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Immanuel Kant

by Lucas Gomes

Immanuel
Kant, filósofo alemão, fundador da filosofia crítica, nasceu
em Königsberg, na Prússia Oriental (atual Alemanha), em 22 de Abril
de 1724. Foi um dos mais importantes e influentes filósofos da modernidade.
Seus estudos e ensinamentos nos campos da Metafísica, Epistemologia,
Ética e Estética tiveram grande impacto sobre a maioria dos movimentos
filosóficos posteriores.

Kant era filho de um artesão que trabalhava couro e fabricava selas.
Sua mãe, de origem alemã, embora não tivesse estudo, foi
mulher admirada pelo seu caráter e pela sua inteligência natural.
Ambos seus pais eram do ramo pietista da Igreja Luterana, uma subdenominação
que requeria dos fieis vida simples e integral obediência à lei
moral.

Estudos primários. A influência de seu pastor
permitiu a Kant, o 4º de 11 crianças, porém o mais velho
sobrevivente, entrar na escola pietista onde estudou por oito anos e meio, principalmente
os clássicos latinos. Ele confessou a sua preferência de então
pelo naturista Lucrécio, e talvez o tenha impressionado o livro IV do
poema De rerum natura, onde Lucrécio descreve a mecânica dos sentidos
e do pensamento.

Em 1740, aos dezesseis anos, Kant entrou para a universidade de Königsberg
onde estudou até aos 21 anos. Apesar de ter assistido a cursos de teologia
e até pregado alguns sermões, ele foi atraído mais pela
matemática e a física. Ajudado por um jovem professor, Martin
Knutzen, que havia estudado com Christian Wolff, um sistematizador da filosofia
racionalista, e que também era um entusiasta da ciência de Sir
Isaac Newton, ele começou a ler os trabalhos deste físico inglês
e, em 1744, iniciou seu primeiro livro, o qual tratava de um problema relativo
a forças cinéticas: Ideias sobre a Maneira Verdadeira de Calcular
as Forças Vivas
.

Aos 21 anos – apesar de que a esta altura tivesse decidido a seguir uma
carreira acadêmica –, com a morte de seu pai em 1746 e o seu fracasso
em obter o posto de sub-tutor em uma das escolas ligadas à universidade,
Kant se viu obrigado a desistir temporariamente de seu projeto e a buscar meios
imediatos de se manter. Foi compelido a suspender os estudos universitários
e ganhar a vida como tutor particular. Durante nove anos manteve essa ocupação,
atividade em que foi bem sucedido e que lhe permitiu conviver com a sociedade
mais influente e refinada de seu tempo. Serviu a três famílias
diferentes, tendo nesse período viajado à cidade próxima
de Arnsdorf. Em 1755 ele retornou a Königsberg e lá passou o restante
de sua vida.

Retorno à universidade: Em 1755, ajudado pela bondade
de um amigo, Kant pode completar seus estudos na universidade. Obteve seu doutorado
e assumiu a posição de livre docente (Privatdozent, professor
sem salário). Três dissertações que ele apresentou
na habilitação a esse posto indicam o interesse e rumo de seu
pensamento nessa época. Em uma, Sobre o fogo, ele argumenta,
muito ao jeito aristotélico, que os corpos agem uns sobre os outros através
de uma matéria sutil e elástica uniformemente difusa que é
a substância básica de ambos calor e luz.

A seguir, por 15 anos, ele ensinou na universidade, primeiro dando aulas de
ciência e matemática, mas gradualmente ampliando seu campo de interesse
a quase todos os ramos da filosofia. A Física newtoniana o impressionou,
não apenas pelas suas implicações filosóficas quanto
pelo seu conteúdo científico. Impressionou-o igualmente as asserções
leibnizianas, as quais criticaria no futuro.

Sua fama como professor e escritor aumentou constantemente durante seus 15
anos como livre-docente. Cedo ele já lecionava sobre muitos assuntos
além de física e matemática, incluindo lógica, metafísica,
e filosofia moral. Até mesmo ensinou sobre fogos de artifício
e fortificações e cada verão, por 30 anos, deu um curso
popular sobre geografia física. Seu estilo, que diferia grandemente daquele
de seus livros, era humorístico e vivo, vivificados por muitos exemplos
de suas leituras em literatura inglesa e francesa, viagem e geografia, ciência
e filosofia.

Apesar de que as aulas e os trabalhos escritos nesses 15 anos como livre-docente
estabeleceram sua reputação como um filósofo original,
ele não recebeu uma cadeira na universidade até 1770, quando foi
feito professor de lógica e metafísica, uma posição
que manteve até 1797, continuando nesses 27 anos a atrair grande número
de estudantes para Königsberg.

Conflito com o governo. O ensino não ortodoxo de religião
de Kant, que era baseado no racionalismo mais que na revelação,
o colocaram em conflito com o governo da Prússia, e em 1792 ele foi proibido
pelo rei Frederico Guilherme II de ensinar ou escrever sobre temas religiosos.
Ele obedeceu essa ordem por cinco anos, até a morte do Rei e então
sentiu-se liberado dessa proibição. Em 1798, o ano que se seguiu
a sua aposentadoria da universidade, publicou um resumo de seus pontos de vista
religiosos.

Sedentarismo. Apesar de por duas vezes falhar em obter uma
cátedra em Königsberg, Kant recusou aceitar ofertas que o teriam
levado para fora, inclusive o professorado de literatura em Berlim, que lhe
teria dado grande prestígio. Preferiu a paz de sua cidade natal para
trabalhar e desenvolver seu pensamento. Sua filosofia crítica brevemente
estava sendo ensinada em cada universidade de língua alemã importante,
e os jovens afluíam a Königsberg como à Meca da Filosofia.
Em alguns casos o governo prussiano até pagava- lhes as despesas. Kant
passou a ser consultado como um oráculo em todo tipo de questão,
inclusive em assuntos como a legalidade da vacinação.

Vida sistemática. As muitas homenagens não interromperam
os hábitos regulares de Kant, que seguiu sempre sua rotina de trabalho
e investigação filosófica sobre a vasta gama de tópicos
que se pode ver da lista de seus trabalhos. Com pouco mais de 1,50 m de altura,
com o peito deformado e sofrendo de saúde precária, Kant manteve
através da sua vida um severo regime. Era um sistema cumprido com tal
regularidade que as pessoas diziam poder acertar os relógios de acordo
com sua caminhada diária ao longo da rua que depois recebeu o nome, em
sua homenagem, de “Caminhada do Filósofo”. Até que a
idade o impediu, sabe-se que ele somente perdeu sua aparição regular
na ocasião em que o Emile, de Rousseau o fascinou tanto que,
por vários dias, ele ficou em casa ocupado com sua leitura.

Morte. Após um declínio gradual que foi muito
doloroso para seus amigos tanto quanto para ele próprio, Kant morreu
em Königsberg em 12 de fevereiro de 1804, dois meses antes de completar
80 anos. Suas últimas palavras foram “isto é bom”.

Filosofia

Durante o período de sua carreira acadêmica, estendendo de 1747
a 1781, Kant, como professor, seguiu a filosofia então prevalecente na
Alemanha, que era a forma modificada do racionalismo dogmático de Wolff
com fundamento em Leibniz. Porém, as aparentes contradições
que ele descobriu nas ciências físicas, e as conclusões
a que Hume havia chegado na sua análise do princípio de causa,
dizendo que a relação de causa e efeito é uma questão
de hábito e não uma “verdade de razão” como supunha
Leibniz, acordaram-no para a necessidade de revisão ou criticismo de
toda experiência humana do conhecimento, com o propósito de permitir
um grau de certeza para as ciências físicas, e também para
o propósito de colocar sobre uma fundação sólida
as verdades metafísicas que o ceticismo fenomenalista de Hume tinha destruído.

Kant achou que o velho racionalismo dogmático havia dado muita ênfase
aos elementos a priori do conhecimento e que, por outro lado, a filosofia empírica
de Hume tinha ido muito longe quando reduziu todo conhecimento a elementos empíricos
ou a posteriori. Portanto, ele se propõe passar o conhecimento em revista
em ordem a determinar quanto dele deve ser consignado aos fatores a priori ou
estritamente racionais, e quanto aos fatores a posteri resultantes da experiência.
Ele mesmo afirmava que o negócio da filosofia é responder a três
questões: O que eu sei? O que devo fazer? O que devo esperar? No entanto,
as respostas para a segunda e terceira perguntas dependem da resposta para a
primeira: nosso dever e nosso destino podem ser determinados somente depois
de um profundo estudo do conhecimento humano.

A obra de Kant pode ser dividida em dois períodos fundamentais: o pré-crítico
e o critico.

O primeiro (até 1770) corresponde à filosofia dogmática,
influênciada por Leibniz e Wolf. Realizou importantes estudos na área
das ciências naturais e da física de Newton. Entre as obras deste
período, destaca-se a História Universal da Natureza e Teoria
do Céu
(1755), onde apresenta a célebre hipótese cosmológica
da “nebulosa” para explicar a origem e evolução do nosso
sistema solar. Mostrou-se partidário da existência de vida em outros
planetas, procurou mostrar que Deus existe partindo da ordem e da beleza do
universo. A partir de 1762, Kant começou a manifestar um vivo interesse
pelas questões filosóficas, em especial para a crítica
das faculdades do homem.

O segundo período corresponde ao despertar do “sono dogmático”
provocado pelo impacto que nele teve a filosofia de Hume. Escreveu então
obras como a Crítica da Razão Pura, Crítica
da Razão Prática
e Critica da Faculdade de Julgar,
nas quais demonstra a impossibilidade de se construir um sistema filosófico
metafísico antes de ter previamente investigado as formas e os limites
das nossas faculdades cognitivas. Respondendo às questões colocadas
por Hume, afirmou que todo o conhecimento começa com a experiência,
mas não deriva todo da experiência. A faculdade de conhecer tem
uma função ativa no processo do conhecimento. Este não
representa as coisas como são em si mesmas, mas sim como são para
nós. A realidade em si é incognoscível, tal como Deus.
Esta teoria permitiu a Kant fundamentar o dualismo “coisa em si” e
o “fenômeno” (o que nos é dado conhecer). Concepção
que teve profundas repercussões na filosofia até aos nossos dias.

Kant manifestou grande simpatia pelos ideais da Independência Americana
e depois da Revolução Francesa. Foi um pacifista convicto.

Sua obra

As obras de Kant são bastante diversificadas. Veja um resumo de alguns
de seus principais ensinamentos: os conceitos da Teoria do Conhecimento e da
teoria da Moral e Ética.

Teoria do Conhecimento

Em sua Teoria do Conhecimento, Kant classificou o tangível
e o abstrato em dois grupos: 1 – aquilo que podemos conhecer; 2 – aquilo que
são por si desconhecidas. As coisas que podemos conhecer são aquelas
que as pessoas podem presenciar, tocar, ver e experimentar, como uma mesa ou
um cachorro. Por outro lado, existem coisas que são desconhecidas por
si próprias, como Deus e o conceito de liberdade, cujas existências,
segundo Kant, se baseiam em pressuposições necessárias.

Kant afirmava que a área do conhecimento é limitada ao mundo
das experiências e que é inevitável que uma pessoa fracasse
ao tentar conhecer coisas que são desconhecidas. Kant apresenta essa
linha de pensamento em seu livro Crítica da Razão Pura, estabelecendo
que os três grandes problemas da Metafísica são Deus, a
liberdade e a imortalidade, pois não são solucionáveis
por meio do pensamento especulativo. De acordo com Kant, a existência
de Deus e os conceitos de liberdade e imortalidade não podem ser afirmados
ou negados no campo teórico, nem podem ser cientificamente demonstrados.
Porém, Kant expressou a necessidade da crença em Deus e nos conceitos
de liberdade e imortalidade em sua filosofia moral. De acordo com Kant, a existência
da moralidade depende exclusivamente da existência de Deus, da liberdade
e imortalidade.

Classificação do Pensamento

Kant dividiu o conhecimento humano em duas categorias: proposições
analíticas e sintéticas.

Uma proposição analítica é aquela em que o predicado
está contido no sujeito, como no enunciado “nenhum dos solteiros
é casado”. A verdade deste enunciado é evidente, está
presente no conceito e é descoberta simplesmente ao analisar os termos
concedidos sem a necessidade de experiências avançadas. Por exemplo:
“nenhum dos solteiros é casado” é uma verdade seja
qual for nossa experiência, porque o significado de “não
ser casado” já está presente no termo “solteiro”.

Kant acreditava principalmente em um conhecimento prévio, a priori,
que é conquistado sem a necessidade da experiência. Um exemplo
de uma proposição a priori é “dois mais dois é
igual a quatro”. Entendemos esse conceito sem termos que fisicamente colocar
dois e dois juntos. Kant destacou a importância do conhecimento a priori,
afirmando ser ele uma parte essencial do conhecimento que não pode ser
adquirido diretamente pela experiência.

Além da proposição analítica, Kant apresentou o
conceito de proposição sintética. A proposição
sintética não pode ser alcançada por meio de simples análise:
ela exige experiência. Um exemplo desse conceito evidencia-se na frase
“a garota é loira”. Para sabermos se a garota é realmente
loira, é necessário uma experiência, pois não podemos
ter certeza dessa afirmação sem antes vê-la.

Através dessas afirmações, Kant tentou explicar a estrutura
do conhecimento. A partir de Kant, originaram-se diversas discussões
sobre a existência de um conhecimento a priori. As definições
de conhecimento de Kant tiveram uma importância fundamental no estudo
da Filosofia.

Moral e Ética

A filosofia moral de Kant afirma que a base para toda razão moral é
a capacidade do homem de agir racionalmente. O fundamento para esta lei de Kant
é a crença de que uma pessoa deve comportar-se de forma igual
a que ela esperaria que outra pessoa se comportasse na mesma situação,
tornando assim seu próprio comportamento uma lei universal. Um exemplo
disso:

Motoristas podem estacionar seus veículos
em fila dupla apenas em casos de emergência (por exemplo, com o propósito
de resgatar uma pessoa). De acordo com a filosofia moral de Kant, essa lei
deve-se aplicar a toda e qualquer pessoa que se encontre nessa mesma situação.
Isto significa que ninguém pode estacionar em fila dupla por motivo
de preguiça ou porque não encontrou uma vaga livre. Pois se
todas as pessoas estacionassem em fila dupla, e isso se tornasse uma lei
universal, o trânsito ficaria confuso e a cidade viraria um caos.

Portanto, só é permitido estacionar em
fila dupla em casos de emergência. As exceções a essa
regra – os casos de emergência – ocorreriam em situações
nas quais todas as pessoas estacionariam em fila dupla e/ou considerariam
justificável o fato de outros terem feito isso.

A situação descrita acima exemplifica a lei moral de Kant que
afirma que uma pessoa deve agir numa situação da mesma forma que
espera que todas as outras pessoas ajam.

A lei moral de Kant é baseada na idéia de que os seres humanos
são racionais e independentes. Em sua obra, Metafísicas da
Ética
(1797), Kant propõe que a razão humana é
a base da moralidade. Segundo Kant, toda ação deve ser tomada
com um senso de responsabilidade ditado pela razão.

Kant também afirmou que nenhuma ação baseada apenas na
obediência da lei deve ser considerada como moral. A história comprovou
esse conceito. Por exemplo: durante a Segunda Guerra Mundial, as pessoas que
obedeciam à lei nazista e seguiram as leis nazi-fascistas não
agiram humana e eticamente. Matar e torturar seres humanos inocentes nunca são
atos morais, mesmo que a lei de um país permita ou até encoraje
isso.

Frases de Immanuel Kant

“A educação é o desenvolvimento
no homem de toda a perfeição de que sua natureza é
capaz.”
“O mesmo acontece ao mérito e à inocência:
perde-se, desde que deles nos sustentemos.”
“A educação é o maior
e mais difícil problema imposto ao homem.”
“Você é livre no momento em que não busca
fora de si mesmo alguém para resolver os seus problemas.”
“O direito é a coação
universal que protege a liberdade de todos.”
“As qualidades sublimes infundem respeito; as belas amor.”
“A missão suprema do homem é
saber o que precisa para ser homem.”
“O desejo é a autodeterminação do poder
duma pessoa pela imaginação dum fato futuro, que seria o efeito
desse poder.”
“Belo, é tudo quanto agrada desinteressadamente.”
“O sonho é uma arte poética involuntária.”
“Só há uma religião
verdadeira, mas podem haver muitas espécies de fé.”
“Nas trevas a imaginação trabalha mais ativamente
do que em plena luz.”
“Dormia e sonhava que a vida era bela;
acordei e adverti que a vida era dever.”
“Não há virtude tão forte que esteja
a salvo da tentação.”
“A mulher, com o casamento, adquire a liberdade
– o homem perde-a.”
“Pensamentos sem conteúdos são vazios; intuições
sem conceitos são cegas.”

Créditos parciais: Rubem Queiroz Cobra, Doutor em Geologia
e bacharel em Filosofia

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