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EUA – A Doutrina Monroe

by Lucas Gomes


James Monroe, 5º presidente
dos Estados Unidos

A história das relações entre Estados Unidos e América Latina é marcada pela referência constante a uma poderosa e controvertida idéia, baseada no lema “América para os americanos”, formulada em 1823 pelo então presidente dos Estados Unidos, James Monroe. Daí que foi consagrada posteriormente com o nome de Doutrina Monroe.

Por essa época, os Estados Unidos temiam a possibilidade de que a “Santa Aliança” – uma coligação formada em 1815 pelos imperadores da Rússia, Prússia, Áustria e pelo rei da França – viesse a estimular e contribuir para que Fernando VII, então rei da Espanha, levasse a cabo seu projeto de reconquistar suas colônias americanas, que na sua maioria já haviam então logrado sua independência frente à metrópole espanhola.

Diante de tal contexto a “doutrina” fixou pelo menos duas diretrizes básicas. Em primeiro lugar, seria inadmissível a intervenção de qualquer país europeu nos negócios internos ou externos dos países americanos. Em segundo lugar, como conseqüência da diretriz anterior, o continente americano não poderia ser novamente objeto de uma política de re-colonização por parte das potências européias. A julgar pelos princípios declarados, a doutrina assumia assim um caráter eminentemente defensivo frente à Europa, com os Estados Unidos se apresentando como legítimos defensores do direito à autodeterminação das recém emancipadas nações hispano-americanas ameaçadas pelas tentativas de re-colonização européia.

Não obstante, após passar por inúmeras transformações, apropriações e usos pelos ideólogos, políticos e representantes dos governos dos Estados Unidos ao longo dos séculos XIX e XX, a doutrina acabou historicamente por servir de pretexto e argumento ideológico privilegiado para justificar e legitimar, em diferentes momentos de suas relações internacionais, uma política externa marcadamente intervencionista. Da mesma forma, a gradual apropriação pelos Estados Unidos do gentílico ou adjetivo “americanos” – já que se trata do único país no mundo que não tem nome próprio! – contribuiu substancialmente para alterar definitivamente o conteúdo e o significado do lema “América para os ‘americanos'”.

Assim, contraditoriamente, a mesma doutrina que, na sua origem, assumia uma nítida inspiração progressista, de defesa do princípio da autodeterminação e soberania das nações ibero-americanas, ao ser continuamente reinterpretada pelos sucessivos governos estadunidenses ao longo dos séculos XIX e XX, acabou tornando-se no principal instrumento ideológico a serviço do intervencionismo e da subordinação da América Latina aos interesses econômicos, políticos e geo-estratégicos dos Estados Unidos.

Eugênio Rezende de Carvalho, historiador com doutorado na Universidade de Brasília – UnB

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