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Equador, de Miguel Sousa Tavares

by Lucas Gomes

1.

(UFBA) […] Estava uma noite de estrelas, serena e sem nuvens, por vezes até com uma
ligeiríssima brisa que agitava ao de leve as folhas das árvores do outro lado do terreiro e que trouxe a
Luís Bernardo, de repente, saudades do verão de Portugal. Afundado na sua poltrona de verga, com almofadas
de pano cosido à mão, fumando com lento prazer o seu Partagas, Luís Bernardo soltou baixinho um suspiro que
tanto podia ser de bem-estar como de acomodação. Mas Maria Augusta devia ter ouvido o suspiro, porque lhe
perguntou:
— Saudades de casa?
Ele sorriu, sem querer dar parte de fraco:
— Às vezes sim, mas nada de especial. São mais as noites que são diferentes.
— Acaba por se habituar, vai ver.
[…] — Que costuma você fazer aqui, em noites destas?
Foi a vez dela suspirar. Ele viu-lhe o peito subir no corpete do vestido, os olhos escuros que brilharam à
luz do candeeiro próximo. Sentiu-lhe o corpo a distender-se, um desprendimento, um desejo mal escondido que
lhe subia pelas pernas, pela barriga, pelo peito, que brilhava no olhar. A voz era rouca, vinda de longe,
de noites e noites como esta, na varanda:
— Penso na vida. No que foi, no que podia ter sido e no que há-de ser ainda. Que mais acha que poderia
fazer?
— E faz algum sentido?
— O quê? A vida, a minha vida?
— Sim.
— Não me pergunte isso. Essas perguntas não se fazem aqui. De que serviria? Você está cá apenas de passagem,
mais ano menos ano, volta para Portugal. A sua vida é lá, aqui é só uma passagem. Mas eu, não: eu vivo cá
para sempre, foi o que o destino me reservou. Não escolhi nada nem estou em situação de escolher. Agarro o
que passa e quando consigo: são as coisas que vêm ter comigo e não eu que vou ter com elas. Percebe o que
digo?
TAVARES, Miguel Sousa. Equador. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004. p. 216-217.

Constitui uma afirmação verdadeira sobre o texto, contextualizado na obra:

(01) Maria Augusta e Luís Bernardo são personagens de ideologias conflitantes, que travam diálogos
dissimulados em encontros amorosos.
(02) O diálogo das personagens apresenta uma atmosfera fatalista, que perpassa pela narrativa da vida de
Maria Augusta.
(04) A angústia existencial de Luís Bernardo, evidente no fragmento, reflete a conseqüência de um embate
político entre ele e Maria Augusta, em que ela expressa atos de violência e autoritarismo arbitrário.
(08) Maria Augusta, como proprietária de roça em São Tomé, é o exemplo do grande proprietário rural que
trata o cidadão negro como um ser inumano.
(16) O interesse da personagem Maria Augusta pelo estado de ânimo de Luís Bernardo pode ser considerado
como o clímax da narrativa, pois, a partir daí, ela vai inviabilizar o projeto civilizatório dele.
(32) Maria Augusta exemplifica o ser humano que, apesar de isolado no seu espaço geográfico, é detentor de
um certo grau de cultura e de autonomia que o torna diferente de outras mulheres da colônia.
(64) Maria Augusta, apesar do pouco convívio com Luís Bernardo, experimenta, com o desenrolar dos fatos, a
sensação de ter sido traída por ele nos planos pessoal e político.

RESPOSTA: 02 + 32 + 64 = 98

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