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Política Internacional – Hugo Chávez, 10 anos no poder

by Lucas Gomes


Hugo Chávez, 10 anos no poder

Há dez anos, cerca de 4,8 milhões de venezuelanos viviam em situação
de pobreza e a saúde e a educação eram um privilégio.

Desde que o presidente Hugo Chávez assumiu o governo, a área
social passou a ser prioritária em sua gestão, que contou com
o incremento dos preços do petróleo para o financiamento dos projetos
sociais.

Até mesmo os críticos da política econômica do governo,
cuja estrutura continua dependente fundamentalmente da exploração
petrolífera, concordam que as condições de vida dos venezuelanos
melhoraram sob a administração chavista. “Os setores sociais
antes marginalizados e excluídos, realmente saíram da pobreza
crítica, estão melhor, ninguém pode negar isso. Os que
não comiam nem o suficiente, agora estão comendo”, afirmou
Domingo Maza Zavala, ex-diretor do Banco Central da Venezuela (BCV).

De acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas, em 1999, 20,1% dos
venezuelanos viviam na extrema pobreza. Em 2007, o índice havia caído
para 9,5%. O número de pobres total no início do governo era de
50,5 % – mais de 11 milhões de venezuelanos. Esse número caiu
para 31,5%. De um universo de 26,4 milhões de pessoas, 18,8% dos venezuelanos
saíram da linha da pobreza (cálculo realizado com base nos dados
oficiais).

Para o historiador norte-americano Steve Ellner, professor da Universidade
dos Andes, no Estado de Mérida (Venezuela), entre apostar no desenvolvimento
econômico e na industrialização do país ou investir
no setor social, Chávez privilegiou o segundo na divisão da renda
obtida com o petróleo. “No curto prazo, programas de desenvolvimento
econômico teriam dado resultados mais rápidos, mas a prioridade
era o social”, afirmou.

O relatório da Cepal de 2008, que aponta a diminuição
da pobreza na América Latina, indica que os programas sociais foram os
responsáveis pela queda no número de pobres na Venezuela.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2007 pela empresa Datanálisis,
nos últimos oito anos o consumo das classes E e D havia aumentado em
22%, impulsionado pelo incremento do salário mínimo (que subiu
de US$ 47 em 1999 para US$ 371) e pela ajuda financeira que provém dos
programas sociais.

Com exceção dos programas relacionados com a saúde, os
beneficiários das “missões” (nome dado por Chávez
aos programas sociais) recebem uma ajuda média de US$ 100. “Parte
dos recursos obtidos com o petróleo foi distribuída por meio desses
programas”, afirmou o ex-diretor do BCV Maza Zavala.

“Missões”


Troca de petróleo por médicos cubanos faz
parte das ‘missões
bairro adentro’

O “Bairro Adentro” foi um programa social implementado pelo governo
em 2003. Esta “missão”, que presta atendimento médico
básico e familiar nas periferias do país, inaugurou o projeto
de cooperação Cuba-Venezuela, que hoje está presente nas
áreas de saúde, educação e esporte.

Os programais sociais são financiados com a receita excedente do petróleo
e contam com estrutura e dinâmicas próprias, que obedecem fundamentalmente
às diretrizes da Presidência da República, sem passar pelo
filtro dos ministérios.

No entendimento do governo, a estrutura burocrática governamental impediria
que os projetos alcançassem, com a velocidade que a conjuntura política
exigia, um número considerável da população pobre,
que foi e continua sendo a base de apoio do chavismo. “Quando o governo
teve que enfrentar a ameaça de perder o referendo (revogatório
realizado em 2004), tirou quase que da manga o programa ‘Bairro Adentro ‘, que
teve um impacto extraordinário”, afirmou à BBC Brasil o
sociólogo Edgardo Lander, da Universidade Central da Venezuela. “Agora,
as pessoas têm um médico a duas quadras de casa no caso de uma
emergência, é uma mudança significativa na qualidade de
vida das pessoas”, acrescentou.

Lander explica que a crise da saúde pública no país no
período anterior a Chávez estava associada a dois fatores principais:
a privatização do sistema e a resistência dos profissionais
em atuar no setor público, desmantelado nas décadas anteriores,
de acordo com o sociólogo. Agora, as pessoas têm um médico
a duas quadras de casa no caso de uma emergência, é uma mudança
significativa na qualidade de vida.

“Para esses médicos, ir a um bairro pobre era o mesmo
que ir a uma zona de guerra. Era algo completamente alheio à sua
realidade”. Edgardo Lander, sociólogo

Organização

Magaly Perez é coordenadora de um Comitê de Saúde no bairro
periférico de 23 de Enero, em Caracas.

Os comitês reúnem voluntários da vizinhança onde
está instalado o programa “Bairro Adentro”, que diagnosticam
os problemas de saúde do local e auxiliam na atuação dos
médicos cubanos.

Perez conta que o trabalho de censo da população do bairro fez
com que esses voluntários “tomassem consciência da organização
comunitária e da importância de participar para transformar nossa
realidade”.

De acordo com os moradores do bairro, antes, a única alternativa para
a população de baixa renda era enfrentar horas de fila em hospitais
para receber algum tipo de atenção.

“Antes, morriam pessoas aqui porque não tínhamos assistência
médica adequada. Isso mudou com a revolução”, afirmou
Magaly Perez à BBC Brasil, enquanto anotava a lista dos idosos que participariam
do exercício matinal realizado três vezes por semana com o auxílio
de um técnico cubano. “Os cubanos trabalham dia e noite, mas os
médicos venezuelanos não, eles são capitalistas e o povo
deu as costas a ele. Eles não sobem o morro para socorrer ninguém”,
afirmou.

“Antes, morriam pessoas aqui porque não tínhamos
assistência médica adequada. Isso mudou com a revolução”.
Magaly Perez

Em 1998, havia 1,6 mil médicos atuando no atendimento primário
de uma população de 23,4 milhões de pessoas. Atualmente
há 19,6 mil para uma população de 7 milhões. Deste
total, 14 mil profissionais são cubanos, entre médicos, enfermeiras
e técnicos em saúde.

A disputa entre os médicos venezuelanos – que alegam falta de condições
e segurança para atuar nas periferias e hospitais públicos –
e o governo – que argumenta que o problema é de natureza política
– levou a administração chavista a criar um sistema de saúde
paralelo, com a ampliação do “Bairro Adentro” em pequenas
clínicas especializadas.

O resultado da disputa, de acordo com Lander, foi o abandono ainda maior da
rede de hospitais públicos. “A rede hospitalar foi abandonada na
parte de insumos e atendimentos, os hospitais sofreram um deterioramento grande”,
afirmou.

A quantidade de novas clínicas do “Bairro Adentro”, porém,
ainda é insuficiente para atender a toda a população, de
acordo com a organização não-governamental PROVEA.

Política

Na mesa da sala de espera do pequeno consultório no bairro de 23 de
Enero havia um abaixo assinado em apoio à emenda constitucional que irá
a referendo em 15 de fevereiro, cuja eventual aprovação colocará
fim ao limite para a reeleição aos cargos públicos, entre
eles, a Presidência.

Uma das senhoras que aguardavam atendimento se antecipou em dar uma explicação:
“A saúde aqui não tem ideologia política, muitos que
vêm aqui não apóiam o comandante (Chávez), mas, mesmo
assim, são beneficiados”, afirmou Josefina Rodriguez, de 70 anos.

De acordo com o Ministério da Saúde, a mortalidade infantil também
foi combatida na última década, ao passar de 21,4 por cada mil
nascidos, em 1998, para 13,7 em 2007. No Brasil, em 2007, o índice era
de 24,32 por cada mil nascimentos.

O “Bairro Adentro” serviu de modelo para as outras “missões”,
que abrangem as áreas de educação básica, superior
e profissionalizante, de auxílio às mães solteiras, de
subsídio alimentar, entre outras.

Em 2005, na metade do governo Chávez, o Ministério de Educação
declarou o país “livre de analfabetismo” com a aplicação
do método cubano “Yo sí puedo”, metodologia aplicada
recentemente na Bolívia e em algumas áreas do nordeste do Brasil.

De acordo com o governo, 1,6 milhão de adultos foram alfabetizados no
período de dois anos. Ainda segundo o governo, 3,4 milhões de
pessoas foram graduadas nas “missões” educativas.

Institucionalização

Julio Borges, dirigente do partido de oposição Primeiro Justiça
(centro-direita) reconhece que durante o governo Chávez “houve
um despertar social muito importante, principalmente entre os mais pobres, com
a participação” das pessoas envolvidas com o projeto chavista.

Borges, porém, questiona se a estrutura criada para manter as missões
poderá ser mantida ao longo do tempo. “É um problema estrutural.
As pessoas estão contentes com Chávez porque estão se afogando
no mar e as missões são um colete salva-vidas. Mas a pergunta
é se um dia elas vão sair do mar”, afirmou.

Para a oposição, analistas e inclusive alguns chavistas, a falta
de institucionalização nos programas sociais abre o precedente
para a corrupção, já que não há um sistema
de controle que regule essas atividades e o manejo dos recursos públicos.

“As pessoas estão contentes com Chávez porque
estão se afogando no mar e as missões são um colete
salva-vidas. Mas a pergunta é se um dia elas vão sair do
mar”. Julio Borges, dirigente do partido Primeiro Justiça

Em 2008, o orçamento anunciado para as missões foi de US$ 2,6
bilhões.

O sociólogo Edgardo Lander avalia que, passado o período de “emergência”
para a criação dos programas sociais, o governo deveria institucionalizá-los.
“As pessoas não podem viver neste estado de emergência permanentemente
e não pode haver essa espécie de militância na gestão
pública”, afirmou.

Dívida

A insegurança continua sendo a principal dívida social do governo,
na avaliação de especialistas. A violência é a principal
preocupação dos venezuelanos, de acordo com uma pesquisa da empresa
Hinterlaces.

De acordo com um levantamento do Centro para a Paz e Direitos Humanos da Universidade
Central da Venezuela, publicado no relatório da ONG Provea de 2007, em
1998, o índice de homicídios era de 25 por 100 mil habitantes.

Em nove anos o número subiu para uma média de 45 mortos por 100
mil pessoas em 2007, com cerca de 13 mil assassinatos no mesmo período.

“Em um governo que pretende impulsionar a democratização
da sociedade e favorecer os setores populares, nos damos conta de que são
justamente eles os que mais sofrem as conseqüências da insegurança”,
afirmou Edgardo Lander. “O governo pensa que o problema da segurança
é somente estrutural no âmbito da educação e da cultura”,
acrescentou.

“Em um governo que pretende favorecer os setores populares,
nos damos conta de que são justamente eles os que mais sofrem as
conseqüências da insegurança”. Edgardo Lander,
sociólogo

O ministro de Relações Exteriores, Nicolas Maduro, ex-presidente
do Congresso, admite que um dos principais desafios do governo é combater
a criminalidade, sem apontar no entanto, soluções para o problema.
“É muito grave que em um país no qual se pretende construir
a paz e estabilidade existam esses fenômenos, talvez seja um dos grandes
desafios para a próxima década”, afirmou.

VENEZUELA ENFRENTA DESAFIO DE REDUZIR DEPENDÊNCIA DO PETRÓLEO

 


Há uma década, o país que é o 5º exportador
mundial de petróleo

Quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, abriu a sessão
da bolsa de valores de Nova York em 1999, a crítica feroz ao capitalismo,
presente em seus discursos dos últimos anos, passava longe do vocabulário
do mandatário.

Essa história mudou. Chávez, que hoje defende a implementação
de um modelo socialista no país, admite que no início de seu governo
havia um momento de “indefinições”. “Hoje não
tenho dúvidas, esse é o caminho (…) o impulso dessa revolução
já está dado, o que temos que dar é boa direção
rumo ao socialismo bolivariano”, afirmou o mandatário em recente
entrevista concedida a um canal de TV local, ao avaliar seus dez anos na Presidência.

No entendimento do governo, a consolidação do socialismo deveria
passar pela recuperação do papel do Estado na economia, em uma
tentativa de inverter a doutrina liberal aplicada nas décadas anteriores,
de acordo com a avaliação da historiadora Margarita López
Maya, da Universidade Central da Venezuela. Agora estamos outra vez em um processo
de centralização do Estado na regulação de todos
os âmbitos da vida nacional”, afirmou.

Nacionalizações

Para recuperar o papel do Estado na economia o governo adotou como medida a
re-estatização dos setores considerados estratégicos. Foram
re-estatizadas as companhias de telecomunicações e de eletricidade,
a Faixa Petrolífera do rio Orinoco (que em 2010 poderá ser certificada
como a maior reserva petrolífera do mundo), a maior indústria
siderúrgica do país e três empresas de cimento.

Para o economista Andrés Santeliz, professor da Universidade Central
da Venezuela (UCV), com exceção do setor petrolífero, peça-chave
da economia venezuelana, a medida não ataca o principal problema econômico
do país, que a seu ver é o incremento da produção.
“Os recursos gastos nas re-estatizações seriam mais bem aproveitados
se fossem aplicados em outras áreas de produção, para desenvolver
infra-estruturas e moradias, por exemplo”, afirmou.

Estima-se que o governo tenha investido cerca de US$ 6 bilhões em estatizações.

Diversificação da economia

Há uma década, quando Chávez assumiu o poder no país
que é o quinto exportador mundial de petróleo, os principais desafios
apontados pela sua equipe econômica eram tirar a Venezuela da recessão
dos últimos anos e tornar a economia menos dependente do combustível.
A promessa era “propiciar uma reativação econômica
sobre bases sólidas e permanentes”, diz o Programa Econômico
de Transição 1999-2000.

A primeira tarefa o governo cumpriu. A economia se recuperou depois de enfrentar
períodos de instabilidade política. O mais grave deles culminou
em um fracassado golpe de Estado em 2002. Além disso, a Venezuela enfrentou
uma greve do setor petrolífero entre 2002 e 2003, o que levou o país
a uma recessão econômica com perda de 24% do PIB. A partir do terceiro
trimestre de 2003 até o segundo trimestre de 2008, a economia Venezuela
foi uma das que mais cresceram na América Latina, com uma média
de 11,2%, números “sem precedentes na história” afirma
o ex-diretor do Banco Central da Venezuela, Domingo Maza Zavala.

De acordo com relatório do BC divulgado ano passado, o crescimento é
fruto indireto da bonança do setor petroleiro, e teria sido “estimulado
pelo aumento de investimentos e o consumo” e também “pelo nível
do gasto público associado à extensão dos programas sociais
do governo”. O gasto público que era de US$ 12 bilhões em
1998 saltou para US$ 140 bilhões em 2007, de acordo com dados da entidade
financeira.

Mais dependência

O segundo e maior desafio, porém, que é reduzir o modelo de dependência
do petróleo, a partir da diversificação da economia, continua.
Na opinião do economista Enzo Del Búfalo, na última década
essa transição se tornou ainda mais difícil. Quando Chávez
assumiu o poder, o preço do barril do petróleo era cotado em US$
7. Com o aumento da demanda mundial e a guerra no Iraque, aliadas a políticas
de ajuste da Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep), o preço do barril disparou, chegando a US$ 147 em julho de 2008.

“Todo esse auge petroleiro não se traduziu no mais importante para
a economia que são os investimentos”, afirmou o economista. “O
modelo rentista petroleiro longe de ser eliminado se acentuou nesses dez anos”,
acrescentou.

Atualmente, 94% das exportações são de origem petroleira.
Para Del Búfalo, o governo não investiu no campo produtivo e a
“tendência à desindustrialização” iniciada
na década de 90 teria sido incrementada neste período.

De acordo com Confederação Venezuelana de Indústrias,
o setor foi o que menos cresceu na última década em relação
aos demais setores como o comércio, manufaturas e financeiro, com uma
queda de 44% das atividades sob a atual gestão.

Disputa política

Na avaliação de Del Búfalo, as dificuldades em estabelecer
um projeto de desenvolvimento também estão relacionadas com a
disputa política entre governo e o setor privado. O divórcio entre
o governo e o setor empresarial teve início na crise política
de 2002-2003, quando logo depois do golpe a federação de empresários
Fedecamaras implementou, aliada à direção da estatal PDVSA,
um boicote que tinha como objetivo derrocar o presidente venezuelano.

Uma das conseqüências dessa disputa, na opinião de Domingo
Maza Zavala, ex-diretor do BC, é que “não há coordenação
entre o setor público e privado, o que há é enfrentamento
e ameaças de expropriação, de confisco das empresas (por
parte do governo)”, afirmou Maza Zavala.

O ministro de Relações Exteriores, Nicolas Maduro, um dos homens
do “núcleo duro” do governo, responsabilizou, por sua vez,
a “elite empresarial” pelas dificuldades de estabelecer um plano comum
de produção voltado ao desenvolvimento do país. “Nós
temos uma burguesia parasitária, ‘Miameira’, dependente da visão
comercial dos Estados Unidos. Ainda não temos uma burguesia nacional
como existe no Brasil”, afirmou.

Controle de câmbio

Na avaliação do economista Mark Weisbrot, co-diretor do Centro
de Pesquisas de Política Econômica (CEPR, na sigla em inglês)
de Washington, um dos principais problemas da economia venezuelana é
o controle de câmbio, implementado em 2003. Com o bolívar cotado
a US$ 2,15, ao mesmo tempo que o governo conseguiu conter a fuga de capitais
no período de instabilidade política, o controle cambial trouxe
como consequência uma supervalorização da moeda, um dos
fatores que na opinião de Weisbrot impedem a diversificação
da economia.

“O controle de câmbio faz com que as importações sejam
artificialmente mais baratas e que as exportações não petroleiras
sejam muito caras, colocando os bens comerciais venezuelanos em uma situação
de desvantagem tanto no mercado internacional como no mercado interno”,
afirmou. “Isso dificulta a diversificação da economia e a
possibilidade de romper com a dependência do petróleo, porque para
isso é necessário uma taxa de câmbio mais competitiva”,
acrescentou.

Na prática, para o governo é mais barato importar que produzir,
lógica que foi incrementada para suprir o déficit na oferta de
alimentos e de outros bens e serviços ocasionados pelo aumento da demanda
dos últimos anos.

Impulsionado pelo crescimento da economia, de 1998 a 2007 o consumo dos venezuelanos
se incrementou em 18,7%, de acordo com o ministério de Finanças.

Crise financeira

Com o fim do boom petroleiro ocasionado pelo fim da crise financeira internacional,
os especialistas afirmam que o governo terá que reajustar o orçamento,
cuja base foi calculada com o preço do barril a US$60, e reduzir o gasto
público. “Quando cair o gasto público, cairá a sustentação
da demanda e por consequência a atividade econômica”, afirma
o ex-diretor do BC Maza Zavala.

Weisbrot acredita que o remédio para enfrentar a crise não é
a retração do gasto, e sim mais investimentos. Para isso, o governo
terá de criar um pacote de estímulos fiscais para reativar a economia.
A longo prazo, o economista avalia que o governo terá de definir “uma
estratégia clara de desenvolvimento” que inclua a indústria,
o setor de tecnologia e a agricultura.

A desvalorização da moeda, defendida por alguns economistas,
poderia ser uma receita amarga, advertem outros. Ao mesmo tempo que a medida
tornaria o Bolívar mais barato e incentivaria o produção
nacional, teria como conseqüência imediata o incremento da inflação,
que só em 2008 registrou alta de 30%, com uma média na última
década de 20,4%.

PARA ANALISTAS, ERROS DA OPOSIÇÃO FORTALECERAM CHÁVEZ

 


Chávez conta com enorme apoio popular na Venezuela

Além dos altos índices de popularidade, do controle sobre as
Forças Armadas e da bonança do petróleo, o presidente da
Venezuela Hugo Chávez contou com um elemento fundamental que colaborou
para fortalecer seu poder ao longo da última década no país:
o conjunto dos erros da oposição.
Na avaliação de analistas e políticos ouvidos pela BBC
Brasil a tentativa, a qualquer preço, de derrubar o presidente e tirar
a legitimidade de seu governo, aliada à divisão e a incapacidade
desse grupo de propor um projeto alternativo ao chavismo, contribuíram
para a consolidação da chamada revolução bolivariana.

O fracassado golpe de Estado, em abril de 2002, que chegou a afastar Chávez
do poder por 48 horas, foi o primeiro e o principal erro da oposição
na avaliação de Julio Borges, da direção do partido
opositor Primeiro Justiça (PJ) de centro-direita. “O erro foi pensar
que era preciso tirar Chávez do Palácio de Miraflores (sede do
governo) quando o que tínhamos de ter feito era tirá-lo do coração
das pessoas”, afirmou.

Borges argumenta que a oposição ainda batalha para recuperar
a confiança perdida junto à população no período
de crise política no país. “Ainda estamos pagando (pelo erro)
porque ao final o que se produziu é que o país viu durante muitos
anos que de um lado estava Chávez e o povo e do outro lado estava a oposição”,
acrescentou.

O golpe levou milhares de simpatizantes do presidente, provenientes fundamentalmente
dos bairros pobres, a tomarem as ruas para exigir o regresso do mandatário
ao Palácio de governo, episódio que fortaleceu o presidente.

A partir de então a polarização tomou conta da sociedade
venezuelana e permitiu que a tese de que a disputa política na Venezuela
também se tratava de uma batalha entre pobres (chavistas) e ricos (anti-chavistas)
se fortalecesse.

Greve petroleira

Diferente da situação atual, em 2002, os partidos políticos
eram um grupo minoritário na corrente opositora ao governo. Empresários,
a cúpula da Igreja Católica e os meios de comunicação
privados eram os grupos com maior poder de decisão. “Todos eles
tinham mais credibilidade do que os partidos políticos, porém,
esses são setores que não foram feitos para negociar e sim para
impor o seu ponto de vista”, afirmou a historiadora Margarita López
Maya, da Universidade Central da Venezuela.

Meses depois do golpe, a oposição organizou um locaute liderado
pela federação de empresários Fedecamaras e pela direção
da PDVSA, estatal petroleira responsável por 94% das divisas que ingressam
ao país.

A medida, que tinha como objetivo levar à renúncia o presidente,
afundou o país em uma crise econômica, com uma perda de 24% do
Produto Interno Bruto (PIB) e de desabastecimento de alimentos e combustível.
“A teoria era de que não há governo na Venezuela que resista
a três dias de greve petroleira. Chávez agüentou 62 dias (de
locaute) e a greve morreu sozinha”, afirmou o diretor do diário
opositor Tal Cual, Teodoro Petkoff, ex-assessor de campanha do candidato presidencial
Manuel Rosales.

Depois da greve, Chávez demitiu 18 mil funcionários da PDVSA
e estabeleceu pleno controle da principal indústria do país, hoje
um dos pilares de sustentação de seu governo.

Derrotas

Em 2004, a oposição acumulou mais uma derrota. Agrupados na organização
civil Coordenadora Democrática, os opositores recolheram assinaturas
e conseguiram submeter o mandato presidencial a referendo revogatório,
em mais uma tentativa de encurtar o período de Chávez no poder.
Foi o auge da polarização entre chavistas e anti-chavistas.

Chávez saiu vitorioso das urnas com 58,25% dos votos. Os opositores,
porém, não acataram os resultados e acusaram o governo de ter
manipulado a votação.

Teodoro Petkoff considera que, ao denunciar a fraude sem poder demonstrá-la,
a oposição desqualificou a via eleitoral como alternativa à
Chávez e desmobilizou seus eleitores para as eleições de
governadores e prefeitos que ocorreram poucos meses depois. “A abstenção
nas eleições regionais foi tão grande que entregou de graça
o controle do país a Chávez, sem oposição”,
afirmou. Na ocasião, os aliados do governo conquistaram 21 governos estaduais
dos 23 em disputa.

A perda do espaço da oposição no Legislativo foi similar.
Em 2005, buscando tirar a legitimidade da disputa para a eleição
do novo Parlamento, os partidos opositores decidiram não participar do
pleito, alegando que o sistema eleitoral era fraudulento. Até as eleições,
a oposição controlava 45% das cadeiras na Assembléia Nacional.

A oposição “pensava que se as pessoas não participassem,
o governo se deslegitimaria e perderia apoio popular, mas ao final quem perdeu
credibilidade foi a própria oposição”, afirmou Julio
Borges (PJ).

Sem espaços institucionais para disputar politicamente com o chavismo,
as ações da oposição de caráter público
tiveram que limitar-se a manifestações de rua, em protestos que
acabaram sendo ignorados pelo Executivo.

Nova oposição

A resistência da oposição à disputa eleitoral passou
a mudar a partir de 2006, quando o candidato Manuel Rosales participou da eleição
presidencial e aceitou a vitória – e reeleição – do presidente
venezuelano com mais de 61% dos votos. “Se marcou uma estratégia
que admitia a democracia como caminho e o processo eleitoral como saída
(para derrotar o chavismo)”, afirmou Teodoro Petkoff, que assessorou Rosales
durante a campanha eleitoral.

Mas foi a derrota do chavismo no referendo da reforma constitucional de 2007,
porém, que deu novo fôlego à oposição, que
passou a acreditar, ainda que com uma vitória apertada no pleito, que
era possível vencer nas urnas. “Pela primeira vez se ganhou uma
de Chávez”, disse Petkoff.

Os opositores do governo ganharam novos adeptos durante a campanha para modificar
a Carta Magna. Primeiro o partido Podemos (social-democrata), que deixou a base
governista e se aliou à oposição.

A outra ruptura veio com a saída do ex-ministro de Defesa Raul Isaías
Baduel. O general, até então visto como um dos “heróis”
que garantiram o regresso de Chávez ao poder durante o golpe, criticou
o que chamou de “projeto autoritário” de Chávez e rompeu
com o governo. Mas, diferente do que previam alguns analistas, Baduel tampouco
foi aceito pela oposição.

“Em muitos casos os ataques contra mim provém mais da oposição
do que do próprio governo”, afirmou. Baduel defendeu a realização
de uma nova Assembléia Constituinte para modificar a Constituição
de 1999, proposta que não foi acolhida, até agora, pelos demais
opositores.

Recuperação


Manuel Rosales se consolidou como
governador de Zulia

Embalados com a vitória no referendo da reforma constitucional, os representantes
anti-chavistas de maior peso conseguiram em alguns casos recuperar e, em outros,
consolidar espaços de poder, nas eleições regionais realizadas
em novembro do ano passado.

A vitória da oposição em cinco Estados e também
da prefeitura da grande Caracas marcou uma mudança de atitude dos partidos
opositores, inclusive da ala mais radical. “Foi a primeira vez nos últimos
anos em que nenhum grupo opositor fez campanha pela abstenção”,
afirmou Julio Borges do PJ.

Ligado aos setores empresarial e agropecuário do Estado Zulia, Rosales
se consolidou no poder local e entrou fortalecido na corrida às eleições
presidenciais de 2013. Rosales – que é acusado de corrupção
– conquistou a prefeitura de Maracaibo, capital zuliana e conseguiu eleger seu
candidato Pablo Perez (ambos do partido Um Novo Tempo) como governador desse
Estado.

No Estado de Miranda, um dos mais importantes do país, Capriles Radonski
(PJ), saiu vitorioso, reforçando o peso de seu partido no campo opositor.

Em busca de um líder

Analistas consideram que a incapacidade de propor alternativas ao chavismo
foi um dos principais fracassos da oposição.

Entre os anti-chavistas, há também muitos que acham que a oposição
carece de um líder que seja capaz de unificá-los. Teodoro Petkoff
admite que a única liderança existente no país, ainda que
não concorde com ela, é a do presidente da República. “A
liderança de Chávez é massacrante, ao lado dele não
cresce nada, por isso há tanta carência de referências políticas”,
afirmou.

Petkoff aposta que nos próximos quatro anos a oposição
construirá uma candidatura presidencial viável, mas admite que,
no momento, não há outro líder ou projeto no país
comparáveis a Chávez e a revolução bolivariana.
“Ainda não há alternativa no país, há oposição,
mas não há alternativa”, afirmou Petkoff. “Todos os
setores sociais que vão se desencantando (com o chavismo), quando olham
para o outro lado, não vêem alternativa”.

Para a historiadora Margarita López Maya, o desafio da oposição
é entender que, no imaginário do venezuelano comum, a política
liberal adotada nas décadas anteriores não seria aceita pelos
venezuelanos. “Eles ainda não entenderam que, para os venezuelanos,
este projeto está derrotado, que há que se pensar em um novo modelo”,
diz ela.

López Maya acredita que é necessário romper com o “messianismo”
da era Chávez, mas a seu ver, “enquanto o governo tiver recursos
e enquanto não houver uma oposição crível, os venezuelanos
preferirão continuar como estão do que experimentar outras coisas”,
afirmou.

O opositor Julio Borges sintetiza o dilema vivido por seus aliados: “O
problema é que os que não estão de acordo com Chávez
ainda não se colocaram de acordo sobre o quê concordam. Sabem que
não gostam disso (chavismo), mas o problema é: do que gostam então?”.

Fonte: BBC Brasil

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