon – Das 21 horas e 27 minutos em que o Módulo Lunar ficou pousado sobre a Lua, 8 horas e 40 foram usadas para dormir – e 4 horas e 43 minutos para comer (mais da metade do tempo total). Logo que o Módulo Lunar pousou, Armstrong e Aldrin o inspecionaram peça por peça, durante 2 horas e 4 minutos preparando uma eventual volta apressada. Então, durante 35 minutos, comeram bacon e pêssegos, tornarão café e suco de “grapefruit”. Havia setenta “menus” à escolha na Apollo 11 – no Módulo Lunar apenas três – inclusive comida tradicional, embrulhada em saquinhos de plástico, como espaguete, que se come com colher. Talvez Armstrong sonhasse o que sempre sonhou em criança, que se prendesse a respiração passaria a flutuar no ar.

Sopa e trabalho – Eles tomaram uma pílula para dormir e, se não acordassem exatamente quatro horas depois, um sinal da Terra os obrigaria, não a se levantarem mas a se mexerem, pois a cabina do Módulo Lunar mede 2,35m de diâmetro por 1,07 m de largura e não daria para os dois se deitarem, além do que no espaço ou na baixa gravidade lunar é impossível deitar-se, e Aldrin e Armstrong realmente se mexeram, passando mais uma hora comendo bife, sopa de galinha, salada com presunto, chocolate, uva e café. Durante as duas horas seguintes ficaram preparando o passeio sobre a Lua. Esta preparação consistiu, fundamentalmente, na difícil tarefa de vestir o traje lunar sobre o traje espacial nos 4,5 metros cúbicos da cabina: pode ser comparada à situação de duas moças que tentassem no mesmo tempo, numa cabina telefônica, trajar vestidos longos. Já dentro dos seus escafandros, os astronautas levaram dez minutos testando o Sistema de Preservação da Vida, um complicado aparelho que eles levariam às costas, como mochila para assegurar pressão e temperatura terrestres dentro do traje lunar. Acima da mochila, também às costas, vão os tubos de oxigênio.

As contingências – Por uma portinhola saiu então Armstrong, e passando por outra portinhola já estava na vazia atmosfera lunar, sobre a plataforma externa de onde desce a escada. No solo, Armstrong teve dez minutos para dar os primeiros passos humanos sobre o satélite, fincar rapidamente no chão uma bandeira americana, que trazia enrolada num tubo junto ao traje, armada com arames para se sustentar sem vento. A partir daí, Aldrin, no Módulo, começou a filmar as cenas que já estavam sendo televisionadas pela câmara fixa. De um bolso em sua perna esquerda, Armstrong tirou urna espécie de coador de café com cabo bem grande. Era a Tarefa de Amostras de Emergência, isto é, a primeira coisa que Armstrong teria de fazer: colher, passando a rede pela superfície lunar qualquer poeira ou pedra. Teve dez minutos para soltar o tal coador e apanhar o pedaço que era mais fácil na Lua, livrar-se do cabo – jogá-lo fora ali mesmo – e guardar a rede com as amostras dentro de um dos bolsos externos do traje lunar. A Terra precisava de pedaços da Lua, quaisquer pedaços, e portanto a primeira coisa que fez foi apanhá-los; rapidamente. Isso, pelo menos, chegaria à Terra, pois, aconteçesse o que for, mesmo que Armstrong não pudesse ficar mais que vinte minutos andando sobre a Lua, ninguém em Cabo Kennedy acreditava que ele teria coragem de voltar sem essas amostras. Ou sem as calças em cujo bolso elas deveriam estar.

O grande passeio – Da plataforma, Aldrin entregou a Armstrong um mastro pouco menos alto que uma pessoa, tendo por estandarte uma delgada folha de alumínio. Era o Experimento do Vento Solar: o mastro foi fincado no chão lunar e a folha de alumínio detectou átomos de gases nobres expulsos do Sol em explosões e que chegavam à Lua como “vento”. A folha foi trazida de volta à Terra e levada a um laboratório suíço, o único que sabia lidar com essas coisas. Chegou a vez de Aldrin descer, trazendo ao pescoço uma máquina fotográfica e junto ao corpo uma câmara de televisão a cores, que entregou a Armstrong para montar. O próprio Aldrin soltou a outra câmara, em branco e preto, fixada junto à escada, e a montou sobre um tripé no chão. Os dois retiraram do lado de fora do Módulo três maletas de alumínio. Armstrong carregou a mais pesada – 47 quilos terrestres (8 lunares) – até o ponto mais distante possível do Módulo (ele inha ordem de não se movimentar num raio além de 30 metros). Colocou a maleta sobre o chão, apertou um botão, e ela se abriu repentinamente, como numa mágica, transformando-se em paletas, antenas e emissores. Era o sismógrafo lunar, que mandou durante dois anos 712 informações por segundo sobre qualquer movimento na Lua – mesmo o passo de uma pessoa. A segunda maleta, de 30 quilos terrestres (5 lunares), também sofreu uma mudança, ao rápido toque de botão: era um retrorefletor, um espelho de raios laser. Mandando-se da Terra em direção a esse espelho um raio laser, ele o refletiu diretamente para o lugar de onde partiu. Assim foi possível não só determinar, até os últimos milímetros, a exata distância da Terra à Lua a cada instante, como também, por exemplo, se o Brasil, realmente, cada vez se afasta mais da África, à qual já esteve unido segundo uma teoria geológica.

As pedras escolhidas – Ninguém sabe exatamente como Armstrong e Aldrin carregarão essas maletas, nem o esforço que isso lhes custará. Na Lua, o pro-blema maior para o homem, ao que pa-rece, não é fazer força ou carregar peso, é mover-se, com ou sem peso. Se eles conseguirem instalar as duas maletas, irão ocupar-se da terceira. Que não tem botão nem se transforma em nada: é mesmo uma maleta, cheia de saquinhos de plástico. Com uma espécie de alicate e um instrumento de cabo comprido muito parecido com uma pá de lixo, Armstrong começará o Experimento das Amostras Determinadas. Isto é, recolherá pedras e poeiras da Lua que lhe pareçam interessantes – não ao acaso, como na Tarefa das Amostras de Emergência – e as irá colocando nos saquinhos. Trabalhar na Lua é assim: Aldrin vai apenas fotografar o esforço recolhedor de Armstrong – mas vai ficar tão cansado quanto ele. Todas essas amostras da Lua, entretanto, estão viciadas pelos gases dos foguetes do Módulo, que terão se espalhado por alguns quilômetros em volta do local do pouso. Por isso, a última experiência será retirar do subsolo, com uma espécie de seringa de injeção, alguma terra lunar que não tenha sido atingida pelos gases terrestres. Todo esse material vai nos saquinhos de plástico, até um total de 50 quilos terrestres de Lua.

Oito vezes Armstrong repetiu a lenta e dramática dança. De costas para a paisagem da noite lunar, com as mãos seguras na escada de sua águia metálica, procurava com os pés cada degrau da histórica descida. Então veio o último lance: às 23h56 de 20 de julho de 1969, Armstrong estendeu seu pé esquerdo, apalpou cuidadosamente o chão fino e poroso, pressionou-o depois com mais força e só então deixou-se ficar de pé na Lua. O grande e grotesco vulto branco, que horas antes decidiu antecipar o primeiro passeio de um homem na Lua – deveria ser às 3h16 da manhã de 21 de julho – , emocionou-se: o astronauta Armstrong era, a partir daquele instante, Neil Armstrong, primeiro homem a pisar na Lua.

Sua mão ainda se apoiou alguns instantes no Módulo já vazio de atmosfera. Depois, libertou-se totalmente e deu os primeiros passos. Na Terra, 1 bilhão e 200 milhões de pessoas, reunidas diante dos vídeos, segundo os cálculos da Nasa, ficavam fascinadas pelo duplo milagre da descida e de suas imagens. Na Lua, um homem grande e forte experimentava, naquele instante, a sensação de pesar como uma criança: 15 quilos apenas. A Terra conquistava a Lua.

Restos no espaço – Aldrin, que foi o último a sair, foi o primeiro a voltar ao Módulo. Armstrong o seguiu vinte minutos depois, com o último saquinho de plástico. Tiraram os trajes lunares e se sentiram mais confortáveis só com o traje espacial. Talvez mais confortáveis do que na semana anterior, na sua última entrevista à imprensa, quando tiveram de usar paletó e gravata e máscaras sanitárias no rosto (os repórteres riram muito quando os astronautas entraram numa cabina totalmente isolada, com paredes de vidro, para só então tirarem as máscaras). Ligaram os foguetes do estágio superior do Módulo e abandonaram sobre a Lua o estágio inferior, com sua escada, sua plataforma e sua placa assinada pelo Presidente Nixon. Deixaram no espaço o Módulo Lunar, estágio superior, assim que houve em órbita lunar o acoplamento com a Nave Apollo e os dois visitantes da Lua, por duas escotilhas e um túnel, voltaram à companhia de Collins. Do foguete Saturno de 109 metros de altura e 3 000 toneladas, voltou à Terra apenas o Módulo de Comando – nem mesmo a Nave Apollo inteira, tal como ficou em órbita lunar com Collins, pois antes de descer no Pacífico, perto do Havaí, ela perdeu também o Módulo de Serviço. Então Armstrong, Aldrin e Collins ficaram muito mais separados do mundo do que quando estavam na Lua: três semanas de quarentena, tendo contato direto apenas com três médicos. Nas imediações do salão de quarentena as instruções da NASA aos curiosos eram rigorosíssimas: era proibido fumar, mascar chiclete, apostar em cavalos e “usar com demasiada frequência palavras de baixo calão”. A NASA devia imaginar que, perto dos conquistadores da Lua, não se devia fazer essas coisas.

Os homens falam da Lua –Luzes de altitude apagadas, o chão está à nossa frente“, falou então Armstrong. “Parece magnífico, Águia, parece magnífico, pode alunar“, foi a resposta de Houston. “Compreendido, autorizada a alunagem, 1.000 metros, 800 metros… bem, parece que aguenta.” “Temos bons dados, parecem magníficos aos oito minutos, Águia, parecem magníficos, adiante!” “164 metros… 121 … baixando muito bem… 60 metros… 30, tudo continua parecendo bem. Inclinando-se um pouco à direita. Está bem. Motores apagados.” “Aqui, a Base da Tranqüilidade. Águia alunou.” Às 5 e 18 da tarde, a voz de Neil Armstrong – seu coração batia 150 vezes por minuto – atravessava o vácuo e chegava à Terra anunciando o fim do dramático diálogo dos 22 segundos da descida. “É fantástico“, disse Collins, voando a 92 quilômetros de altura.

Os minutos seguintes foram de profundo silêncio. Os astronautas examinavam cuidadosamente seu veículo para um eventual regresso de emergência. Minutos depois – a nave pousou sem qualquer avaria e quase na horizontal – justificavam o desprezível atraso de 35 segundos em relação ao tempo previsto para a alunagem, com uma fantástica descrição: “Avistamos crateras escarpadas e enorme número de rochas. E pousamos um pouco adiante“.

No interior da águia metálica, Armstrong e Aldrin olhavam para a paisagem agreste: uma superfície quase lisa, com milhares de minúsculas crateras e limitada por desfiladeiros e colinas. A apenas 2,4 km de distância, o horizonte lunar mostrava um Sol que se punha e, no solo estranho, a cor oscilava entre o branco e o cinza.

Em Houston, Texas, um jornalista hindu interrompeu seu trabalho, ajoelhou-se no chão e beijou a velha Terra. Antecipava-se ao pedido feito momentos depois por Edwin Aldrin, piloto do Módulo Lunar: “Quero aproveitar esta oportunidade para pedir, a todos e a cada um dos que me escutam, que se detenham durante um momento para meditar sobre os acontecimentos das últimas horas e dêem graças à sua maneira“.

A seguir, uma sequência de fotos (NASA) do homem na Lua.

Fonte: Arquivo da Revista Veja

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