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Os romanos: 5. O cristianismo

by Lucas Gomes

Jesus
Cristo

teria nascido na Palestina, naquele que acabou sendo estabelecido como
o ano 1 da Era Cristã, durante o reinado de Otávio Augusto, primeiro
imperador romano. Sua morte ocorreu, provavelmente, em 33 d.C., no reinado de
Tibério, o segundo imperador. Ao longo dos 3 séculos seguintes,
o Cristianismo foi largamente perseguido no Império Romano, até
sua legalização, no reinado de Constantino, em 313, e sua posterior
oficialização como religião do Império por Teodósio,
em 390.
Assim, percebemos que as origens e a evolução do Cristianismo
estão organicamente vinculadas à evolução do Império
Romano. Da mesma forma, a definitiva expansão da nova crença fez-se
paralelamente ao declínio de Roma.

Tensões sociais na Palestina

O Cristianismo surgiu na Palestina, região sob o domínio romano
desde 64 a.C. Tem como origem a tradição judaica de crença
na vinda de um Messias, o redentor, o salvador, o filho de Deus, cuja vinda
seria uma redenção para todos aqueles que acreditassem nele.

As circunstâncias em que Jesus Cristo, já adulto, teria surgido
na cidade de Jerusalém eram altamente explosivas. A Palestina jamais
se submetera totalmente ao domínio romano, levando o Império a
uma postura repressiva em relação à população
local, que reagia inclusive por meio de movimentos armados contra a presença
romana.

Foi em meio a esse clima politicamente tenso que Jesus procurou exprimir uma
mensagem baseada no amor ao próximo, no perdão às ofensas
e no desapego aos bens materiais. Tal mensagem em nada ameaçava o domínio
romano, mesmo porque, segundo os Evangelhos, Jesus sempre enfatizou que sua
pregação nada tinha de política, que o reino a que se referia
não era um reino terrestre.

Por outro lado, o caráter explosivo da região, aliado à
postura romana de combater sistematicamente o surgimento de lideranças
que pudessem ofuscar o predomínio do Império, faziam de Jesus
um inimigo potencial para Roma. Outro elemento a ser considerado é a
atitude comum do Estado romano, de procurar aliar-se às elites das áreas
dominadas, utilizando-as como um elemento de controle sobre os setores populares.

Dessa forma, a condenação a Jesus imposta pelos romanos seria
um ato de simpatia para com as autoridades religiosas judaicas, que já
o haviam repudiado como blasfemo.

Segundo os Evangelhos, Jesus foi preso pelos romanos, sob a acusação
de conspirar contra o Império. Torturado, foi condenado à morte
e crucificado no ano de 33, a mando do procurador romano Pôncio Pilatos.

Primeiros cristãos

É a partir da morte de Jesus que se criou toda a tradição
que gerou o Cristianismo. Ela foi obra primeiramente dos apóstolos, que
se encarregaram de disseminar a nova doutrina, destacando-se Pedro – apontado
por Jesus como o responsável pela fundação de sua igreja
– e Paulo, que deu ao Cristianismo um sentido universal, tornando-o acessível
a todos os povos pagãos (não cristãos) e descaracterizando-o
como privilégio de um povo supostamente eleito por Deus.

Duramente perseguidos, os cristãos tiveram de criar uma estrutura bastante
sólida de organização como forma de sobreviver. No plano
local, os presbíteros cuidavam de atender às necessidades espirituais
dos fiéis. Surgiram, posteriormente, os bispos, encarregados de comandar
a atividade dos religiosos em cada província sob sua autoridade. Essa
estrutura, contando ainda com os metropolitas (bispos de capitais provinciais)
e patriarcas (bispos das grandes cidades), era centralizada na figura do bispo
de Roma, o papa. Assim, forjava-se uma estrutura centralizadora e altamente
organizada, capaz de manter a coesão entre os fiéis e entre o
próprio clero.

As
perseguições sofridas pelos cristãos, ordenadas por imperadores
como Nero, Domiciano, Trajano, Marco Aurélio e Septímio Severo,
tiveram um caráter mais político do que propriamente religioso.
Primeiro, os cristãos recusavam-se a cultuar a deusa Roma, símbolo
da unidade imperial, e a aceitar a divinização dos imperadores.
E, segundo, graças a sua mensagem redentora, o Cristianismo obteve enorme
sucesso entre os excluídos da sociedade romana – mulheres, pobres e,
especialmente, escravos -, atestando o caráter socialmente perigoso da
nova crença.

Religião oficial do Império

As perseguições acabaram por fortalecer o Cristianismo. Seus
adeptos uniram-se, aceitando o martírio sem hesitação,
na certeza da salvação, e seu exemplo fez novos e numerosos adeptos,
especialmente em uma época de crise e de falência dos poderes públicos.
Mais do que isso, o Cristianismo era a única opção de consolo
espiritual para a grande massa de miseráveis que o Império produzia.

Da mesma forma, a mensagem de igualdade e pacifismo – negando o caráter
divino do Império -, e a própria escravidão contribuíram
para a desagregação das bases sociais e políticas em que
se assentava o Império.

O crescimento do número de fiéis, bem como a rigidez da organização
cristã, tornou as perseguições cada vez mais difíceis.
A partir do século 3, momento em que se iniciou a crise do Império,
conforme veremos quando analisarmos o Baixo Império, aumentava significativamente
o número de despossuídos, justamente a camada que teria no Cristianismo
sua única perspectiva de consolo espiritual.

A última perseguição foi decretada pelo imperador Diocleciano,
na segunda metade do século 3. Já era, nesse momento, difícil
para o Império manter a postura repressiva sobre uma parcela cada vez
mais significativa da população. Tanto que, no início do
século 4, em 313, o imperador Constantino publicou o Edito de Milão,
concedendo liberdade de culto aos cristãos.

Mais do que isso, à medida que a crise do Império se agravava,
suas próprias estruturas administrativas se deterioravam. O imperador
Teodósio, por meio do Edito de Tessalônica, em 390, tornou o Cristianismo
a religião oficial do Império. Com esse ato, ele buscava não
apenas exercer um controle sobre a crença cristã, mas, dando ao
Cristianismo um caráter oficial, também utilizar a estrutura da
Igreja como instrumento organizativo do Império.

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