Home EstudosSala de AulaPortuguês Análise de Texto: 1. Figuras de Linguagem

Análise de Texto: 1. Figuras de Linguagem

by Lucas Gomes

As figuras de linguagem ou de estilo são empregadas para valorizar o texto, tornando a linguagem mais expressiva. É um recurso lingüístico para expressar, de formas diferentes, experiências comuns, conferindo originalidade, emotividade ou teor poético ao discurso.

A palavra empregada em sentido figurado, não-denotativo, passa a pertencer a outro campo de significação mais amplo e criativo.

1. FIGURAS DE PALAVRAS

Consistem no emprego de um termo com sentido diferente daquele convencionalmente empregado, a fim de conseguirem efeito mais expressivo na comunicação. As figuras de palavra são:

1.1 Comparação
Aproximação entre dois elemtnos que se identificam, ligados por conectivos comparativos explícitos (feitos, assim como, tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem) e alguns verbos (parecer, assemelhar-se e outros).
Ex: “Beijou sua mulher como se fosse lógico.” (Chico Buarque)

1.2 Metáfora
Pode ser entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo não está expresso, mas subentendido.
Ex: A Amazônia é o pulmão do mundo

1.3 Metonímia
Substituição de uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de semelhança, relação, proximidade de sentido, ou implicação mútua. Tal substituição realiza-se de inúmeros modos:
– O continente pelo conteúdo ou vice-versa
Ex: Antes de sair, tomei um cálice (= conteúdo de um cálice) de vinho

– A causa pelo efeito e vice-versa
Ex: “E assim o operário ia
Com suor e com cimento (= com trabalho)
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento.” (Vinicius de Moraes)

– O lugar de origem ou de produção pelo produto
Ex: Comprei uma garrafa do legítimo porto (= vinho da cidade do Porto)

– O autor pela obra
Ex: Carolina adora ler Castro Alves ( = a obra de Castro Alves)

– O abstrato pelo concreto e vice-versa
Ex: Não devemos contar com o seu coração (= sentimento, sensibilidade)

– O símbolo pela coisa simbolizada
Ex: A coroa (= o poder) foi disputada pelos revolucionários

– A matéria pelo produto e vice-versa
Ex: Lento, o bronze(= sino) soa

– O inventor pelo invento
Ex: Edson (= a energia elétrica) ilumina o mundo

– A coisa pelo lugar
Ex: Antônio foi ontem à Prefeitura (= ao edifício da Prefeitura)

– O instrumento pela pessoa que o utiliza
Ex: Ele é um bom garfo (= guloso)

1.4 Sinédoque
Substituição de um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos sinédoque nos seguintes casos:

– O todo pela parte e vice-versa
Ex: “A cidade inteira ( = o povo) viu assombrada, de queixo caído, o pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos ( = parte das patas) de seu cavalo.” (J. Cândido de Carvalho)

– O singular pelo plural e vice-versa
Ex: O paulista ( = todos os paulistas) é tímido; o carioca (= todos os cariocas), atrevido

– O indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum)
Ex: Para os artistas ele foi um mecenas (= protetor)

1.5 Catacrese
A catacrese é um tipo de especial de metáfora. É uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente nenhum vestígio de inovação. É a metáfora tornada hábito lingüistico, já fora do âmbito estilístico.
Ex: dente de alho, da mesa, céu da boca

1.6 Sinestesia
A sinestesia consiste na fusão de sensações diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas (subjetivas).
Ex: “A minha primeira recordação é um muro velho, no quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde (sensação visual) e úmida, macia (sensações táteis), quase irreal.” (Augusto Meyer)

1.7 Antonomásia
Ocorre antonomásia quando designamos uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a distingue. Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, especificativo etc.) do nome próprio.
Ex: O mestre = Jesus Cristo, A cidade luz = Paris, O rei das selvas = o leão.

1.8 Alegoria
A alegoria é uma acumulação de metáforas referindo-se ao mesmo objeto. É uma figura poética que consiste em expressar uma situação global por meio de outra que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos – um referencial e outro metafórico.
Ex: “A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos comprimários, quando não são o soprano e o contralto que lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a orquestra é excelente…” (Machado de Assis)

2. FIGURAS DE PENSAMENTO

As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico. São elas:

2.1 Antítese
Aproximação de termos ou frases que se opõem pelo sentido.
Ex: “Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios”. (Vinicius de Moraes)

2.2 Apóstrofe
Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é utilizada para dar ênfase à expressão.
Ex: “Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?” (Castro Alves)

2.3 Paradoxo
Ocorre paradoxo não apenas na aproximação de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é outra designação para paradoxo.
Ex: “O mito é o nada que é tudo” (Fernando Pessoa)

2.4 Eufemismo
Ocorre eufemismo quando uma palavra ou expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como penosa, desagradável ou chocante.
Ex: “O rapaz saltou da ponte da vida” (Manuel Bandeira)

2.5 Gradação
Ocorre gradação quando há uma seqüência de palavras que intensificam uma mesma idéia.
Ex: Nada fazes, nada tramas, nada pensas que eu não saiba, que eu não veja, que eu não conheça perfeitamente.

2.6 Hipérbole
Ocorre exagero de uma idéia com finalidade expressiva.
Ex: Estou morrendo de sede (= com muita sede), Ela é louca pelos filhos (= gosta muito dos filhos).

2.7 Ironia
Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa ou sarcástica.
Ex: O ministro foi sutil como uma jamanta.

2.8 Prosopopéia
Ocorre prosopopéia (animização ou personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a seres inanimados ou imaginários. Constitui propospopéia também a atribuição de características humanas a seres animados, o que é comum nas fábulas e nos apólogos.
Ex: “Um frio inteligente (…) percorria o jardim…” (Clarice Lispector)

2.9 Perífrase
Ocorre perífrase quando se cria um torneio de palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou situação que não se quer nomear.
Ex: “Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil.” (André Filho)

3. FIGURAS DE SINTAXE

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a desvios em relação à concordância entre os termos da oração, sua ordem, possíveis repetições ou omissões.

3.1 Assíndeto
Ocorre assíndeto quando orações ou palavras deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem justapostas ou separadas por vírgulas. Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por exigência das pausas rítmicas (vírgulas).
Ex: Não sopra o vento, não gemem as vagas, não murmuram os rios.

3.2 Elipse
Ocorre elipse quando omitimos um termo ou oração que facilmente podemos identificar ou subentender no contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e dinamismo.
Ex: “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias coloridas.” (elipse do pronome ela “Ela veio” e da preposição de “de sandálias…”).

3.3 Zeugma
Ocorre zeugma quando um termo já expresso na frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.
Ex: “O meu pai era paulista / Meu avô, (era) pernambucano / O meu bisavô, (era) mineiro / Meu tataravô, (era) baiano.” (Chico Buarque)

3.4 Anáfora
Ocorre anáfora quando há repetição intencional de palavras no início de um período, frase ou verso.
Ex:”Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho que falta
Por favor.” (Chico Buarque)

3.5 Pleonasmo
Ocorre pleonasmo quando há repetição da mesma idéia, isto é, redundância de significado. Pode ser:

– Pleonasmo literário
É o uso de palavras redundantes para reforçar uma idéia, tanto do ponto de vista semântico quanto do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico, enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.
Ex: “Iam vinte anos desde aquele dia
Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quando em visão com os da saudade via.” (Alberto de Oliveira)

– Pleonasmo vicioso
É o desdobramento de idéias que já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas. Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do sentido real das palavras.
Ex: subir para cima, entrar para dentro, repetir de novo, ouvir com os ouvidos, hemorragia de sangue.

3.6 Polissíndeto
Ocorre polissíndeto quando há repetição enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige a norma gramatical (geralmente a conjunção e). É um recurso que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.
Ex: O menino resmunga, e chora, e esperneia, e grita, e maltrata.

3.7 Anástrofe
Ocorre anástrofe quando há uma simples inversão de palavras vizinhas (determinante/determinado).
Ex: “Tão leve estou (= estou tão leve) que nem sombra tenho.” (Mário Quintana)

3.8 Hipérbato
Ocorre hipérbato quando há uma inversão completa de membros da frase. Ex: Morreu o presidente (= O presidente morreu)

3.9 Sínquise
Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.
Ex: “A grita se alevanta ao Céu, da gente (= A grita da gente se alevanta ao Céu)” (Camões)

3.10 Hipálage
Ocorre hipálage quando há inversão da posição do adjetivo: uma qualidade que pertence a uma objeto é atribuída a outro, na mesma frase.
Ex: “Em cada olho um grito castanho de ódio (= Em cada olho castanho)” (Dalton Trevisan)

3.11 Anacoluto
Ocorre anacoluto quando há interrupção do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais termos – que não apresentam função sintática definida – desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa sensível.
Ex: Minha vida, tudo não passa de alguns anos sem importância (sujeito sem predicado).

3.12 Silepse
Ocorre silepse quando a concordância não é feita com as palavras, mas com a idéia a elas associada. Divide-se em:

– Silepse de gênero
Ocorre quando há discordância entre os gêneros gramaticais (feminino ou masculino.
Ex: “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” (Guimarães Rosa)

– Silepse de número
Ocorre quando há discordância envolvendo o número gramatical (singular ou plural).
Ex: Corria gente de todos lados, e gritavam.” (Mário Barreto)

– Silepse de pessoa
Ocorre quando há discordância envolvendo entre o sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve se inclui no sujeito enunciado.
Ex: “Ambos recusamos praticar este ato” (Alexandre Herculano)

4. FIGURAS DE HARMONIA

Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, quando se procura “imitar”sons produzidos por coisas ou seres. As figuras de harmonia ou de som são:

4.1 Aliteração
Ocorre aliteração quando há repetição da mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em posição inicial da palavra.
Ex: “Toda gente homenageia Januária na janela.” (Chico Buarque)

4.2 Assonância
Ocorre assonância quando há repetição da mesma vogal ao longo de um verso ou poema.
Ex: “Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Sou Ana de Amsterdam.” (Chico Buarque)

4.3 Paranomásia
Reprodução de sons semelhantes em palavras de significações diversas.
Ex: “Que a morte apressada seja tributo do entendimenro, e a vida larga atributo da ignorância”. (Vieira)

4.4 Onomatopéia
Uma palavra ou conjunto de palavras imita um ruído ou som.
Ex: “E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais o plic-plic-plic-plic da agulha no pano”. (Machado de Assis)

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