Home EstudosSala de AulaHistoria Arte Chinesa: 3. Era Clássica

Arte Chinesa: 3. Era Clássica

by Lucas Gomes


Bodhisattva
Período Wang,
provavelmente séc. VIII.
Arenito, 1,01 m.
Museu Rietberg, Zurique

A reunificação do fragmentado território chinês, sob a breve dinastia Sui (581-618), seguida pela
consolidação e extensão estatal até os portões da Pérsia, sob a regência dos imperadores Tang (618-906),
pode ser considerada, com razão, a Idade de Ouro da cultura chinesa.

Graças às doações beneméritas, os grandes mosteiros adquiriram imensas propriedades rurais que eram
lavradas por arrendatários. Também da mesma fonte, bronze para cunhagem afluía aos templos, onde eram
moldadas as imagens de culto que escapavam às garras do tesouro imperial.

A noção que temos dos imponentes templos da capital de Ch’ang-an, na primeira metade da dinastia T’ang,
vem-nos de descrições literárias contemporâneas. Escaparam à fúria destruidora somente alguns pagodes de
pedra tipicamente chineses. As paredes dos palácios perdidos deviam ter ornamentação abundante em madeira,
laca e, principalmente, bronze; seu estilo clássico se reflete em algumas peças do mesmo período que
sobreviveram no Japão. A pintura mural assumiu, igualmente, um estilo de projeção internacional,
caracterizado pelas linhas harmoniosas do desenho e equilíbrio da composição. O estilo ultrapassou as
fronteiras da China, como podemos constatar pelos exemplos do tempo japonês Horyu-ji, em 711, infelizmente
muito danificado por um incêndio recente. Pintores famosos como Wu Tao-tzu (atuante em 720-60), ligado por
algum tempo à corte imperial, criaram ciclos pictóricos nos murais dos templos dos quais, infelizmente,
nenhum sobreviveu.




O cantil do peregrino
Período Sui ou T’ang primitivo,
VI e VII sécs
Cerâmica pesada com lustre verde brilhante
Ostasiatische Kunstabteilung,
Staatliche Museen, Berlim

Versões provincianas dos grandes murais pintados deste período aparecem entre as decorações das grutas de
Tunhuang nas proximidades da Ásia Central, distante dos celeiros da cultura clássica em cidades importantes
como Ch’ang-an e Lo-yang. Como podemos deduzir pelos achados arqueológicos, o desenho passava à parede por
meio de cartões perfurados. este recurso permitia a execução minuciosa de composições iconográficas
planejadas, mas, por outro lado, restringia a expansão imaginativa e criadora do artista. Estas
considerações especulativas explicam a atitude, um tanto desdenhosa, dos artistás-literatos para com as
obras religiosas deste tipo.

Esculturas de pedra se enfileiravam nas paredes das grutas-santuários; podiam tomar a forma de monólitos,
famosos desde então ou de imagens de culto; revelam maturidade e plenitude de estilo adquiridos por um
processo natural de evolução espontânea dos estilos dos séc. VI e VII e, parcialmente, de uma nova onda de
influência da fonte indiana do budismo.


Prato de Prata e dourados
Período T’ang, 618-906, d.C.
21,5 cm de diâmetro
Museu Guimet, Paris.

Em sua fase de apogeu, a corte imperial T’ang mostrou um cosmopolitismo liberal, equivalente, talvez, ao
dos regentes mongóis dos sécs. XIII e XIV. A metrópole de Ch’ang-an, que possuía, de acordo com o censo de
742, dois milhões de habitantes, era o extremo oriental da longa rota de caravanas que passavam através da
Ásia Central; ao mesmo tempo, era ligada às regiões: costeiras chinesas, até Cantão, por uma rede de vias
navegáveis naturais e artificiais. Aí, no coração do sistema administrativo e sede do império, ficava o
ponto para o qual afluíam incessantemente mercadorias tributárias, tanto nacionais como estrangeiras. A
cidade fervilhava com mercadores, monges, artífices e artistas vindos da Ásia Central e de outros pontos
mais longínquos. Motivos ocidentais tais surgiram na cerâmica, mesmo antes da fundação da dinastia T’ang e
também nas obras de ouro e prata de que temos vários exemplos, evidenciando a fusão de aspectos
estilísticos sassânidas com elementos de corativos locais.

A vida exageradamente requintada na corte imperial T’ang nos é revelada com clareza pelas estatuetas de
cerâmica, parcialmente vitrificada e colorida, elaboradas com finalidades solenes: elegantes figuras
femininas dos haréns, mercadores e condutores de camelos da Ásia Central, cavalos puros-sangues importados
de Ferghana para caça e pólo, anões empregados como bufões da corte e muitos outros temas.


Dama da côrte, sentada com espelho
Período T’ang, 618-906, d.C.
Terracota cozida esmaltada a côres; 31,8 cm
Museu Alberta e Vitoria, Londres.

Enquanto os calígrafos conseguiram atingir as altas camadas da hierarquia social, os pintores continuaram
impossibilitados de desvencilhar-se das restrições do artesanato. Por um lado, artistas como Wu-Tao-tsu e
Li-Sze-hsun ganharam bastante prestígio e eram oficialmente considerados – o último chegou a ministro de
Estado; mas, por outro lado, o chefe do Ministério de Obras, Yen Li-pen, tinha queixas amargas contra as
comissões imperiais e preveniu o filho contra a aceitação do cargo.

Infelizmente, nenhuma obra assinada- por tais artistas sobreviveu, o mesmo acontecendo
com as criações do poeta-pintor Wang Wei (699-759) que parece ter desempenhado
um papel importante no desenvolvimento do desenho a pincel e que gozava de elevada
reputação como pintor paisagista. De um modo geral, a dinastia T’ang assistiu
ao surgimento de personalidades artísticas chinesas destacadas. esses homens pertencentes
à elite social não eram forçados a exercer sua arte como meio de subsistência
– pintavam por prazer.

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