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Arte Chinesa: 1. Fase Arcaica

by Lucas Gomes


Cavaleiro e Criado
Museu Guimet – Paris

O primeiro Estado organizado de que se tem conhecimento surgiu na China aproximadamente
no ano 1500 a.C. ou, na opinião dos estudiosos chineses que acompanham a seqüência
das tradições históricas, em 1700 a.C. emergindo da fase neolítica, agora relativamente
bem documentada pelos achados arqueológicos. A cultura deste Estado, que era
chamado Xang ou Yin, nomes atribuídos à dinastia, manteve feições neolíticas
ao mesmo tempo em que evoluía para a arte de trabalhar com bronze modelado,
surpreendente pela excelência de sua técnica e requinte.


Guerreiros Xi’An
7 000 a.C.

Os notáveis vasos rituais de bronze eram moldados para o culto do rei e dos
senhores feudais. Os vasos mais antigos ostentam uma técnica avançada e notável
qualidade artística, e foram moldados segundo fôrmas de barro, recebendo retoques
de acabamento com ferramentas. É possível que os bronzistas responsáveis por
estas obras gozassem de regalias semi-sacerdotais, como ocorria em outras civilizações
antigas.



Dinastia Han Oriental
16 a 220 D.C.
Bronze

Durante a fase primitiva da dinastia Xang, os vasos rituais dos cultos ancestrais
muitas vezes procuravam imitar a cerâmica, tanto no formato, como na ornamentação,
especialmente os de Lung-xan. Os jarros têm paredes delgadas e a decoração escassa
é limitada a uma faixa estreita. Mesmo em peças Xang mais recentes se denunciam
as características da cerâmica. A decoração destes recipientes do vinho do sacrifício
forneceria um verdadeiro catálogo dos símbolos da religião ancestral e do culto
à fertilidade. O tema mais destacado é uma espécie de máscara vistosa chamada
t’ao-t’ieh ou “insaciável”, formada por diversos elementos animais. Esta criação,
de aspecto atemorizante, certamente tinha por finalidade espantar os maus espíritos
ou era um símbolo expressivo das poderosas forças da natureza, comparável ao
posterior Tao. Embora o impacto da força mágica destas figuras sela imediatamente
sentido pelo espectador, sua significação peculiar pode apenas ser pressentida.
Extremamente impressionantes são os vasos de oferendas renda em formatos figurativos
tais como corujas ou tigres, recobertos de símbolos. Podem ser considerados
como encarnações totêmicas de espíritos ancestrais protetores do fundador do
clã.


Machado cerimonial
Fim do período Xang
séc. XII a XI, a.C.
Bronze, 30 x 35 cm.
Museu Staatliche,
Ostasiastiche Kusntabteilung,
Berlim.

Os achados arqueológicos revelam que uma parte dos cerimoniais, que acompanhavam a construção de
templos e os aparatos das catacumbas, consistia em matar e enterrar grande número de homens – na
maioria, escravos e prisioneiros de guerra – como sacrifício ritual. Em muitos casos, a vítima era
degolada, possivelmente com utilização dos enormes machados de formato e peso inadequados ao manejo
como armas, estes machados ostentam decorações cabalísticas que os enquadram perfeitamente àquela
função macabra.

Depois que o povo Chou (que habitava o lado oriental do reino Xang) infestou o Estado Xang com seus
aliados “bárbaros” (1100 e 1000 a.C.), adotou integralmente a superior cultura Xang. A classe dos
guerreiros Chou tirou proveito das habilidades dos artífices e sacerdotes Xang de uma forma que as
evidências mostram uma contigüidade, sem interrupção, do período da dinastia Xang.

Os vasos de bronze do culto ancestral conservaram algo de cabalístico dos antecessores, mas com feições
nitidamente Chou, as inscrições, não raro muito extensas, com uma linguagem relacionada aos textos Chou da
literatura chinesa, informam os antecedentes dos feitos da posteridade e as determinações e liberalidade
dos regentes dos Chou.


Escultura de argila,
com olhos de jade
incrustados.
Dinastia Hongshan

Na última fase do período Chou, a era dos Estados Belicosos (Xan-kuo, 475-222 a.C.), ocorreu o colapso
absoluto da autoridade central; contudo, mesmo em condições políticas meio caóticas, os Estados feudais,
extremamente competitivos, conseguiram promover uma cultura notável e profícua. O progresso econômico e a
ampliação das relações comerciais entre os diversos Estados trouxeram como resultado à classe dos
mercadores uma situação vantajosa. O Estado chinês de Ch’in aumentou seu poderio através de uma habilidosa
política econômica. Mesmo os comerciantes podiam então ascender à posição de ministros, exercendo um
controle político realmente efetivo.

Não é surpreendente o fato de que, naquela época de condições sociais, políticas e intelectuais instáveis,
as artes também se aventurassem por novos caminhos. Nos meados do período Chou, a intensa magia dos bronzes
rituais ornamentados desapareceu. Na época dos Estados Belicosos, a superfície dos vasos de bronze era
recoberta por uma ornamentação delicada e luxuosa cujo efeito era acentuado por tauxias com materiais
preciosos como o ouro, a prata e a turquesa, nessa ocasião usados como elementos decorativos.

A partir das últimas fases, houve o surgimento de culturas regionais, especialmente
na parte sul da área chinesa, nos vales dos rios Huai e Yang-tsé. Incluímos nisto
a civilização do Estado de Ch’u com sua característica indústria de lacas e, à
margem da civilização chinesa, a recém-descoberta cultura Tien, da província de
Yunnan, com o esplêndido naturalismo de suas obras em bronze.

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