Home EstudosSala de AulaHistoria O surgimento da escrita (3) – A Escrita Hieroglífica no Egito

O surgimento da escrita (3) – A Escrita Hieroglífica no Egito

by Lucas Gomes

Um pouco mais tarde, cerca de 3000 anos antes da nossa era, enquanto os Sumérios desenvolviam a escrita cuneiforme, os Egípcios desenvolveram uma forma de pictografia assente em pictogramas (várias imagens figurativas que representam coisas), fonogramas (símbolos que representam sons) e outros signos determinantes em escrita ideográfica, sem vogais. Meticulosamente gravados, os hieróglifos associavam, então, símbolos fonéticos às imagens de objetos reais.

Este sistema de escrita recebeu a designação de “hieroglífica” (do grego hieros que significa sagrado, e ghyhhein que significa gravar) porque foi criado para servir os rituais religiosos (usado em túmulos e templos), os monumentos estatais, as comemorações de acontecimentos militares e, em última instância, até serviu para registrar um agradecimento a um governante (por exemplo, a pedra de Roseta, na qual se podem observar hieróglifos – forma cursiva da escrita egípcia –, e letras gregas).

A escrita hieroglífica era utilizada nos documentos da vida pública e nas inscrições mais importantes. Para o dia-a-dia, os Egípcios desenvolveram, por volta de 2400, a escrita hierática, uma forma simplificada de hieróglifos. A escrita hierática (cursiva) era a utilizada pelos sacerdotes nos textos sagrados.

Mas a dada altura, também a hierática deixou de responder à procura e exigências do quotidiano. Foi então que este povo idealizou a escrita demótica (designada, então, a “escrita do povo”), por volta de 500 anos antes da nossa era, sendo que esta constituía uma redução da hierática que, por si só, já era uma redução da hieroglífica.

Relativamente ao suporte, há a registrar uma evolução, no sentido da multiplicação, e que vai desde as inscrições de objetos em barro cozido, passando pelas pinturas nas paredes dos templos e das câmaras funerárias, em pedra e madeira, culminando com a utilização do papiro nos manuscritos. Efetivamente, o papiro – invenção atribuída ao povo egípcio –, foi o material mais importante para este segundo sistema de escrita.

A ele associamos a escassez, sentida a determinada altura, de pedra para as placas, já que a mesma era utilizada para a construção das pirâmides. Houve então a necessidade de encontrar um novo suporte que a substituísse. E a resposta foi encontrada no seio da própria vegetação do Egito, mais precisamente, nas plantas que cresciam nas margens do rio Nilo.

Falamos das plantas papiros que cresciam nas terras pantanosas da foz do Nilo e cujos caules chegavam a ter quatro metros de altura, caules esses que eram cortados e justapostos às camadas numa superfície lisa, sendo que sobre a última camada era colocada uma pedra lisa com a finalidade de fazer compressão dos caules atravessados.

A pressão exercida fazia com que a seiva e a umidade das plantas, em contacto com a água, produzissem uma espécie de substância glutinosa, que colava umas camadas às outras. Uma vez secas, as “folhas” eram postas em pilha e banhadas em azeite, ao que se seguia a tarefa de as alisar com a ajuda de uma ágata.

Assim nascia um bem cultural que os Egípcios em muito pouco tempo tornaram industrialmente reprodutível.

Mais tarde, seria a vez de os Romanos introduzirem neste processo uma inovação que resultaria numa melhor qualidade do produto final: a aplicação de cola de amido para unir as fibras.

Até ao século VIII d. C. este foi o “papel” que percorreu toda a Europa e fez as delícias de todos aqueles que tinham algo para registrar e perpetuar no tempo.

Mas antes de avançarmos, apenas um parêntesis sobre o étimo da palavra biblioteca, uma vez que é deste contexto que ele deriva. Por analogia à cidade fenícia onde compravam o papiro – Byblo –, os Gregos chamavam ao papiro byblo e, ao conjunto de rolos de madeira nos quais eram conservados os papiros escritos, byblias. Finalmente, às casas onde eram guardadas as byblias – bibliotecas.

A substituição do papiro pelo pergaminho teve lugar quando os Fenícios deixaram de exportar as folhas de papiro para a Ásia. Foi então que o Rei de Pérgamo ordenou aos seus sábios que estudassem um tipo de material que pudesse substituir o papiro. Do trabalho destes nasceu o pergaminho, assim denominado em nome da cidade de Pérgamo, que o viu nascer.

O pergaminho era obtido a partir das peles de animais (como as ovelhas e as cabras), depois de esticadas, secas e polidas, após um banho em cal, por forma a evitar o mau cheiro. Já secas, as peles eram esfregadas dos dois lados com ajuda de argila e pedra-pomes.

Este novo processo de obtenção de material para escrita tinha a vantagem de ser mais duradouro e de permitir a reunião das várias folhas em formato de livro. Comparativamente ao anterior suporte era, de fato, uma evolução. Todavia, era um processo que ficava bem mais caro. Desde o reinado de Pérgamo até ao surgimento do papel, em 1800 d. C., não se registraram inovações significativas ao nível do processo de fabrico do pergaminho.

Veja também: O surgimento da escrita | Os caracteres chineses | A Escrita Hieroglífica no Egito | A escrita cuneiforme da Mesopotâmia | O alfabeto: uma nova forma de escrita | Considerações finais

Fontes: UFRJ | Revista Temas

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