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Fluência em um segundo idioma e acesso ao estudo no exterior atraem brasileiros para escolas bilíngües

by Lucas Gomes


Crianças em escola bilíngüe de São Paulo: sete horas
de aula por dia (Foto: Revista Veja)

A fluência em um segundo idioma – e muitas vezes em um terceiro e até quarto – e o acesso a uma faculdade no exterior fazem das escolas bilíngües o sonho de consumo de muitos pais brasileiros. Segundo a professora Ana Canen, PhD em educação pela Universidade de Glasgow, na Escócia, os pais que têm condições financeiras de pagar por um ensino internacional como o oferecido por essas escolas, mesmo sem ter qualquer ligação com o país estrangeiro em questão, esperam que seus filhos adquiram competências e habilidades que abram portas no mercado de trabalho (confira aqui as principais escolas bilíngües do Rio). – As empresas hoje estão atuando em contextos plurais, fruto da globalização e do progresso tecnológico. Os pais consideram que, ao matricular os filhos em escolas bilíngües, eles estão dando a eles as ferramentas necessárias para atuar nesse mundo, tanto na questão de desenvolvimento de competências e habilidades, quanto do ponto de vista cultural – afirma.

A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro lembra que as crianças estão aptas a aprender um segundo idioma desde muito cedo e explica também que é muito importante para sua formação lidar com outra cultura:

– Aprender o segundo idioma ainda na infância não traz prejuízo nenhum para a criança. Ao contrário, assim, desde pequena, ela passa a relativizar sua maneira de ver o mundo. Percebe que há outra forma de concebê-lo. E isso é essencial ao mundo globalizado – defende Ana.


Escola Americana (Foto: O Globo)

A professora Janaína Cardoso, doutora em estudos da linguagem pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), concorda que aprender a lidar com a diversidade é um ponto positivo, mas alerta que, mesmo a idade sendo propícia para o aprendizado, o aluno tem que se sentir motivado para isso: – É preciso que a criança goste de aprender o segundo idioma. Que ela seja motivada pela escola. O estresse, provocado pelo medo de errar, por uma sensação de insegurança, podem tornar o aprendizado difícil e sofrido – afirma.

Para Ana Canen, o questionamento sobre se o ensino bilíngüe é melhor do que o brasileiro não cabe na discussão. O que existe, segundo a pesquisadora, são abordagens diferentes para ensinar o mesmo conteúdo.

– Não há como dizer se é melhor. Os pais devem pensar no que eles querem oferecer aos filhos e escolher uma escola que atenda a essa expectativa. As escolas bilíngües proporcionam o ensino de outras línguas, oferecem cursos extra-curriculares como música, marcenaria, informática, muitas vezes estimulam o trabalho comunitário…

Por considerar o ensino do Lycée Molière de acordo com o que espera para a educação de sua filha Sophie, a roteirista Aline Garbati escolheu a escola.

– A segunda língua fluente desde a infancia é o benefício mais óbvio em qualquer escola bilíngüe. Mas na escola francesa ainda ganha-se cultura geral ampla, amor às artes e principalmente o hábito da leitura. E de brinde, mais duas línguas: inglês e alemão ou inglês e espanhol – afirma Aline, que também estudou na escola.

Paula Richard tem três filhos na escola: Julien, de 17 anos, Alexandre, de 15, e Joanna, de 11. Segundo Paula, como todos moraram na França quando pequenos, a escola francesa foi uma escolha natural quando chegaram ao Rio:

– No caso dos meus filhos, que possuem dupla-nacionalidade, estudando no Lycée é como se eles estivessem estudando na França. Além de poderem fazer, no Brasil, os exames para ingressar numa faculdade francesa, eles poderão optar por seguir os estudos superiores aqui também. Em termos de futuro, sabemos que qualquer diferencial positivo no currículo pode ser decisivo na hora de disputar uma vaga no mercado de trabalho – explica.


Aula de música na Escola Suiço-Brasileira (Foto: O Globo)

E se a preocupação dos pais é quanto à preparação para o vestibular, Ana Canen explica que, na maioria dos casos, o problema está resolvido: – Hoje em dia, as escolas bilíngües no Brasil recebem mais alunos brasileiros do que estrangeiros. E, sabendo que esses alunos possivelmente seguirão estudos aqui, já incorporaram a seus currículos a preparação para o vestibular.

Segundo Suely Peçanha, orientadora pedagógica da Escola Americana, esta é uma preocupação da instituição.

– Ao sair da Escola Americana o aluno recebe dois diplomas, um brasileiro e um americano. A escola tem como objetivo preparar o aluno para entrar na universidade, seja aqui, nos Estados Unidos, ou na Europa.

Carolina Machado, de 17 anos, ainda não sabe se cursará uma universidade no Brasil ou nos Estados Unidos:

– Tenho que decidir esse ano, mas ainda estou em dúvida. A tendência será fazer uma faculdade aqui e um mestrado lá fora – conta a aluna da Escola Americana.

Thomas Wolfer, diretor da Escola Suiço-Brasileira – onde os alunos aprendem francês, alemão e inglês, além do português -, afirma que 90% dos alunos são brasileiros. Por isso, além do ensino europeu, a escola sabe da importância de preparar para o vestibular.

Além de pesquisadora sobre o assunto, a professora Ana Canen experimenta a vivência do estudo bilíngüe em sua própria casa. Como morou seis anos na Escócia, ao voltar para o Brasil acabou matriculando os dois filhos na Escola Britânica.

– Logo que chegamos, tentei colocá-los numa escola brasileira, mas eles não se adaptaram. Estudaram na Escola Britânica e foram muito bem sucedidos. A mais velha, hoje com 23 anos, fez direito. O de 17 anos acaba de passar para economia na FGV, teve pontuação muito boa nos exames que prestou para as universidades britânicas e ganhou um bolsa para estudar nos EUA – conta, orgulhosa.

Fonte: Jornal O Globo

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