É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.
É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.
É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.
É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.
As necessidades do poeta são postas no poema, como se assim, a carência delas fosse
suprida. Mas não se pode esperar que o canto do poeta transformasse as pessoas: “A
poesia é incomunicável”. E no entanto, o poeta crê na necessidade de mudar o mundo
e credita muito valor ao poema. Mas o coração do poeta é mais vasto que o mundo.
Em “Poema da necessidade”, o discurso tem uma enunciação fundamentalmente determinista
e apocalíptica.
Utilizando-se do recurso da anáfora (repetições), o poeta anuncia o fim do mundo,
num cotidiano frenético.