Home EstudosSala de AulaFilosofia Introdução à Filosofia: 1. Origem e definição

Introdução à Filosofia: 1. Origem e definição

by Lucas Gomes


Aristóteles

A cada dia que passa é maior a necessidade de que os indivíduos sejam sujeitos de si mesmos, sujeitos conscientes de
sua história. Até mesmo o mercado já exige um perfil profissional que supõe uma mão de obra criativa e atuante, e
não mais meros executores de tarefas.

A preocupação, para além do mercado, é com a formação de um indivíduo crítico e responsável socialmente pelos seus atos.

A possibilidade da formação deste indivíduo deve ser viabilizada para o adolescente e o jovem. Ela não se dá espontaneamente.
Uma das formas de viabilizá-la é através do processo ensino-aprendizagem das ciências, da filosofia, das artes, e da
experiência de vida de cada um.

Neste contexto, cabe à Filosofia garantir não só a visão de totalidade da história e do processo do conhecimento, sem negar
a necessidade de especialização hoje imposta, mas também desenvolver no educando – junto com outras disciplinas – a sua
capacidade de buscar, através da leitura, da observação, da percepção de transformações ocorridas a partir da sua própria
interferência em situações sociais, o melhor caminho historicamente possível para a organização da vida em sociedade.

Desta forma, um curso de Filosofia busca fornecer ao adolescente o instrumental básico à elaboração de uma reflexão sobre
o mundo, e sobre si mesmo no mundo, de forma a possibilitar-lhe a conquista de uma autonomia crescente no seu pensar e agir.

Desta forma, ao aprender Filosofia, espera-se que a pessoa:

– aprenda conceitos, sabendo relacioná-los entre si e aplicá-los em sua realidade;

– reconheça-se como ser produtor de cultura e, portanto, da história;
– compreenda a produção do pensamento como enfrentamento dos desafios humanos;
– compreenda o papel da reflexão, em especial, o da filosófica;
– saiba construir “universos” históricos de diferentes tempos em seu pensamento, sem preconceitos;
– situe-se como cidadão no mundo em que vive, percebendo o seu caráter histórico e a sua dimensão de liberdade;
– compreenda o conhecimento como possibilidade de libertação social;
– compreenda o pensamento do seu mundo como síntese de diferentes culturas anteriores e concomitantes a ele;
– elabore criticamente seu próprio pensar a partir de notícias/análises de jornais/revistas e de suas vivências concretas.

A ORIGEM DO TERMO FILOSOFIA


Pitágoras

Uma definição precisa do termo “filosofia” é impraticável. Tentar formulá-la poderia, ao menos de início, gerar equívocos.
Com alguma espirituosidade, alguém poderia defini-la como “tudo e nada, tudo ou nada…”. Melhor dizendo, a filosofia
difere das ciências especiais na medida em que procura oferecer uma imagem do pensamento humano – ou mesmo da realidade,
até onde se admite que isso possa ser feito – como um todo. Contudo, na prática, o conteúdo de informação real que
a filosofia acrescenta às ciências especiais tende a desvanecer-se até parecer não deixar vestígios.

Acredita-se que esse desvanecimento seja enganoso. Mas deve-se admitir que até aqui a filosofia não tem conseguido realizar suas
grandes pretensões. Tampouco tem logrado êxito em produzir um corpo de conhecimentos consensual comparável ao elaborado
pelas diversas ciências. Isso se deve em parte, embora não integralmente, ao fato de que, quando obtém-se conhecimento
verdadeiro a respeito de determinada questão situa-se essa questão como pertencente à ciência e não à filosofia.

0 termo “filósofo” significava originariamente “amante da sabedoria”, tendo surgido com a famosa réplica de Pitágoras
aos que o chamavam de “sábio”. Insistia Pitágoras em que sua sabedoria consistia unicamente em reconhecer sua ignorância,
não devendo portanto ser chamado de “sábio”, mas apenas de “amante da sabedoria”.

Nessa acepção, “sabedoria” não se restringia a qualquer dos domínios particulares do pensamento e, de modo similar,
“filosofia” era usualmente entendida como incluindo o que hoje denomina-se “ciência”. Esse uso sobrevive ainda hoje em
expressões como “filosofia natural”.

Na medida em que uma grande produção de conhecimento especializado em um dado campo ia sendo conquistada, o estudo desse
campo se desprendia da filosofia, passando a constituir uma disciplina independente. As últimas ciências que assim
evoluíram foram a psicologia e a sociologia. Dessa forma, poder-se-is falar de uma tendência à contração da esfera da
filosofia na própria medida em que o conhecimento se expande. Recusa-se a considerar filosóficas as questões cujas
respostas podem ser dadas empiricamente.

Não deseja-se com isso sugerir que a filosofia poderá acabar sendo reduzida ao nada. Os conceitos fundamentais das ciências,
da figuração geral da experiência humana e da realidade (na medida em que se formam crenças justificadas a seu respeito)
permanecem no âmbito da filosofia, visto que, por sua própria natureza, não podem ser determinados pelos métodos das ciências
especiais.

É sem dúvida desencorajador que os filósofos não tenham logrado maior concordância com respeito a esses assuntos, mas não
se deve concluir que a inexistência de um resultado por todos reconhecido signifique que esforços foram realizados em vão.
Dois filósofos que discordem entre si podem estar contribuindo com algo de inestimável valor, embora ambos não estejam em
condição de escapar totalmente ao erro: suas abordagens rivais podem ser consideradas mutuamente complementares.

O fato de filósofos distintos necessitarem dessa mútua complementação torna evidente que o ato de filosofar não é unicamente
um processo individual, mas também um processo que possui uma contrapartida social.

Um dos casos em que a divisão do trabalho filosófico se torna bastante proveitosa consiste na circunstância de que
pessoas distintas usualmente enfatizam aspectos diferentes de uma mesma questão. Contudo, boa parte da filosofia volta-se
mais para o modo pelo qual conhecemos as coisas do que propriamente para as coisas que conhecemos, sendo essa uma segunda
razão pela qual a filosofia parece carecer de conteúdo. No entanto, discussões a respeito de um critério definitivo de
verdade podem determinar, na medida em que recomendam a aplicação de um dado critério, quais as proposições que na prática
delibera-se serem verdadeiras. As discussões filosóficas da teoria do conhecimento têm exercido, ainda que de modo indireto,
importante efeito sobre as ciências.

UTILIZAÇÃO DA FILOSOFIA


Platão

Para Platão, a filosofia é o uso do saber em proveito do homem. Isso implica a posse ou aquisição de um conhecimento que
seja, ao mesmo tempo, o mais válido e o mais amplo possível; e também o uso desse conhecimento em benefício do homem.
Essa definição, porém, exige a uma definição de benefício, que por sua vez exige uma definição de Bem. Para saber o que é o
Bem, entretanto, também é necessário descobrir o que é a Verdade.

Alguns filósofos, definem a filosofia como a busca do Bem, da Verdade, do Belo e de como os homens podem conhecer essas
três entidades. Portanto, a filosofia toma para si a árdua tarefa de debater problemas ou especular sobre problemas que
ainda não estão abertos aos métodos científicos: o bem e o mal, o belo e o feio, a ordem e a liberdade, a vida e a morte.

Leia um exemplo de texto filosófico, em que um filósofo norte-americano, John Dewey, procura refletir justamente sobre o
que é senso comum:


Visto que os problemas e as indagações em torno do senso comum dizem respeito às interações entre os seres vivos e o ambiente,
com o fim de realizar objetos de uso e de fruição, os símbolos empregados são determinados pela cultura corrente de um grupo
social. Eles formam um sistema, mas trata-se de um sistema de caráter mais prático que intelectual. Esse sistema é constituído
por tradições, profissões, técnicas, interesses e instituições estabelecidas no grupo. As significações que o compõem são
efeito da linguagem cotidiana comum, com a qual os membros do grupo se intercomunicam.
“Lógica”, VI, 6, J. Dewey

Há uma questão que muita gente formula de imediato quando ouve falar de filosofia: qual a utilidade da filosofia? Não há
certamente expectativa alguma de que ela contribua para a produção de riqueza material. Contudo, a menos que se suponha que
a riqueza material seja a única coisa de valor, a incapacidade da filosofia de promover esse tipo de riqueza não implica
que não haja sentido prático em filosofar. Não valoriza-se a riqueza material por si própria – aquela pilha de papel que
se chama de dinheiro não é boa por si mesma -, mas por contribuir para a felicidade de cada um. Não resta dúvida de que
uma das mais importantes fontes de felicidade, ao menos para os que podem apreciá-la, consiste na busca da verdade e na
contemplação da realidade; eis aí o objetivo do filósofo. Ademais, aqueles que, em nome de um ideal, não classificaram
todos os prazeres como idênticos em seu valor, tendo chegado a experimentar o prazer de filosofar, consideraram essa
experiência como superior em qualidade a qualquer outra. Visto que a maior parte dos bens que a indústria produz,
excetuando os que suprem as necessidades básicas, valem apenas como fontes de prazer, torna-se a filosofia perfeitamente apta,
no que se refere à utilidade, para competir com a maioria dos produtos industriais, quando poucos são os que podem dedicar-se,
em tempo integral à tarefa de filosofar.

Mesmo que se entendesse a filosofia como fonte de um inocente prazer particularmente válido por si próprio (obviamente,
não apenas para os filósofos, mas também para todos aqueles a quem eles ensinam e influenciam), não haveria razão para
invejar tão pequeno desperdício da força humana dedicada ao filosofar.

Não se esgota, porém, tudo o que pode ser dito em favor da filosofia. Pois, à parte de qualquer valor que lhe pertença
intrinsecamente acima de seus efeitos, a filosofia tem exercido, por mais que se ignore isso, uma admirável influência
indireta até mesmo sobre a vida de gente que nunca ouviu falar nela. Indiretamente, tem sido destilada através de sermões,
da literatura, dos jornais e da tradição oral, afetando assim toda a perspectiva geral do mundo. Em grande parte, foi
através de sua influência que se fez da religião cristã o que ela é hoje. Deve-se originalmente a filósofos idéias que
desempenharam papel fundamental para o pensamento em geral, mesmo em seu aspecto popular, como, por exemplo, a concepção
de que nenhum homem pode ser tratado apenas como um meio ou a de que o estabelecimento de um governo depende do
consentimento dos governados.


John Locke

No âmbito da política, a influência das concepções filosóficas tem sido expressiva. Nesse sentido, a Constituição norte-americana
é, em grande parte, uma aplicação das idéias do filósofo John Locke; ela apenas substitui o monarca hereditário por um
presidente. Similarmente, admite-se que as idéias de Rousseau tenham sido decisivas para a Revolução Francesa de 1789. É
inegável que a influência da filosofia sobre a política pode às vezes ser nefasta: os filósofos alemães do século X1X podem
ser parcialmente responsabilizados pelo desenvolvimento de um nacionalismo exacerbado que posteriormente veio a assumir formas
bastante deturpadas. Todavia, não resta dúvida de que essa responsabilidade tem sido freqüentemente muito exagerada, sendo
difícil determiná-la exatamente, o que se deve ao fato de aqueles filósofos terem sido obscuros. Contudo, se uma filosofia de
má qualidade pode exercer influência nefasta sobre a política, com as filosofias de boa qualidade pode ocorrer o contrário.
Não há meios de impedir tais influências sendo portanto extremamente oportuno que se dedique especial atenção à filosofia com
o intuito de constatar se concepções que exerceram alguma influência foram mais positivas do que nefastas. 0 mundo teria
sido poupado de muitos horrores caso os alemães tivessem sido influenciados por uma filosofia melhor que a dos nazistas.

Torna-se, portanto, imperativo abandonar a afirmação de que a filosofia é destituída de valor, mesmo com respeito à riqueza
material. Uma boa filosofia, ao influenciar favoravelmente a política, pode gerar uma prosperidade incapaz de ser alcançada
sob a égide de uma filosofia inferior. Outrossim, o expressivo desenvolvimento da ciência, com seus conseqüentes benefícios
de ordem prática, muito depende de seu background filosófico. Houve mesmo quem tenha chegado a afirmar, talvez exageradamente,
que o desenvolvimento da civilização como um todo seria concomitante às mudanças na idéia de causalidade, da concepção mágica
de causalidade à científica. De qualquer modo, a idéia de causalidade faz parte do objeto da filosofia. A própria ‘perspectiva
científica’, em grande parte, foi introduzida inicialmente pelos filósofos.


Alfred North Whitehead

Todavia, certamente não se está nas melhores condições para fazer um estudo proveitoso da filosofia se a encarar principalmente
como uma via indireta de acesso à riqueza material. A principal contribuição da filosofia consiste no intangível background
intelectual do qual muito dependem o clima espiritual e a feição geral de uma civilização. Nesse sentido, ocasionalmente se
desenvolvem ambições ainda maiores. Whitehead, um dos mais expressivos e acatados pensadores modernos, descreve os dons da
filosofia como “a capacidade de ver e de prever, aliada a um sentido do valor da vida, ou seja, o sentido da importância que
anima todo esforço civilizado”. Acrescenta ainda Whitehead que, “quando uma civilização atinge seu auge sem coordená-lo com
uma filosofia de vida, difundem-se por toda a comunidade períodos de decadência e monotonia, seguidos pela estagnação de todos
os esforços”. Para ele, a filosofia consiste em “uma tentativa de esclarecer as crenças que, em última instância, determinam
nossa atenção, a qual integra a base de nosso caráter”. De um modo ou de outro, pode-se ter como certo que o caráter de uma
civilização é enormemente influenciado por sua concepção geral da vida e da realidade. Até pouco tempo, para a maioria das
pessoas, essa concepção era proporcionada pelo ensino religioso, mas as próprias concepções religiosas foram muito influenciadas
pelo pensamento filosófico. Ademais, a experiência demonstra que as concepções religiosas podem conduzir à loucura, a menos que
sejam continuamente submetidas a uma avaliação racional. Os que rejeitam qualquer concepção religiosa devem ter o maior
interesse em elaborar uma nova concepção para, se possível, substituir a crença religiosa. E fazê-lo significa engajar-se
na filosofia.

Embora não possa substituir a filosofia, a ciência suscita problemas filosóficos. Pois ela não pode dizer que lugar ocupam
os fatos com que lida no esquema geral das coisas, não conseguindo nem mesmo esclarecer suas relações com os espíritos que
os observam. Nem mesmo pode demonstrar, embora deva admitir, a existência do mundo físico ou a legitimidade do uso dos
princípios da indução para prever as prováveis ocorrências futuras ou ultrapassar de alguma forma o que tem sido efetivamente
observada. Nenhum laboratório científico pode demonstrar em que sentido os homens têm uma alma, se o universo tem ou não
um propósito, se, e em que sentido, se é livre, e assim por diante. Não deseja-se com isso sugerir que a filosofia possa
resolver esses problemas; no entanto, se ela realmente não puder, nada mais poderá fazê-lo, sendo certamente válido tentar
descobrir ao menos se tais problemas podem ser solucionados. Vê-se que a própria ciência pressupõe continuamente conceitos
que subsumem os domínios da filosofia e, da mesma forma que nenhuma ciência pode florescer se não admitir-se tacitamente
uma resposta para certas questões filosóficas, não se pode fazer uso mental adequado da ciência, com o intuito de implementar
o desenvolvimento intelectual, sem admitir uma visão de mundo mais ou menos coerente. Mesmo as melhores conquistas da
ciência moderna não teriam sido alcançadas se os cientistas não tivessem adotado determinadas suposições de grandes e
originais filósofos, nas quais basearam todo o seu proceder. A concepção “mecanicista” do universo, que caracterizou a
ciência durante os últimos três séculos, é derivada principalmente do filosofia de Descartes. Por ter ocasionado maravilhosos
resultados, o esquema mecanicista deve ser, em parte, verdadeiro, ainda que parcialmente inadequado, apressando-se o
cientista em buscar no filósofo o necessário auxílio para erigir novo esquema que possa substituir o antigo.

Um segundo serviço inestimável prestado pela filosofia (especialmente pela “filosofia crítica”) reside no hábito, por
ela estimulado, de promover-se um julgamento imparcial considerando-se todas as facetas de uma questão, e na idéia que
ela oferece do que seja a evidência e de que se deve buscar ou esperar de uma prova. Pode ser esse um importante
questionamento das inclinações emocionais e das conclusões precipitadas, sendo especialmente necessário, e com freqüência
negligenciado, em controvérsias políticas. Se ambos os lados considerassem suas diferenças políticas munidos de espírito
filosófico, seria difícil admitir a eventualidade de uma guerra. O sucesso da democracia depende muito da habilidade dos
cidadãos em distinguir um bom de um mau argumento, não se deixando enganar por confusões. A filosofia crítica estabelece
um padrão ideal para o raciocínio correto e capacita quem a estuda a remanejar argumentos confusos. Talvez seja essa a
motivação pela qual Whitehead afirma, na passagem acima citada, que “nenhuma sociedade democrática poderá alcançar êxito
sem que a educação geral que a inspire exprima uma perspectiva filosófica”.

Na medida em que se admite que certa cautela é desejável ao se afirmar que os homens não deixam de viver de acordo com uma
filosofia na qual acreditam, e enquanto atribuir-se a maior parte dos desacertos humanos exatamente à falta desse desejo
de sintonia com ideais mais nobres, não dará para negar a extrema relevância de crenças gerais a respeito da natureza do
universo e do bem para a determinação da progresso ou da degeneração da humanidade. Algumas partes da filosofia inegavelmente
produzem resultados práticos mais expressivos, mas não deve-se por isso incorrer no erro de supor que a aparente inexistência
de um suporte de ordem prática para determinado campo de estudo implica que a investigação desse campo seja destituída de
sentido prático. Conta-se que um cientista, que costumava jactar-se de desprezar a dimensão prática de toda pesquisa,
disse certa vez a respeito de uma: “0 melhor disso tudo é que ela possivelmente não revelará qualquer utilidade prática
para quem quer que seja.” Todavia, essa linha de pesquisa acabou levando à descoberta da eletricidade. De modo similar,
estudos filosóficos por demais acadêmicos e aparentemente destituídos de utilidade prática terminam por exercer profunda
influência sobre a visão de mundo, chegando até mesmo a afetar, em última instância, a ética e a religião que se adota. Pois
as diferentes partes da filosofia, os diferentes elementos que compõem a visão de mundo, deveriam integrar-se. Tal é pelo
menos o objetivo, nem sempre alcançável, de uma boa filosofia. Sendo assim, conceitos à primeira vista muito distanciados
de qualquer interesse de ordem prática podem vir a afetar de modo vital outros conceitos que envolvem mais de perto a vida diária.

Pode-se compreender agora o motivo pelo qual a filosofia não precisa recear a questão de ter ou não valor prático. Deve-se ao
mesmo tempo dizer que não aprova-se de modo algum uma concepção puramente pragmática da filosofia. A filosofia merece ser
valorizada por si própria, e não por seus efeitos indiretos de ordem prática. E a melhor maneira de se assegurar esses bons
efeitos práticos é se dedicar à filosofia pela filosofia. Para encontrar a verdade, precisa-se buscá-la desinteressadamente.
E o fato de a encontrar se revelará muito útil do ponto de vista prático. Não obstante, uma preocupação prematura com
seus efeitos práticos só dificultará a busca do que é de fato verdadeiro. Muito menos pode-se fazer desses efeitos práticos
o critério de sua verdade. As crenças são úteis porque são verdadeiras, e não verdadeiras porque são úteis.

PRINCIPAIS DIVISÕES DA FILOSOFIA

Tradicionalmente, a filosofia se divide em cinco áreas:

1. Lógica, que estuda o método ideal de pensar e investigar;

2. Metafísica, que estuda a natureza do Ser (ontologia), da mente (psicologia filosófica) e das relações
entre a mente e o ser no processo do conhecimento (epistemologia);

3. Ética, que estuda o Bem, o comportamento ideal para o ser humano;

4. Política, que estuda a organização social do homem;

5. Estética, que estuda a beleza e que pode ser chamada de filosofia da Arte.

Convém concluir lembrando que a ciência e o pensamento científico se originaram com a filosofia na Grécia da Antigüidade.
Com o passar do tempo, certas áreas da especulação filosófica, como a matemática, a física e a biologia ganharam tal
especificidade que se separaram da filosofia.

FILOSOFIA E SABEDORIA PRÁTICA


Sócrates

A filosofia está associada tanto ao saber teórico quanto à sabedoria prática, à qual se alude através de expressões do tipo
“considerar filosoficamente as coisas”. De fato, o sucesso da filosofia teórica não oferece qualquer garantia de que será
filósofo no sentido prático ou de que agiré e sentirá de modo correto sempre que se envolver em determinadas situações
práticas. Uma das doutrinas favoritas de Sócrates é a de que sempre se pode fazer o bem desde que se saiba o que é o bem;
não obstante, isso só é verdade se acrescentar ao significado do termo “saber” uma adequada nitidez emocional daquilo que se
sabe do ponto de vista teórico. 0 fato de saber (ou acreditar) que fazer algo que se deseja iria acarretar muito mais
sofrimento a uma outra pessoa do que prazer para si mesmo, sendo, em conseqüência, não-recomendável, não impede, todavia,
de praticar tal ação, pois a idéia de causar sofrimento poderia parecer menos repugnante que a de perder aquilo que se cobiça.
Na medida em que é inteiramente impossível a qualquer ser humano sentir o sofrimento alheio com a mesma intensidade que os seus,
ocorre sempre a possibilidade de ser tentado a abandonar os deveres, fazendo-se necessário não apenas o conhecimento, mas
também o exercício da vontade. Nem se é constituído de modo a ser sempre fácil, quando se é abandonado à própria moral,
se opor a um forte desejo, ainda que disso dependa a própria felicidade. A filosofia não é garantia de conduta correta ou
do perfeito ajustamento das emoções às crenças filosóficas. Nem mesmo do ponto de vista cognitivo é ela capaz de dizer o
que se deve fazer. Para isso, precisa-se, além de princípios filosóficos, não só do conhecimento empírico dos fatos relevantes
e da capacidade de prever as prováveis conseqüências, mas também de um insight da situação particular, de maneira a se poder
aplicar adequadamente os princípios.

Fonte: Universidade federal de Santa Catarina – UFSC

Posts Relacionados