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Entre a boca da noite e a madrugada, de Milton Dias

by Lucas Gomes

O livro Entre a boca da noite e a madrugada, de Milton Dias, representa o gênero crônica.

Ao se projetar em algumas dessas crônicas, o escritor se apresenta como um saudosista incurável. Seus personagens são reais e
marcados por uma visão fraternal.

Essencialmente cronista, Milton Dias sabe a importância das coisas miúdas, dos pequenos acontecimentos que também fazem
parte da condição humana.

Ao captar instantes, fragmentos de tempo, ele, com o olhar agudo, entende que aí se esconde a complexidade de nossas dores,
das nossas alegrias, dos nossos sonhos, das nossas frustrações; percebe, assim, que, por trás do aparentemente banal, do que
pode parecer inexpressivo, está algo que nos perturba, que diz de nós, que, afinal, espelha nosso duplo ou fragmentos de
nossos valores, crenças e modos de ver o mundo.

A crônica de Milton Dias é, essencialmente, lírica. Sua linguagem flui em ritmo prolongado, muitas vezes em períodos longos,
mas em frases curtas, e dessa combinação se evola um quê de música, de melodia que se encontra nas vozes da natureza. O gosto
pelos adjetivos faz com que os quadros da realidade por ele captados banhem-se de uma atmosfera pastosa, pois tudo se deixa
envolver pela emoção.

É ele, sobretudo, um amante da cidade que o acolheu – esta Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Em suas crônicas, enumeram-se
os logradouros, os monumentos, os tipos populares, os movimentos da noite, o conto dos galos, o apito dos vigias, os automóveis
com os seus faróis queimando a noite escura. Naturalmente, tal configuração já não mais condiz com os dias de hoje; entanto,
lê-lo é deparar uma outra Fortaleza, estabelecendo, assim, uma ponte entre o passado e o presente; é, pois, um reencontro com
fragmentos de nossa identidade.

O livro Entre a boca da noite e a madrugada se divide em cinco partes: “Os bichos”; “O tempo”; “As mulheres”; “Os homens”;
e “Mar, sertão, rosas e outras”.

Conheça a crônica Os
golinhas
, contida nesta obra de Milton Dias.

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