Home Vestibular Aquecimento global – Entenda o que é o IPCC

Aquecimento global – Entenda o que é o IPCC

by Lucas Gomes


Horizonte chinês, com as cores
do sol modificadas pelo ar local

Ao longo de 2007, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) se tornou uma das
referências mais citadas nas discussões sobre mudança climática. O órgão da Organização das Nações Unidas
(ONU) divulgou quatro capítulos que, juntos, formam um relatório completo sobre o aquecimento global hoje.

O documento gerou tanta repercussão que, no fim do ano, o comitê de premiação do Nobel decidiu dedicar o
honroso Prêmio Nobel da Paz ao IPCC – junto com o ex-vice-presidente americano Al Gore –, por seu trabalho
de conscientização da comunidade e dos líderes internacionais para o problema e as conseqüências da
mudança climática.

Entenda algumas das principais questões envolvendo o IPCC e suas descobertas:

O que é o IPCC?

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) é um órgão composto por
delegações de 130 governos para prover avaliações regulares sobre a mudança climática. Nasceu em 1988, da
percepção de que a ação humana poderia estar exercendo uma forte influência sobre o clima do planeta e que
é necessário acompanhar esse processo.

Desde então, o IPCC tem publicado diversos documentos e pareceres técnicos. O primeiro Relatório de
Avaliação sobre o Meio Ambiente (Assessment Report, ou simplesmente AR) foi publicado em 1990 e reuniu
argumentos em favor da criação da Convenção do Quadro das Nações Unidas para Mudanças do Clima (em inglês,
UNFCC), a instância em que os governo negociam políticas referentes à mudança climática.

O segundo relatório do IPCC foi publicado em 1995 e acrescentou ainda mais elementos às discussões que
resultaram na adoção do Protocolo de Kyoto dois anos depois, graças ao trabalho da UNFCC. O terceiro
relatório do IPCC foi publicado em 2001. Em 2007, o grupo está publicando seu quarto grande relatório.

Desde o primeiro relatório, e isso foi válido também para 2007, o trabalho do IPCC é publicado em quatro
etapas e é produzido por três grupos de trabalho.

O primeiro grupo é responsável pelo primeiro capítulo, que reúne evidências científicas de que a mudança
climática se deve à ação do homem (neste ano, foi publicado em fevereiro); o segundo trata das
conseqüências da mudança climática para o meio ambiente e para a saúde humana (o deste ano, foi publicado
em abril); e o terceiro estuda maneiras de combater a mudança climática e prover alternativas de adaptação
das populações (publicado em maio). Um quarto capítulo sintetiza as conclusões dos anteriores (publicado
em novembro).

É importante notar que o IPCC não realiza pesquisas científicas, mas avalia as investigações existentes.
Os diversos governos envolvidos recebem rascunhos dos estudos com meses de antecedência, para que façam
comentários, sugiram mudanças ou aportem novos dados aos textos.

Por que só agora o IPCC gerou tanta repercussão?

Desde a criação do grupo, neste ano, pela primeira vez, os cientistas reunidos no IPCC demonstraram tanta
confiança em que a mudança climática se deve à ação humana, sobretudo através da emissão de gases como o
dióxido de carbono (CO2), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4), que causam o efeito estufa.

Por falta de dados, o IPCC ainda não pode dar esta suposição como certa. Mas os estudos publicados e
analisados permitiram ao órgão qualificá-la como “muito provável” (ou seja, com mais de 90% de certeza).
No relatório de 2001, o IPCC considerou essa hipótese apenas como “provável” (com mais de 66% de certeza).

O IPCC concluiu ainda que a ação humana é provavelmente a maior responsável pelo aquecimento global nos
últimos 50 anos, e que os efeitos desta influência se estendem a outros aspectos do clima, como elevação
da temperatura dos oceanos, variações extremas de temperatura e até padrões dos ventos.

Que outras conclusões importantes tirou o IPCC?

O IPCC estima que até o fim deste século a temperatura da Terra deve subir entre 1,8ºC e 4ºC, o que
aumentaria a intensidade de tufões e secas. Nesse cenário, um terço das espécies do planeta estaria
ameaçada. Populações estariam mais vulneráveis a doenças e desnutrição.

O grupo também calcula que o derretimento das camadas polares pode fazer com que os oceanos se elevem
entre 18 cm e 58 cm até 2100, fazendo desaparecer pequenas ilhas e obrigando centenas de milhares de
pessoas a engrossar o fluxo dos chamados “refugiados ambientais” – pessoas que são obrigadas a deixar o
local onde vivem em conseqüência da piora do meio ambiente.


Os Alpes antes e agora: aquecimento é ‘fato’, diz IPCC

A estimativa do IPCC é de que mais de 1 bilhão de pessoas poderia ficar sem água potável por conta do
derretimento do gelo no topo de cordilheiras importantes, como o Himalaia e os Andes.

Essas cordilheiras geladas servem como ‘depósitos naturais’ que armazenam a água da chuva e a liberam
gradualmente, garantindo um abastecimento constante dos rios que sustentam populações ribeirinhas.

Para o IPCC, os países poderiam diminuir os efeitos maléficos do aquecimento global estabilizando em um
patamar razoável as emissões de carbono até 2030 – e isto custaria 3% do PIB mundial.

Há partes sobre o Brasil nos relatórios do IPCC?

Em seu segundo relatório, o IPCC alerta que partes da Amazônia podem virar savana. Em entrevistas com
jornalistas, cientistas disseram que entre 10% e 25% da floresta poderia desaparecer até 2080. O órgão
concluiu que existe uma possibilidade de 50% de que a maior floresta tropical do mundo se transforme
parcialmente em cerrado.

Há riscos também para o Nordeste brasileiro, que poderia ver, no pior cenário, até 75% de suas fontes de
água desaparecerem até 2050. Os manguezais também seriam afetados pela elevação do nível da água.

Entretanto, o IPCC tem sublinhado a falta de dados patente em países emergentes e menos desenvolvidos.
Como resultado, as conclusões do grupo são menos incisivas nas chamadas “questões regionais”.

As conclusões do IPCC sofrem influência política?

O IPCC procura manter seu perfil cientifico, mas sofre pressões políticas. Não tanto nos capítulos
científicos, mas principalmente em resumos destinados aos formuladores de políticas públicas, divulgados
junto com os pareceres.

Países como os Estados Unidos e a China, que estão entre os maiores poluidores do mundo, em geral exercem
influência para apresentar a sua versão sobre os problemas e conclusões sobre o aquecimento. Como estes
documentos também são revisados pelos governos, a síntese é, antes de tudo, um retrato do que todos os
países, indistintamente, concordam.

Alguns pesquisadores do IPCC condenam este tipo de influência, mas muitos consideram legítimos os lobbies
nacionais, desde que eles sejam defendidos pelos diplomatas dos governos, e não pelos cientistas.

Até que ponto o relatório do IPCC pode ter implicações políticas?

É difícil medir o impacto político efetivo do relatório e do processo. O que é possível afirmar é que a
repercussão das conclusões do IPCC e a ampla cobertura que a mídia em todo o mundo tem dado ao assunto,
especialmente por causa do trabalho do grupo, colocou definitivamente a mudança climática entre as grandes
questões mundiais e um dosprinciapis temas da agenda política em diversos países.

Espera-se também que o relatório de 2007 reforce a necessidade de compromissos internacionais práticos
para combater a mudança climática, da mesma maneira que o terceiro relatório do IPCC, publicado em 1995,
desembocou no Protocolo de Kyoto, de 1997.

Em 2007, a quarta avaliação do IPCC é concluída menos de um mês antes de uma reunião da UNFCC. A
pesquisadora brasileira Thelma Krug, que coordena um dos grupos de trabalho do IPCC, disse que discursos
que não citem as conclusões do IPCC serão “exceção” no encontro, que ocorrerá em Bali, na Indonésia, e
deverá definir ações globais que deverão ser tomadas depois que o protocolo de Kyoto chegar ao fim, em
2012.

Fonte: BBC Brasil

Posts Relacionados