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Fuvest pretende cobrar todas as disciplinas na 2ª fase

by Lucas Gomes

A USP (Universidade de São Paulo) discute mudanças para o vestibular
que podem ser adotadas já no próximo processo seletivo. O projeto
encabeçado pela Pró-Reitoria de Graduação pretende
fazer com que a segunda fase do vestibular avalie todas as matérias do
ensino médio. Atualmente, só disciplinas relacionadas ao curso
pretendido são avaliadas.

Além disso, é intenção da USP incluir questões
contextualizadas na segunda fase, que abarquem conhecimentos de mais de uma
disciplina – as chamadas perguntas interdisciplinares. De acordo com a proposta
da instituição, uma maneira de se cobrar o conteúdo de
maneira integrada é fazendo enunciados que exijam a resolução
de problemas.

O projeto de mudanças no vestibular foi distribuído para as escolas,
institutos e faculdades e está em fase de discussão pelos docentes.
Segundo a Assessoria de Imprensa da USP, o objetivo da pró-reitoria é
aprovar a proposta até abril ou maio e, assim, aplicá-la no próximo
vestibular.

  COMO É ATUALMENTE O QUE DIZ O PROJETO
1ª FASE Elimina e dá pontos para a classificação
final dos candidatos.
Só elimina quem não atinge a nota de corte.
Não rende pontos na classificação.
2ª FASE Avalia apenas as disciplinas específicas de cada
curso. Cada candidato faz até quatro exames. Todos os vestibulandos
realizam a prova de português no primeiro dia. O número de
pontos na segunda fase varia de acordo com a carreira, com total máximo
de 160 pontos.
Seria restrita a três dias. O primeiro continuaria
igual. No segundo dia, haveria uma prova com 18 questões de química,
biologia, matemática, física, geografia e história,
sendo seis interdisciplinares. No último dia é a vez das questões
específicas – cinco perguntas de duas matérias escolhidas
por curso.
CARREIRAS O candidato pode escolher cursos de uma mesma carreira.
Cursos menos disputados na carreira sofrem abandono de ingressantes.
Unidades devem refletir se vão manter a estrutura
atual de carreiras ou se vão deixar cursos menos disputados em prova
isolada.

 

Uma das críticas que o projeto vem recebendo é a necessidade
de aprovação a toque de caixa, sem tempo para debate acadêmico.
Mas se o projeto não for aprovado no Conselho de Graduação
da universidade até maio, sua aplicação pode ser postergada.

Mudanças previstas

As alterações no processo seletivo começam já
na primeira fase, que deverá ter caráter mais generalista e apenas
eliminar os candidatos menos preparados. A pontuação obtida nesta
fase, diferentemente do que ocorre hoje, não seria mais aproveitada na
nota final e na classificação dos vestibulandos.

Na segunda fase é que se encontram as alterações mais
profundas. Atualmente, cada vestibulando pode realizar até quatro provas
nessa etapa da seleção, dependendo da carreira pretendida. Todos
fazem os exames de português – os demais são variáveis.

O projeto pretende fazer com que a segunda fase seja mais “padronizada”
e executada em três dias. Todos os vestibulandos continuariam com os exames
de português inaugurando a etapa decisiva da seleção.

No segundo dia, seria a vez da prova de química, matemática,
física, biologia, geografia, história e física. A prova
teria 18 questões discursivas, sendo que seis delas teriam a característica
de serem interdisciplinares – com cobrança de conhecimento de mais de
uma matéria.

Já o terceiro dia teria dez questões variáveis de acordo
com cada curso, divididas entre duas disciplinas específicas.

O terceiro ponto que o projeto pretende modificar é a forma de organização
das carreiras do vestibular. Neste caso, não é exposta nenhuma
proposta, mas sim uma análise das unidades. Hoje, cursos menos concorridos
acabam recebendo candidatos que não queriam de fato a vaga. Então,
ocorre o abandono.

Critérios da seleção

A USP também especificou o que deseja de seu corpo discente. De acordo
com o documento o “novo modelo de vestibular deve ser um instrumento eficiente
para selecionar candidatos que:

– saibam se expressar com clareza e desenvoltura;
– tenham capacidade de buscar, selecionar, organizar e interpretar informações
diversas, elaborar e criticar hipóteses e argumentar sobre posições
ou problemas a eles apresentados;
– esbocem visões críticas do mundo e da sociedade em que vivemos;
– demonstrem competência na identificação e proposição
de soluções para problemas sociais, culturais, científicos
e tecnológicos;
– identifiquem seu campo de interesse e demonstrem habilidades para cursar a
carreira escolhida.

A nova cara da Fuvest pretendida pela Pró-Reitoria de Graduação
da USP (Universidade de São Paulo) foi descrita como “uma aproximação
do ideal de Enem” (Exame Nacional do Ensino Médio), pelo professor
da Faculdade de Educação da instituição, Nilson
José Machado.

Novo projeto de Fuvest se aproxima do Enem, diz professor da USP

“O modelo se aproxima do ideal do Enem, porque há o Enem enquanto
projeto e o Enem real”, diz o docente. Segundo ele, o exame tinha feições
bem definidas no início de sua aplicação, há uma
década. No entanto, com o passar do tempo, a prova “oscilou muito”.
“Houve exames que foram bem descaracterizados. Alguns muito banais e simples
e outros que pareciam provas do vestibular.”

O Enem, criado pelo (MEC) Ministério da Educação em 1998,
é individual, voluntário e é oferecido anualmente aos estudantes
que estão concluindo ou que já concluíram o ensino médio.
Segundo o ministério, o objetivo é possibilitar uma autoavaliação,
baseada em competências e habilidades cobradas na prova.

A avaliação pretende ainda exigir do candidato capacidade de
resolver problemas e não apenas de decorar conteúdo.

Não é o fim das disciplinas

De acordo com Machado, a aproximação com o Enem não significa
o fim das disciplinas. Então, vestibulando, se você pensa que pode
estudar tudo como um grande pacotão de conhecimento, está enganado.
Diz o especialista que continua sendo necessário estudar por meio de
matérias como física, matemática, química, português…

“Não se pode achar que, para desenvolver as competências
é preciso acabar com as discplinas”, explica. E acrescenta que,
embora mantenha a seleção dos melhores vestibulandos, a proposta
tem um “componente político de facilitar a entrada de alunos da
escola pública de maneira digna”.

Fragmentação do ensino

Para Machado, a proposta da universidade deve ser vista com bons olhos. “É
interessante e há muitos pontos positivos. O projeto aponta na direção
correta do que se deve esperar do vestibular”, avalia.

Mas Machado pondera que, talvez o projeto não tenha sucesso. “Hoje
o vestibular é fragmentado e reflete a fragmentação de
dentro da universidade. Com a mudança do projeto, há o risco de
aprovar alunos que não vão se dar bem dentro da universidade.
A própria organização da universidade devia ser repensada”,
diz.

Fuvest vai ficar como vestibular da Unicamp?

Para o coordenador da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares
da Unicamp), Leandro Tessler, as mudanças no vestibular da USP fazem
com que o processo seletivo ganhe ares semelhantes aos da prova da Unicamp.

“A mudança me parece simpática. A segunda fase terá
questões de todas as áreas para todos os candidatos. Isso faz
com que a universidade tenha alunos com interesses mais gerais, não restritos
à própria área de trabalho”, avalia.

Tessler evita a comparação da nova Fuvest com o Enem, mas pondera
que o próprio exame do ministério empregou elementos do vestibular
da Unicamp.

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