Home EstudosSala de AulaHistoria Arte Chinesa: 4. As cinco dinastias e o Período Sung

Arte Chinesa: 4. As cinco dinastias e o Período Sung

by Lucas Gomes


Lótus e gansos
Caquemono, período Sung ou Yuan
Séc. XIII, XIV
Pintura em côres sôbre sêda; 1,28 m x 78 cm
Museu Staatliche,
Ostasiatische Kunstabteilung, Berlim

Na gestão do último monarca da dinastia T’ang o poeta Li Yu (737-98), que reinou de 961 a 975, a vida
cultural elevou-se a novos níveis. A academia da corte de Li foi valorizada pelas figuras luminosas de
Chou Wen-chu que pintou cenas figurativas primorosas no estilo do grande período T’ang. simultaneamente,
foi estimulada pelo soberano uma nova categoria de pintura, uma espécie de “natureza morta” com composições
de plantas e animais minuciosamente observados e executados com precisão e requinte. Outras personalidades
em ação neste período incluíam os fundadores de uma modalidade de pintura paisagística monumental, Ching
Hao, Kuan T’ung e o monge Chu-jan. Outro monge-pintor, Kuan-hsiu, ganhou nome e fama pelos expressivos
retratos de santos budistas que realizou.

O requinte estético da corte de Li Yu também está refletido na arte de imprimir. O papel produzido nas
lojas da corte imperial era considerado como da melhor qualidade e custava preços elevados. Também a
cerâmica passou por uma fase de progresso no sul da China.




Hsu Tao-ning
Pescaria no riacho da montanha (detalhe).
Período Sung, Norte, 1000 d.C.,
manuscrito, tinta em sêda, 48 em x 2,10 m
Galeria de Arte William Rockhill Nelson,
Kansas City.

A arte e a cultura da dinastia Sung (9601279) foram marcadas pelo aparecimento de uma nova burguesia urbana.

No começo deste reinado, diversos homens de personalidade marcante deixaram traços decisivos na imagem que
formamos sobre os literatos da época. Entre estas figuras, incluímos Su Tung-p’o (1036-1101), não muito
feliz na política, e o vitorioso Mi Fu (1051-1107). Paralelamente aos seus deveres oficiais, estes homens
cultivavam na vida particular as artes liberais da poesia, caligrafia, pintura e música. Seus ensaios
críticos e teóricos foram decisivos no estabelecimento do conceito sobre o artista-literato (rven-jen) que
posteriormente se tornaria um lugar-comum. O artista que pertencia à Academia de Pintura (Hua-yuan) da
corte imperial e que recebia título oficial estava fortemente vinculado à hierarquia estatal. Sob o
patrocínio do imperador Hui-tsung, de fraco prestígio político (período 1101 1126), os acadêmicos
executaram quadros minuciosos, tendo como temas animais e paisagens. Houve também, na época, escolas de
pintores onde mestres anônimos deram continuidade às antigas tradições; estes eram, em geral, artistas
profissionais que se organizavam em corporações associações e trabalhavam para os patrocinadores budistas.


Liang Kai.
O patriarca Ch’an cortando um bastão de bambu.
Período Sung, primeira metade do séc. XIII.
Caquemono, tinta em papel; 72 x 32 cm.
Museu Nacional. Tóquio

A crescente influência artística da burguesia aparece bem na figura do pintor Hsu Tao-ning que viveu na
primeira metade do séc. XI. Inicialmente, Hsu era apenas um boticário que pintava por diletantismo mas
acabou recebendo uma enxurrada de incumbências e veio a tornar-se o protegido do ministro. Ainda que para
nós as suas paisagens expressivas mereçam figurar entre as obras mais significativas da época, eram
consideradas taxativamente como “vulgares” pelo crítico de arte contemporâneo Mi Fu.

Outro aspecto da pintura Sung – especialmente durante a segunda metade do período em que a dinastia Chin,
estabelecida pelo nômade Jurchen, usurpou o Norte, forçando a Sung a deslocar a capital para a cidade
sulina de Hang-chou – é o prestígio crescente da seita Ch’an (Zen) do budismo. Muitos literatos foram
atraídos pelos novos ensinamentos e principalmente pelo modo de vida simples e elegante desta escola de
meditação. Na primeira metade do séc. XIII, diversos monges da seita Ch’an obtiveram fama como pintores;
desenvolveram um estilo próprio, caracterizado pelo imediatismo de expressão, simplicidade de linguagem
pictórica e individualidade da pincelada. Notável entre os pintores Ch’an foi Liang K’ai, que a princípio
trabalhou na academia imperial em Hangchou. Ao ser agraciado com a Faixa de Ouro pelo imperador, ele a
deixou pendurada no vestíbulo do palácio e abandonou a capital. Passou o resto de sua vida na solidão dos
templos de Ch’an, onde sua arte assimilou as características das pinturas monásticas. Também desligadas
da pintura oficial eram as escolas locais, como a de Ning-p’o na província de Chekiang, famosa por suas
pinturas representando cenas do inferno.


Kuan-Yin, Bodhisttva da misericórdia.
Período Yuan ou início de Ming. Séc. XIV.
Madeira parcialmente dourada, 1,70 m.
Coleção Particular, Lucerne,
sob empréstimo ao Museu Rietberg, Zurique.

Na escultura T’ang a tradição persistiu, mas o enfraquecimento dos laços com o budismo se manifestou de
modo inequívoco. A escultura em madeira, sobretudo, se emancipou quase que de maneira absoluta da tutela
indiana e revelou maiores tendências para o requinte 65 excessivo, ou então para o naturalismo.

Na cerâmica, encontramos o mais expressivo testemunho da evolução técnica e artística
do artesanato Sung. Os vasos, produzidos nas fábricas estatais para utilização
nos palácios, ostentam a perfeição clássica de torma e cor, sem rival em nenhuma
outra parte do mundo. Ao mesmo tempo, fábricas do norte da China adaptavam os
antigos e tradicionais estilos de esmalte em cor para o gosto típico da época.
O culto da cerimônia do chá, que 68 tomou vulto simultaneamente com o budismo
Ch’an, estimulou a criação de uma estética própria, tendente à simplicidade e
funcionalidade e que pode ter influído na chamada louça Temoku.

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