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Eletricidade e Magnetismo: 1. A física das tempestades e dos raios

by Lucas Gomes


Tempestade em New South Wales, Austrália

Neste artigo explicam-se diversos aspectos sobre a física envolvida na formação
de nuvens de tempestades e relâmpagos, fenômenos que por milhares de anos assustaram
a humanidade e com os quais devemos ter alguns cuidados.

Como as nuvens se formam?

A origem de uma nuvem está no calor que é irradiado pelo Sol atingindo a superfície
de nosso planeta. Este calor evapora a água que sobe por ser menos denso que o
ar ao nível do mar. Ao encontrar regiões mais frias da atmosfera o vapor se condensa
formando minúsculas gotinhas de águas que compõem então as nuvens.

Basta então calor e umidade?

Não. Na atmosfera a temperatura do ar diminui com a altura. Dependendo de quão
rápida é esta diminuição, o crescimento de uma nuvem pode ser acelerado ou inibido.

Alguns outros fatores podem também dar uma “mãozinha” para que a nuvem cresça:
as montanhas, onde ventos batem forçando o ar quente subir, e as frentes frias,
camadas de ar frio que funcionam como uma cunha empurrando o ar quente para
cima. Sabemos ainda que para o vapor tornar-se uma gotinha d’água ele precisa
encontrar na atmosfera partículas sólidas sobre as quais se condensar. Essas
partículas estão sempre em suspensão no ar, mesmo nas regiões onde o ar é muito
puro.

Todas as nuvens produzem relâmpagos?

Não. Somente as nuvens de tempestades, conhecidas como cumulus-nimbus, possuem
os ingredientes necessários para produzir relâmpagos: ventos intensos, grande
extensão vertical e partículas de gelo e água em diversos tamanhos.

Que aspecto têm as nuvens de tempestade?


Nuvens de tempestade em Ji-Paraná, RO

Estas nuvens são enormes. Elas têm sua base em 2 ou 3km e o topo em até 20km
de altitude! Podem ter 10 ou mesmo 20km de diâmetro.

Normalmente têm a sua base escura, pois a luz solar é absorvida e espalhada
pelas partículas de água e gelo de que são formadas. O seu topo muitas vezes
atinge a base da estratosfera (camada da atmosfera logo acima da troposfera,
onde vivemos). Ao atingir a base da estratosfera, a nuvem não consegue mais
subir, pois a temperatura nessa camada tende a aumentar devido à absorção do
ultravioleta pela camada de ozônio. Assim ela se espalha horizontalmente na
direção dos ventos nessa altitude, fazendo que a nuvem tenha o aspecto de uma
bigorna.

As nuvens de tempestade geralmente estão associadas a: chuvas torrenciais e
enchentes, granizo ou “chuva de pedra”, ventos intensos ou “rajadas de vento”,
e eventualmente os temíveis tornados. A quantidade de energia envolvida em apenas
uma tempestade modesta é assustadora.

Ela é várias vezes superior à energia liberada pela primeira bomba atômica detonada
em um deserto dos Estados Unidos em 1945. A diferença é que a bomba atômica
libera toda sua energia em uma fração de segundo, enquanto uma tempestade o
faz durante um período de muitos minutos ou várias horas.

Qual o efeito das tempestades sobre o clima?

As tempestades são como grandes trocadores de calor. Ou seja, o ar que próximo
ao chão encontrava-se, em dias de verão, a quase 40°C, pode ser transportado
até o topo da tempestade onde pode chegar com a temperatura de -70°C. Existem
estimativas de que o nosso planeta sem essas nuvens trocadoras de calor teria
uma temperatura média 10°C maior.

Por que as nuvens se eletrificam?


Chuva de granizo cobriu de gelo ruas de Barueri,
SP, em setembro de 2007

Ainda não há uma teoria definitiva que explique a eletrificação da nuvem. Há,
no entanto, um consenso entre os pesquisadores de que a eletrificação surge
da colisão entre partículas de gelo, água e granizo no interior da nuvem. Uma
das teorias mais aceitas nos diz que o granizo, sendo mais pesado, ao colidir
com cristais de gelo, mais leves, fica carregado negativamente, enquanto os
cristais de gelo ficam carregados positivamente.

Isso explicaria o fato de a maioria das nuvens de tempestade ter um centro de
cargas negativas embaixo e um centro de cargas positivas na sua parte superior.
Algumas nuvens apresentam também um pequeno centro de cargas positivas próximo
à sua base.

Por que existem relâmpagos?

Quando a concentração de cargas no centro positivo e negativo da nuvem cresce
muito, o ar que os circunda já não consegue isolá-los eletricamente. Acontecem
então descargas elétricas entre regiões de concentração de cargas opostas que
aniquilam ou pelo menos diminuem essas concentrações. A maioria das descargas
(80%) ocorre dentro das nuvens, mas como as cargas elétricas na nuvem induzem
cargas opostas no solo, as descargas podem também se dirigir a ele.

Quando e quem descobriu que os raios eram enormes descargas (faíscas)
elétricas?


Franklin, fazendo da eletricidade um brinquedo
(alegoria de Barney West)

Em 1752, Benjamin Franklin propôs uma experiência para verificar se as nuvens
possuíam eletricidade. Sugeria que uma pessoa subisse no alto de uma montanha
em um dia de tempestade e verificasse se de uma haste metálica isolada do chão
pulariam faíscas em direção aos dedos da sua mão. Era uma experiência arriscadíssima
que ele mesmo não a realizou, talvez por não haverem montanhas suficientemente
altas na Filadélfia, onde morava. Quem a realizou pela primeira vez foi Thomas
François Dalibard, na França, em maio de 1752. Um mês depois, sem saber do sucesso
da experiência na França, Franklin conseguiu uma maneira de a realizar na Filadélfia.
Em um dia de tempestade empinou uma pipa e observou faíscas pularem de uma chave
amarrada próximo da extremidade da linha à sua mão. Tanto uma como outra experiência
não devem ser repetidas por ninguém. Várias pessoas morreram tentando repeti-las!

Como funciona o pára-raios?

Um pára-raios nem atrai nem repele os raios. Ele também não descarrega a nuvem
como pensava Benjamin Franklin. Ele simplesmente oferece ao raio um caminho
fácil até o solo que é ao mesmo tempo seguro para nós e para o que pretendemos
proteger.

Quais os tipos de relâmpagos?

Aqueles que tocam o solo (20%) podem ser divididos em descendentes (nuvem-solo)
e ascendentes (solo-nuvem).

Os que não tocam o solo podem ser basicamente de três tipos: dentro da nuvem,
da nuvem para o ar e de uma nuvem para outra. O tipo mais freqüente dos raios
é o descendente.

O raio ascendente é raro e só acontece a partir de estruturas altas no chão
(arranha-céus) ou no topo de montanhas (torres, antenas). Os raios ascendentes
têm sua ramificação voltada para cima.

O que é um raio bola?


Raio bola

O raio bola é o mais misterioso dos raios e, portanto o que mais intriga os
cientistas. Ele já foi observado por milhares de pessoas e, no entanto não há
até hoje medidas suficientes que possam comprovar qualquer uma das várias teorias
elaboradas para explicá-lo. Normalmente o seu tamanho varia entre o de uma bola
de ping-pong e o de uma grande bola de praia, e sua duração é em média 15 segundos;
possui um colorido na maioria das vezes amarelado e luminosidade menor do que
uma lâmpada de 100W. Flutua pelo ar não muito longe do chão, e não segue necessariamente
a direção do vento.

Costuma desaparecer silenciosamente ou acompanhado de uma explosão.

Existem raios positivos e negativos?

Sim. Os raios têm a sua polaridade atribuída conforme o tipo de carga que neutralizam
na nuvem. Portanto, se um raio neutralizar cargas negativas na nuvem ele é um
raio negativo. Na prática não pode mos dizer com certeza se um raio é positivo
ou negativo a não ser com o auxílio de instrumentos adequados.mos dizer com certeza
se um raio é positivo ou negativo a não ser com o auxílio de instrumentos adequados.

Quais as fases de um raio?

Um raio começa com pequenas descargas dentro da nuvem. Estas descargas liberam
os elétrons que começarão seu caminho de descida em direção ao solo. Esse caminho
de descida é tortuoso e truncado em passos de 50 metros, como que buscando o
caminho mais fácil. Esta busca de uma conexão com a terra é muito rápida (330.000
km/h) e pouco luminosa para ser visto a olho nu.

Quando essa descarga, conhecida como ‘líder escalonado’, encontra-se a algumas
dezenas de metros do solo, parte em direção a ela uma outra descarga com cargas
opostas, chamada de ‘descarga conectante’. Forma-se então o que é conhecido
como o canal do raio, um caminho ionizado e altamente condutor. Por ele passa
um gigantesco fluxo de cargas elétricas denominado ‘descarga de retorno’. É
neste momento que o raio acontece com a máxima potência, liberando grande quantidade
de luz.

O raio pisca?

Se houver cargas disponíveis na nuvem, uma outra descarga intensa (chamada ‘subseqüente’)
pode acontecer logo após a primeira. Aproximadamente metade dos raios possui
descargas subseqüentes. Eles são chamados de raios múltiplos. Em média o número
de descargas subseqüentes em raios múltiplos é três, mas já foram observadas
mais de 50 descargas subseqüentes em um mesmo raio. O tempo entre uma descarga
e outra é às vezes suficientemente longo possibilitando ao olho humano ver não
uma, mas várias descargas acontecendo no mesmo local; é quando vemos o raio
piscar.

Sobe ou desce?

As duas coisas. Se pensarmos em termos das cargas elétricas que fluem no raio,
concluiremos, como foi explicado anteriormente, que as cargas descem um bom
trecho do caminho antes de se encontrarem com uma descarga que parte do solo
subindo em direção a ela para formar o caminho do raio.

Por que os raios se ramificam?

A
primeira descarga do raio geralmente apresenta-se muito ramificada pois no seu
caminho até o solo as cargas elétricas buscam o caminho mais fácil (em termos
de menor resistência do ar) e não o mais curto (que seria uma linha reta). O caminho
mais fácil, geralmente em ziguezague, é determinado por diferentes características
elétricas da atmosfera, que não é homogênea.

Qual a duração de um raio?

Um raio composto de várias descargas pode durar até 2 segundos. No entanto,
cada descarga que compõe o raio dura apenas frações de milésimos de segundo.

Qual a sua voltagem e corrente?

A voltagem de um raio encontra-se entre 100 milhões a 1 bilhão de Volts. A corrente
é da ordem de 30 mil Ampères, ou seja, a c orrente utilizada por 30 mil lâmpadas
de 100W juntas. Em alguns raios a corrente pode chegar a 300 mil Ampères!

Qual a energia envolvida em um raio?

Grande parte da energia de um raio é transformada em calor, luz, som e ondas
de rádio. Apenas uma fração dela é convertida em energia elétrica. Sabemos que
a duração de um raio é extremamente curta, assim, apesar dos grandes valores
de corrente e voltagem envolvidos a energia elétrica média que um raio gasta
é de 300kWh, ou seja, aproximadamente igual à de uma lâmpada de 100W acesa durante
apenas quatro meses.

É possível utilizar a energia de um raio?

Para que pudéssemos utilizar essa energia, necessitaríamos não só capturá-la
mas também armazená-la, o que é ainda impossível. Para capturar raios seria
necessária uma quantidade muito grande de hastes metálicas para aumentar a chance
de que fossem atingidas. No entanto, encontram-se em andamento pesquisas que
tentam drenar as cargas elétricas das nuvens de tempestade com o auxílio de
potentíssimos raios laser. A idéia é tentar, com o auxílio do laser, guiar o
raio até um local onde fosse possível armazenar a sua energia.

Qual a sua espessura e comprimento?

O raio pode ter até 100km de comprimento. Raios com esse comprimento geralmente
envolvem mais de uma nuvem de tempestade. Apesar de seu grande comprimento,
a espessura do canal de um raio é de apenas alguns centímetros.

Qual a temperatura de um relâmpago?

A temperatura é superior a cinco vezes a temperatura da superfície solar, ou seja,
a 30.000 graus Celsius. Quando um raio atinge e penetra solos arenosos a sua alta
temperatura derrete a areia, transformando-a em uma espécie de tubo de vidro chamado
fulgurito.

O que é o trovão?

Muita gente acha que o trovão é o barulho causado pelo choque entre nuvens. Esta
idéia é errada e muito antiga. Lucrécio (98-55 a.C.) acreditava que tanto o raio
como o trovão eram produzidos por colisões entre nuvens. Na verdade é o rápido
aquecimento do ar pela corrente elétrica do raio que produz o trovão. Assim como
uma corrente elétrica aquece a resistência de nossos aquecedores, a corrente do
raio, ao passar pelo ar (que é um péssimo condutor), aquece-o e ele se expande
com violência, produzindo um som intenso e grave. Nos primeiros metros a expansão
ocorre com velocidade supersônica. Um trovão intenso pode chegar a 120 decibéis,
ou seja, uma intensidade comparável à que ouve uma pessoa nas primeiras fileiras
de um show de rock.

Como saber se o raio “caiu” perto?

A luz produzida pelo raio chega quase que instantaneamente na vista de quem
o observa. Já o som (trovão) demora um bom tempo, pois a sua velocidade é aproximadamente
um milhão de vezes menor. Para saber a que distância aconteceu o raio, comece
a contar os segundos ao ver o seu clarão e pare de contar ao ouvir o seu trovão.
Divida o número obtido por três e você terá a distância aproximada do raio até
você em quilômetros. Essa conta se explica se tivermos em conta que a velocidade
do som é de aproximadamente 330m/s, ou seja, um terço de quilômetro por segundo.

Se o raio dura apenas frações de segundo, porque o trovão é tão longo?

O som do trovão inicia-se com a expansão do ar produzida pelo trecho do raio
que estiver mais próximo do observador e termina com o som gerado pelo trecho
mais distante (sem considerar as reflexões que possa ter).

Como vê-se, o canal do raio pode ter dezenas de quilômetros. Assim, o som gerado
por uma extremidade que esteja muito distante pode chegar dezenas de segundos
depois de ouvirmos o som gerado por um trecho do canal que estiver mais próximo.

A que distância pode-se ouvir o trovão?

Um trovão dificilmente pode ser ouvido se o raio acontecer a uma distância maior
do que 25 quilômetros. Isso deve-se à tendência que o som tem de curvar-se em
direção a camadas de ar com menor temperatura (refração). Como a temperatura da
atmosfera geralmente diminui com a altura, o som do trovão curva-se para cima
passando por cima do observador.

Além da luz, o raio produz alguma outra radiação?

Além de produzir luz, o raio produz ondas eletromagnéticas em várias outras freqüências,
inclusive raios-X. É comum ouvirmos ruídos e chiados ao sintonizarmos uma rádio
AM em dia de tempestade. Isso ocorre porque o raio também produz ondas nesta faixa
de freqüência. Graças a essa característica, antenas sincronizadas podem localizar
o local de sua ocorrência com precisão simplesmente recebendo a onda eletromagnética
produzida pelos raios.


Foto do primeiro raio artificial induzido no Brasil.

O que são os raios induzidos?

Uma grande dificuldade no estudo dos raios é não poder reproduzi-los em laboratório.
Como a natureza não avisa onde e quando o raio vai ocorrer, uma maneira alternativa
de estudá-lo consiste em provocar o raio para que aconteça próximo aos instrumentos
de medida e no momento em que estiverem preparados. Para que isso aconteça,
foguetes especialmente preparados são lançados em direção à base de uma nuvem
de tempestade. Eles têm aproximadamente 1 metro de comprimento e levam consigo
uma bobina de fio de cobre que se desenrola ao longo da subida. O fio de cobre
atua como um gigante pára-raios cuja presença induz a ocorrência do raio. A
corrente elétrica do raio passa pelo fio e por instrumentos de medida na base
de lançamentos.

Outras medidas podem ser feitas também ao redor da base. Raios induzidos foram
feitos pela primeira vez no Brasil na sede do INPE em Cachoeira Paulista, em
novembro de 2000.

Mitos

Os raios e os trovões aparecem com constância nos mitos das civilizações do
passado. Profetas, sábios, escribas e feiticeiros os interpretavam como manifestações
divinas, considerados principalmente como reação de ira contra as atitudes dos
homens. Nas mãos de heróis mitológicos e de divindades eram utilizados como
lanças, martelos, bumerangues, flechas ou setas para castigar e perseguir os
homens pecadores.

Há mais de cinco mil anos, os babilônicos acreditavam que o deus Adad carregava
um bumerangue em uma de suas mãos. Ao ser lançado provocava o trovão. Na outra
mão empunhava uma lança. Quando arremessada produzia os raios. Para os antigos
gregos, os raios eram lanças produzidas pelos gigantes Ciclopes, criaturas de
um olho só. Elas eram feitas para que Zeus, o rei dos deuses, as atirasse sobre
os homens pecadores e arrogantes. Como a mitologia grega foi migrada e adaptada
à romana, a interpretação dada aos raios não sofreu muita alteração entre os
romanos. O rei dos deuses, Júpiter, também tinha o hábito, como Zeus, de enviar
raios (lanças) sobre os homens. Minerva, a deusa da sabedoria, no lugar de Ciclopes,
era quem abastecia Júpiter com esta poderosa arma. Entre os nórdicos, que viviam
no norte da Europa, Thor era o deus do trovão e dos raios. O som do trovão era
provocado pelo movimento das rodas de sua carruagem e os raios podiam ser vistos
quando Thor arremessava seu martelo.

Inúmeras versões sobre proteção contra raios foram criadas por mitos e crenças
populares. Acreditava-se, por exemplo, que havia árvores que atraíam raios,
enquanto outras as repeliam. O grande deus romano, Júpiter, tinha como símbolo
o carvalho, árvore alta e majestosa, constantemente atingida por raios. Por
outro lado, acreditava-se no poder de proteção do loureiro, arbusto também encontrado
na região do Mediterrâneo, cujos ramos e folhagens eram utilizados sobre a cabeça
de imperadores e generais romanos. O loureiro era considerado um meio de proteção
contra a ira dos deuses da tempestade que, presumia-se, invejavam os generais
pelas vitórias e conquistas de seus exércitos. Outra crença, muito difundida
na Europa Medieval, dizia que o badalar dos sinos das igrejas durante as tempestades
afastaria os raios. A superstição perdurou por muito tempo. Muitos campanários
de igreja foram atingidos e mais de uma centena de tocadores de sino foram mortos
acreditando em tal idéia. A superstição perde força somente no início do século
XVIII.

Outra crença popular mais antiga considerava a pedra-de-raio um talismã para
proteção pessoal e de residências entre povos europeus, asiáticos e americanos.
No nordeste brasileiro, a pedra-de-raio é conhecida até hoje como pedra-de-corisco,
por influência dos portugueses do século XVI. A pedra seria trazida pelo raio,
cuja força meteórica a enterraria. A origem de tal superstição está baseada
na falsa idéia de que um local não pode ser atingido duas vezes pelo mesmo raio,
mas a explicação para a origem destas idéias pode estar relacionada com achados
de utensílios e armas de pedra polida de povos mais antigos. Sabe-se que os
etruscos e, mais tarde, os romanos da antigüidade usavam a pedra (pontas de
flechas e de martelos) em colares como amuleto. Ficavam à mostra no pescoço,
mas também eram colocadas nas casas e no telhado com o intuito de ficar a salvo
dos raios. Na Bahia, os escravos africanos acreditavam que a pedra-santa-bárbara,
como chamavam a pedra-de-raio, desprendia-se da atmosfera durante as tempestades.
Ela teria poderes curativos e por isso era utilizada em preparos de remédios
para diversas doenças.

As superstições sobre raios e também sobre os meios de proteção permanecem presentes
na vida moderna. Uma delas afirma que espelhos atraem raios, por isso, durante
as tempestades, devem ficar cobertos com um pano. Outra defende que raios não
atingem um mesmo local duas vezes.

Evite acidentes

Para evitar acidentes com relâmpagos as regras de proteção pessoal listadas
abaixo devem ser seguidas. Se possível, não saia para a rua ou não permaneça
na rua durante as tempestades, a não ser que seja absolutamente necessário.
Nestes casos, procure abrigo nos seguintes lugares:

– carros não conversíveis, ônibus ou outros veículos metálicos não conversíveis;

– em moradias ou prédios, de preferência que possuam proteção contra raios;

– em abrigos subterrâneos, tais como metros ou túneis;
– em grandes construções com estruturas metálicas;
– em barcos ou navios metálicos fechados;
– em desfiladeiros ou vales.

Se estiver dentro de casa, evite:
– usar telefone, a não ser que seja sem fio;
– ficar próximo de tomadas e canos, janelas e portas metálicas;
– tocar em qualquer equipamento elétrico ligado a rede elétrica.

Se estiver na rua, evite:
– segurar objetos metálicos longos, tais como varas de pesca, tripés e tacos
de golfe;
– empinar pipas e aeromodelos com fio;
– andar a cavalo;
– nadar;
– ficar em grupos.

Se possível, evite os seguintes lugares que possam oferecer pouca ou nenhuma
proteção contra raios:
– pequenas construções não protegidas, tais como celeiros, tendas ou barracos;

– veículos sem capota, tais como tratores, motocicletas ou bicicletas;
– estacionar próximo a árvores ou linhas de energia elétrica.

Se possível, evite também certos locais que são extremamente perigosos durante
uma tempestade, tais como:
– topos de morros ou cordilheiras;
– topos de prédios;
– áreas abertas, campos de futebol ou golfe;
– estacionamentos abertos e quadras de tênis;
– proximidade de cercas de arame, varais metálicos, linhas aéreas e trilhos;

– proximidade de árvores isoladas;
– estruturas altas, tais como torres, linhas telefônicas e linhas de energia
elétrica.

Se você estiver em um local sem um abrigo próximo e sentir seus pêlos arrepiados
ou sua pele coçar, está indicando que um raio está preste a cair, portanto,
ajoelhe-se e curve-se para frente, colocando suas mãos nos joelhos e sua cabeça
entre eles. Não se deite no chão.

Autor: Dr. Marcelo M. F. Saba, msaba@dge.inpe.br

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