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Elenco de cronistas modernos (Parte 5), de Manuel Bandeira

by Lucas Gomes

Elenco de Cronistas Modernos

é uma obra que reúne crônicas de Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector,
Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz e Rubem Braga. Foram selecionadas dez
textos de cada autor, além de breve biografia desses autores.

Crônicas são sempre curtas, tematizando os acontecimentos triviais
da vida. Pode-se observar nestas setenta crônicas o predomínio
do foco narrativo em primeira pessoa, um tom confessional, uma linguagem leve,
o humor e as reminiscências.

Nesta parte veremos

MANUEL BANDEIRA (1886 – 1968)

– Os Sapos – Semana de 22.
– Maior poeta da Primeira Geração.
– Dominador de uma linguagem coloquial embora correta.
– A doença produz: dúvida, dor, melancolia e opostos.
– Aproxima-se do mais fraco.

Crônicas

1. Na câmara ardente de José do Patrocínio
– Narração em primeira pessoa.Levanta fatos históricos.
– O Narrador relembra passagens da vida de “Zeca”. A boemia, a nostalgia
aguçam a lembrança, e a igreja do Rosário dos Pretos – local do velório.
– Mestre Valentim, Villa Lobos, Jaime Ovalle e Catulo da Paixão Cearence.
– Amizade – Recordações – Personagens da história.

2. Lenine
– Narração em primeira pessoa. Autor via narrador.
– Infância de “esbodegar”.
– Peraltices e traquinagens.
– Infância realizada – intertexto com Lenine.
– Ateísmo x Religiosidade.
– Lenine tem 7 anos.

3. O místico
– Narração em primeira pessoa.
– O narrador recorda de um místico que vivia na Lapa, e com um enebriado
de nostalgia, relata o jeito boêmio, cavalheiro e algumas vezes estranheza de agir.
– Intertextualidade: “Menino de Engenho”.
– Nostalgia recordações lembranças.

4. A trinca do Curvelo – Crônica de memórias
O narrador em um trabalho metalinguístico explica = Trinca.
– Grupo de garotos.
– Particularidades de cada menino.
– A morte de Panaco de sarampo encerra o texto.

5. Reis vagabundos
– O Vice – Cônsul x boêmio.
– Sabiá = truque.
– Malandragem.
– Retrato da sociedade.

Íntegra:

Juque! o outro não teve tempo de acabar o insulto: um soco bem colocado
nos queixos atirou-o por cima de uma das mesas do bar. No meio da confusão,
vidros partidos, bebida entornada, um garçon (os garçons gostavam
dele) encaminhou o agressor para o mictório, de onde por uma escada de
mão se subia a uma soteiazinha, que era depósito de víveres
e bebidas. Isso era novidade para ele. Foi só quando os seus olhos se
habituaram à meia escuridão do local, que percebeu nas prateleiras
as latas de foie gras e mortadela, os queijos, “and lo! creation widened
in man’s view”(1), a bateria impressionante dos Black Label e dos
White Horse ali ao alcance da mão. – Eta, sabiá da mata!
O sol quando nasce é para todos!
Quebrou o gargalo de uma garrafa numa quina de madeira e o whisky começou
a rolar dentro e fora da boca. Um desperdício de roquefort completou
aquela orgia sem mulheres. Meia hora depois o mesmo garçon que o encaminhara
ali, veio avisar que o caminho estava desimpedido.
Desceu na calada e ganhou a rua. Hep! Rapidez e eficiência. Na rua Treze
de Maio sentiu que não podia esperar. Desacatou o poste de iluminação.
Quando estava assim, a sua idéia fixa era desacatar. Mas tanto era desacatar
o ato de provocar um amigo ou desconhecido, como virar uma garrafa inteira de
Madeira R ou fazer aquilo no poste, à vista de toda a gente. “Desacatei! Hep!”
No Ventania apareceu o vice-cônsul, maior do que ele, mais corado do que
ele, elegante pra cachorro: “Vil burocrata, espancá-lo-ei na via
pública!” Mas espancou o quê, foram mas foi beber numa pensão
da Lapa, espavorindo as mulheres, afugentando os michês, hep!, enquanto
a pianista feia e velha, única pessoa sem medo, mantinha o prestígio
da casa atacando com bravura o “Zaraza”. Depois o Lamas até
às primeiras claridades da manhã. Só então, porque
como a Tristão e Isolda o sol é odioso aos notívagos desta
espécie, os dois deixaram o tradicional café do largo do Machado em busca de abrigo.
O vice-cônsul dormia num velho solar do Segundo Reinado, que ficava para
os lados da Gávea, próximo da lagoa Rodrigo de Freitas. A quebradeira
dos herdeiros ajudada pelo capim reduzira o antigo solar a habitação
coletiva e quinze anos deste último regime acabaram arruinando o casarão,
hoje desocupado, com exceção de um pequeno quarto no puxado, onde
o vice-cônsul se instalara com armas e bagagens. As bagagens eram uma
cama de ferro, uma mesa de pinho não envernizada e uma cadeira de assento
de palhinha furado; a arma era uma só, uma arapuca de passarinhos, cuja
utilidade se verá mais adiante. Havia aos fundos uma boa chácara,
onde por favor moravam dois mulatos que não atendiam nunca pelos nomes
e sim pelos títulos de sua atividade junto ao vice-cônsul. Eram os secretários nos 1 e 2.
Até às oito horas houve uma tentativa honesta de sono. àquela
hora o vice-cônsul, que sempre cochilara um bocadinho, levantou-se da
cama e disse sério para o outro: – “Chegou a hora do ganha-pão!”.
O secretário º 1 foi despachado para a cidade com uma carta que
bem respondida deveria valer uma nota de vinte. Depois os dois amigos se dirigiram
ao fundo da chácara, o vice-cônsul armou o alçapão,
que ficou confiado à vigilância do secretário nº 2,
enquanto os rapazes voltavam para o quarto a fumar os últimos cigarros.
O vice-cônsul sabia que o recurso não falhava. O ganha-pão era seguro.
Com efeito, três quartos de hora mais tarde o secretário nº
2 entrava da chácara trazendo na mão um bonito bem-te-vi laranjeira.
Hep! Seguiu-se o preparo do bem-te-vi. O vice-cônsul tomou do bichinho,
abriu-lhe o bico e deixou cair uma ou duas gotas de aguardente de bagaceira.
O passarinho arregalou os olhinhos e ficou firme, empoleirado no dedo indicador
do secretário nº 2, como se estivesse hipnotizado.
– Não venda por menos de dez mil-réis!
O secretário ganhou a rua, veio descendo até Voluntários
da Pátria, com o bem-te-vi firme no dedo. Quando passasse por ele um
menino acompanhado da mãe, era só oferecer o “bem-te-vi
ensinado”. O passarinho passava para o indicador do menino e enquanto
durasse o porrinho seria bem-te-vi ensinado. Era sempre assim e foi assim também
daquela vez. Quando o secretário nº 2 voltou com os dez mil-réis
do bem-te-vi, o vice-cônsul mandou-o comprar ovos, presunto, queijo e
cachaça, mais cigarros, e os amigos almoçaram aí pelas duas da tarde, hep!
(1) Em inglês, “E vejam! A criação se estendeu à vista do homem”. (NE)

6. Golpe do chapéu
– Chapéu = poder.
– Humor revela o sórdido homem.
– Efeito espelho.
– Narração em terceira pessoa.

7. Minha mãe
– Tom emotivo, auto-biografia.
– Metalinguístico.
– Amor de mãe.
– Reminiscências.
– O Livro descortina o passado.

8. Antiga trinca do Curvelo
– Após 15 anos todos prosperam.
– Lenine enlouqueceu.
– Memórias.
– Tom saudosista e auto biográfico.

9. O fantasma
– Trem abre o passado.
– Descrição da cidade.
– O Narrador é um fantasma.
– Saudade bucólica.
– Narração em primeira pessoa.
– Tuberculose.

10. O bar
– Bar Nacional.
– Gigante x Ubirajara.
– Lugares históricos.

Fonte: Unievangélica – Carlos Lisboa

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