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Geração dos maus, de José Humberto Dutra

by Lucas Gomes

Geração dos Maus

, de José Humberto Dutra, foi publicado
em 1964, quando seu autor, tinha 17 anos. O livro de Dutra não perdeu a atualidade.
Provavelmente porque, apesar da cidade que é cenário do desenrolar da sua história,
ter mudado de forma substancial, a matéria-prima do tédio e da náusea humana
que se encontra escondido por trás do discurso rápido e dos diálogos curtos
de seus personagens não se dissipou.

A leitura da obra Geração dos Maus indica que estamos diante da descrição
de um processo de cissão: de um colapso na linha tênue que une o discurso do
seu personagem principal com o cenário ao seu redor. Impulsionado pela distância
e pelo desmoronamento da própria estrutura familiar, o protagonista (ao menos
na primeira parte do livro visto que a segunda parte trata de uma outra história
intitulada “O Golpe”) vai se descolando do mundo e coisificando os outros. O
personagem deixa de “estar com” o mundo que o cerca e passa a estar apenas “junto
a ele”. E o mundo passa rápido com sua carga de dor e violência, com sua amoralidade
intrínseca, com sua absoluta indiferença em relação às dores, ansiedades e misérias
dos homens.

A linguagem rápida, de frases curtas e diálogos diretos, não é apenas um recurso
estilístico, é sim um dado substancial e terrificante, que aponta para o fato
de que toda uma geração de seres humanos está bailando no exercício de descolamento
em relação ao mundo. A linguagem vertical, cheia de adjetivos, advérbios e vírgulas,
que mergulha o homem num salto mortal rumo ao interior do mundo, foi substituída
por uma linguagem de substantivos e verbos, que nos coloca diante da certeza
de que o texto do drama e o cenário da peça não casam com a natureza dos personagens
que interpretamos.

Geração dos maus narra a odisséia de Carlos na província natalense, onde
nada existe para se fazer. Esperar que o sol nasça e se ponha, e muitos são
empregados nesse rendoso trabalho.

Começa com uma aventura, a aceitação na turma dos motoqueiros transviados, que
para o personagem é o símbolo da “vida livre”, e termina numa quase via crucis,
sob a acusação de estupro. A vida pequena na cidade provinciana permite tudo,
menos permanecer incógnito. Quando saía à rua era apontado por todos como transviado,
degenerado e outras gentilezas por aí a fora.

Ironicamente, tudo que Carlos deseja, no início do livro, fazer parte da turma,
ser reconhecido (“Ele falou comigo. Ia com os transviados. Agora, todos os que
viram aquela cena vão me respeitar”), servirá, ao fim, como comprovação do crime
do qual será acusado.

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