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Darwin e a Teoria da Evolução – A viagem

by Lucas Gomes


Modelo do Beagle (acima, Charles Darwin)

A história da viagem do naturalista inglês Charles
Darwin
é quase tão conhecida e reverenciada quanto a de Cristóvão Colombo.

Darwin iniciou em 1831 uma viagem pelo mundo a bordo do Beagle, um pequeno navio
de exploração científica. Quando voltou à Inglaterra, cinco anos depois, ele
trazia na bagagem um conjunto de idéias revolucionárias que mudariam para sempre
a geografia da alma humana tanto quanto Colombo mudou a geografia terrestre.
Darwin, como se sabe, é o autor da Teoria da Evolução.

Tamanha foi a força das revelações de Darwin sobre a origem e a transformação
do mundo animal, das plantas e, em especial, da humanidade, que quase ninguém
consegue ter uma visão muito clara hoje em dia de como se pensavam essas coisas
antes dele. Poucas revoluções tiveram esse poder. A prova de que a Terra é redonda
é uma delas. Parece natural hoje em dia nos vermos habitando uma esfera que
gira sobre o próprio eixo e em torno do Sol. Mas por milênios se acreditou em
uma Terra plana como um campo de futebol sustentada pelos ombros fortes de um
titã que se apóia sobre os cascos de tartarugas. A evolução lenta das espécies
ao longo das eras formando linhagens que desembocam nos atuais seres vivos.
Isso é o que acrecitava Darwin.

Quando lançou A Origem das Espécies, em 1859, o primeiro de seus livros
que explicam a teoria da evolução, cientistas e intelectuais de todos os matizes
foram obrigados a se posicionar diante dos argumentos do naturalista. Apesar
do rigor científico das pesquisas que conduzira, suas conclusões ofendiam a
todos. Conceitos arraigados havia séculos na biologia, como o de que as espécies
não mudam ao longo do tempo, caíram por terra diante dos argumentos de Darwin.
A criação do mundo como descrita na Bíblia foi desmontada. Entre todas as suas
propostas, a mais difícil de engolir por seus contemporâneos foi a de que o
homem não é um animal superior a todos os outros e tem ancestrais em comum com
os macacos. “A publicação de A Origem das Espécies destituiu a vida humana
de qualquer superioridade em relação aos animais, enterrou o conceito de divindade
e pôs fim a milhares de anos de irracionalidade na comunidade científica e em
parte da sociedade”, disse o filósofo Philip Kitcher, da Universidade Columbia
e autor do livro Living with Darwin (Vivendo com Darwin). Os ataques
às idéias de Darwin prosseguiram por todo o século XX. O naturalista foi acusado
de solapar os valores tradicionais da sociedade e de defender o determinismo
genético. Os sociólogos o criticavam por reduzir a complexidade social ao resultado
de ações individuais, instintivas e egoístas.

Depois de quase 150 anos da publicação de A Origem das Espécies, a vitória
das idéias de Darwin é inequívoca. Entre os grandes nomes que revolucionaram
a maneira de pensar, como Karl Marx e Sigmund Freud, Darwin é o único cujas
idéias ainda servem de base sólida para avanços extraordinários do conhecimento.
Até a teoria geral da relatividade, de Albert Einstein, tem de travar uma queda-de-braço
constante com seus adversários, os teóricos da física quântica. Darwin só tem
inimigos fora da ciência.

O desenvolvimento da genética, a partir do início do século XX, ajudou a explicar
como funciona a transmissão das características hereditárias. O que Darwin tem
a ver com isso? Muita coisa. A possibilidade de transmissão de características
genéticas de uma geração à seguinte foi intuída por Darwin, mas ele não viveu
o suficiente para ver esse mecanismo ser demonstrado. “Foi necessário um século
de descobertas para que a teoria da evolução de Darwin se comprovasse plenamente,
em todos os seus aspectos”, disse o biólogo David Mindell, da Universidade de
Michigan.

O caminho de Darwin até completar suas teorias foi o do estudioso aplicado.
Já a trajetória do homem por trás do cientista foi acidentada. Embora tivesse
começado a escrever A Origem das Espécies em 1838, ele demorou 21 anos
para publicar o volume. O naturalista sabia que suas idéias cairiam como uma
bomba sobre uma sociedade habituada a buscar a verdade nas páginas da Bíblia.
Em 1844, ele escreveu a um amigo dizendo que divulgar suas idéias seria “como
confessar um assassinato”. Em sua consciência, Darwin – que era religioso –
debatia-se com questões morais aflitivas. Na juventude, pretendia tornar-se
sacerdote. Foi com espanto que viu os geólogos de seu tempo concluir: que a
Terra surgiu há milhões de anos (hoje se sabe que são 4,5 bilhões), e não há
6.000 anos, como querem os religiosos. À medida que seus próprios estudos sobre
a evolução das espécies se desenvolviam, entravam em choque com todos os dogmas
religiosos. Diante das idéias de Darwin, sua mulher, Emma, com quem teve dez
filhos, temia que o casal fosse separado na eternidade – ela subiria aos céus
e ele desceria ao inferno. O naturalista debateu-se com as questões da fé durante
toda a vida. Por fim, declarou-se agnóstico.

As idéias de Darwin, aperfeiçoadas por seus discípulos ao longo de 150 anos,
são hoje um consenso entre os biólogos.

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