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Antártica: 1. Aspectos principais

by Lucas Gomes


Visão do continente Antártico

No extremo Sul do planeta Terra há a última fronteira ao avanço e controle total do homem. Se já são tantas as dificuldades
para a sobrevivência em um ambiente hostil, pode-se imaginar o esforço maior para a permanência total e indefinida. Tal território,
sempre idealizado pelos antigos gregos, cerca de 300 a.C., mas descoberto há pouco mais de um século é a Antártica.

Suas diferenças são marcantes em relação ao seu par, no pólo Norte, em todos os sentidos. O mais importante é o fato de a Antártica
ser realmente um continente, enquanto que o Ártico é apenas uma calota de mar congelado. As diferenças geográficas são muito
importantes para se ter uma idéia de diversos comportamentos climatológicos e oceanográficos entre os dois hemisférios da Terra.
Deve-se dar ênfase a estas características geográficas para o estudo da região. Enquanto no pólo Norte há o Ártico como um mar
congelado, com espessura de gelo próxima de 10 metros, cercado de continentes por todos os lados, com estreitas faixas de oceanos
livres, o pólo Sul é exatamente o oposto. Temos um continente de fato, a Antártica, cercada de oceano livre por todos os lados, o
Oceano Circumpolar Antártico. Este é um motivo chave para os deslocamentos dos fluidos geofísicos do planeta: os oceanos e a
atmosfera. Com a ausência de perturbações causadas pela presença de massas continentais, os fluidos poderão formar fenômenos
consideráveis.

A Antártica foi o último continente a ser descoberto e explorado, e ainda hoje
é quase inabitado. Mesmo no verão, quando as condições são mais amenas, a população
é de poucos milhares de habitantes, sendo nenhum deles permanente. Apenas turistas,
que permanecem nos navios ao longo da costa, fazem este número aumentar para algumas
dezenas de milhares durante os poucos dias que duram os passeios. Ao contrário
da região Ártica, onde existe a presença humana natural dos esquimós, na Antártica
nunca houve habitantes devido ao frio excessivo. Hoje, ela é uma gigantesca reserva
da humanidade, protegida e destinada apenas a estudos científicos, onde não se
desenvolvem atividades comerciais, industriais, extrativas e militares. Neste
texto se verá, resumidamente, porque sua história é tão diferente e especial.

Origem do nome

Embora obscurecido pela Idade Média, o conhecimento de que a Terra era esférica já era sabido pelos antigos Gregos. Chegou-se a
calcular seu raio com pouca margem de erro, quando o diretor da biblioteca de Alexandria, Eratóstenes, em 331 a.C. descobriu
anotações interessantes sobre a posição de sombras durante um solstício de verão boreal na cidade de Siena (às margens do mar
Vermelho, Egito antigo). Outras observações da esfericidade da Terra eram bem claras durante os eclipses lunares. Os antigos
conheciam as terras do Norte e sabiam da existência das regiões geladas do Ártico e das regiões quentes equatoriais próximas no
continente africano. Imaginando a simetria de um corpo celeste esférico, concluíram que deveria haver uma região fria na outra
extremidade do planeta. Como sobre o pólo Norte há a estrela polar (Polaris), pertencente à constelação da Ursa Menor, a região
fria do Norte recebeu o nome de Arktus (há grafias Arktikus), que significa Ursa Menor. Então, pela derivação e simetria, a
conclusão que se chegou foi da existência de uma região fria ao Sul. Assim nasceu o nome Anti-Ártico, ou contrário da Ursa Menor.
Formou-se as palavras derivadas “antártico”, usada como adjetivo e o substantivo “Antártica”, para nomear o continente. Mas nem
sempre a língua portuguesa foi fiel às origens gregas, daí a formação do substantivo latino “Antártida”. É o único continente polar
do planeta. Além do mais, estas terras continuam sua deriva, como todas os outras da Terra e, num futuro distante, deixará de ser a
antípoda da região ártica. Oficialmente, o governo brasileiro adotou o termo Antártica para descrever o continente nos seus
trabalhos e documentos. Notoriamente, ambos os modos estão corretos. É muito comum encontrar nos jornais e livros a grafia Antártida.

A descoberta do Continente


Thaddeus Bellingshausen

Desde tempos remotos, a Terra Australis Nondum Cognita era grafada nos
mapas antigos como sendo uma região existente, porém não descoberta. É difícil
oficialmente dizer quem foi o explorador, ou melhor dizendo, a expedição, que
encontrou o continente. Diversos países, inclusive o Brasil, participaram de expedições
de ataque as regiões sub-polares e polares. Contudo, com a tecnologia dos séculos
XVIII e XIX, tais jornadas eram muito críticas e trabalhavam no limite extremo
entre a vida e a morte. Pode-se fazer uma idéia de como tais missões eram perigosas
quando comparamos com os dias atuais. Se mesmo hoje, um acidente nos mares antárticos
ou mesmo sobre o continente é muito difícil de prestar socorro, imaginemos há
mais de 100 ou 200 anos atrás. Os expedicionários realmente tinham um espírito
aguçado de aventura. Infelizmente, nem todos tinham uma visão ecológica e científica
acurada. Avaliando a História, pode-se dizer duas coisas interessantes de um grande
personagem no descobrimento antártico. O nome é Bellingshausen.


Capitão James Cook

Embora haja muita controvérsia sobre os descobridores da Antártica, sumariamente, avaliando-se todos os documentos registrados da
época, se pode atribuir com muito mais certeza o encontro das terras antárticas ao comandante Thaddeus Bellingshausen, chefe de duas
expedições antárticas russas iniciadas na data de 1819. Naqueles tempos de descobertas, tais expedicionários saíam em suas missões
para ficarem mais de 2 anos percorrendo as regiões dos mares gelados, fazendo retornos breves para recarga de suprimentos e reparos
de avarias. Normalmente tais retornos eram feitos na Austrália, Nova Zelândia, Argentina e Brasil. Havia uma corrida mundial entre
muitas nações para o descobrimento das terras austrais. Muito antes de Bellingshausen, diversos outros exploradores tentaram encontrar
o continente. Em 1768, o jovem comandante inglês James Cook, a bordo do Endeavour, já partira para as águas do Sul. Porém, somente
na sua segunda viagem, no comando do Resolution, em 1772, é que ele conseguiu chegar ao ponto Sul máximo até aquela época. Tal marca
só seria batida em 1933 na expedição do almirante americano Richard Bird. É quase uma fatalidade Cook não ter descoberto a Antártida,
pois avançou até o paralelo 71º10’, mas na longitude 160º54’, ou seja, penetrou na região mais profunda e exaurida de terras da
Antártida, o mar de Ross. Se não fosse por esse fato, sua expedição teria descoberto o continente já no século XVIII.

O comandante Belligshausen, seguindo pelas recém descobertas ilhas Shetland do Sul, encontrou a península Antártica. Isto só
ocorreu depois de diversas tentativas de ultrapassar as barreiras de gelo que cercavam sua flotilha constantemente (navios Vostok
e Mirnyi). Pode-se dizer que a data mais correta para se atribuir à descoberta é 28 de janeiro de 1821.

Toponímia geral da Antártida – A navegação da frota russa do Cap. Bellingshausen navegava sempre além dos 60ºS.
Sendo assim, encontrou a península Antártica em 28 de janeiro de 1821. O mar à Oeste da península recebe o seu nome. Nota-se também
que o continente não é centrado no Pólo Sul. Cerca de 90% dele pertence à Antártida Oriental.

Ilhas da região já haviam sido descobertas um pouco antes, como por exemplo a
da Geórgia do Sul, em 1775, pelo Capitão Cook. As Shetlands do Sul, onde fica
a Estação Antártica Brasileira Comandante Ferraz (EACF), no norte da Península
Antártica, foram visitadas em fevereiro de 1819, pelo capitão inglês William Smith,
ao ser desviado para o sul de sua rota no Estreito Drake por uma das fortes e
comuns tempestades naquela região; em sua próxima viagem oito meses depois, ele
reclamou a posse para o Império Britânico.

Veja
o mapa da Antártica

Características peculiares

O continente Antártico é especial pelos mais diversificados motivos. Inicialmente levar-se-á em conta os fatores geográficos mais
comuns referentes à Antártida. Foi um continente que derivou do Norte para o Sul nestes milhões de anos de evolução terrestre, saindo
de uma região tropical. Por este motivo, já comportou florestas e animais. A existência disto foi comprovada por estudos geológicos
da região que mostram excelentes reservas de carvão, petróleo e madeira petrificada. Além disto, há reservas de diversos minerais
cuja quantificação excede muitas reservas exploradas em outras regiões do mundo. Metais como ferro, cobre e outros preciosos são
abundantes. Por estas poucas características, a Antártida já se torna uma área de relativo interesse econômico. Contudo, estas não
são características econômicas de fácil obtenção. Talvez por isso, e afirma-se que somente por isso, elas ainda não foram exploradas
de fato. O clima e o tempo tornam impraticáveis economicamente tais atitudes.


Figura em projeção polar

para comparação do
território brasileiro em
relação ao continente
antártico

A Antártica, incluindo todas ilhas e as plataformas de gelo, tem 13.661.000 km2; sem as plataformas, 12.093.000
km2, e se computada apenas a superfície continental, 11.900.000 km2. Este último valor é 42% maior que o
Brasil, que possui 8.512.000 km2. Contudo, é menor que a América do Sul, com 17.800.000 km2. Dos sete
continentes é o 5º em tamanho, porém o de altitude média mais elevada, de cerca de 2.300 m, e seu ponto mais alto, o maciço Vinson,
possui 5.140m; o Pólo Sul fica a 2.835 m de elevação. Uma grande parte do continente tem o solo abaixo do nível do mar, até o
limite de -2.555 m na depressão de Byrd, e a calota de gelo chega à espessura máxima de 4.776 m na Terra de Wilkes; outra
curiosidade, é que o Pólo Sul Magnético não coincide com o pólo geográfico, e suas coordenadas são 74°07′ Sul e 104º39′ Leste.

Devido ao acúmulo constante de neve, o gelo que é formado registra o passado em sua composição química, permitindo o estudo de gases
e temperatura da atmosfera por centenas de milhares de anos, e também os efeitos mais recentes da poluição atmosférica.


Icebergs tabulares imperam nos mares antárticos. Muitos deles são maiores que cidades e até pequenos estados

brasileiros. A preocupação maior com estes gigantes de gelo errantes é a sua rota. Algumas chegam ao litoral

Sul do Brasil.

 

 

 

 

 

 

Geologicamente, até 140 milhões de anos atrás a Antártica estava na parte central
do super-continente Gondwana, quando os continentes de hoje começaram a se deslocar
na crosta terrestre até chegar à configuração presente. Suas condições eram
então muito diferentes, conforme estabelecido pelos fósseis de animais e plantas
de até 200 milhões de anos. No setor leste predomina um escudo continental e
na oeste, onde está a Península, a origem é bem mais recente, coincidindo com
a dos Andes na América do Sul.

Exceto
pelas algas (umas 300 espécies) que se desenvolvem na neve e gelo, a flora terrestre
antártica concentra-se nos 2% do continente que não são permanentemente recobertos
por gelo. Devido às baixas temperaturas, quanto mais ao sul e maior a altitude,
menor o número de espécies e plantas. Liquens (250 espécies) e Briófitas (130
espécies, sendo 100 de Musgos) são mais comuns; fungos também são encontrados,
e gramíneas ocorrem nas ilhas sub-antárticas, mais ao norte, onde somente duas
plantas com flores são conhecidas.

A vida na região depende fundamentalmente dos oceanos, onde a luz abundante
no verão e a circulação das correntes marinhas favorecem o alto teor de nutrientes
e o crescimento da alimentação primária, composta de fitoplâncton e zooplâncton;
estes efeitos são notados em um cinturão de 35 milhões de km2, conhecido
por “convergência antártica”. No centro da cadeia alimentar encontra-se o “krill”
(Euphasia superba), nome genérico de um crustáceo (camarão) de poucos
centímetros e algumas gramas que alimenta pingüins, focas, baleias, podendo
mesmo servir de alimento a animais de criação após processamento industrial;
para o Homem, seu teor de flúor tem de ser diminuído. Em peso seco, possui cerca
de 50% de proteína e são ricos em vitaminas. Em alguns anos a captura comercial
do krill excede 500 mil toneladas. Os peixes antárticos, de cerca de 150 espécies,
são bastante peculiares como resultado da evolução em temperaturas muito baixas,
e alguns possuem até substâncias anticongelantes no sangue. Em sua maioria,
são pelágicos, de profundidade.

Aves
também se alimentam de krill, embora muitas sejam preferencialmente carnívoras
como as skuas (Catharacta lonnbergi), notórias por seus ataques a filhotes
de pingüins. Dentre as 60 espécies de aves na região, os pingüins representam
a Antártica para o público em geral. No mar são extremamente ágeis e graciosos,
podendo mergulhar até 250 m. Fora do mar, limitam-se a regiões costeiras, placas
de gelo e banquisas. Na região da Estação Brasileira Com. Ferraz, são comuns
três espécies: adélia, antártica ou “chinstrap” e papua (Pygoscelis adeliae,
antarctica e papua, respectivamente). Em ocasiões raras observa-se
também o de penacho (Eudyptes chrysolophus) e o imperador (Aptenodytes
forsteri
), que é o maior de todos e chega a ter 30 kg e 1,1m. O imperador
é notório por nidificar na escuridão do inverno antártico, com temperaturas
de dezenas de graus negativos, mesmo a centenas de km do acesso ao mar. As colônias
de pingüins, ou pingüineiras, podem atingir mais de um milhão de indivíduos
no verão, o que não impede os pais de encontrar seus filhotes após o retorno
de uma pescaria de krill com a captura de cerca 800g por dia. Em relação aos
animais mamíferos, apenas são encontrados os marinhos, como baleias, golfinhos,
focas, e leões-marinhos.

O continente é rico em recursos naturais, desde minérios com metais preciosos
e raros até possivelmente petróleo. Entretanto, devido às questões de pretensão
territorial de alguns países que nunca foram aceitas, e mais recentemente, pelas
limitações impostas pelo Tratado Antártico, está proibida toda e qualquer atividade
comercial, industrial, extrativista, e militar no continente. No ano de 2041,
com a revisão do tratado, será redefinido o futuro deste santuário.

Clima e Tempo na Antática

Quanto à meteorologia, a Antártica é muito peculiar, tanto por ser o continente
mais frio, e com ventos mais fortes, como por ter mais água doce acumulada.
A temperatura média anual varia de cerca de 10ºC na costa a 60ºC
nas partes elevadas de seu interior. Na costa, no verão o máximo pode chegar
a +10ºC, e no inverno o mínimo chega a 40ºC. Em contraste,
no planalto o verão pode ter 30ºC e o inverno 80ºC.
A temperatura mais baixa já registrada no planeta foi 89,2ºC na
estação russa de Vostok em 21 de julho de 1983. Sistemas de baixa pressão, chamados
de ciclones, costumam afetar a região costeira e os mares antárticos, causando
ventos perigosos de 100 km/h por até alguns dias, com rajadas de 200 km/h; associados
com chuva ou neve e nevoeiros, e a mar muito agitado caso se esteja no oceano,
as condições de sobrevivência se tornam críticas. A maior velocidade de vento
registrada foi 327 km/h na estação francesa Dumont d’Urville, em julho de 1972.
O interior do continente tem o ar normalmente seco e subsidente, caracterizando-se
do ponto de vista de precipitação como um deserto, com cerca de 50 mm/ano; porém,
como a pouca neve precipitada não descongela, o acúmulo é contínuo, chegando
a 4 km em certas partes. Em algumas regiões, como no Mar de Bellingshausen e
nas Ilhas Shetlands o total anual é de várias centenas de mm de água.


Cabo Horn, final Sul da América do Sul. Diferentemente de Magalhães, Francis Drake avançou mais ao Sul e
descobriu uma passagem muito mais larga (cerca de 1000km) que ligava o Atlântico
ao Pacífico. Contudo, esta
passagem (que leva o seu nome) é constantemente atingida pelos ciclones extratropicais.
Como os mares
respondem aos ventos, as ondas podem chegar a 12 metros ou mais. Normalmente,
atingem 7 metros.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Analisando as diversas condições do tempo, pode-se dizer que a climatologia
antártica é muito dinâmica. Por um lado, na faixa do litoral e oceano Circumpolar
Antártico, agem os ciclones extratropicais e ciclones extratropicais polares.
Enquanto que na área continental imperam, em média, escoamentos catabáticos
originados do interior para o litoral. Mas tal simplicidade aparente esconde
muitos mistérios, ainda a serem descobertos e avaliados. Estamos muito longe
de descobrir todos os mecanismos da atmosfera antártica.


Dia calmo, ensolarado e raro na Antártica

Normalmente a região costeira é atribulada permanentemente devido a passagem
de alta freqüência dos ciclones extratropicais. Note na fotografia ao lado que
mesmo com mar espelhado e ausência de ventos, o perigo meteorológico espreita.
Observe a nebulosidade sobre as montanhas. Expedicionários em terra ou helicópteros
que por ventura estivessem passando ali, estariam sujeitos ao Whiteout. Este
fenômeno meteorológico é característico de regiões árticas e também recebe a
alcunha de “Escuridão Branca”. Quem estiver dentro dele perde a noção de espacialidade.
Expedicionários se perdem e aeronaves colidem com o solo. Com a modernidade
dos instrumentos de navegação, o problema foi abrandado, mas não eliminado.


Outros dois exemplos de Witheout. Na fotografia da esquerda, não é possível
encontrar o final da geleira Domeiko,
ilha Rei George, e o início da nebulosidade. A fotografia da direita mostra
o mesmo efeito, sobre a geleira Stenhouse
e Ajax, abrandado por nebulosidade de teto obscurecido.

 

 

 

 

 

 

 

Um fenômeno importante na região é o conhecido “buraco de ozônio”, resultante
da redução sazonal deste gás na camada atmosférica entre 10 km e 50 km, diminuindo
a capacidade de filtragem dos raios solares ultra-violeta, muito nocivos à pele
dos organismos vivos. Sua redução nos meses do outono aumentou muito nas últimas
décadas, supostamente como resultado de reações químicas do gás cloro, resultante
de emissões de gases do tipo clorofluorocarbonos (CFCs) usados por todo planeta
na refrigeração e em latinhas de “spray”. A intensidade maior do fenômeno na
Antártica em relação ao Ártico decorre das temperaturas mais frias da atmosfera
antártica. Protocolos internacionais assinados nos últimos anos estão substituindo
os CFCs, e acredita-se que em algumas décadas os níveis de ozônio estratosférico
retornem ao normal.

A água na Antártica

O oceano Circumpolar Antártico possui uma das maiores correntes oceânicas da
Terra e de longe uma das mais velozes. Em certos trechos, como o estreito de
Drake (passagem entre o oceano Pacífico e Atlântico no Sul da América do Sul
e Norte da península Antártica) pode alcançar velocidades da ordem de 60km por
dia. Tal corrente é conhecida como Corrente Circumpolar Antártica (CCA) e caminha
próxima à linha de Convergência Antártica, aos 60ºS (o local em que se pode
dar a volta toda ao redor da Antártida por mar).

A parte de estudos na área da Oceanografia Física da Antártida é vasta. Existem
interações entre correntes profundas do leito dos três oceanos do planeta e
as águas superficiais ao redor da Antártida. No Atlântico, por exemplo, alternam-se
águas provenientes de afundamento da costa antártica para a base do Atlântico,
caminhando para o Norte e ao mesmo tempo em uma profundidade intermediária.
Em contrapartida, águas do Atlântico Norte, passam entre essas duas correntes
e se ligam à CCA, na passagem ao Sul da África. Tais movimentos de massas d’água
são responsáveis por diversos processos. Cabe a Oceanografia Química, a Biológica
e a Geológica desvendar um emaranhado de segredos por trás desta dinâmica dos
oceanos e sua interação com a CCA. Tais conexões indicam como tudo no planeta
está interligado. Outros exemplos são os estudos de densidade e salinidade,
gases dissolvidos nos mares antárticos, migrações de cetáceos, além da interação
ar-mar.

90% da água doce do planeta estão na forma de gelo, e deles, 90% encontram-se
na Antártica. Ou seja, cerca de 80% de toda nossa água doce está na Antártica
e ocupa volume de cerca de 25 milhões de km3. A maior espessura de
gelo é 4.776 m, na Terra de Adélia. A extensão de gelo nas banquisas ao redor
do continente varia entre o mínimo de 4 milhões de km2 em março (meio
Brasil) ao máximo de 22 milhões de km2 em setembro (quase três vezes
o Brasil). A grande preocupação em relação a possíveis mudanças climáticas,
é que se todo gelo antártico derretesse, o nível dos oceanos no planeta subiria
uns 50 metros, trazendo trágicas conseqüências para regiões e populações costeiras.
A elevação de alguns centímetros já constatada nos oceanos, e os efeitos decorrentes
em algumas ilhas e praias estão sendo vinculados por cientistas ao desprendimento
de plataformas de gelo e derretimento de geleiras no entorno antártico; há previsões
que nos próximos 100 anos este efeito cause elevação de um metro no nível dos
oceanos. O tema ainda é polêmico, havendo também possibilidade de aumento do
gelo antártico como parte das eventuais mudanças globais. Entretanto, o aumento
de “icebergs” desprendidos e de sua extensão nos últimos anos está sendo constatada.

A Antártica se relaciona ao clima e tempo do Brasil de duas formas. Por um lado,
no contexto do planeta, é a região continental e oceânica de onde partem as
massas de ar frio que vão se misturar com as massas quentes oriundas das regiões
equatoriais e tropicais mais aquecidas; desta interação resulta o padrão de
circulação atmosfera e o clima geral do planeta. Por outro, em termos regionais,
são as massas de ar da região do mar de Weddell que em alguns casos trazem frio
e precipitação no inverno para o sul e sudeste do país. A corrente oceânica
das Malvinas, no sentido sul-norte também afeta a costa do país, deslocando
águas frias e ricas em nutrientes ao longo da costa, e chegando inclusive até
Cabo Frio, RJ, onde causa o fenômeno da ‘ressurgência”.

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