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Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa

by Lucas Gomes

Análise da obra

O livro Primeiras estórias faz parte do terceiro tempo do Modernismo brasileiro e foi publicado em 1962. As 21 estórias, portanto, são narrativas preocupadas em tematizar, simbolicamente, os segredos da existência humana.

Trata-se do primeiro conjunto de histórias compactas a seguir a linha do conto tradicional, daí o “Primeiras” do título. O escritos acrescenta, logo após, o termo estória, tomando-o emprestado do inglês, em oposição ao termo História, designando algo mais próximo da invenção, ficção. Na obra há a intenção de apresentar fábulas para as crianças do futuro.

À primeira vista, a leitura de Primeiras Estórias pode, falsamente, parecer difícil e a linguagem soar erudita e ininteligível, mas essa é uma avaliação precipitada. Na verdade, o autor busca recuperar na escrita, a fala das personagens do sertão mineiro; a poesia presente nas imagens, sons e estruturas de uma linguagem que está à margem da norma estabelecida pelos padrões urbanos.

Quanto ao emprego dos tempos verbais, nota-se que, na maior parte das estórias, o relato se faz através de uma mistura do pretérito perfeito com o pretérito imperfeito do indicativo.

A obra aborda as diferentes faces do gênero: a psicológica, a fantástica, a autobiográfica, a anedótica, a satírica, vazadas em diferentes tons: o cômico, o trágico, o patético, o lírico, o sarcástico, o erudito, o popular.

As personagens embora variem muito quanto à faixa etária e experiência de vida, elas se ligam por um aspecto comum: suas reações psicossociais extrapolam o limite da normalidade. São crianças e adolescentes superdotados, santos, bandidos, gurus sertanejos, vampiros e, principalmente, loucos: sete estórias apresentam personagens com este traço.

A relação com a morte e com o desejo de imortalidade está presente em toda a obra de Guimarães Rosa, mas talvez com mais intensidade em “Primeiras Estórias”.

Em cada um dos contos deste livro o narrador configura sua experiência de forma diferente, atravessando estágios emocionais distintos, conforme o ponto do percurso em que se encontra. Tanto em As Margens da Alegria, quanto em Os Cimos, contos extremos do livro, ele se identifica profundamente com o protagonista, como se ele espelhasse sua própria trajetória, sua infância, como se assim universalizasse, de certa forma, essa travessia. Ou seja, ele tenta perceber o que há de comum na infância de cada menino, nessas delicadas passagens, em seus estados de alma, nos dolorosos conflitos, nas fascinantes descobertas.

Os personagens de Rosa parecem caminhar pelas veredas da memória, vagar pelos labirintos de sua psique, ser guiados pelos fios das experiências por eles vividas e não completamente elaboradas no plano da consciência. Eles são movidos pela necessidade de transmitir suas vivências, para melhor compreendê-las e ordená-las em sua mente consciente. Diante do tempo transcorrido, os protagonistas rosianos mantêm uma constante atitude interrogativa.

Resumos dos contos

1. As margens da alegria – Narrado em terceira pessoa, esse primeiro conto de Sagarana, de Guimarães Rosa, é considerado, com o último, Os cimos, a moldura do livro, já que apresenta as mesmas personagens no mesmo ambiente. Leia mais…

2. Famigerado – Narrado em primeira pessoa, Famigerado, conto que faz parte da obra Primeiras estórias, de Guimarães Rosa, constitui-se num episódio cômico. Leia mais...

3. Sorôco, sua mãe, sua filha – Conto narrado em terceira pessoa, mas com a participação ambígua do narrador como personagem. Leia mais…

4. A menina de lá  – A menina de lá , conto de Guimarães Rosa, da obra Primeiras estórias, é narrado em terceira pessoa. Leia mais…

5. Os irmãos Dagobé – Conto de Primeiras estórias, obra de Guimarães Rosa, tem narração em primeira pessoa (alguém do arraial, presente no velório e no enterro, que registra suas impressões sobre os irmãos Dagobé e possíveis acontecimentos futuros). Leia mais…

6. A terceira margem do rio – Este conto é narrado em primeira pessoa e é o mais famoso e o mais aberto conto do autor. Leia mais...

7. Pirlimpsiquice – Conto narrado em primeira pessoa, apresentando um narrador protagonista. Leia mais…

8. Nenhum, nenhuma – No conto Nenhum, Nenhuma, a indefinição do espaço se articula com a questão do tempo, na medida em que todas as referências a espaços indefinidos misturam-se à memória perdida que o narrador tenta recuperar; o que ele talvez resuma da seguinte forma: As lembranças são outras distâncias…. Leia mais…

9. Fatalidade – Conto narrado em primeira pessoa (testemunha), cujos personagens são: Meu Amigo, delegado filósofo, que já foi de tudo na vida, e Zé Centeralfe, caboclo perseguido por um valentão que lhe quer roubar a esposa. Leia mais…

10. Seqüência – Em Seqüência, décimo conto de Primeiras Estórias, e narrado em terceira pessoa, nos deparamos com a história de uma busca. Leia mais…

11. O espelho – O espelho é o centro da obra Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, onde o narrador, em primeira pessoa, conta de sua luta para provar a falta de lógica e de sentido do mundo. Leia mais…

12. Nada e a nossa condição – Conto com narrador em primeira pessoa (testemunha), cujo personagem central é Tio Man’Antônio, mais um dos loucos iluminados de Guimarães Rosa. Leia mais…

13. O cavalo que bebia cerveja – Narrado em primeira pessoa Reivalino, um homem do meio rural e tem como tema o mistério, a não aceitação daquilo que é diferente. Leia mais…

14. Um moço muito branco – Este conto é introduzido por uma precisão espaço-temporal atípica em Guimarães Rosa e pode ser classificado como fantástico. Leia mais…

15. Luas-de-mel – O conto, narrado em primeira pessoa, introduz o motivo, fundamental na obra rosiana, do eterno feminino. Leia mais…

16. A partida do audaz navegante – Conto narrado em terceira pessoa, onde há duas histórias justapostas: a que nos conta o narrador, envolvendo as crianças; e a que Brejeirinha inventa sobre o “Audaz Navegante”. Leia mais…

17. A benfazeja – Mais uma vez a idéia de que “quem não está preparado para a verdade não a pode enxergar”. Leia mais…

18. Darandina – Conto narrado em primeira pessoa, por uma testemunha do episódio, um plantonista de um hospício. Leia mais…

19. Substância – Este conto tem como personagem principal Sionésio, homem simples, trabalhador e calado. Leia mais…

20. Tarantão, meu patrão – Outro conto com anticlímax. É a estória de um “louco-iluminado” da galeria roseana, o Iô Jão-de-Barros-Dinis-Robertes, narrada em primeira pessoa por Vagalume, ajudante-de-ordens do protagonista e encarregado de cuidar dele, que, envelhecido, era dado a doideiras e desatinos. Leia mais…

21. Os cimos – Narrado em terceira pessoa, neste conto é retomado o mesmo tema de As margens da Alegria: a descoberta do mundo, de sua magia, dos ritos da tristeza e da alegria, dos ritos da travessia e de superação do medo a e da dor. Leia mais…

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