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Antártica: 2. Exploração da Antártica e a Estação Comandante Ferraz

by Lucas Gomes


Sir Ernest Shackleton

Histórias fantásticas de exploração e sobrevivência com heroísmo, tragédia e realizações,
marcaram o desbravamento da Antártica no início do século XX. Entre elas destaca-se
o caso do irlandês Sir Ernest Shackleton, que teve seu navio “Endurance” aprisionado
pelo gelo no mar de Weddell antes que fosse iniciada a pé a travessia transantártica
de 2.900 km. De janeiro de 1915 até seu resgate em agosto de 1916, os 22 tripulantes
realizaram o impossível em sua rota de retorno e sobrevivência no gelo e oceano,
e foram resgatados por seu próprio comandante quando todos eram dados por mortos.
Menos sorte teve a equipe do inglês Robert Scott no retorno da corrida contra
o norueguês Roald Amundsen para a conquista do Pólo Sul, no final de 1911: além
de perdê-la por um mês, os cinco membros do grupo pereceram no final do retorno
devido a adversidades do frio e tempo, e falhas de planejamento logístico, ficando
a horrível memória desta jornada, até os últimos instantes, registrada no diário
de Scott.


O navio Endurance preso no gelo durante a expedição

O interesse pela Antártica foi imediato devido à numerosa presença de focas, leões marinhos e baleias, que na época eram caçados
tanto pela carne como por seu couro e óleo. No início do século XIX muitas cidades tinham a iluminação das ruas feitas com lamparinas
de óleo de baleia, já que o uso do gás de petróleo no “lampião de gás” ainda não estava implantado. Em geral, dez anos era o prazo
para o extermínio quase total das focas nas ilhas onde eram descobertas. Para dar uma idéia da dimensão da carnificina, em muitas
colônias, 60 mil animais eram abatidos por ano. Tão grande era a concentração dos animais indefesos em terra, que para economizar
munição de armas-de-fogo no abate, os caçadores usavam simples porretes nas matanças enquanto caminhavam nas colônias de focas e
elefantes marinhos. Até meados da década de 1960 as baleias eram dizimadas pela pesca descontrolada, e a população de algumas espécies
chegou a ser reduzida em 95% quando cerca de 66 mil baleias eram abatidas por ano pelos navios de captura e processamento nos mares
antárticos. Nos debates recentes apenas o Japão tem resistido o banimento total de sua pesca. Pesquisadores brasileiros há anos
participam de iniciativa internacional de identificação visual e genética de baleias na Antártica para estudar sua dinâmica e
migração.

Com o passar dos anos vários países realizaram expedições à Antártica e declararam
pretensões territoriais em função de suas áreas de atuação, caça e pesca – em
geral não reconhecidas pelos demais, e muitas vezes sobrepondo-se. Por exemplo,
até a aceitação internacional do Tratado Antártico, em 1961, a região da Península
Antártica era pretendida pela Argentina, Chile e Grã-Bretanha. Assim, determinou-se
que o futuro deste continente não seguiria o padrão de posse por conquistas e
guerras, abrindo novo horizonte nas relações internacionais e humanas, sob a supervisão
da comunidade científica internacional. O início deste novo enfoque ocorreu com
os trabalhos científicos realizados no primeiro “ano polar internacional”, em
1882-83, quando 12 nações fizeram estudos coordenados do clima e do magnetismo
terrestre. Iniciativas similares repetiram-se em 1932-33, 1957-58, e da organização
do último, resultou a primeira conferência antártica em 1955, quando foi apresentada
a base do que se tornaria o Tratado Antártico, protegendo mares e terras ao sul
da latitude de 60 graus.

O imperador Dom Pedro II era um homem de visão. Graças a ele o Brasil se modernizou,
mas principalmente se destacou entre as nações do mundo. Em se tratando da Antártica,
em 1882, foi realizada uma missão sub-antártica quando a corveta Parayba lançou-se
aos mares bravios dos arredores do estreito de Drake, mesmo sobre grande protesto
da imprensa e de diversos políticos. Mais de cem anos depois, o Brasil finalmente
chegou à Antártica. Poderia ter partido muito antes, pois convites não faltaram.
Diversas expedições, incluindo a de Bellingshausen, ofereceram vagas aos cientistas
da época para participarem das descobertas, já que muitas destas viagens faziam
parada obrigatória nos portos do Brasil.

Contudo, antes tarde do que nunca, os brasileiros chegaram ao território para fincar nossa bandeira, pois regras do tratado
antártico diziam que só teriam direito ao território as nações que produzissem pesquisas e instalassem estações permanentes até o
prazo do ano 2000.

Várias pessoas se esforçaram para concretizar esse projeto. Algumas no mundo civil,
com a criação do Instituto Brasileiro de Estudos Antárticos – IBEA, sob protesto
dos militares da época, nos anos de 1970. Contudo, muitos militares apoiavam o
instituto e defendiam sua posição de interesse na Antártica. Entre eles, o capitão-de-mar-e-guerra,
comandante Ferraz. Em fevereiro de 1984, foi inaugurada a Estação Antártica Comandante
Ferraz – EACF, na Ilha Rei George / 25 de Mayo, na península Keller, baía do Almirantado.
De lá para cá, 22 anos se passaram e o Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR,
executa suas missões todos os anos, sob auxílio de diversas instituições nacionais,
como USP, CNPq, PETROBRÁS, Marinha do Brasil – MB e a Força Aérea Brasileira –
FAB, organizadas pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar – CIRM.


Estação Antártica Comandante Ferraz

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A realização de atividades na Antártica está a cargo da SECIRM, responsável
por todas atividades de apoio, e do CNPq, que define e financia os projetos
de pesquisa. A Fundação Universidade Federal do Rio Grande, FURG, opera a estação
de apoio antártico ESANTAR, em Rio Grande, RS, e universidades e institutos
de pesquisa nacionais e de muitos estados participam desde 1982 nas pesquisas
antárticas. O Clube Alpino Paulista, desde o início da EACF, apóia atividades
de deslocamento das equipes em trabalhos de campo. Os principais tópicos de
pesquisa hoje estão nos temas de mudanças climáticas globais e poluição ambiental
local; inúmeros projetos são desenvolvidos nas áreas de biologia, botânica,
ciências espaciais, geologia, glaciologia, meteorologia, oceanografia e zoologia.

De oito módulos da construção inicial, a Estação Antártica Comandante Ferraz
(EACF) passou a ter 64, incluindo laboratórios de pesquisa, biblioteca, sala
de exercícios etc., com condições de conforto e comunicações excelentes para
uma região inóspita. A EACF atinge sua capacidade máxima de até 50 pessoas no
verão, mas durante o resto do ano abriga até 20; destas, 10 são do “Grupo Base”
com pessoal da Marinha do Brasil, responsável por manter a Estação em funcionamento,
pelo apoio aos projetos de pesquisa e por representar o país nos contatos e
eventos locais. O suporte da estação é feito por um Navio de Apoio Oceanográfico
à Pesquisa da Marinha, “NApOc”, sendo que o primeiro foi o Barão de Teffé e
desde 1993 é Ary Rongel.

Os países latino-americanos com estações ativas todo o ano são: Argentina, Brasil,
Chile e Uruguai. O Peru tem presença apenas nos meses de verão, e o Equador
possui somente um refúgio que está sem uso há anos. Todos estes países estão
presentes na Ilha Rei George, porém Argentina e Chile possuem bases em outras
ilhas e no continente. Com o Tratado de Madri de 1991, ratificado em 15 de janeiro
de 1998, ficou assegurada por mais 50 anos a condição de área especial de conservação
do Planeta e de suas nações. Assim, ficaram suspensos interesses territoriais
e também divergências entre países, inclusive as dos latino-americanos; hoje,
os signatários são em número de 45, dos quais 27 consultivos, com maior expressão.

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