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Djanira

by Lucas Gomes

Nasceu em Avaré, São
Paulo, em 1914. Descendente de austríacos e de guaranis, aos quatro anos
foi morar ia cidade catarinense de Porto União, de onde retornou, mocinha,
a Avaré. Pouco depois mudou-se para São Paulo, ganhando a vida
como vendedora ambulante. Morava então num cubículo, na avenida
São João, e, como diria anos depois numa entrevista, “no
fim do dia caía estourada; nem dava para pensar em comer qualquer coisa”
Essa existência de privações levou-a logicamente à
doença: aos 23 anos, com tuberculose, é internada no Sanatório
Dória, de São José dos Campos, não lhe dando os
médicos senão alguns meses de vida. Foi no pavilhão dos
desenganados que executou seu primeiro trabalho: o desenho de um Cristo crucificado,
feio e sofredor. Outros desenhos iriam surgir desde então, no intervalo
permitido pelas crises.

Mas Djanira sobreviveu como que por milagre à doença. Mudando-se
para o Rio de Janeiro e casada com Bartolomeu Gomes Pereira, maquinista do Lóide
Brasileiro, passa a residir em Santa Teresa, ganhando a vida como modista. Na
Pensão Mauá, onde alugava alguns cômodos, instalou uma espécie
de pensão familiar, fornecendo também comida a seus hóspedes,
até porque era ótima cozinheira. Um desses hóspedes foi
o jovem pintor romeno Emeric Marcier, recém-chegado ao Brasil. Segundo
o crítico Flávio de Aquino, Djanira e Marcier fizeram um trato:
“ela lhe daria casa e comida em troca de lições de pintura”.

Dois acontecimentos marcaram a vida de Djanira em 1942: sua primeira aparição
pública como pintora, expondo na Divisão Moderna do Salão
Nacional de Belas-Artes, e a morte do marido, quando seu navio, o Apaleide,
foi torpedeado por um submarino nazista. No ano seguinte a artista realizou
sua primeira individual, na Associação Brasileira de Imprensa
do Rio de Janeiro, passando a viver exclusivamente da pintura. Nos salões
de 1943 e 1944 é premiada respectivamente com as medalhas de bronze e
de prata, ao mesmo tempo em que começa a atrair as atenções
da crítica.

Ganhadora, em 1955, do Salão Cristo Negro, realizado no Rio de Janeiro,
merece em 1958 uma primeira retrospectiva no Museu de Arte Moderna do Rio de
Janeiro, apresentada em texto consagratório por Mário Pedrosa;
a mesma retrospectiva é levada a São Paulo, à Galeria de
Arte das Folhas, depois de ser mostrada em Munique, na Haus der Kunst. Ainda
em 1958 a pintora realiza, a convite do Governador Carlos Lacerda, grande painel
de azulejos no túnel Catumbi-Laranjeiras, no Rio de Janeiro (Santa Bãrbara,
160 metros quadrados), ganha o Prêmio Nacional Guggenheim e tem seu cartão
de tapeçaria Trabalhadores de cacau executado por Jean Lurçat
em Paris.

O desenho de Djanira, tosco se observado de um ponto de vista estritamente acadêmico,
reflete diretamente e sem disfarces possíveis sua personalidade. É
rude, sim, mas acima de tudo sintético, conquistado penosamente, ano
após ano, num exercício de paciência e sensibilidade, até
vir a ser tão tipicamente djaniriano quanto a própria assinatura
da pintora. O desenho, na pintura de Djanira, é elemento de grande importância,
pois é pela linha, mais do que pela cor, que a artista estrutura suas
obras, “amarrando-as” num arabesco significativo. Já a cor
queda subordinada invariavelmente à cor ambiente, muito embora seja lícito
falar numa cor Djanira. Esse é mesmo um dos segredos maiores da artista,
cujos dotes de colorista foram sempre muito intensos. Assim, nos quadros realizados
em Parati, o azul do mar diferencia-se nitidamente do azul do mar de São
Luís do Maranhão, por exemplo. Djanira, embora subordinando-se
ao real, transfigura-o, dá-lhe uma dimensão poética que
na verdade não possui. Ainda com relação à cor,
observe-se como a artista é parcimoniosa no emprego dos tons: jogando
com umas poucas gamas, que alterna terras e pretos, obtém não
raro um efeito final multicolorido. Os tons frios ou terrosos parecem dominar
sua pintura, quer porque os temas que persegue assim o exijam, quer porque correspondem
melhor à sua intima personalidade.

Djanira que, a despeito de suas convicções políticas, manteve-se
sempre extremamente religiosa, faleceu a 31 de maio de 1979, no Rio de Janeiro.

Fonte: Dicionário crítico da pintura no Brasil

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